1. Temporada de resultados - “Mas não tinha sido bom?” - Ações têm reações negativas apesar dos lucros acima das expectativas
2. Taxas das treasuries continuam trajetória de alta - Fala de Powell e atividade forte impulsionam as taxas de juros longas nos EUA
3. Mercados em queda: O que está acontecendo? Eu não sei! Eu não sei! - A forte queda nos levou a buscar os principais culpados, e achamos seis
4. Atividade econômica chinesa supera expectativas no primeiro trimestre - PIB chinês supera expectativas no 1T24, mas cautela ainda é necessária
5. Tesla: Uma estranha no ninho? - Performance recente de Tesla é evidência de desafios que a empresa enfrenta
1. Temporada de resultados: “Mas não tinha sido bom?”
Início de temporada e os mercados ainda tentando entender qual será o tom. Até o momento, 14% das empresas do S&P 500 reportaram e a expetativa está altíssima para a próxima semana, na qual cerca de 38% da capitalização de mercado do S&P 500 irá mostrar seu desempenho, incluindo 4 Big Techs: Tesla (23/04), Meta (24/04), Alphabet e Microsoft (25/04 – XP Top Ações Internacionais).
Como de costume, o setor financeiro disparou na liderança de divulgações e 45% das empresas do setor, no universo do S&P 500, já reportaram. Como comentamos na semana passada, os resultados têm vindo bons (73% de surpresas positivas nos lucros, com média de 11,7% acima do consenso). O mercado, no entanto, tem tido uma reação negativa, mostrando-se preocupado com o crescimento de depósitos. Nesta semana comentamos sobre: Bank of America, Morgan Stanley, Goldman Sachs e American Express.
Além dos bancos, duas empresas extremamente relevantes para o mercado de semicondutores reportaram resultados: a ASML (XP Top Ações Internacionais) e TSMC. Ambas surpreenderam positivamente nos lucros, porém não na receita (TSMC apenas 1,6% acima e ASML 3,2% abaixo) e apenas reafirmaram seus guidances para o ano. Assim, mesmo com a lucratividade melhor que a esperada, as ações caíram após a divulgação e derrubaram o ETF de semicondutores (ticker: SMH) 11,5% para baixo na semana, reduzindo a alta no ano para “apenas” 14%.
E, por fim, Netflix, que apesar de também mostrar resultados sólidos e bem acima da expectativa do mercado, caiu 9% em resposta a: i) a divulgação de um guidance de receita para o 2º tri abaixo das expectativas e; ii) o anúncio de que não reportariam mais os números detalhados de usuários trimestralmente, reduzindo a transparência e a visibilidade sobre a empresa.
Em termos agregados, as estimativas de lucro por ação do S&P 500 foram ajustadas 2% para baixo ao longo da semana. O mercado, agora, espera um LPA de US$ 53,41. Isso representaria um crescimento de apenas 1,5% ante mesmo período no ano anterior.
Para mais detalhes, confiram:
A página com todos os relatórios e comentários das empresas: Temporada de Resultados 1º trimestre de 2024 - Internacional - XP Investimentos
A prévia completa: Prévia da temporada de resultados do 1º trimestre de 2024 nos EUA: Boa, mas sem grandes surpresas - XP Investimentos
O calendário de divulgações: Ações internacionais: Calendário da temporada de resultados do primeiro trimestre de 2024 - XP Investimentos
Agenda de resultados da próxima semana
2. Taxas das treasuries continuam trajetória de alta
O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, conhecido por adotar um tom mais brando em relação à condução da política monetária, deu uma série de declarações consideradas mais duras no início da semana, que contribuíram definir o tom dos mercados na semana.
Ao comentar sobre o progresso dos principais indicadores econômicos, avaliou que apesar da força atual do mercado de trabalho, este tem avançado para um equilíbrio mais favorável. Acerca da inflação, Powell notou que não têm sido observados avanços nos últimos meses, e que “é apropriado deixar a política monetária tomar mais tempo para funcionar”, numa sinalização clara de que não devem ocorrer cortes de juros tão cedo, e descartando em definitivo a possibilidade de um corte no primeiro semestre.
Powell também avalia que o atual processo inflacionário não é o caso clássico de inflação puxada por demanda superaquecida. Conforme comentamos na última semana, processos inflacionários podem ser comparados com uma hidra de várias cabeças. No momento atual, uma série de peculiaridades torna a inflação americana multifacetada, com componentes advindos da demanda, de fatores relacionados à reabertura pós-pandemia e do petróleo (conforme comentamos aqui), por exemplo. Outros dirigentes do Fed chegaram a ser mais duros que Powell, chamando a atenção para a reaceleração da inflação, e não meramente falta de progresso, e até mesmo aventando a possibilidade de não realizar cortes de juros nesse ano.
Os dados de varejo referentes a março, divulgados nessa semana, corroboram essa visão mais cautelosa em relação à política monetária. As vendas no varejo saltaram 0,7% no mês, ou 4,0% em relação ao mesmo período no ano passado, demostrando a resiliência e o apetite do consumidor americano, mesmo com a aceleração da inflação. O dado mais alto que o esperado leva para cima as projeções do mercado para o PIB do primeiro trimestre de 2024, que deve dar continuidade a trajetória forte dos últimos períodos.
A atividade econômica aquecida é um sinal negativo para a efetividade da política monetária, atrasando o ciclo de cortes de juros. Com isso, as taxas das treasuries continuaram a abrir nessa semana. A taxa de 10 anos encerrou a semana em 4,62% (contra 4,52% do fechamento da semana passada), e a taxa de 30 anos encerrou a semana em 4,71% (contra 4,62% anteriormente). A equipe de economia da XP agora espera que o Federal Reserve corte juros apenas em dezembro.
3. Mercados em queda: O que está acontecendo? Eu não sei! Eu não sei!
Okay. A gente sabe. Ou acha que sabe.
Os mercados continuaram de mau humor nesta semana e intensificaram as quedas. O S&P 500 teve a terceira semana consecutiva de correção (-0,95% ; -1,56% ; -3,05%) e o Nasdaq 100, a quarta (-0,46% ; -0,80% ; -0,58% e -5,36%).
Embora apontar um único culpado ganhe clicks e seja agradável aos ouvidos, movimentos de mercado são complexos e resultado de uma conjunção de fatores, os quais nós, pagos para isso, tentamos filtrar e concatenar de forma que faça (algum) sentido. Vamos às possíveis principais causas:
- Tensões geopolíticas: a continuidade da guerra entre Rússia e Ucrânia e a escalada do conflito entre Irã e Israel, agora com ataques diretos de ambos os lados, geram um sentimento de aversão a risco maior globalmente;
- Treasuries: As taxas das treasuries (a mãe de todas as curvas) seguem abrindo. O vértice de 2 anos já ronda os patamares de 5%, níveis próximos de março/2023 (logo antes das quebras dos 3 bancos regionais nos EUA) e de agosto/2023 (última correção mais forte dos mercados, que durou três meses – agosto, setembro e outubro). Já o vértice de 10 anos sobe pela 4 semana consecutiva e, aos 4,62%, já altera consideravelmente os valuations dos ativos globais;
- Fed: As previsões de cortes de juros pelo Fed em 2024, que chegaram a quase 7 (7x0,25 = 175bps) e impulsionaram os mercados, já foram reduzidas a 1,5 (nosso time macro prevê apenas um, em dezembro);
- Valuations: Em termos de múltiplo Preço/Lucro, os índices americanos estão acima de suas médias históricas com o S&P 500 girando em torno de 20x e o Nasdaq 100 a 24x. Além disso, há uma alta expectativa para o crescimento de lucros embutidas nessa conta, ou seja, caso não se materialize, os índices estariam ainda mais “caros”.
- Liquidez: Embora os níveis de liquidez na economia ainda estejam consideravelmente acima dos padrões históricos, houve uma redução nos últimos meses com o aumento do saldo da conta do Tesouro americano (recolhimento de impostos + emissão de dívidas) e a constante redução do balanço do Fed.
- Fundos Sistemáticos: Esta, talvez, a causa com maior potencial “destrutivo” no curto prazo. Classificamos como fundos sistemáticos, os fundos CTA (Commodity Trading Advisor) que investem diretamente em futuros e os fundos de alocação baseados em volatilidade (Risk Parity Funds, Target Volatility Funds). Sem entrar no mérito de como cada um desse tipo de fundo funciona, o importante é monitorar como eles estão posicionados e como deveriam (afinal, são baseados em sistemas) se comportar. Nossas análises mostram que todas essas estratégias estavam com alocações em bolsa extremamente altas e, conforme os índices caem (e a volatilidade sobe), existe uma NECESSIDADE de vender posições, o que tem um efeito de potencializar os movimentos. Nossos indicadores mostram que esse movimento JÁ COMEÇOU mas ainda está EM CURSO.
Momentos como esse, de movimentações bruscas e fluxos extremos, fazem parte da busca do equilíbrio de mercado. Calma, paciência, boa gestão de riscos, diversificação e lista de compras na mão! Oportunidades surgirão!
4. Atividade econômica chinesa supera expectativas no primeiro trimestre
A semana foi de dados econômicos na China. Após uma inflação que desapontou na semana passada, a divulgação de um PIB mais positivo que o esperado atenuou as preocupações com a região. No primeiro trimestre de 2024, a economia chinesa cresceu 5,3% em relação ao mesmo período do ano passado, quando o país ainda sofria restrições à mobilidade por conta da pandemia da Covid-19.
O crescimento foi apoiado por uma série de estímulos do governo, uma vez que o país passa por uma crise no setor imobiliário e busca novas avenidas de crescimento. O dado foi impulsionado pelo setor industrial no trimestre. Apesar da notícia positiva, dados mais fracos que o esperado em março para as vendas no varejo e indústria indicam que ainda é necessário manter cautela, e que o governo deve seguir estimulando a economia ao longo do ano para atingir a meta de crescimento, estipulada em 5% para 2024.
A piora na margem dos dados de atividade econômica podem revelar um desafio maior: o excesso de capacidade da China entra em conflito com interesses de potências ocidentais, que possuem interesse em preservar sua dominância em setores como o de veículos elétricos e de placas solares. O Comissário de Comércio da União Europeia, Valdis Dombrovskis, alertou para riscos relacionados a usar o comércio como arma de relações diplomáticas, prática que deu origem à Guerra Comercial de 2019 entre Estados Unidos e China.
A temática deve seguir em foco ao longo deste ano, que é de eleições nos Estados Unidos.
5. Tesla: Uma estranha no ninho?
Magnificent7, Mag7, as sete magníficas (quase maravilhas) do mundo da tecnologia. Quem não ouviu falar destas fabulosas empresas nos últimos meses, não estava prestando atenção! Em 2023 o retorno total deste seleto grupo foi excepcional: Alphabet 58,8% ; Amazon 80,9% ; Apple 49,0% ; Meta Platforms 194,1% ; Microsoft 58,2% ; Nvidia 239,0% ;Tesla 101,7%
O termo Mag7 veio substituir um mais antigo, as FAANG (Facebook, Apple, Amazon, Netflix e Google), que se tornou obsoleto, não só pela mudança de nome (Facebook -> Meta, Google -> Alphabet) mas também pelo rebaixamento de Netflix (em 2022 a empresa parecia ter perdido seus superpoderes) e pela ausência de duas estrelas trilionárias: Tesla e Nvidia.
Se, em 2023, as 7 magníficas (ou 8 se considerarmos a Netflix) andavam juntas (pra cima) e nada parecia que iria separá-las, em 2024 o grupo rachou! 2 empresas das 7 (ou 8!) têm performances negativas no ano: A Apple (-14%) que enfrenta problemas para crescer receitas, especialmente com a queda de vendas de iPhones na China e a Tesla (-41%).
A lista de preocupações com a empresa de Elon Musk não é pequena. Algumas das mais importantes são:
- O mercado de veículos elétricos tem enfrentado dificuldades e não cresce mais em penetração de mercado como nos anos anteriores devido a problemas de precificação, altos custos de seguros e reparos, menores incentivos fiscais, alta depreciação, baixo valor de revenda e a intensa competição de veículos híbridos.
- A ascensão das montadoras chinesas que, com apoio do governo, têm crescido e exportado para os principais mercados consumidores do mundo, como Europa e Brasil. Essa competição tem forçado a Tesla e entrar numa guerra de preços para manter o volume de entregas.
- A compressão de margens da Tesla, como comentamos aqui, dados os menores preços e a afirmação de Musk que a empresa chegou no “limite natural de redução de custos na atual linha de automóveis atuais”.
- O possível adiamento (ou abandono) do projeto de um novo modelo (Model 2) mais barato, cujo lançamento era esperado para o próximo ano.
- Os riscos envolvidos no projeto de Robotaxis cuja aprovação por reguladores e viabilidade ainda são uma grande incógnita.
- Os comentários do CEO, Elon Musk, acerca da impossibilidade de desenvolver projetos de inteligência artificial dentro da empresa, dada sua falta de controle acionário.
Com essa grande (e ainda assim, não exaustiva) lista de dificuldades, a Tesla parece estar em seu “momento Netflix”, no qual o mercado não mais acredita no seu economic moat e não tem interesse em pagar antecipadamente para ver se a empresa será capaz de dar a volta por cima. As ações caíram 14% na semana.
Se você ainda não tem conta na XP Investimentos, abra a sua!