Confira os destaques do setor de Alimentos & Bebidas nesta semana de 31 de agosto: às segundas, falamos sobre as margens dos produtores de boi, frango e suíno. Às quintas, analisamos as margens das proteínas nos Estados Unidos. Por fim, às sextas, comentamos alguns dados de fluxo e fazemos uma revisão da nossa visão para o setor.
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Excepcionalmente nesta semana abordaremos exportações na quarta-feira, uma vez que o MDIC divulgará os dados referentes a agosto no primeiro dia útil do mês (01/09), ao invés de reportar os dados semanais na segunda de tarde, como de hábito. Na terça-feira, portanto, discutiremos as margens dos varejistas de carne.
Por que esses dados são importantes? Porque eles impactam os preços de ações como JBSS3, MRFG3, BRFS3 e ABEV3. Vale lembrar que, no setor de Alimentos & Bebidas, esperamos performance melhor para JBS e Marfrig, ao passo que o mercado de frango passa por um momento mais delicado em 2020, tanto no mercado interno quanto no mercado externo. Para acessar as teses de investimento completas, basta clicar nos blocos abaixo.
Quaisquer críticas, dúvidas ou sugestões de tema são bem vindas: basta deixar um comentário no final do post.
OBS: não podemos comentar sobre Minerva (BEEF3) por determinação da área de Compliance da XP Inc. Adicionalmente, estamos temporariamente impedidos de comentar sobre JBS (JBSS3), também por determinação do Compliance.
Segunda-Feira – Preços dos Animais Vivos
Conteúdo Extra: hoje soltamos uma breve nota em parceria com o time de Economia comentando que o PIB do segundo trimestre do Brasil deve apresentar contração de 8% t/t, mas a queda deve ser atenuada pela agropecuária. Impulsionada pelo bom momento da demanda internacional, sobretudo da China, e pela depreciação do Real (-21% ao ano), projetamos expansão de 1,1% para o setor agropecuário na comparação com o primeiro trimestre desse ano e de 2,3% na comparação com o segundo trimestre do ano passado. Confira aqui o relatório completo de projeção do PIB do time de Economia do Research XP.
Conteúdo Extra (parte 2): a @ do boi observa alta de 14% no ano, impulsionada pelas exportações e pela oferta mais restrita diante do menor volume de gado confinado este ano. A grande dúvida é se o real desvalorizado em conjunto com as exportações serão suficientes para sustentar tais preços. Do ponto de vista do mercado interno, o varejo não teria mais espaço pra repasse de margem uma vez que a população não está capitalizada como no fim do ano. Observando a curva do boi futuro, nota-se que o mercado segue otimista: usando como referência o vértice de outubro, sazonalmente mais forte e com mais liquidez no mercado futuro, observamos que as estimativas de preço estão 3% mais altas na semana, 7% mais altas no mês e 14% mais altas no semestre.
Terça-feira – Preços das Carnes & Margem do Varejista
Carne Bovina: diante da @ batendo recordes de preço e da expectativa de manutenção das margens do elo intermediário da cadeia, qual seja, os frigoríficos de carne bovina, um dos nossos pontos de atenção para o segundo semestre de 2020 é a potencial compressão de margens da ponta da cadeia: os varejistas. Ainda que os dados pra agosto sejam preliminares, traçando uma visão geral das margens dos supermercados na carne bovina, observamos que após alta durante o ápice da pandemia em março, as margens do dianteiro, aqui representado pelo acém, já estariam voltando à média desde 2019. Já no caso do traseiro, aqui representado por uma média simples entre alguns cortes disponibilizados pelo IEA, os varejistas estariam operando com margens abaixo da média desde o início do ano. Seguiremos acompanhando de perto essa situação tendo em vista que os varejistas podem eventualmente vir a exercer pressão sobre os preços cobrados pelos frigoríficos no atacado caso não sejam capazes de repassar preço no varejo de maneira satisfatória.
Carne de Frango e Suína: em linhas gerais o cenário parece ligeiramente mais benigno para as varejistas de frango. No caso da coxa, a margem do varejista segue acima da média desde o início da pandemia. Já no caso do peito, as margens também seguem acima da média desde o início do ano. Seguiremos acompanhando de perto essa relação diante do momento mais desafiador pelo qual o mercado de frango vem passando do ponto de vista dos produtores e dos exportadores. Já no caso da carne suína, não há um cenário tão claro: as margens seguem abaixo daquelas observadas em 2019 desde o início do ano, salvo pela alta em abril/maio, seguida de queda em junho/julho, indicando possível pressão sob os varejistas.
Metodologia: o preço no atacado corresponde, em geral, ao preço que o varejista paga ao frigorífico. Já o preço no varejo equivale ao preço que o consumidor paga ao supermercado. Portanto, calculamos as margens dos varejistas dividindo os preços das carnes no varejo pelo preço das carnes no atacado. Todos os dados são disponibilizados gratuitamente pelo Instituto de Economia Agrícola. Temos dados semanais para atacado e mensais para varejo. Como o mês de agosto ainda não foi divulgado para o varejo pelo IEA, assumimos preços estáveis versus o mês anterior. Para os preços de atacado, usamos os dados de fechamento da última sexta-feira (28/08).
Quarta-feira – Exportações de Carnes & Margem do Exportador
Bovinos: em agosto, foram exportadas 163 mil toneladas de carne bovina (+21% na comparação anual), a um preço médio de 4.008 dólares por tonelada (-4% A/A), levando a um faturamento mensal de US$ 654 milhões (+16% A/A). Trata-se do terceiro maior volume mensal da série, perdendo apenas para outubro/2019 e para julho/2020.
Frango: em agosto, foram exportadas 341 mil toneladas de carne de frango (+2% A/A), a um preço médio de 1.335 dólares por tonelada (-20% A/A), levando a um faturamento de US$ 455 milhões (-18% A/A). Seguimos monitorando a delicada situação do mercado de frango; pelo lado positivo, os preços melhoraram ligeiramente desde o vale em Jun/20.
Suínos: em agosto, foram exportadas 88 mil toneladas de carne suína (+79% A/A), a um preço médio de 2.236 dólares por tonelada (estável na comparação anual), levando a um faturamento de US$ 196 milhões (+90% A/A). Mais uma vez, suíno foi destaque positivo das exportações mensais.
Em suma: o setor de proteínas segue performando bem, com destaque para exportações de suínos. Exportações de bovinos seguem fortes, impulsionadas por volumes. Já as exportações de frango vieram novamente fracas, prejudicadas pela forte queda em preços. Esperamos reação positiva para frigoríficos mais expostos às carnes bovina e suína, as quais tem sido mais beneficiados pela demanda chinesa. Vale lembrar que, em agosto, o real depreciou cerca de 3% versus o dólar e acumula queda de 27% no ano, ou seja, tais preços em dólares por tonelada são ainda mais atrativos quando convertidos para reais.
Quinta-feira – Preços & Margens das Proteínas nos EUA
Ambev: produção de bebidas alcoólicas em julho cresce 24% versus 2019
O setor de Alimentos e Bebidas foi destaque positivo na Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, cujo resultado de julho foi divulgado agora de manhã (03/09). Especificamente no caso de bebidas, os dados surpreenderam positivamente ao apresentar patamares de produção superiores aos do mesmo período no ano anterior. A produção de bebidas alcoólicas cresceu 3,6% versus junho, além de ter aumentado 24% versus julho de 2019; já a de bebidas não-alcoólicas cresceu 8,6% M/M e 7,1% A/A. Ou seja, após uma “recuperação em V” da produção de bebidas, a pior parte da crise já teria ficado para trás, como ilustra o gráfico abaixo da esquerda.
Tal aumento expressivo nos volumes de produção e, consequentemente, nos volumes de venda poderia abrir espaço para reajustes de preço. Conforme ilustrado pelo gráfico abaixo à direita, a inflação de cerveja vem perdendo consistentemente para a inflação geral, conforme medida pelo IPCA-15. Nesse sentido, enxergamos como positiva a notícia veiculada ontem pelo Valor de que Ambev e Heineken estariam começando a reajustar o preço das suas cervejas, como já é de costume nessa época do ano. Segundo a reportagem, a Heineken já teria começado “a distribuir suas novas tabelas, que passam a vigorar a partir desta semana. A Ambev ainda não comunicou os novos preços, mas deverá fazê-lo ao longo do semestre”.
Metodologia: para o gráfico “margem da inflação de cerveja”, usamos como base o IPCA-15 acumulado de doze meses. Em seguida, calculamos a diferença do índice geral versus os índices de cerveja no domicílio e fora dele, fazendo (1+x)/(1+y). Assim, chegamos na margem da inflação de cerveja: valores acima de zero indicam momentos em que o reajuste do preço da cerveja foi maior que o reajuste dos preços da economia como um todo, conforme sinalizado pela faixa verde no gráfico, e vice-versa.
Sexta-feira – Performance das Ações
A Marfrig foi o destaque de agosto, registrando alta de 24%, versus -3% do Ibovespa no mesmo período. Assim, o papel consolida a tendência de valorização que já se estende desde o início do ano (+70%). Entendemos que as ações foram impulsionadas por fatores como:
- Fortes dados de exportação de carne bovina em agosto (cerca de 70% da receita da operação América do Sul da Marfrig vem de exportações)
- Manutenção de margens de bovinos em patamares elevados nos EUA, conforme medido pelo cut-out ratio (cerca de 75% da receita da empresa vem da América do Norte)
- Divulgação de resultados do 2T20 que bateram recorde tanto na América do Sul quanto nos Estados Unidos e foram bem recebidos pelo mercado (12/08)
- Anúncio de novos programas de sustentabilidade como o rastreamento da cadeia de produção e o lançamento de uma linha de carnes carbono neutra.
A BRF, por sua vez, registrou desvalorização de 5% em agosto. Assim, o papel acumula queda de 44% no ano, versus -13% do Ibovespa no mesmo período. Entendemos que as ações vem sendo penalizadas sobretudo pela percepção de que o mercado de frango passa por um momento desafiador, explicado por fatores como:
- Alta no preço dos grãos, a qual encarece os custos de criação do frango e portanto impacta negativamente a empresa
- Dados mais fracos de exportação na comparação anual, com volumes estáveis mas preços em queda de 20% A/A
- Margens dos varejistas acima da média desde o início da pandemia poderiam indicar
- Divulgação de resultados do 2T20 sólidos, mas mais fracos do que o esperado, que foram mal recebidos pelo mercado
Por fim, a Ambev registrou queda de 11% no mês, consolidando baixa de 33% no ano. Entendemos que o papel vem sofrendo por conta de:
- Temores de curto prazo em relação ao impacto da pandemia nas operações da empresa, significativamente expostas ao setor de bares e restaurantes;
- Preocupações de longo prazo quanto à pressão estrutural nas margens da empresa devido à necessidade de adaptação de seu modelo de negócios a um ambiente competitivo incrementalmente mais acirrado.
Quanto ao primeiro ponto, entendemos que, para a indústria de bebidas, a pior parte da crise já teria ficado para trás. Segundo dados da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, a produção de bebidas alcoólicas cresceu 24% em junho versus o mesmo período no ano anterior, indicando uma verdadeira “recuperação em V”. Tal aumento expressivo nos volumes poderia abrir espaço para reajustes de preço; enxergamos como positiva a notícia de que Ambev e Heineken estariam começando a reajustar o preço das suas cervejas, como já é de costume nessa época do ano.
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