- Nos dias 26 e 27 de outubro, ocorrerá a próxima reunião do Copom.
- Vemos dois cenários como mais prováveis:
- Cenário-base: Elevação de 1,5 ponto percentual (pp) ou mais, refletindo a mudança estrutural da questão fiscal.
- Cenário alternativo: Elevação de 1,25 pp, sendo um “meio do caminho” entre a sinalização anterior de plano de voo e as estimativas do mercado.
- Caso o cenário-base se concretize, enxergamos a possibilidade de a curva perder inclinação, com as taxas DI mais longas caindo.
- No cenário alternativo, acreditamos que decepcionaria o mercado, levando a estresse ainda maior nas taxas mais longas da curva de juros e, consequentemente, maior inclinação.
- A nossa expectativa (XP) é de que a Selic atinja 9,25% em 2021, com duas altas de 1,5 pp (outubro e dezembro). Esperamos ainda que encerre o ciclo de alta em 11%, no início de 2022.
Nesta semana, nos dias 26 e 27 de outubro ocorrerá a penúltima reunião do Copom em 2021. Para a decisão, a grande maioria do mercado, incluindo os economistas da XP, aguarda um aumento de 1,5 pp, o que elevaria a Selic a 7,75%.
Existem ferramentas no mercado que precificam essas expectativas dos agentes. Como exemplo, às 12h do dia 25/10, as “apostas” nas Digitais de Copom se davam como segue:
Expectativa | Probabilidade |
---|---|
Elevação para 7,75% (+1,5pp) | ~43-50% |
Elevação para 7,50% (+1,25pp) | ~15-20% |
Elevação para 7,25% (+ 1,0 pp) | ~10-11% |
Ou seja, há uma probabilidade, na visão do mercado, de cerca de 39% de que a Selic seja elevada em 1,5 pp na próxima reunião do Copom, em linha com nossas expectativas. Já a probabilidade de elevação menor, de 1,25 pp, era de apenas 33% na mesma data.
Como mencionado no Esquenta do Copom, do nosso time de economistas da XP, no comunicado que acompanhou sua última decisão, o Copom advertiu que “novos prolongamentos das políticas fiscais de resposta à pandemia que pressionem a demanda agregada e piorem a trajetória fiscal podem elevar os prêmios de risco do país. Apesar da melhora recente nos indicadores de sustentabilidade da dívida pública, o risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos.” Em nossa visão, os acontecimentos da última semana indicam que esse risco se materializou. Desta forma, entendemos que o Copom incorporará esta pressão inflacionária altista em seu cenário básico. E, como consequência, vai alterar a estratégia que vinha adotando, passando a implementar um ajuste mais intenso da política monetária.
Essa mudança de visão também pode ser vista na comparação entre as expectativas do mercado nas vésperas do Copom de setembro e agora:
Indicador | Expectativas na semana do último Copom (setembro) | Expectativas atuais |
---|---|---|
DI Jan/23 | 9,015% | 11,06% |
DI Jan/27 | 10,58% | 11,92% |
Câmbio (R$/US$) 2021 (Focus – Mediana) | 5,20 | 5,45 |
Câmbio (R$/US$) 2022 (Focus – Mediana) | 5,23 | 5,45 |
IPCA 2021 (Focus – Mediana) | 8,35% | 8,96% |
IPCA 2022 (Focus – Mediana) | 4,10% | 4,40% |
Selic 2021 (Focus – Mediana) | 8,25% | 8,75% |
Selic 2022 (Focus – Mediana) | 8,50% | 9,50% |
Além de precisarmos acompanhar qual será a decisão do Copom em relação à elevação da taxa Selic, é necessário nos atentarmos ao comunicado sobre os planos do BC para próximos passos da política monetária, que guiarão as expectativas para os juros nos próximos meses.
Com base nisso, o que o Copom dirá desta vez? Acreditamos que sejam dois os cenários mais prováveis:
Cenário 1: +1,5pp ou mais
Elevação de 1,5 pp ou mais, para 7,75%, indicando mudança estrutural no cenário fiscal e, consequentemente, nas expectativas de inflação, sendo, portanto, mais hawkish. Acreditamos que estaria em linha com o cenário de que o risco fiscal que o BC mapeava se materializou.
Em nossa visão, o “Cenário 1” teria menos potencial de movimentar a curva de juros, uma vez que o mercado já espera uma reação do Banco Central às mudanças propostas no teto de gastos, anunciadas na última semana. Apesar de o potencial de mudança na curva ser menor, acreditamos que a tendência seria de perda de inclinação da curva de juros, principalmente se o BC surpreender com elevação acima de 1,5pp, com os juros mais longos caindo.
Quais ativos vão melhor neste cenário?
Títulos prefixados e indexados à inflação de prazos curtos: desvalorização ou manutenção
Títulos prefixados e indexados à inflação de prazos longos: valorização ou manutenção
Em caso de concretização do “Cenário 1”, os investimentos prefixados e indexados à inflação de prazos mais longos apresentariam valorização neste primeiro momento, com queda nas taxas dos títulos. Para quem já detém este tipo de ativo, poderia ser uma oportunidade de ganhos de capital.
Para o curto prazo, com a elevação dos juros que poderia ocorrer, os títulos se desvalorizariam Para quem busca alocação em títulos de curto prazo, poderia representar uma boa oportunidade, uma vez que passariam a pagar remunerações mais elevadas a preços mais baixos.
De qualquer forma, enxergamos o cenário atual como positivo para alocação nos títulos pós-fixados, que acompanham a taxa de juros, uma vez que a expectativa para a taxa Selic é de elevação em qualquer um dos cenários apresentados.
Cenário 2: +1,25pp
Elevação da taxa Selic em 1,25 pp, para 7,5%. Neste caso, o BC optaria pelo meio do caminho entre seu plano de voo indicado anteriormente e as expectativas de mercado, o que seria interpretado como mais dovish pelo mercado.
Acreditamos que caso o “Cenário 2” se concretize, a curva de juros tende ganhar inclinação, uma indicação do mercado de que o ajuste deveria ser mais duro, dado o quadro fiscal atual. Com isso, os prêmios em vencimentos mais longos da curva subiriam.
O mesmo movimento aconteceria diante de um cenário menos provável, mas ainda plausível, de elevação em 1,0 pp, porém veríamos uma inclinação ainda mais forte.
Quais ativos vão melhor neste cenário?
Títulos prefixados e indexados à inflação de prazos curtos: valorização
Títulos prefixados e indexados à inflação de prazos longos: desvalorização
Em caso de concretização deste cenário, os títulos prefixados e indexados ao IPCA de prazos mais curtos apresentariam valorização, o que resultaria em possibilidade de ganhos de capital para quem já tivesse os títulos e decidisse vendê-los antes do vencimento, para capturar esta possível oportunidade
Neste cenário, com a elevação dos prêmios (taxas) de longo prazo, os títulos de prazos mais longos se desvalorizariam no mercado secundário. Ou seja, quem buscasse por esses títulos a partir desse movimento, conseguiria rentabilidades mais interessantes para prazos mais longos, a preços mais baixos em relação ao período pré-Copom.
Para os títulos pós-fixados, que acompanham a taxa de juros, nossa visão não se altera neste cenário em relação ao “Cenário 1”. A diferença é de que a expectativa seria de juros sendo elevados mais lentamente do que o esperado no cenário-base.
Exemplos de investimentos
Curto prazo (Pré e IPCA+): No caso de títulos públicos, há as LTNs com vencimento em 2022 a 2025 e NTN-Bs com vencimentos até 2026. Estes títulos são prefixados e indexados à inflação, respectivamente. Nem todos estão disponíveis no Tesouro Direto, necessitando, portanto, de um intermediário para a compra (como um assessor de investimentos).
Longo Prazo (Pré e IPCA+): Títulos com duration (prazo médio de vencimento) acima de 5 anos como por exemplo NTN-Bs que vencem após 2028. Há também títulos bancários e de crédito privado atrelados ao IPCA ou prefixados e que podem apresentar comportamento semelhante aos citados para títulos públicos.
Pós-fixados: Tesouro Selic 2024, Tesouro Selic 2027, além de LFTs negociadas no mercado secundário e títulos bancários e de crédito privado com a mesma característica de acompanhar a taxa Selic. Vale notar, no entanto, que estes títulos podem sofrer oscilações, embora menores do que os prefixados e indexados à inflação. Para reduzir o risco de variações antes do vencimento, procure títulos de prazos mais curtos.
O que pode acontecer de diferente?
Tudo o que apresentamos aqui leva como base apenas a reunião do Copom dos dias 26 e 27 de outubro, sua decisão e posterior comunicado. No entanto, devemos ter em mente que, além de os cenários analisados serem apenas expectativas (ainda que com base em observações anteriores), outras forças agem no mercado diariamente que muitas vezes fogem do radar.
Como exemplo, podemos citar movimentos nos mercados externos que podem ter efeito sobre a percepção de risco local ou até mesmo acontecimentos no cenário político-econômico nacional que podem exaltar ou acalmar os ânimos dos agentes para além do que for decidido na reunião, assim como piora adicional na percepção do risco fiscal.
Tendo isso em mente, é importante sempre acompanhar as principais movimentações e análises de mercado para ajudar na melhor tomada de decisão, além de sempre considerar seu perfil de investidor(a) para melhor estratégia de composição de carteira.
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Glossário
Entendendo os termos sobre as condutas do Banco Central
Dovish: A origem vem da palavra dove, pomba em português. Sinaliza uma conduta do Banco Central mais confiante de que o cenário de inflação não será um problema, e, portanto, pendente a adotar uma política monetária expansionista ou menos restritiva para estimular a economia.
Hawkish: A origem vem da palavra hawk, falcão em português. Sinaliza uma conduta do Banco Central preocupada com os riscos inflacionários, e, portanto, pendente a adotar uma postura monetária mais dura, com subidas mais fortes na taxa de juros, ainda que isso possa prejudicar o emprego e a atividade no curto prazo.
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