Os holofotes internacionais estão voltados para as crescentes tensões entre a Rússia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). A organização, liderada pelos Estados Unidos e seus aliados europeus, alerta ao risco de invasão da Ucrânia e um possível conflito na região. Entenda os principais vetores da crise, os possíveis cenários e impactos para seus investimentos.
Dando um contexto das tensões na Ucrânia
Apesar do Kremlin negar intenções de invadir a Ucrânia, desde dezembro de 2021 tropas russas têm sido mobilizadas para a região da fronteira entre Rússia e Ucrânia e o país vizinho, Bielorrússia. Portanto, Estados Unidos e aliados indicam temores da repetição de um cenário como o de 2014, quando Moscou anexou a região da Crimeia, apoiando um movimento separatista no leste ucraniano. Nesse contexto, as tensões entre a Rússia e a OTAN chegaram a seu ponto mais alto em anos.
Recentemente, os Estados Unidos alertaram que esta semana poderia ser chave, indicando que havia uma possibilidade relevante de invasão. No entanto, os primeiros sinais de alívio das tensões aparecerem nesta terça-feira (15), quando o Kremlin anunciou que algumas tropas voltariam a suas bases após completarem exercícios na fronteira.
A visão de Putin
A postura do presidente russo na disputa ainda não é inteiramente clara. No entanto, em diálogos com a OTAN, assim como com a imprensa, tem feito demandas que considera prioritárias, como a promessa que a Ucrânia não se tornará membro da OTAN.
Vale destacar que a Ucrânia, país que antigamente fazia parte da União Soviética, têm se aproximado da União Europeia e dos Estados Unidos nos últimos anos, apesar da preferência de Putin de manter uma barreira de estados entre a Rússia e o bloco. Portanto, as movimentações podem ser interpretadas como uma tentativa do líder de proteger sua esfera de influência, além de promover possíveis ganhos para a imagem de Putin na Rússia.
O conflito, mesmo que em escala reduzida, poderia ter custos relevantes para a economia russa e poderia até levar a sanções para Putin individualmente. Portanto, o Kremlin considera as manobras no tabuleiro de xadrez cuidadosamente.
Os diferentes cenários que podemos traçar
Ainda é cedo para determinar quais serão todas as ramificações da crise, tanto na seara política, quanto na econômica. No entanto, acadêmicos e diplomatas se debruçam sobre os possíveis cenários que podem resultar da disputa para ajudar o entendimento. Segundo o especialista consultado pela XP, o professor de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Gunther Rudzit, esses são três: 1) uma resolução do conflito por vias diplomáticas; 2) um conflito localizado no leste da Ucrânia (também chamado de guerra híbrida); ou 3) um conflito de maior escala com participação de tropas russas e ucranianas.
A resolução diplomática
Apesar de ainda haver um longo caminho a percorrer para que os países cheguem a uma resolução, consideramos que esse seja cenário mais provável.
O custo de um conflito seria alto, tanto do ponto de vista político quanto econômico – especialmente para os países europeus. Por isso, os países têm liderado uma intensa iniciativa diplomática nas últimas semanas, que tem incentivado os primeiros sinais de alívio das tensões
Apesar de uma resolução ainda estar longe de ser alcançada, o desejo expresso dos líderes de evitar um conflito amplia as possibilidades de um desfecho diplomático ao imbróglio.
Conflito localizado
Se as vias diplomáticas não produzirem os resultados desejados, o resultado mais provável seria um conflito localizado em regiões do leste ucraniano. Nesse contexto, o governo russo apoiaria movimentos separatistas em províncias do país vizinho, com intuito de anexá-las posteriormente.
O conflito seria categorizado como “híbrido”, porque estratégias variadas, como ataques cibernéticos e políticos, poderiam ser utilizadas.
Conflito maior
Existe ainda a possibilidade de um conflito maior, que seria um conflito direto com participação ativa dos exércitos ucraniano e russo, com provável intuito de trocar o governo da Ucrânia. Esse não é cenário base por enquanto.
Vale destacar que tropas da OTAN já estão em alerta e, ainda que não posicionadas na Ucrânia, foram movimentadas para a região do leste europeu. Os países já proporcionam assistência técnica e equipamentos a Ucrânia, o que intensificaria em tal cenário. No entanto, a OTAN deve evitar envolvimento direto.
Como esse conflito afeta os seus investimentos?
Os preços das commodities devem continuar a subir – o que beneficia a Bolsa brasileira
Quando os EUA, na última sexta-feira do dia 11 de fevereiro, alertaram que a Rússia poderia estar se preparando para atacar a Ucrânia, os mercados globais reagiram com uma forte queda em meio ao sentimento de aversão ao risco. Em contraste, o índice Ibovespa conseguiu sustentar uma alta puxada pelos preços das commodities – principalmente do petróleo que chegou a subir +5% em um dia.
A Rússia é o terceiro maior produtor de petróleo, atrás apenas dos EUA e da Arábia Saudita, e o segundo maior produtor de gás natural. E, como já vimos em episódios semelhantes no passado, conflitos geopolíticos envolvendo países produtores da commodity tendem a trazer bastante volatilidade nos seus preços. E a maior fonte de receita de petróleo e gás natural da Rússia é a Europa – sendo, por isso, a resposta dos líderes europeus tão delicada.
Além de commodities de energia, os preços de comodities agrícolas também têm sido afetados. Ambos os países são grandes exportadores de milho e fertilizantes, e a Ucrânia é o terceiro maior exportador de milho do mundo. Como o setor de energia, os preços agrícolas também são fortemente afetados pelo conflito na região.
Para o Brasil, apesar de um sentimento de risk-off para os mercados, a alta de commodities tende a beneficiar a nossa Bolsa. Quase 40% do índice Ibovespa são de empresas ligadas a commodities – esse é o maior nível dentre as principais Bolsas do mundo todo.
E como mencionamos no último Raio XP, a Bolsa brasileira tem sido impulsionada por: 1) rotação nos mercados globais de empresas de crescimento para valor; 2) forte exposição a commodities; e 3) múltiplos ainda muito baixos.
Dessa forma, essa forte subida de preços das commodities nos últimos meses, que tem sido impulsionado por uma demanda forte e falta de resposta na oferta, e agora exacerbada por esse conflito geopolítico, tende a ser positiva para o Ibovespa de forma geral.
Por outro lado, isso pressiona a inflação e bancos centrais globais a considerar juros ainda maiores
A consequência de maiores preços de energia e alimentos é uma pressão ainda maior na inflação globalmente. No Brasil, o IPCA atingiu 10,4% em janeiro; na Zona do Euro, a inflação acelerou para 5,1% no mesmo mês; e nos EUA, a inflação ao consumidor atingiu a maior alta em 40 anos em 7,5% no início de 2022.
Como resultado, fica ainda mais delicada a discussão de subida de juros que já acontece no mundo todo. Diante do cenário inflacionário pressionado, o nosso time de Economia recentemente elevou a projeção da taxa Selic para 12,75% ao final do ciclo de alta, de 11,75% anteriormente. E nos EUA, alguns analistas já projetam uma subida de 0,5p.p. na próxima reunião de março – lembrando que o banco central americano geralmente sobe apenas 0,25p.p.
Como se proteger?
Dólar: Eventos de crise global como esse tende a fortalecer o dólar contra todas as outras moedas. Isso acontece porque a moeda americana é considerada o “porto seguro”, e investidores globais correm em direção a ele em busca de proteção. Isso enfatiza a nossa opinião de que ter uma parcela da carteira dolarizada é estruturalmente importante. Além de proteger contra a volatilidade da nossa própria moeda diante de riscos fiscais e políticos no Brasil, investimentos dolarizados protegem contra esses episódios de aversão à risco global.
Nesse caso, investimentos em ETFs, fundos de investimentos e BDRs (veja análise detalhada de 10 ações estrangeiras e conheça também nossa carteira Top 10 BDRs) podem oferecer esse tipo de exposição.
Ativos reais: com a inflação em alta, e que deve continuar a ser pressionada por esse conflito geopolítico, ativos reais são aqueles que tendem a proteger os investidores contra a subida de preços. Commodities de energia, metais e agrícolas são exemplos.
A XP lançou o eTrend Ativos Reais como uma estratégia para defender a carteira contra ciclos de inflação global.
Se você ainda não tem conta na XP Investimentos, abra a sua!