O Fórum Global do Agronegócio virou festival e, com apresentação da XP, teve início nesta quinta-feira (27) em São Paulo. O GAFFFF reúne neste ano painéis com entidades, lideranças e autoridades do agronegócio mundial, além de uma programação diversa de atrações musicais, culturais e de gastronomia.
No primeiro dia do evento, trouxemos um resumo dos principais painéis do GAFFFF. Veja a programação completa aqui.
Um debate sobre mudanças climáticas: Quando a velocidade de mudança é mais rápida do que o anteriormente previsto
Em um painel focado em discutir mega tendências e mudanças climáticas, Fernando Ferreira, Estrategista Chefe da XP, recebeu no palco o Sr. Parag Khanna, ex-consultor de Barack Obama e diretor da Future Map. Abaixo destacamos as principais mensagens da palestra:
O mundo é complexo, o futuro é incerto e não vai ficar mais fácil. Discorrendo sobre as forças que moldam o mundo, o Sr. Khanna discutiu sobre duas perspectivas pelas quais podemos analisar o globo atualmente. Sob uma perspectiva, estamos em um mundo inflacionário, impulsionado por quatro principais forças: mudanças climáticas, geopolítica, demografia populacional e política fiscal e monetária. Ao mesmo tempo, em outro olhar, existem forças que jogam do lado contrário, indicando um cenário desinflacionário: tecnologia, globalização, demografia, excesso de capacidade, macroeconomia e política monetária. Mencionando a complexidade do mundo, Sr. Khanna provocou a plateia sobre a dificuldade de se prever cenários adiante, ressaltando que tal exercício não ficará mais fácil – pelo contrário, as perspectivas apontam para ainda maiores desafios adiante.
As mudanças climáticas representam um risco real. Citando o exemplo da Índia, que tem sofrido com ondas de calor extremas, ele destacou a situação crítica especialmente do Sul e Sudeste da Ásia. Numa perspectiva global, o Sr. Hannah mostrou ceticismo em termos do cumprimento do Acordo de Paris, que define o aumento da temperatura global em até 2°C. Em sua visão, em nenhum dos cenários mapeados, o mundo consegue atender às metas climáticas previstas. Nesse sentido, ele reforçou a necessidade urgente de financiamento climático, mencionando que são necessários 10 trilhões de dólares por ano para adaptação climática, principalmente considerando o cenário em que o mundo não está reduzindo as emissões como o esperado.
Mapeando megatendências. Debatendo sobre as forças que moldam o mundo, o Sr. Hannah destacou: (i) geopolítica: ordem global em colapso frente à múltiplas guerras e crises; (ii) demografia: pico populacional global até 2040; (iii) clima: mais de um bilhão de refugiados climáticos até 2050; (iv) mobilidade: novas rotas migratórias emergindo; e (v) política: competição global por jovens talentos.
Biocombustíveis e Descarbonização
Os palestrantes destacaram a necessidade e busca pela sustentabilidade na cadeia energética nacional e global, identificando o Brasil como um país privilegiado na busca por esse objetivo. Representando o setor privado, o palestrante João Irineu Neto, vice-presidente de assuntos regulatórios da Stellantis, reforçou os planos de descarbonização da companhia. Ele afirmou que a Stellantis, maior conglomerado automotivo do mundo, caminha rumo à emissão zero de carbono à partir de 2038, considerando todo o processo produtivo e tempo de vida de veículos. No âmbito da matriz energética, a companhia deve buscar o caminho da eletrificação na Europa, mas acredita que no Brasil, a junção de uma matriz de biocombustíveis já estabelecida, junto à adoção de carros eletrificados, pode encontrar no modelo híbrido uma melhor alternativa para os combustíveis fósseis.
No âmbito governamental, Lais Thomaz, assessora da secretaria nacional de petróleo, gás natural e biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia, destacou as medidas no âmbito regulatório para a transição energética. Entre elas, destacou o Renovabio, o Mover, e o Projeto de Lei Combustível do Futuro, que deve traçar a nova fase de expansão da produção e uso de biocombustíveis no Brasil. Representando a Academia, a Professora Gláucia Mendes, do instituto de Química da Universidade de São Paulo, demonstra ainda que as metas necessários para se atingir essa descarbonização são atingíveis, uma vez que o Brasil tem ampla oferta de terras para conversão de pasto em agricultura, para expandir a oferta de matéria prima e, consequentemente, a produção de combustíveis. Além disso, destacou o pioneirismo do Brasil entre os países do Sul Global, em políticas de promoção de biocombustíveis.
Práticas Agrícolas Avançadas
O painel, de caráter técnico, tratou de como a integração entre a academia e o setor privado traz benefícios ao agronegócio, destacando principalmente a necessidade de métricas de produtividade agrícola, mas sem desconsiderar o desempenho humano na adoção dessas tecnologias, tão essenciais para a evolução do setor. Como exemplo, foram expostas as métricas agrícolas de uma usinas de cana de açúcar que melhoram produtividade agrícola, destacando o caráter competitivo de setor, que impulsiona a busca por avanços tecnológicas. Outro exemplo foi o uso de nanotecnologia para elevar a produtividade agrícola, com foco na resiliência das plantas à intempéries climáticas e sanitárias. O painel destacou como a pesquisa científica é essencial para avançar a base de conhecimento e buscar a adaptação de novos conhecimentos à realidade do agronegócio.
Sustentabilidade no Agronegócio
A sustentabilidade no agronegócio tem se tornado um tema central para a evolução do setor no Brasil, unindo a produtividade agrícola com a preservação ambiental. Diversos especialistas discutem como o país pode se beneficiar de práticas sustentáveis, ao mesmo tempo em que enfrenta desafios regulamentares e de implementação. Tarsila Ursini, professora, economista, advogada e membro do conselho de administração de diversas organizações, enfatizou a importância da agricultura sustentável.
Ela destacou a integração entre lavoura e pecuária e o crescente uso de biológicos ao invés de químicos, que vêm trazendo extraordinários avanços para a produção agropecuária. Segundo Tarsila, é essencial unir o futuro tecnológico ao verde, trabalhando a favor da natureza, das pessoas e da produtividade. Ela mencionou a atuação na agricultura regenerativa como a produção do futuro, onde é possível plantar sem degradar o meio ambiente. Pesquisas focadas nesse mercado promissor e sustentável são economicamente interessantes tanto pelo viés econômico quanto natural.
Jandaraci Araujo, Membro do Conselho da Future Carbon Group e outras instituições, apontou que o maior desafio do mercado de carbono no Brasil hoje é a regulamentação. Ela ressaltou a necessidade de que essa regulamentação seja discutida com o agronegócio, para que a implementação seja efetiva. Outro ponto crucial é garantir a integridade dos créditos de carbono, emitindo-os de maneira adequada. Jandaraci destacou a importância de educar a população sobre o mercado de carbono e suas possibilidades, já que há um grande potencial de investimento nesse setor. Ela também mencionou que a transição para uma economia de baixo impacto de carbono é cara e desafiadora, mas promissora.
Grazielle Parenti, Head de Sustentabilidade e Assuntos Corporativos Latam da Syngenta, falou sobre a transformação do agronegócio nas últimas décadas. Ela destacou que as novas tecnologias, mesmo que extraordinárias no interior, precisam ser adaptadas ao Brasil, e mesmo dentro do Brasil temos diferentes métodos de plantio que necessitam adaptação. Grazielle afirmou que a agricultura Brasil é tropical e necessita de investimento e inovação, e que a Syngenta trabalha nesse desenvolvimento sustentável. A empresa vê a sustentabilidade como uma alavanca de negócio e monta uma aparcela de sua estratégia de crescimento sobre essa base. Grazielle mencionou a meta agressiva da Syngenta de recuperar pelo menos 1 milhão de hectares de terras degradadas. Para ela, é fundamental aproximar esses grupos e levar informações claras que demonstrem que seus objetivos são comuns. A sustentabilidade no agronegócio brasileiro apresenta inúmeras oportunidades, desde a integração de práticas agrícolas regenerativas até a regulamentação do mercado de carbono.
No entanto, os desafios são significativos e exigem uma abordagem colaborativa entre setores público e privado, bem como um grande investimento em tecnologias e regulamentação adequada. Com a união de esforços e uma visão focada no desenvolvimento sustentável, o Brasil pode liderar uma revolução verde no agronegócio, combinando produtividade com preservação ambiental.
Oportunidades e Desafios da Biodiversidade no Brasil
A biodiversidade é uma riqueza inestimável do Brasil, oferecendo uma vasta gama de oportunidades para o desenvolvimento econômico e sustentável. Contudo, junto com essas oportunidades, surgem também desafios significativos que precisam ser abordados para maximizar o potencial do país nesse campo. Diversos especialistas apontam caminhos e estratégias para que o Brasil possa aproveitar ao máximo sua biodiversidade, ao mesmo tempo em que enfrenta os obstáculos inerentes a esse processo.
Felipe Faria, Diretor de Natureza da Systemiq e líder global da Coalizão de Sistemas Alimentares FOLU, destacou a importância crucial da conservação da biodiversidade brasileira em harmonia com o agronegócio. Segundo ele, a biodiversidade não só é essencial para enfrentar as mudanças climáticas, mas também representa uma oportunidade econômica significativa. Ele mencionou que iniciativas adotadas pelos EUA e pela União Europeia, que integram objetivos econômicos e ambientais, servem de modelo. Esses programas demonstram como a biodiversidade pode gerar um Produto Interno Bruto (PIB) entre 40 a 45 bilhões de dólares ao ano, através de produtos biológicos diversos. Contudo, para que o setor de bioeconomia atinja seu pleno potencial, são necessários investimentos na ordem de 5 a 7 bilhões de dólares.
José Luiz Tejon Megido, Sócio Diretor da Biomarketing, reforçou a ideia de que a biodiversidade brasileira oferece oportunidades em cada micro bioma que possue. Países como China e Índia, bem como mercados de alta renda, estão cada vez mais interessados em alimentos sofisticados e saudáveis, que o Brasil está bem posicionado para fornecer. Ele vê na biodiversidade uma grande chance de impulsionar o PIB nacional, promovendo o desenvolvimento econômico sustentável e a valorização dos produtos naturais brasileiros no mercado global.
Thierry Fuger Reis Couto, do Benri Biomass Energy Research Institute, abordou a viabilidade do sistema de produção biológica em conexão com o mercado de carbono. Ele projeta que, até 2030, o Brasil poderá negociar cerca de 200 milhões de dólares em créditos de carbono, com o potencial de alcançar 1 bilhão de dólares, impulsionado pela agenda ESG (Environmental, Social, and Governance). No entanto, Thierry alertou que a adoção dos créditos de carbono não é simples. Para que essa transformação ocorra, é necessário um plano de ação abrangente que envolva a conscientização da população, engajando tanto o setor público quanto o privado. Além disso, um investimento significativo em regulação é essencial para superar os desafios políticos, regulatórios, mercadológicos (como falta de transparência e maturidade do mercado) e técnicos, incluindo a dificuldade de mensurar o carbono no solo.
O Brasil possui um vasto potencial para desenvolver sua economia através da biodiversidade, enfrentando as mudanças climáticas e promovendo a sustentabilidade. No entanto, para que essas oportunidades se transformem em realidade, é essencial superar os desafios políticos, regulatórios, mercadológicos e técnicos. Com investimentos adequados e estratégias bem planejadas, o Brasil pode não só proteger sua rica biodiversidade, mas também transformá-la em um motor de crescimento econômico e inovação sustentável.
Geopolítica, Segurança Alimentar e Comércio Global
O painel contou com a moderação de Marcos Jank, professor do Insper, e a participação de Bernhard Leisler Kiep, Diretor Secretário da Abramilho e Presidente eleito da MAIZALL, José Aldo Rebelo, Secretário Municipal de Relações Internacionais de São Paulo, e Nilson Leitão, presidente do Instituto Pensar Agro.
O protecionismo empurra a pobreza e a fome para países mais pobres, enquanto o foco deveria ser na produtividade agrícola, na agricultura sustentável e no comércio mais aberto. Deveria existir uma agenda global para discutir segurança energética, alimentar e climática sem uma agenda política por trás.
O enfraquecimento do multilateralismo, seja pelo aumento nas barreiras tarifárias, mas principalmente não tarifárias (i.e., políticas restritivas para o meio ambiente), preocupa e prejudica os países emergentes.
Atualmente, os maiores países superavitários ficam na América Latina, enquanto os maiores deficitáfios ficam na Ásia, portanto, entre emergentes.
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