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A bola da vez…

Nessa última semana, encontramos com vários investidores em Nova York, para discutir o cenário para 2022 e pegar as suas percepções sobre o Brasil. O otimismo com o Brasil aumentou, o que é visível pelo forte fluxo de investidores na B3 esse ano.

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Você já ouviu a história que um aluno “nota 6” pode ter até mais sucesso no futuro do que o aluno que só tira nota altas? A história diz que esses alunos em geral são mais comunicativos e sociáveis, sabem focar no que gostam, sabem lidar melhor com adversidades, entre outras características positivas para o futuro.

O Brasil, por vezes, se parece muito com esse aluno “nota 6”. Nunca está entre os melhores do mundo, mas também existem forças internas que o seguram de sair dos trilhos e repetir de ano – mas que já ocorreu no passado, diga-se de passagem.

Nessa última semana, encontramos com vários investidores em Nova York, para discutir o cenário para 2022 e pegar as suas percepções sobre o Brasil.

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Otimismo com o Brasil aumenta entre os estrangeiros

O sentimento em relação ao Brasil melhorou notadamente nos últimos meses entre os investidores estrangeiros, o que é nítido ao olharmos o forte fluxo para a Bolsa. Em 2022, o saldo acumulado de investimentos estrangeiros na B3 já chega a quase R$90 bilhões, quase alcançando todo o saldo de 2021, que já foi um ano de entrada recorde de estrangeiros.

Fonte: B3, XP Research

Mas por que desse otimismo com o Brasil?

Se a economia brasileira segue patinando, com inflação e juros altos, se os riscos fiscais e da eleição adiante seguem válidos, então o que explicaria esse otimismo com o Brasil. São algumas razões:

  1. Em primeiro lugar, o otimismo não é apenas com o Brasil em si, mas advém também de uma falta de opções interessantes entre os principais emergentes. China, Hong Kong, Taiwan, Coréia do Sul, Rússia (obviamente), todos esses mercados têm problemas, e a estabilidade relativa do Brasil tem atraído fluxos ao país.
  2. A grande exposição aos setores que os investidores querem comprar hoje fazem do Brasil uma excelente opção. Esses setores, de commodities e bancos, protegem o investidor da alta da inflação e não são impactados tão negativamente pela alta de juros no mundo. Nosso estudo mostra que a bolsa brasileira é a bolsa com maior exposição nesses setores (68%) entre os grandes índices de bolsa no mundo.
  3. A Bolsa brasileira segue barata. Apesar da alta de 30% do EWZ esse ano (ETF de Brasil em dólares), o indicador de Preço/Lucro da Bolsa segue em 7,8x, bem abaixo da média histórica próxima de 12x. Isso porque a expectativa de Lucros para o Ibovespa segue aumentando para 2022, por conta da forte alta dos preços das commodities. Um estudo feito pela XP Asset mostrou que as vezes que o Ibovespa negociou abaixo de 8x lucro desde 2005, em 95% das vezes, o índice teve retorno positivo nos próximos 12 meses. Em 83% das ocasiões, o retorno ficou acima de 20%.
  4. A apreciação do Real também atrai o investidor estrangeiro. Isso porque o fortalecimento da moeda melhora os retornos em dólar dos estrangeiros. A alta taxa de juros do Brasil atualmente tem ajudado a fortalecer o Real, pelo grande diferencial de taxa de juros com o Dólar. Essa expectativa que o Real deverá permanecer forte traz uma “segurança” adicional ao investidor estrangeiro, que ele não perderá todo o retorno em moeda local pela depreciação do câmbio.

Indicador Preço/Lucro – Ibovespa

Fonte: Bloomberg, XP Investimentos

Mas quais setores comprar?

Até aqui, você já entendeu que o interesse dos estrangeiros pelo Brasil está elevado. Mas qual setor eles estão querendo comprar? Por enquanto, o fluxo está mais focado nas large-caps, principalmente dos setores de commodities e bancos, como descrevemos acima.

Porém, o maior questionamento que escutamos é qual o momento ideal para rotacionar para setores domésticos, pois é notória a discrepância de performance entre os setores domésticos (ex bancos) e as commodities, e entre as large caps vs. as small caps, como visto abaixo.

Ibovespa vs. Índice de Small Caps

Fonte: B3, XP Investimentos

Por fundamentos, ainda parece cedo para se fazer essa rotação. A economia brasileira segue fraca, a inflação está alta, o Banco Central ainda não encerrou o ciclo de alta da Selic, e os lucros estimados dessas empresas ainda podem ser revisados para baixo.

Porém, essa semana começamos a ver uma forte performance de papéis que estavam muito fracos recentemente, um sinal que o mercado pode estar começando a olhar para as empresas que estavam “para trás”.

Alguns catalizadores que poderiam acelerar essa rotação, na nossa visão, seriam: 1) o pico da inflação, e um claro sinal que os juros pararam de subir, 2) uma queda na projeção de lucros pelos analistas, indicando que o pior já “foi precificado”, e 3) uma resolução dos conflitos na Europa, trazendo uma queda nos preços das commodities.

Resumo da Semana – Ibovespa

Fonte: XP Investimentos

E o Brasil no longo prazo, é o país do futuro?

Tudo bem, o interesse no Brasil está elevado, o que se traduz em um forte fluxo de investimentos na Bolsa e em renda fixa local, e uma rápida apreciação da nossa moeda. Mas esse fluxo, por definição, é um fluxo que também pode sair a qualquer momento, sendo um fluxo considerado de “curto prazo”. Da mesma maneira que entrou, esse dinheiro poderia rapidamente sair, caso o cenário para os outros emergentes melhore, e/ou o cenário daqui se deteriore.

Os fluxos de investimentos produtivos feitos por estrangeiros, também conhecido como FDI (Foreign Direct Investment – Investimento Estrangeiro Direto), segue abaixo de anos anteriores, como vemos no gráfico abaixo.  

Investimento Estrangeiro Direto – US$ bilhões/ano

Fonte: Banco Central do Brasil, XP Investimentos

Isso indica que o investimento de longo prazo feito por empresas, que é uma decisão de anos, ou décadas a frente, ainda continua aquém do potencial. O Brasil ainda não parece oferecer uma base de investimentos atrativa para esses investimentos de longo prazo, talvez por burocracias, mudanças de regras, baixa capacitação da mão-de-obra local, alta carga tributária, infraestrutura ruim, entre outras razões muito conhecidas.

Ao invés de nos consternarmos com essa realidade, vamos olhar para as oportunidades. O Brasil tem um grande potencial adiante, que é a mega-tendência do “reshoring”. As multinacionais que dependiam exclusivamente da Ásia e China para toda a sua cadeia produtiva terão que revisar as suas bases de produção, após a pandemia e os conflitos geopolíticos.

O Brasil está em uma posição única para atrair investimentos massivos dessas multinacionais. Uma democracia estável com mais de 200 milhões de consumidores, uma moeda fraca perante o dólar, que torna a mão-de-obra local barata em relação à outros países, a vasta costa do país para vazão da produção, e uma proximidade maior com a Europa e os EUA em relação aos produtos vindos da Ásia. O país só precisa dar as condições para que esses investimentos aconteçam.

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