A crise atual veio de forma muito rápida, caindo como um meteoro (usando as palavras do Ministro Paulo Guedes) em uma economia que vinha se recuperando, com uma forte ancoragem fiscal e um plano reformista mirando solucionar grandes problemas do Brasil no longo prazo. O Ibovespa, que chegou a quase 120,000 pontos em Janeiro, já cai 35% desde então, aos 77,500 pontos atualmente, depois de ter caído aos 63,560 pontos ao final de Março.
O Brasil começou a agenda de reformas pela aprovação da reforma da Previdência em 2019, e discutíamos em 2020 as reformas administrativa e tributária como próximas pautas possíveis no Congresso. Além disso, o mundo dava claros sinais de aceleração econômica.
Uma crise para chamar de nossa
A crise que se iniciou em fevereiro como uma crise de saúde se alastrou rapidamente para também se tornar uma grave crise econômica, de proporções nunca antes vistas.
Porém, não bastassem essas duas crises, uma crise política foi adicionada ao imbróglio brasileiro nesta sexta-feira (24) com a saída repentina de Sérgio Moro do Ministério da Justiça. Enquanto o Brasil compartilha das mesmas dores do resto do mundo por causa do coronavírus, essa nova crise é inteiramente brasileira.
É importante lembrar também que as duas outras crises, a da saúde e da economia, continuam e ainda não estão próximas de terminarem. Adicionar uma crise politica nesse momento é preocupante, pois pode colocar em cheque o cenário de recuperação do Brasil no pós-COVID. Cenários alternativos e de “cauda” passam a ter uma probabilidade não desprezível e é isso que percebemos os mercados começarem a precificar.
Bolsa brasileira -54% em dólares
Em um dia calmo e de alta no cenário externo, vimos o Ibovespa flertar com o “circuit breaker” novamente (seria a 7ª vez do ano), mas fechar em 5,45% de queda, com uma melhora ao final do pregão após o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro.
A Bolsa brasileira em dólares (índice MSCI Brasil) caiu 9% nesta sexta-feira e acumula já 54% de queda no ano. A 2ª pior Bolsa no mundo, a da Namíbia, cai 45% do ano e a Bolsa da Colômbia cai 44% em 2020.
Fonte: Bloomberg e XP Investimentos
Curva de juros (DI) em forte alta
A curva de juros abriu fortemente, com o contrato de longo prazo do CDI com vencimento em Janeiro-2025 subindo +140bps para 7,21% a.a. Nos juros de curto prazo, o mercado passou a precificar um corte menor na Selic na próxima reunião do COPOM, de 50bps e não mais de 75bps.
Fonte: Bloomberg e XP Investimentos
Real-Dólar já perde 27% de valor no ano
O dólar chegou em novas máximas históricas, atingindo o patamar de 5,58, subindo 0,8% no dia, após chegar a 5,72 ao longo do dia, e o Banco Central Brasileiro ter atuado por oito vezes no câmbio. O Real já perde 27% de valor no ano, sendo a pior moeda entre todos os países emergentes.
Quando olhamos para o real deflacionado pelo índice IPCA, vemos que o pico do Dólar-Real foi na verdade em 2002, quando o dólar chegou a atingir o nível de 7,32, atualizando para os níveis de hoje.
Caso a crise atual se agrave mais e o mercado teste as máximas do passado, isso implicaria ainda uma alta da moeda norte-americana de 28% frente aos níveis atuais. É importante frisar, porém, que o Brasil tem atualmente um nível de risco-país abaixo de 4% (vs. acima de 10-15% em crises passadas) e também um alto nível de reservas de US$ 340 bilhões, dois pontos importantes que trazem um colchão de proteção maior.
Real-Dólar deflacionado pelo IPCA
Fonte: Bloomberg e XP Investimentos
Turbulência na política brasileira
A relação entre Jair Bolsonaro e o ex-ministro Sergio Moro sofreu forte desgaste de ontem para hoje e, apesar de esforço da ala política do governo para reverter a decisão, Moro abandonou o cargo e fez fortes críticas ao presidente da República em seu pronunciamento.
A decisão do ministro já havia sido antecipada pela mídia nessa manhã, porém, o tom do pronunciamento e fortes acusações contra o presidente da República não eram esperados.
Em sua fala, o ministro explicou que abandonava o governo após conflito com Bolsonaro sobre a potencial demissão do diretor-geral da Polícia Federal, Mauricio Valeixo, que, em sua consideração, carecia de motivo e, ao contrário das declarações do presidente e do que constava no Diário Oficial, não era a pedido do policial. Afirmou também que não foi avisado da decisão final de Bolsonaro e foi surpreendido pela publicação da exoneração no Diário Oficial de hoje.
Vale destacar que esta não é a primeira crise dentro do governo em meio à pandemia. Nas últimas semanas vimos embate entre a ala militar e o time econômico, a saída do Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, a participação do presidente em atos a favor da intervenção militar no último domingo, além de falas controversas que causaram fortes respostas da sociedade. Entretanto, o mais recente episódio tem sido considerado o mais grave até o momento.
Outra questão importante a ser considerada é o futuro do outro “super-ministro” de Bolsonaro, Paulo Guedes (Economia), que parece haver perdido espaço no governo para a ala militar. A permanência do ministro é importante para preservar estabilidade no governo e sua saída poderia abalar Bolsonaro. Guedes não se pronunciou sobre os eventos recentes, mas o presidente destacou a importância do ministro durante o seu pronunciamento.
Nos próximos dias, certamente veremos turbulência na política brasileira e os desenvolvimentos terão que ser monitorados de perto. Mais detalhes sobre a saída de Moro podem ser vistos em live realizada pelos analistas da XP Investimentos e o reconhecido professor Carlos Melo.
O consenso, segundo o professor Carlos Melo, é que, a partir de agora, o Congresso irá monitorar muito de perto o apoio popular ao presidente Bolsonaro, e isso ditará a resposta do Congresso. Além das investigações sobre os fatos trazidos por Sergio Moro e depois pelo próprio Presidente em seu discurso durante a tarde.
Recomendações: cautela de curto prazo continua
Vínhamos afirmando que cautela de curto prazo deveria se manter (“Tempos de guerra – revisando o target da Bolsa”), em um cenário incerto. Acreditamos agora que essa cautela deve se elevar, pois a crise política não era algo esperado no nosso cenário anterior.
Acreditamos que a volatilidade nos mercados deve continuar elevada, pois o mercado continuará sensível às notícias do coronavírus e da saúde, da economia, do crédito das empresas e, agora, do ambiente político.
Nesse cenário, achamos prudente que investidores mantenham uma carteira diversificada e busquem aumentar exposição em ativos de menor risco. Esses ativos incluem:
1) Ativos Internacionais: como ações globais, fundos de investimento de renda fixa ou ações globais, BDRs e ETFs internacionais listados na B3 e COEs.
2) Ativos capazes de diversificar o portfólio: e se aproveitar de distorções continuam importantes, como fundos long short e quantitativos.
3) Ativos anti-cíclicos e reais, como ações, imobiliário (FIIs) e o ouro (link). Como regra de bolso, entre 10 e 30% da parcela em ações e fundos de ações. Veja nossas carteiras recomendadas por perfil de risco e as nossas recomendações de Fundos Imobiliários.
4) ações de empresas multinacionais e com receita dolarizada, como VALE, JBS, Marfrig, Suzano e Klabin e ações de empresas boas pagadoras de dividendos.
5) títulos de renda fixa de prazo mais curto (Tesouro Direto), e debêntures com baixo risco e de empresas sólidas.
Caso as 3 crises tenham curta duração e o cenário volte a melhorar rapidamente, esses ativos são de qualidade e também irão ter uma boa performance. Acreditamos que preservação de capital ganha maior relevância em tempos de elevada incerteza.
Recomendações na Renda Fixa no curto prazo
Vemos agora um cenário mais incerto para 2021 e teremos que aguardar os próximos capítulos dessas 3 frentes (saúde, economia e política). Por isso, é prudente que a cautela de curto prazo seja mantida.
Essa cautela pode ser traduzida de diversas formas, seja buscando prazos de investimentos mais curtos ou ativos mais seguros.
Vale ressaltar que buscar ativos de prazo mais curto não significa necessariamente abrir mão da rentabilidade. Desde o início da crise do covid-19 no Brasil, as rentabilidades de ativos de renda fixa se elevaram, inclusive para vencimentos de até um ou dois anos.
Em relação a ativos seguros, oportunidades não faltam na renda fixa. A começar por títulos do Tesouro Direto, que são os mais seguros do país.
Emissões bancárias como CDBs, LCIs e LCAs são garantidos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para investimentos de até R$ 250 mil por CPF e conglomerado financeiro. Isso confere muita segurança para esses ativos, porém principalmente em momentos mais incertos, recomenda-se permanecer dentro dos limites da garantia.
Por fim, as emissões de crédito privado (debêntures, CRIs e CRAs) são naturalmente mais arriscadas, por isso é essencial entender o risco do emissor antes de tomar decisões. O ideal seria buscar emissões de empresas de baixo risco (rating elevado) e com solidez.
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