No relatório dessa semana, discutiremos os principais temas relacionados ao FWA no 5G. Como mencionado no último capítulo (link), o 5G permitirá uma transmissão de dados muito maior com menor latência. Como referência, fazer o download de um vídeo que leva 4 minutos para baixar em 4G pode ser baixado 30 vezes mais rápido, em menos de 8 segundos. Essa conexão mais rápida e de menor latência permitirá uma série de novos aplicativos que contam com ótima sincronização e resposta rápida. Alguns exemplos disso são carros autônomos, cirurgias remotas e fábricas conectadas em diferentes países. Muitos serviços que atualmente não podem ser implementados por falta de velocidade, capacidade de processamento de dados ou confiabilidade das redes móveis atuais serão possíveis com o 5G. Assim, podemos dizer que o 5G suportará o crescimento da Internet das Coisas (IoT), ao mesmo tempo em que será capaz de levar adiante o crescimento exponencial do consumo de dados. Embora esses novos aplicativos ainda estejam em desenvolvimento, sem dúvida o caso mais comprovado é o FWA (Fixed-Wireless-Access).
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Essa tecnologia pode ser considerada equivalente à banda larga residencial que temos hoje, mas ao invés de a internet na ponta ser conectada por cabos de cobre ou fibra, a última milha da conexão é feita via radiofrequência. O cartão SIM é conectado diretamente a um modem (CPE) que, por sua vez, transmite a conexão para o resto da casa via Wi-Fi, exatamente como é hoje, a única diferença é o fato de que o modem não está conectado à rede via fibra, mas sim via radiofrequência.
Embora o uso de tecnologias sem fio para banda larga fixa não seja novo (dongles/pequenos modems têm sido usados para banda larga fixa desde a era 3G); as altas velocidades do 5G, a grande quantidade de espectro disponível e recursos como fatiamento de rede são os diferenciais desta vez. No passado, as operadoras relutavam em usar tecnologias sem fio de forma sustentável como substituto da banda larga fixa, pois o desempenho da rede para soluções de mobilidade se deteriorava à medida que a base de assinantes crescia devido à capacidade limitada da rede. O 5G é muito mais eficiente para esses aplicativos hoje.
Vemos oportunidades de mercado distintas para o 5G como produto de banda larga fixa:
- Regiões com menor densidade populacional, como áreas rurais e semi-urbanas, onde o custo de fiação residencial é alto e que atualmente não têm acesso com fio;
- Áreas urbanas onde tecnologias legadas ainda estão sendo usadas, como ADSL, modem a cabo etc;
- Assinantes de FTTH urbano que são mal atendidos por micro ISPs, deixando uma oportunidade de preço para 5G.
O FWA provavelmente será uma alternativa melhor onde há opções limitadas de banda larga e entre assinantes acostumados a velocidades mais baixas, ou seja, assinantes de tecnologias legadas com velocidades mais lentas. Além disso, entendemos que o FWA também será uma alternativa atraente para PMEs que precisam de conectividade de backup para sua conexão principal se ela cair.
Para clientes residenciais, qual é a vantagem do FWA em relação à banda larga por cabo/fibra? Acreditamos que a simplicidade é um importante argumento de venda. Algumas operadoras no emundo estão entregando o 5G Home de forma simples, permitindo que o cliente faça a instalação por conta própria. Os novos clientes podem simplesmente comprar on-line e instalar rapidamente o serviço conforme sua conveniência, sem a necessidade de agendar uma visita de um técnico da operadora que pode precisar instalar ou consertar a fiação interna.
Lições aprendidas no exterior com o FWA e a oportunidades no Brasil
Alguns países desenvolvidos que foram os primeiros a adotar o 5G, como a Coréia e os EUA, estão aumentando bastante suas bases de clientes FWA. Os serviços FWA em residências e escritórios têm aproximadamente 7 milhões de usuários nos EUA. Espera-se que o FWA represente em breve 10% de todas as conexões de banda larga dos EUA. Por outro lado, o FTTH compreende cerca de 20% de todas as conexões dos EUA hoje. Os novos esforços da Verizon e da T-Mobile parecem prontos para levar o FWA a confrontar o domínio das operadoras de internet a cabo.
A T-Mobile e a Verizon juntas já estão adicionando mais de 300.000 assinantes FWA por trimestre. O mercado FWA capturou ~40% de participação nas adições líquidas da indústria de banda larga nos últimos trimestres. Aproximadamente metade dos clientes de FWA da Verizon são provenientes de contas comerciais. A T-Mobile indicou que cerca de metade de seus clientes de FWA são provenientes de ex-assinantes de Internet a cabo.
Os players de fibra/FTTH podem encontrar o FWA como um meio de economizar capex de última milha. No entanto, o use case ideal provavelmente são áreas suburbanas como as típicas dos EUA. É improvável que as operadoras economizem dinheiro em ambientes urbanos densos, onde a fibra é abundante e os apartamentos são comuns. A maioria das residências com várias unidades tem salas de equipamentos de telecomunicações e dutos para permitir que a fibra seja puxada de forma rápida e fácil para cada apartamento. Em áreas rurais ou suburbanas onde a fibra não está presente, o FWA pode ser uma opção de custo mais baixo para atender às necessidades de banda larga doméstica a um custo mais baixo. A principal vantagem do FWA sobre uma conexão fixa é evitar qualquer escavação para levar a fibra até a residência e, idealmente, poder usar um modelo de instalação automática. O mercado dos EUA é atípico, com Verizon, AT&T e T-Mobile usando FWA como meio de expandir seus negócios fixos. As empresas sinalizaram um potencial de penetração de aproximadamente 20% dos domicílios com o FWA.
Dito isso, acreditamos que a oportunidade no Brasil também é muito clara, porém acreditamos que o FWA será uma tecnologia complementar e não um substituto da banda larga fixa. Além disso, será uma alternativa para regiões que não são bem atendidas por fibra ou para consumidores que não querem passar cabeamento dentro de casa.
Hoje no Brasil temos cerca de 40 milhões de domicílios conectados com banda larga, segundo dados da Anatel, representando uma penetração de aproximadamente 60% dos domicílios. A penetração aumentou rapidamente nos últimos anos, impulsionada principalmente pela implantação de fibra até a residência (FTTH), que já representa 63% do total de conexões.
Apesar da aceleração nos últimos anos, ainda há espaço para aumentar a penetração da banda larga no Brasil – o FWA pode desempenhar um papel importante. Acreditamos que a banda larga deve continuar crescendo em ritmo forte, já que o Brasil ainda está atrás de outros países. Nesse contexto, acreditamos que o FWA pode servir como uma opção viável após o lançamento de redes/serviços 5G, especialmente em cidades com baixa densidade populacional onde a implantação de FWA provavelmente seria mais barata que FTTH. Nesse sentido, algumas ISPs estão planejando desenvolver suas redes 5G como forma de complementar suas operações de FTTH, levando conectividade a novas regiões e operando de forma complementar com a nova tecnologia. A Brisanet é o player que mais fala sobre os benefícios do FWA e o potencial da nova tecnologia para competir em regiões menos densamente povoadas, oferecendo preços mais competitivos em comparação com micro ISPs em regiões com menor poder aquisitivo.
Penetração da Banda Larga Fixa (% dos domicílios)
Barreiras para adoção de novas tecnologias
A principal barreira que existe hoje é o custo do CPE (~US$250) que deverá atingir o preço de US$100-150 nos próximos anos, tornando a tecnologia mais acessível. Qualcomm e Intelbras firmaram uma parceria para desenvolver o primeiro roteador Fixed Wireless Access (FWA) habilitado para 5G e Wi-Fi 6, com design e produção no Brasil. O acordo prevê que a Intelbras seja licenciada da Qualcomm, recebendo transferência de tecnologia da empresa norte-americana.
Roteador CPE 5G - Intelbras + Qualcomm
A Intelbras apresentou na semana passada, o roteador CPE 5G, desenvolvido em parceria com a Qualcomm (acima). A empresa lançará o produto comercialmente em outubro, para uso das operadoras que ativarem o 5G na faixa de 3,5 GHz. A empresa passará a fabricar e distribuir CPEs para FWA, que deverá rodar com um preço de ~R$1K por equipamento (competitivo em relação ao preço de implantação de FTTH).
De acordo com a Intelbras, as conexões FWA devem começar a ganhar força, atingindo potencialmente ~10 milhões de assinantes nos próximos cinco anos. Esse valor corresponderia a aproximadamente 20% do total de domicílios conectados por banda larga fixa. Assumindo um ARPU de R$ 70 (~20% abaixo da média de FTTH) chegamos a um TAM de aproximadamente 8 bilhões. Embora ainda haja alguma incerteza quanto à adoção do FWA no Brasil, a tecnologia parece ser promissora em regiões rurais menos densamente povoadas, onde a penetração da banda larga é muito menor do que nos grandes centros urbanos.
Outro ponto relevante diz respeito à capacidade das redes de telefonia móvel. Ainda não está claro se as operadoras alocarão capacidade de largura de banda total suficiente para que o FWA seja totalmente dimensionado. O desafio para as operadoras é garantir que seus clientes de FWA se encaixem o mais perfeitamente possível nos sites de celular com a maior capacidade disponível. Nenhuma operadora quer arriscar sua experiência de serviço móvel de alto valor em benefício de algumas conexões FWA incrementais.
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