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Radar ESG | Setor de supermercados: Vale a pena encher o carrinho?

Embora as empresas de supermercados tenham feito melhorias ao implementar medidas para abordar a segurança alimentar, o uso de energia e o capital humano, as controvérsias frequentes continuam sendo um desafio chave para o setor. Leia o relatório abaixo para saber mais.

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Embora os supermercados tenham feito melhorias ao implementar medidas para abordar a segurança alimentar, o uso de energia e o capital humano, as controvérsias frequentes continuam sendo um desafio chave para o setor. Para essas empresas, vemos a frente Social como a mais importante das três, seguida pelos pilares Governança e Meio Ambiente, respectivamente. Vemos o GPA se destacando em relação aos pares, principalmente nos pilares E e S, enquanto no caso do Carrefour Brasil, apesar de reconhecermos os compromissos da empresa dentro da agenda ESG, reforçamos que há muito mais a ser feito para melhorar as métricas e esforços ESG da companhia. Por fim, em relação ao Grupo Mateus, a empresa ainda está no início de sua agenda ESG e, embora vemos um longo caminho adiante, reconhecemos positivamente que a gestão da companhia reconhece essa necessidade e está evoluindo para avançar nessa agenda. Neste relatório destacamos os principais tópicos ESG que vemos como os mais importantes para o setor e analisamos como as empresas do nosso universo de cobertura (PCAR3, CRFB3 e GMAT3) se posicionam quando o tema é ESG.


O setor está fazendo o suficiente para lidar com seus riscos ESG?

Embora as empresas de supermercados tenham feito melhorias ao implementar medidas para abordar a segurança alimentar, o uso de energia e o capital humano, o que nos permite identificar que algum progresso está sendo feito, as controvérsias frequentes continuam sendo um desafio chave para o setor. Os supermercados têm um poder político e econômico considerável no sistema alimentar e uma responsabilidade inerente de demonstrar boa cidadania corporativa por meio da responsabilidade social corporativa. Dito isso, em nossa visão, os supermercados brasileiros poderiam fazer mais para usar seu poder para apoiar a saúde pública.

Para essas empresas, vemos a frente Social como a mais importante das três, seguida pelos pilares Governança e Meio Ambiente, respectivamente. Abaixo destacamos tópicos ESG comuns aos supermercados, em uma perspectiva setorial.

Ambiental

As empresas de varejo de alimentos vendem produtos que têm uma grande pegada de carbono em comparação com produtos discricionários. Portanto, vemos com bons olhos os programas das empresas para estimar e reduzir a pegada de carbono dos insumos usados ​​em seus produtos, bem como durante seu processo de fabricação e transporte. Apesar de reconhecermos positivamente as iniciativas dos supermercados brasileiros nesta frente (por exemplo, a instalação de lâmpadas LED), vemos espaço para melhorias – em nossa opinião, tanto o desperdício de alimentos quanto o uso de energia estão entre os desafios ambientais do setor que precisam ser melhor endereçados.

Social

Vemos este como o principal pilar para o setor e destacamos cinco tópicos principais em que focamos nossa análise:

(i) Gestão da força de trabalho: A gestão dos funcionários continua sendo um dos temas mais importantes para as empresas deste setor, com o gerenciamento do horário de trabalho, bem das medidas implementadas para melhorar as condições de saúde e segurança nos supermercados representando um risco que não pode ser descartado. Além disso, como negócios essenciais durante a pandemia da COVID-19, os supermercados permaneceram abertos para atender ao aumento da demanda, o que expôs os varejistas de alimentos aos desafios de manter os funcionários da linha de frente seguros e saudáveis, ao mesmo tempo em, em muitos casos, houve a necessidade de aumentar as contratações.

(ii) Padrões de Trabalho na Cadeia de Abastecimento: Garantir os padrões sociais na cadeia de abastecimento e relações comerciais justas com os fornecedores são responsabilidades fundamentais para as empresas do setor. Contudo, nossos estudos nos mostram que o desempenho geral do setor quando se trata de padrões sociais permanece limitado. Controvérsias sobre as condições de trabalho de fornecedores, além de eventos polêmicos envolvendo terceiros, podem afetar a reputação de uma empresa, causando reação do consumidor. Além disso, um alto volume de produção combinado com uma terceirização substancial sugere uma cadeia de suprimentos mais complexa e maiores oportunidades para controvérsias. Dito isso, a gestão de risco faz-se necessária e combina (i) uma avaliação de políticas de gestão que atendem à normas internacionais rigorosas, (ii) a implementação de programas para verificar a conformidade com as políticas e (iii) a introdução de incentivos para conformidade entre os diversos fornecedores. Portanto, espera-se que as empresas supermercadistas incluam a supervisão, controle e compromisso com as questões sociais e ambientais, não só em suas operações, mas também em sua cadeia de abastecimento.

(iii) Segurança e qualidade do produto: Equívocos na segurança alimentar podem ter um impacto negativo significativo na saúde do consumidor. As devoluções de alimentos têm um impacto financeiro imediato nas empresas e podem se tornar um passivo de longo prazo no caso de ação regulatória ou litígio. Em nossa visão, garantir a segurança alimentar e fornecer informações transparentes aos clientes continuam a ser áreas-chave para melhorias no setor de supermercados.

(iv) Oportunidades em Saúde e Nutrição: O movimento regulatório para mais transparência de rotulagem e para a presença de ingredientes não saudáveis vêm ganhando cada vez maior proporção, além do fato de que produtos alimentícios mais saudáveis ​​exibem um CAGR (da sigla em inglês Compound Annual Growth Rate, que significa taxa de crescimento anual composta) mais alto do que produtos convencionais. Nesse sentido, vemos as marcas próprias dos supermercados como uma ótima alternativa para potencializar as oportunidades em Nutrição & Saúde e destacamos que temos visto um crescimento relevante das marcas próprias dos supermercados no portfólio de produtos dos mesmos: as marcas próprias do PCAR registraram penetração de 20,2% na categoria de alimentos no 3T20 (vs. 19,1% no 2T) e os produtos alimentares saudáveis ​​da marca própria CFBR representaram 14,7% das vendas líquidas totais de alimentos no 3T20 (vs. 13,6% no 2T).

(v) Privacidade e segurança de dados: Os supermercados têm sido um dos claros beneficiários da pandemia. No entanto, as empresas neste setor estão lidando com maiores quantidades de dados confidenciais devido à demanda sem precedentes por compras online durante a pandemia da COVID-19, colocando suas práticas de proteção da privacidade e segurança de dados à prova, enquanto observamos que os varejistas não aprimoraram suas medidas de prevenção a este risco à medida que as vendas online aumentam. É difícil dizer como exatamente o padrão de consumo dos brasileiros se desenvolverá ao longo de 2021 e na vida pós-pandemia, mas um aumento nas vendas online parece que se tornará um legado duradouro da pandemia.

Governança

Governança Corporativa é uma questão-chave padrão para as empresas de todos os setores. Quando se trata dos supermercados brasileiros, isso não se faz diferente. Nesse sentido, reconhecemos positivamente que as três empresas (PCAR, CRFB e GMAT) possuem suas ações listadas no Novo Mercado, o mais alto padrão de governança corporativa da B3. Por outro lado, quando olhamos para o Conselho de Administração das mesmas, as três empresas carecem de maioria independente, o que consideramos negativo. Além disso, no que diz respeito à diversidade, vemos um longo caminho pela frente, dado que os Conselhos do Grupo Pão de Açúcar e do Grupo Mateus não possuem mulheres e, dos 10 membros do Conselho do Carrefour , apenas um é mulher.

Ao longo deste relatório, destacamos como as empresas sob a cobertura da XP (PCAR3, CRFB3 e GMAT3) são avaliadas em uma perspectiva ESG.


Grupo Pão de Açúcar (PCAR3): Fortes esforços nos pilares E e S

Vemos o GPA se destacando em relação aos pares, principalmente nos pilares Ambiental e Social. Na frente Ambiental, destacamos os esforços robustos da empresa para reduzir sua pegada de carbono, enquanto na frente Social, vemos com bons olhos a forte presença do GPA nos mercados saudáveis ​​e orgânicos através de sua própria marca “Taeq” e destacamos o controle de gestão da cadeia de suprimentos da empresa e um Código de Conduta forte. No que diz respeito à Governança, apesar de reconhecermos positivamente que as ações do GPA (PCAR3) estão listadas no Novo Mercado, a falta de maioria independente do Conselho do GPA, bem como de um presidente independente, levanta preocupações.

Ambiental

O GPA está comprometido com a redução de seu impacto ambiental, com diversas iniciativas voltadas ao uso adequado dos recursos naturais, gestão de resíduos, redução das emissões de gases e proteção dos ecossistemas, com uma Política Ambiental estabelecida desde 2014 (link). Abaixo destacamos as principais iniciativas do GPA:

(i) Para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, o GPA substituiu os gases dos sistemas de refrigeração por outros menos nocivos ao meio ambiente. Além disso, destacamos que o GPA aderiu em 2013 ao “Carbon Disclosure Project” (CDP), uma das principais iniciativas do segmento financeiro para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Apesar de reconhecermos que ainda há espaço para melhorias, vemos como positivos os esforços atuais do GPA nessa frente;


(ii) Com o objetivo de reduzir o consumo de energia, o GPA (i) fechou balcões de alimentação para reduzir a carga térmica, (ii) automatizou e mudou as lâmpadas para modelos mais eficientes, (iii) está implantando iluminação 100% LED e um sistema de ar condicionado automatizado nas novas lojas; (iv) foi a primeira empresa varejista a migrar para o Mercado Livre (232 unidades, representando 83% do total, com meta de atingir 94% até 2024) e (v) está explorando o uso de outras fontes renováveis ​​de energia, com o Assaí investindo em painéis de energia solar no telhado das lojas;

(iii) Em 2019, o GPA se comprometeu a substituir 100% das bandejas de isopor que vinham com frutas e verduras de Marca Própria (Qualitá e Taeq) por material biodegradável;

(iv) 100% dos fornecedores de carne bovina seguem a Política de Compra Responsável de Carne do GPA e 99,6% do volume de carne vendida nas lojas do GPA tem origem monitorada, entre os fornecedores que compram gado diretamente.

Social

(i) Gestão da força de trabalho: o GPA tem mais de 110 mil funcionários e vemos como positivo o reconhecimento externo da Forbes da companhia ser um dos melhores empregadores do mundo em 2018 e 2019. Em relação à diversidade, vemos positivamente os compromissos do GPA de (i) aumentar o número de funcionários com deficiência, com mais de 60 anos, jovens, mulheres e negros em cargos de liderança e (ii) fortalecer as diretrizes de combate à discriminação racial e promoção dos direitos LGBTQIA +. No que diz respeito à diversidade de gênero, destacamos (i) o Programa de Desenvolvimento da Liderança Feminina do GPA e (ii) conquistas da empresa no Prêmio Mulheres na Liderança – Valor Econômico na categoria Varejo e no Prêmio Princípios de Empoderamento da Mulher.

(ii) Padrões de Trabalho na Cadeia de Abastecimento: Em nossa visão, a empresa se destaca neste assunto, principalmente devido: (i) ao forte Código de Conduta do GPA, que abrange todos os principais assuntos de risco do setor, visando coibir qualquer tipo de prática irregular de trabalho em sua cadeia de suprimentos – o GPA audita 94% de seus fornecedores de países críticos; (ii) desde 2011, o GPA tem o compromisso de comprar 100% de seus produtos têxteis, calçados e acessórios de fornecedores e subcontratados certificados pela ABVTEX (Associação Brasileira do Varejo Têxtil); (iii) como parte da gestão de fornecedores, o GPA realiza auditorias de conformidade social em fábricas localizadas em países socialmente vulneráveis ​​para avaliar não apenas a conformidade com a legislação local, mas também com os padrões da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o que vemos como positivo.

(iii) Oportunidades em Saúde e Nutrição: Pioneira na oferta de produtos orgânicos aos clientes, destacamos as principais iniciativas do GPA nessa frente: (i) marca própria forte da empresa Taeq (link), com linha exclusiva (“Taeq Boa Escolha”) visando maximizar o consumo de toda a produção orgânica e valorizar frutas, verduras e legumes, evitando o desperdício, com um portfólio saudável de produtos, comercializando produtos orgânicos a preços 40% abaixo dos tradicionais varejistas de alimentos orgânicos.

(iv) Privacidade e segurança de dados: à medida que o GPA continua a evoluir na frente de transformação digital e as vendas online aumentaram consideravelmente após a crise da COVID-19, a já grande exposição da empresa aos riscos relacionados à segurança de dados aumentou. Sobre este assunto, observamos que o GPA divulga práticas limitadas de segurança de dados, mas reconhecemos positivamente que um treinamento é fornecido aos funcionários, embora seu escopo não seja claro.

Governança

O GPA é controlado pelo grupo Casino (41,2% dos direitos de voto), com ações da empresa (PCAR3) listadas no Novo Mercado. Em relação ao Conselho de Administração da companhia, ele carece de maioria independente (3 dos 9 membros), bem como de presidente independente, o que pode sugerir que sua capacidade de contrabalançar a gestão pode ser prejudicada. Além disso, destacamos que o Conselho possui pelo menos um membro independente que participa de outros quatro conselhos, o que também sugere um tempo limitado para uma supervisão efetiva da gestão.

Quando se trata da diversidade do Conselho do GPA, não há nenhum membro feminino ou negro e pardo. No entanto, observamos que (i) as mulheres representam 51% da força de trabalho da empresa e ~ 33% dos cargos gerenciais são ocupados por mulheres e (ii) 42% da força de trabalho da empresa é composta por negros e pardos.

MSCI ESG Ratings

O GPA possui uma classificação A pelo MSCI ESG Ratings. Em uma perspectiva global, a classificação A coloca o GPA entre os 18% das empresas com essa classificação sob os constituintes do Índice MSCI ACWI do setor de varejo de alimentos e itens básicos (55 empresas).


Carrefour (CRFB3): Corrida por melhorias; Todos os olhos voltados para os próximos passos

Apesar de reconhecermos os compromissos da empresa dentro da agenda ESG (detalhados abaixo), reforçamos que há muito mais a ser feito para melhorar as métricas e esforços ESG da empresa. Assim, apesar de saudarmos as iniciativas da empresa após a morte brutal e trágica do Sr. João Alberto Silveira Freitas, destacamos que, a nosso ver, não se admite mais que as empresas procurem se eximir de responsabilidades por atos praticados por terceirizados. Dito isso, vemos um longo caminho pela frente para o CRFB no combate à discriminação racial e esperamos que a empresa aprimore suas políticas com os fornecedores, fortaleça a capacitação de seus colaboradores próprios e terceiros, além de avançar em suas práticas e comitês de governança corporativa.

Lamentamos profundamente o falecimento de João Alberto Silveira Freitas e enviamos nossas condolências à sua família e colegas.

Ambiental

Apesar de vermos espaço para melhorias, em nossa visão o CRFB está bem posicionado na frente Ambiental, com importantes iniciativas e metas que visam reduzir seu impacto no meio ambiente.

Quando se trata de fontes de matéria-prima, o Grupo Carrefour Brasil segue os padrões globais de desempenho estabelecidos por seu controlador, o Carrefour.

Em relação à gestão de sua pegada de carbono, destacamos que o Grupo Carrefour estabeleceu uma meta global de redução das emissões de CO2 em 40% até 2025 e 70% até 2050, em relação a 2010. Alinhada a essa meta, suas operações no Brasil buscam soluções e alternativas para minimizar o impacto no meio ambiente, tendo a meta de neutralizar 100% de suas emissões de CO2 até 2025. Um exemplo de ações que já vêm sendo adotadas são aquelas com foco na malha logística e alguns resultados já estão sendo obtidos: durante 2019, o Grupo Carrefour Brasil registrou uma redução de 5% A/A nas emissões totais de CO2 na malha logística, o equivalente a 1.300 toneladas.

Sobre o consumo de energia, reconhecemos positivamente as iniciativas da empresa nesta frente e destacamos: (i) a instalação de lâmpadas LED nos estacionamentos cobertos de todas as lojas, galerias e principais salas de vendas do Carrefour; (ii) revestimento das coberturas com tintas antipiréticas reflexivas para reduzir a carga do ar condicionado e, consequentemente, o consumo geral de energia; (iii) uso de vidros nas fachadas das lojas Atacadão, visando o aproveitamento da luz natural; (iv) 80 lojas do Atacadão possuem contratos de energia no mercado não regulado, o que gerou uma economia estimada em R$ 31 milhões ao longo de 2019. Como resultado, a marca Carrefour apresentou uma queda de 3,2% na intensidade energética, enquanto o Atacadão, dado o aumento no número de lojas, viu o indicador aumentar em 13% A/A.

Por fim, destacamos que o Grupo Carrefour Brasil também está comprometido em contribuir para o desmatamento zero, valorizando a biodiversidade e a produção sustentável. Para isso, a empresa atua local e globalmente para conscientizar e engajar suas cadeias produtivas (soja, óleo de palma, pecuária, madeira e outras commodities) em modelos de operação mais sustentáveis – uma das cadeias mais críticas ao setor é a bovina e no caso do Carrefour seus produtos de carne bovina são certificados pela Rainforest Alliance. Além disso, a empresa vem realizando ações concretas para coibir o desempenho irregular de fornecedores instalados na Floresta Amazônica ou em terras do Cerrado, o que vemos como positivo.

Social

Vemos a frente Social como o principal desafio do Grupo Carrefour Brasil. Embora reconheçamos os esforços atuais da empresa neste assunto, vemos um longo e desafiador caminho pela frente, principalmente quando se trata de gestão de mão de obra e diversidade. Abaixo, destacamos cinco frentes-chave em nossa análise:


(i) Gestão da força de trabalho: Ao final de 2019, o Grupo Carrefour Brasil contava com 88.745 colaboradores, divididos entre Atacadão (55%) e Carrefour (45%). No que diz respeito à diversidade de gênero, notamos que as mulheres são maioria no Carrefour (55%), enquanto os homens representam 59% no Atacadão. Entre os cargos de gerência e coordenação, 25% e 30% dos dirigentes do Carrefour e Atacadão são mulheres, respectivamente. Além disso, destacamos o compromisso global do Carrefour de ter 40% dos cargos-chave (diretoria e alta administração) ocupados por mulheres em todos os países até 2025.

Em relação à diversidade racial, o Grupo Carrefour Brasil possui 58% dos funcionários e 39% dos cargos de liderança ocupados por pessoas que se declaram negros ou pardos. Vemos espaço para avanço do Grupo Carrefour Brasil em ambas as frente, ao mesmo tempo em que vemos com bons olhos o estabelecimento, por parte da empresa, de metas para os gestores da empresa, com impacto nos seus planos de remuneração variável, para a contratação de mulheres e negros e pardos para cargos de liderança.

Em relação às iniciativas da empresa no treinamento de funcionários em relação aos padrões éticos, destacamos que as mesmas envolvem declarações gerais. Assim, como já mencionado acima, vemos espaço para melhorias visando fortalecer o treinamento para funcionários próprios e terceirizados, com ter programas abrangendo todos eles (inclusive aqueles cujo contrato é de meio período) e terceirizados.

(ii) Padrões de Trabalho na Cadeia de Abastecimento: Em 2019, o Carrefour Brasil estabeleceu que iria estender a auditoria social à todos os seus fornecedores até o final de 2020, antes restrita à cadeia têxtil – em relação a essa cadeia, a empresa adere ao programa de certificação de fornecedores da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (ABVTEX). De acordo com o relatório de sustentabilidade da companhia, todos os fornecedores do Grupo Carrefour Brasil – que inclui produtos, independentemente da marca, e serviços – devem cumprir os três principais documentos que norteiam a conduta social do Carrefour: Código de Conduta Empresarial, Ética do Fornecedor e Social e Contrato Nacional de Compra e Fornecimento. Além disso, 100% dos fornecedores são avaliados com base em parâmetros sociais e de direitos humanos no momento da contratação e, para ser aprovado, o fornecedor deve ser certificado por meio de auditoria de responsabilidade social. Face ao acontecimento que culminou na morte brutal e trágica do Sr. João Alberto Silveira Freitas, vemos claramente que as políticas atuais não estão sendo aplicadas na íntegra, pelo menos na vertente dos serviços.

(iii) Segurança e Qualidade do Produto: o Carrefour possui um departamento de Qualidade e Segurança Alimentar, composto por 100 profissionais (incluindo terceiros) que gerenciam e coordenam as equipes nas lojas e centros de distribuição da empresa em todo o país.

(iv) Oportunidades em Nutrição e Saúde: Vemos como positivas as iniciativas do Carrefour Brasil neste tópico, com destaque para a iniciativa global do Carrefour “Act for Food”, que foi introduzida no Brasil em 2018. O Act for Food é um movimento global lançado em outubro 2018, para utilizar a força da marca Carrefour, a capilaridade de atuação e a influência que exerce sobre a cadeia de valor, para tornar alimentos saudáveis ​​acessíveis à todos. Com isso, o Carrefour Brasil tem ampliado a oferta de produtos saudáveis ​​e orgânicos disponíveis em suas lojas, a um preço justo, buscando torná-los mais acessíveis. Para isso, a empresa criou “Espaços Saudáveis” em 82 hipermercados, além de ter investido em uma marca própria saudável/orgânica, que já abrange mais de 2.600 produtos, possibilitando aumentar a participação desses itens nas vendas para 13%, bem como crescer 6,2% A/A a penetração desses produtos orgânicos e frescos na cesta básica.

(v) Privacidade e segurança de dados: À medida que os consumidores recorrem cada vez mais às compras online para praticar o distanciamento social em meio à crise do COVID-19, a exposição do Carrefour Brasil a possíveis riscos de violação de dados aumentou. De acordo com o MSCI, ao contrário dos líderes do setor, a empresa parece não ter auditorias regulares do sistema de dados ou um administrador de privacidade para supervisionar a segurança dos dados.

Governança

O Grupo Carrefour Brasil é uma empresa controlada, com o acionista controlador detendo 38,8% de participação, e as ações da empresa (CRFB3) são negociadas no Novo Mercado, o mais alto padrão de governança corporativa do mercado brasileiro.

O Conselho de Administração do Carrefour Brasil tem 10 membros, dos quais apenas 2 são independentes – portanto, o Conselho da empresa carece de maioria independente, o que, combinado com a falta de um presidente independente, sugere uma composição do Conselho que pode prejudicar a sua capacidade de atuar como um contrapeso para a gestão. Além disso, observamos que o Conselho de Administração do Grupo Carrefour Brasil não inclui atualmente um comitê de auditoria totalmente independente, uma grande preocupação para os investidores. Por fim, em relação à diversidade do Conselho da empresa, notamos que entre os 10 membros, apenas 1 é mulher, onde vemos espaço para melhorias.

É importante destacar que a morte de João Alberto também reflete as práticas de governança corporativa da empresa, já que não foi o primeiro incidente envolvendo o Grupo Carrefour Brasil. Em dezembro de 2018, um cão abandonado morreu após ser envenenado e espancado por um funcionário; e em agosto de 2020, um homem morreu em uma loja em Recife e o corpo foi coberto com guarda-sóis e separado da movimentação dos clientes através de caixas e barreiras, enquanto o estabelecimento continuava aberto. Além dos dois eventos acima mencionados, notamos que ocorreram mais episódios de violência e racismo envolvendo a empresa no passado. Em nossa opinião, é responsabilidade da gestão da empresa garantir o comprometimento dos funcionários e terceiros com os parâmetros sociais e de direitos humanos.

Morte de João Alberto Silveira Freitas

Em relação à morte brutal e trágica do Sr. João Alberto Silveira Freitas, ocorrida na loja Carrefour localizada em Passo D’Areia, Porto Alegre / RS, em 19 de novembro de 2020, vemos a ocorrência como não aceitável. Os atuais esforços da empresa na agenda ESG não foram suficientes para evitar tal evento, o que nos leva a concluir que ainda há um longo caminho pela frente para a empresa aprimorar suas políticas de terceiros, para fortalecer o treinamento com seus próprios funcionários e colaboradores terceiros, além de aprimorar suas práticas e comitês de governança corporativa.

Embora recebamos positivamente os anúncios e iniciativas da empresa após este evento, estamos monitorando de perto os próximos passos. Abaixo destacamos as iniciativas da empresa anunciadas por meio de fatos relevantes após a trágica morte do Sr. João Alberto:

(i) a empresa rescindiu o contrato de serviço local com o terceiro responsável pelos guardas de segurança que causaram tal evento trágico;

(ii) todo o lucro das lojas do Carrefour Brasil de 20 de novembro de 2020 foi doado para projetos de apoio ao combate ao racismo no país, de acordo com orientação de entidades reconhecidas na área;

(iii) a criação de um fundo de promoção da inclusão racial e combate ao racismo, com investimento inicial de R $ 25 milhões pela empresa;

(iv) a criação de um Comitê de Diversidade e seu compromisso de defender uma política de tolerância zero para a discriminação racial. O Comitê Externo de Livre Expressão sobre Diversidade e Inclusão tem como objetivo assessorar o Carrefour Brasil e foi constituído de forma livre e independente, nas diretrizes e ações contra o racismo em todas as suas unidades. O Comitê é composto por Rachel Maia, Adriana Barbosa, Celso Athayde, Silvio Almeida, Anna Karla da Silva Pereira, Mariana Ferreira dos Santos, Maurício Pestana, Renato Meirelles e Ricardo Sales. O Carrefour Brasil anunciou oito medidas iniciais elaboradas pelo Comitê, que serão colocadas em prática pela empresa para reforçar as já adotadas.

MSCI ESG Ratings

O Carrefour Brasil possui uma classificação A pelo MSCI ESG Ratings. Em uma perspectiva global, a classificação A coloca o CRFB entre os 18% das empresas com essa classificação sob os constituintes do Índice MSCI ACWI do setor de varejo de alimentos e itens básicos (55 empresas).

Fonte: MSCI, Research XP

Grupo Mateus (GMAT3): Ainda no começo; Longo caminho pela frente

O Grupo Mateus ainda está no início de sua agenda ESG. Embora vemos um longo caminho adiante, reconhecemos positivamente que em nossa última reunião com a empresa ficou claro que a gestão do Grupo Mateus reconhece essa necessidade e está evoluindo para avançar nessa agenda. No que diz respeito à divulgação da companhia de práticas e dados em relação aos fatores ambientais, sociais e de governança, notamos que o Grupo Mateus ainda não tem um relatório de sustentabilidade, o que acaba limitando a nossa análise e a dos investidores em relação às iniciativas na agenda ESG da empresa.

Ambiental

De acordo com a companhia, ~85% da energia consumida no Grupo Mateus é proveniente de fontes limpas​​ (21% biogás, 38% biomassa de cana de açúcar e 25% eólica). Além disso, a empresa busca o descarte correto de seus resíduos, reciclando tanto o lixo orgânico (como óleo, sebo e osso), quanto o inorgânico (plástico, papelão etc).

Social

O Grupo Mateus possui programas que auxiliam as comunidades locais, com principal destaque para: (i) Promai (Programa Mateus de Inclusão), principal porta de entrada para pessoas com deficiência; (ii) Programa Oportunizar, que trabalha o desenvolvimento de habilidades socioeducativas e equilíbrio emocional em crianças e adolescentes que vivem em situação de vulnerabilidade em casas lares (antigos orfanatos); e (iii) Programa Engraxate, para ex dependentes químicos que engraxam sapatos nas lojas; (iv) Programa de doação de sangue; dentre outros. Além disso, vemos com bons olhos o forte foco do Grupo Mateus no desenvolvimento de pessoas, formando-as desde a educação básica até programas de negócios internacionais. Como resultado, quase 70% dos cargos de liderança são de pessoas com mais de 10 anos de experiência na empresa e 100% da equipe de operações é local.

Governança

Em 13 de outubro de 2020, o Grupo Mateus precificou seu IPO, captando cerca de R$ 3 bilhões a um preço de oferta de R$ 8,97. Antes da oferta, a estrutura acionária da empresa era 100% detida pela família do Sr. Ilson Mateus Rodrigues, fundador e CEO da empresa. Após o IPO, a família manteve o controle, com 79,4% do capital e 20,6% em free float. As ações do grupo são listadas no Novo Mercado, segmento com o mais alto nível de governança corporativa, e o Conselho de Administração da empresa é composto por 5 membros. Neste tópico, destacamos dois pontos que vemos espaço para evolução: o Conselho carece de maioria independente (2 dos 5 membros), bem como de diversidade de gênero, dado que os 5 membros são homens.

Fonte: Site da companhia, XP Investimentos

Além disso, conforme mencionamos em nosso relatório de início de cobertura, no dia 16 de outubro, uma reportagem de um jornal brasileiro chamou a atenção para uma seção sobre o prospecto da empresa, onde eram detalhadas deficiências de controles internos apontadas pelo auditor. O artigo alegou que a seção foi incluída após a precificação do IPO e sugere que as deficiências poderiam ter um impacto material no histórico e nas projeções financeiras. Destacamos os principais pontos para sustentar nossa visão de que a reação à notícia foi exagerada: (i) Nenhum impacto material: as deficiências listadas não levam a nenhum ajuste no histórico da empresa ou no seu plano de negócios; (ii) Isso é muito comum: todas as empresas listadas recebem esse relatório de seus auditores e, inclusive, algumas delas divulgam deficiências graves em seus formulários de referência; (iii) Data da divulgação da seção: a empresa incorporou o relatório no dia útil seguinte ao recebimento do relatório, sendo este dia 5 de outubro. Portanto, cerca de uma semana antes da precificação; (iv) O relatório do auditor é um entregável exigido: o “relatório circunstanciado” é uma entrega obrigatória por parte da empresa de auditoria, juntamente com as Demonstrações auditada, onde são apontadas deficiências e/ou sugestões de melhorias para os controles internos da empresa. Essas falhas podem ser classificadas em leves, moderadas ou graves; e (v) A divulgação não é obrigatória: as empresas só são obrigadas a divulgar deficiências graves em seu prospecto ou formulário de referência. Portanto, o Grupo Mateus não precisava divulgar nenhuma dessas informações e apenas o fez para ser transparente.


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