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Estamos perdendo nossa capacidade de lidar com a complexidade, com as contradições e de tomar decisões com base no que é mais valioso de acordo com nossos valores, objetivos pessoais e visões de longo prazo

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Parafraseando o advogado, especialista em tecnologia e cofundador do Instituto Tecnologia e Sociedade Ronaldo Lemos, em sua coluna no jornal Folha de São Paulo, quem assiste ao documentário O dilema das redes, da Netflix, dificilmente fica indiferente. “Alguns saem indignados com as empresas de tecnologia, outros, revoltados com o próprio documentário”, escreveu Lemos.

O documentário é construído a partir dos pontos de vista de alguns profissionais que tiveram papéis estratégicos nas principais empresas de tecnologia do Vale do Silício, como Google, Facebook, Instagram, Twitter, Youtube, Pinterest, entre outras.

Nenhum deles contesta as inúmeras mudanças sistêmicas positivas para a humanidade possibilitadas por essas plataformas, como trabalhar à distância, pedir uma comida em minutos, ou, até mesmo, encontrar um doador de órgãos. Certamente, um cenário de pandemia em que não se tivesse todas essas ferramentas à disposição seria ainda mais desafiador. E, na verdade, foi, principalmente para os 70 milhões de brasileiros que não têm acesso à conexão de internet ou que tem conexão de péssima qualidade, por exemplo, como o próprio Lemos citou em seu texto.

“Estamos perdendo nossa capacidade de lidar com a complexidade, com as contradições e de tomar decisões com base no que é mais valioso de acordo com nossos valores, objetivos pessoais e visões de longo prazo. Como sociedade, estamos virando reféns da distração, da falta de atenção e das ilusões e simplificações dos conteúdos das redes sociais.”

As críticas e as preocupações abordadas pelo documentário dizem respeito à manipulação do comportamento dos indivíduos a partir do uso de um grande conjunto de dados dos usuários e da compreensão da psicologia humana. Essa manipulação se manifesta na busca dos algoritmos por capturar nossa atenção por mais e mais tempo por meio da seleção deliberada do conteúdo que chega até cada um de nós, em momentos precisos.

O que acontece, na prática, é que o algoritmo da rede social ou do aplicativo tem tantos dados sobre seu comportamento que ele passa a se antecipar e lhe colocar em contato, em momentos determinados, com conteúdos cuidadosamente selecionados para o seu perfil para gerar mais engajamento ou as reações esperadas pelos anunciantes. As notificações e outras formas de nudges (“cutucadas”) dos aplicativos são uma forma de estar a todo tempo chamando sua atenção de volta para as telas. Afinal, como disse Justin Rosenstein, cofundador do Asana e com passagens anteriores no Google e Facebook, no documentário: “Nossa atenção é o produto que está sendo vendido aos anunciantes”.

E qual o impacto de parar o que está fazendo por ser capturado pelo aplicativo, minutos depois voltar ao que estava fazendo, e, logo em seguida, ser interrompido novamente?

Uma das minhas áreas de expertise é ciência e design comportamental, e, dentro desse campo, uma das principais linhas que pautou meu trabalho é a psicologia da escassez, que deixa muito claro que temos um estoque limitado de energia mental, que vai sendo rapidamente consumido por esse movimento de foco e desfoque da nossa atenção.

É normal colocarmos nossa atenção no trabalho por alguns minutos, e, logo, vermos uma notificação no WhatsApp ou no Instagram, redirecionando nossa atenção para o aplicativo, e, minutos depois, tentarmos voltar a nos concentrar novamente. Sem perceber, nesse movimento constante de direcionar e redirecionar a atenção, estamos acelerando a queima da energia mental disponível.

Conforme nosso estoque seja consumido dessa forma, ocorre um processo cognitivo de afunilamento do campo de visão, ou seja, sem que a gente se dê conta, passamos a considerar e dar conta de um conjunto bem mais reduzido de pensamentos. Sem contar que, conforme gastamos o estoque mental, torna-se mais difícil pensar a longo prazo e nossa capacidade de tomada de decisão é comprometida. Acabamos nos satisfazendo com comportamentos e decisões automáticas, afinal, não temos energia para refletir e considerar as situações de uma perspectiva mais ampla e profunda.

Você deve estar se perguntando: o que a perda de energia mental gerada pelo modelo de extração de atenção da tecnologia tem a ver com uma cultura mais consciente de investimento? O que isso tem a ver com ESG?

Investir com mais consciência, considerando os impactos variados de uma empresa ou ativo, não é preto no branco, depende de avaliar os investimentos de forma mais ampla e profunda, e, isso requer mais atenção, ampliação dos horizontes, ponderação de pontos distintos e de contradições, para uma tomada de decisão com base no que é mais importante para você.

Investimentos que consideram os fatores ESG ou impactos no mundo adicionam múltiplas variáveis e complexidade à tomada de decisão, o que requer um esforço mental muito maior em comparação à aquilo que já fazemos de forma mais automática. Isto é, sem tempo e espaço mental não conseguiremos transcender nosso mindset arraigado e fazer as escolhas de investimentos orientadas para a construção de um futuro próximo bom para nós e nossos filhos e netos.

O problema central colocado pelo documentário, que se reflete na agenda de investimentos sustentáveis e de impacto, é que, com nossa atenção consumida e desviada para a tecnologia, estamos perdendo nossa capacidade de lidar com a complexidade, com as contradições, e, de tomar decisões com base no que é mais valioso de acordo com nossos valores, objetivos pessoais e visões de longo prazo. Como sociedade, estamos virando reféns da distração, da falta de atenção e das ilusões e simplificações dos conteúdos das redes sociais.

O risco existencial, tão falado no documentário, não reside nas tecnologias em si, mas no temor de que a falta de atenção para a vida e o comportamento, cada vez mais moldado pelos conteúdos das redes sociais, gere uma sociedade superficial, sem foco e sem energia mental para fazer as reflexões necessárias e encontrar o “common ground” tão necessário para lidarmos com questões urgentes, como as mudanças climáticas.

É a capacidade da tecnologia de trazer o pior da sociedade que se torna uma ameaça existencial, a medida que estamos distraídos demais para fazer as escolhas difíceis, resolver os desafios reais e tomar as decisões para nosso bem-estar no longo prazo.

A maior prioridade deveria ser a proteção do nosso patrimônio mais valioso: a capacidade de colocar atenção no que importa, a fim de perceber o mundo de forma ampla e profunda e fazer com clareza e consciência as escolhas que irão nos propiciar uma vida significativa.

“A realidade está onde você coloca sua atenção” dizia um dos grandes nomes da psicologia norte-americana William James. Onde está a sua?

*Originalmente publicada às segundas-feiras, a coluna saiu nesta terça (13/10) devido ao feriado.

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