28/09, 13h | Onde investir com juros e inflação em alta: oportunidades em títulos públicos

Com as taxas de juros e inflação em alta, o investimento em títulos públicos voltou a ficar atrativo. Nesse cenário, onde estão as melhores oportunidades de investimento, em títulos prefixados, pós-fixados ou atrelados à inflação? Quais vencimentos hoje apresentam taxas de retorno com maior prêmio. Veja o painel com o estrategista Macro da XP, Marcelo Freller, e Luiza Ribeiro Lima, de Sales de Renda Fixa da XP,  e saiba mais sobre as oportunidades de investimento em título do Tesouro direto.

Brasil tem o maior juro real do mundo

Apesar das incertezas no mercado local, o Brasil também oferece muita oportunidade de investimento. O país tem hoje o maior juro real do mundo considerando as taxas oferecidas nos títulos soberanos de cinco anos, sendo superior inclusive aos retornos reais oferecidos por papéis de outros emergentes como da África do Sul, Rússia e Turquia. “A Turquia tem uma taxa de juros nominal de 18%, mas a inflação também é muito alta”, disse Freller.

Segundo Freller, os títulos brasileiros pagam hoje um juro real, isto é, a taxa de juros descontada a inflação, de 4,65% ao ano, enquanto nos mercados desenvolvidos a taxa de juros real é negativa. “Nos Estados Unidos, quem aplica o dinheiro em títulos do Tesouro perde para a inflação”, disse Freller.

Por que o juro real no Brasil é tão alto?

A trajetória de piora da dívida pública no Brasil nos últimos dois anos e incertezas no cenário fiscal têm levado os investidores a pedir um prêmio maior para financiar a dívida pública brasileira, uma vez que eles veem o risco maior de não pagamento dessa dívida comparado com outros emergentes. Hoje o país tem uma relação de dívida/PIB maior que a África do Sul e México, por exemplo, destacou Freller. “E a nossa trajetória da dívida para os próximos 10 anos é muito ruim, e a eleição vai trazer maior dificuldade. Por isso, o Brasil paga mais que outros emergentes”, disse Freller.

Quais fatores influenciam na renda fixa doméstica?

O comportamento das taxas de juros no Brasil é influenciado por fatores externos e domésticos e entender esses cenários é fundamental para identificar as oportunidades no mercado de renda fixa, disse Freller.

Cenário externo

Os títulos do Tesouro americano (Treasuries) são considerados os ativos mais seguros que existem no mundo, conhecido como ativo livre de risco referência. Portanto, uma alta nas taxas desses títulos tem impacto na renda fixa global. Quando as taxas nos Estados Unidos sobem, as taxas de juros no Brasil também refletem esse movimento , pois o país precisa oferecer um retorno maior para os investidores para continuar atrativo.

Daqui para frente, o quão rápido o banco central americano, Federal Reserve, vai subir a taxa de juros nos Estados Unidos para conter o aumento da inflação é que vai determinar o comportamento das taxas desses títulos.

Na última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) do Federal Reserve, aumentou o número de participantes que veem a possibilidade de uma alta da taxa básica de juros americana já no ano que vem. No documento divulgado pelo Fed com as projeções, 9 dos 18 participantes veem uma alta da taxa de juros em 0,25 ponto percentual já em 2022, contra 7 em junho. As projeções mostram de 3 a 4 altas até o fim de 2023. “Isso já está no preço hoje , mas se o Fed tiver que subir os juros mais rápido isso pode ser negativo para a renda fixa brasileira. Já se a inflação for transitória, como eles vem dizendo, e ele não tiver que subir os juros mais de três vezes será positivo para a renda fixa brasileira”, disse Freller.

Cenário doméstico

As incertezas no cenário doméstico, contudo, têm afetado negativamente a renda fixa brasileira neste ano. Entre os principais temas que têm impactado os títulos públicos estão:

  • Reforma do Imposto de Renda e Auxílio Brasil – O governo pretendia financiar o aumento do benefício pago pelo Auxílio Brasil (antigo Bolsa Família) com a tributação do pagamento de dividendos, medida incluída na proposta de Reforma do Imposto de Renda aprovada na Câmara. Mas com a demora da aprovação no Senado, o governo vem estudando outras alternativas para custear o programa como o prorrogação do auxílio emergencial. A Lei de Responsabilidade Fiscal prevê que a criação de uma despesa permanente tem que ser compensada com uma fonte de recursos continuada.
  • Precatórios– A ampliação do programa Auxílio Brasil ainda precisa caber dentro do teto de gastos, que limita o crescimento da dívida pública à variação da inflação. O governo tem uma dívida de quase R$ 90 bilhões em precatórios, que são dívida devidas pela União que não cabem mais recurso, que vencem em 2022, um salto dos R$ 54,7 bilhões previstos para este ano. O governo vem discutindo algumas possibilidades para o pagamento dessa dívida sem que isso comprometa a viabilização do Auxílio Brasil, como considerar dentro do Orçamento o pagamento de apenas parte da dívida, baseada na média paga desde 2016 reajustada pela inflação, e tirar o restante do teto de gastos.
  • Aumento da inflação  – Com a incerteza no cenário fiscal, os investidores começaram a pedir, desde o fim de agosto, um prêmio maior nos títulos públicos para financiar a dívida pública brasileira, dado que o risco do governo também aumentou. Já no curto prazo, o aumento dos preços de energia, petróleo, commodities, câmbio e choques na cadeia de fornecimento têm aumentado as pressões inflacionárias. A projeção dos analistas para a inflação no último Boletim Focus era de um IPCA a 8,45% no fim de 2021 e de 4,12% no fim de 2022, acima da meta de inflação de 3,5%. A XP espera IPCA de 8,4% no fim deste ano e em 3,7%. “No ano que vem, já partimos de um patamar muito alto e achamos que a inflação vai dar uma normalizada. Não significa que os preços vão cair, mas que vão subir menos que neste ano”, diz Freller.

Alta de juros impactou a renda fixa, mas traz oportunidade

Esse aumento das expectativas de inflação levou a uma alta das taxas dos títulos de renda fixa e fez com o Banco Central tivesse que subir a taxa Selic. A XP espera uma taxa Selic de 8% para o fim de 2021 e 8,5% para fim de 2022, considerando um câmbio de R$ 5,10 a R$ 5,20. “Se tiver um choque no câmbio o BC terá que subir mais a taxa de juros”, diz Freller.

Na ata da última reunião do Copom, divulgada em 28 de setembro, o BC sinalizou que não pretende aumentar o ritmo de alta da taxa básica de juros em relação a última reunião, quando elevou a Selic em 1 ponto percentual para 6,25%, mas deixou claro que vai subir os juros até onde for necessário para controlar a inflação , disse Freller. A autoridade monetária também intensificou a venda de dólar por meio de contratos de swap cambial na tentativa de reduzir a pressão no câmbio.

Essa alta das taxas de juros teve um impacto negativo nos títulos de renda fixa neste ano. Isso porque, quando o Tesouro vende papéis com taxas de juros maiores, os papéis no mercado que estavam com taxas menores sofrem uma desvalorização.

Portanto, os preços dos títulos públicos estão sujeitos à variação do mercado e se o investidor quiser garantir o rendimento daquela taxa oferecida pelo papel ele tem que ficar com esse título na carteira até o vencimento.

O aumento das taxas de juros, contudo, também traz oportunidades de aplicação na renda fixa. Confira abaixo os cenários para os papéis do Tesouro.

Tesouro Selic

Os títulos públicos pós-fixados, também conhecidos Tesouro Selic, pagam uma remuneração atrelada à taxa Selic mais uma pequena taxa prefixada, que no caso do título com vencimento em 2024 era de 0,1562%. Essa taxa era de 0,05% em 2019, mas diante da percepção do mercado de que o Tesouro poderia ter dificuldade para rolar o grande volume de dívida que vencia neste ano, o mercado passou a pedir um prêmio maior nesses papéis. “O Tesouro foi em sucedido em rolar a dívida, e as taxas prefixadas desses papéis caíram, mas ainda estão em níveis mais elevados que em 2019 e 2020, porque a dívida do governo também é maior”, diz Freller.

Freller destaca que o Tesouro Selic é uma boa alternativa de aplicação para a reserva de emergência, oferecendo um retorno hoje de cerca de 105% do CDI em título com liquidez.

Tesouro IPCA

Os títulos do governo Tesouro IPCA pagam a variação da inflação mais uma taxa prefixada. Os papéis com vencimento acima de 2024 estavam pagando hoje uma taxa acima de 4% mais inflação, o que, segundo Freller , é uma taxa de juro real muito atrativa.

Freller destaca que a diferença para as taxas pagas pelos papeis papéis com vencimentos mais longos hoje está bem menor. O título Tesouro IPCA com vencimento em 2055 estava pagando IPCA mais cerca de 5% ao ano. “Essa diferença hoje é de apenas 0,5%, tendo pouco vantagem para o investidor alongar o prazo de investimento”, disse.

Nesse cenário ele vê oportunidade mais interessante nos papéis com prazo intermediário, com vencimento de 2026 a 20230, que têm menos volatilidade que os papéis com prazos mais longos, que são mais influenciados pelo cenário fiscal e externo. Enquanto o papel com vencimento em 2050 acumulava queda de cerca de 11% no ano, os títulos com prazo para 2024 recuava 3,5%, destaca Freller.

 “Agora se você vê um cenário mais positivo para o Brasil, os papéis com prazo mais longo podem dar uma rentabilidade melhor”, diz.

Tesouro Prefixado

O mesmo raciocínio vale para os papéis do Tesouro prefixados, isto é , cuja taxas de retorno são definidas no momento da compra do papel. Se a taxa de juros sobe, esses papéis se desvalorizam, já se a taxa de juros cair o preço desses papéis sobe. Quanto mais longo o prazo do título , mais alta é a volatilidade e , portanto, maior o risco.

A NTN-F com vencimento em 2031, por exemplo, chegou a cair mais de 20% neste ano. Pois quando as taxas sobem, os investidores vendem ao papéis com taxas menores para comprar os títulos novos com taxas mais altas.

Assim como nos títulos Tesouro IPCA, Freller vê mais oportunidade nos papéis com prazo intermediário, com vencimento de 2024 a 2027. “Esses papéis não têm uma volatilidade tão alta e estão com prêmio interessante”, disse.

A diferença entre as taxas pagas nesses títulos hoje também é menor. O papel com vencimento em 2024 estava pagando 10,28% no Tesouro Direto, enquanto a taxa oferecida no título para 2031 era de 11,15%.

“É mais fácil a inflação voltar para 4% e o BC não precisar fazer um aumento tão grande de juros do que os problemas fiscais se resolverem no curto prazo”, disse Freller.

O estrategista da XP alerta, no entanto, que em um movimento de alta das taxas , os papéis atrelados à inflação tendem a sofrer menos que os prefixados. “Os prefixados são mais arriscados que as Tesouro IPCA”, disse.

Por último, diante de um cenário de eleições no ano que vem, muitos investidores se questionam se devem investir agora ou esperar até o ano que vem. Nesse sentido, Freller recomenda começar a investir agora, em que os prêmios já estão interessantes, e ir comprando os papéis aos poucos.

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