O mês de fevereiro teve início com o índice de ações americanas (S&P 500) acumulando um ganho expressivo de 5,4% em uma sequência de 6 altas seguidas – a mais longa desde agosto do ano passado. Porém, com o aumento das taxas de juros futuros americanos e o baixo dividend yield esperado das ações (na casa dos 1,5% a.a.), viu-se um movimento de correção na segunda metade do mês, com recursos saindo do mercado acionário para o mercado de renda fixa.
Além disso, no mercado externo, houve uma mudança no perfil das alocações em ações. Investidores começaram a apostar nos ativos com melhores perspectivas diante da reabertura da economia (como restaurantes e empresas relacionadas com turismo/viagens), e houve a venda de posições que tiveram fortes retornos durante a pandemia (como tecnologia). Isso se refletiu na performance das ações, com o índice S&P 500 se apreciando 2,6%, enquanto o índice Nasdaq 100 (com maior representatividade do setor de tecnologia) caiu 2,4%.
Duas dinâmicas ajudam a explicar os movimentos recentes nos mercados de ações e de renda fixa: 1) subida das taxas de juros em meio ao otimismo sobre o ritmo de crescimento/reação da economia dos EUA; 2) receio de um aumento da inflação. Em fevereiro, o rendimento do título soberano de 10 anos dos EUA (Treasury 10-year) saltou de 1,08% para 1,52%, seu nível mais alto em 1 ano.
No Brasil, o mês também teve um início otimista, devido à apresentação da agenda de prioridades das então novas presidências do Senado e da Câmara dos Deputados, alinhadas ao governo do presidente Jair Bolsonaro.
No entanto, frustações foram surgindo baseadas nas indefinições acerca do novo auxílio emergencial e de como esse programa seria financiado em um ambiente fiscal tão apertado. Pode-se destacar também todo o barulho de mercado acerca da substituição do presidente da Petrobras. O saldo dos ruídos internacionais com a incerteza política local foi uma queda relevante de 4,37% no índice Ibovespa e uma alta de 0,99% do dólar contra o real.
Principais indicadores
Fundos de Crédito
Em um mês desafiador para ativos de risco no Brasil, o mercado de crédito também foi impactado: o índice que mede o desempenho de debêntures de infraestrutura calculado pela Anbima, o IDA-IPCA Infraestrutura, teve queda de -1,11% em fevereiro, com impacto negativo vindo da piora das curvas de juros futuros no Brasil (típico em períodos de maior aversão a risco). Para ativos cuja remuneração é atrelada ao CDI, o cenário ainda foi positivo, com o índice Idex, calculado pela JGP, subindo 0,67%.
O carrego médio das debêntures que fazem parte do Idex fechou o mês de fevereiro na casa de CDI + 1,99% a.a., em um movimento de continuidade da normalização dos prêmios de crédito após a alta expressiva observada no início da pandemia, entre março e abril de 2020.
Após um período de queda na captação mensal dos fundos de Renda Fixa, a classe voltou a captar em 2021, com fluxo positivo nos meses de janeiro e fevereiro.
Entre as categorias de fundos que acompanhamos, a melhor performance veio da classe de renda fixa internacional que não possui hedge (ou seja, tem exposição ao dólar), em virtude do retorno positivo da moeda americana no mês de fevereiro, com o retorno médio da amostra de fundos em +1,47%. O destaque negativo ficou com os fundos de debêntures incentivadas que não possuem hedge contra os juros prefixados, com retorno médio de -0,40%.
Ainda que apresentem retorno negativo no mês, estes fundos performaram melhor do que o IDA- Infraestrutura medido pela Anbima, que teve retorno de -1,11%. O recuo se deu pela performance negativa dos títulos atrelados ao IPCA no mês de fevereiro, que foram impactados pela alta nas curvas de juros futuros. Os fundos incentivados com hedge, no entanto, tiveram um mês positivo, por não serem influenciados pela volatilidade da curva prefixada e por terem se beneficiado de um IPCA mais alto.
As emissões do mercado de crédito retornaram para o patamar de 2019, mas os gestores dessa classe acreditam que, conforme a taxa de juros básica da economia, a Selic, volte a subir, os ativos de mercado primário ficarão mais interessantes e a própria estratégia de crédito privado ganhará atratividade para os investidores.
Confira abaixo os retornos médios das principais categorias de fundos de Crédito em nossa amostra de acompanhamento:
Fundos Multimercados
O ambiente de alta volatilidade que marcou fevereiro se refletiu nos retornos dos multimercados também. No mercado local, o agravamento da situação sanitária em meio à pandemia e os desenvolvimentos negativos no âmbito político, sobretudo com medidas intervencionistas do governo na Petrobras, contribuíram, em geral, para o recuo dos multimercados na segunda quinzena do mês, dado que uma boa parte dos gestores ainda carrega posições que se beneficiam de um cenário mais otimista.
O índice de multimercados da Anbima (IHFA) subiu 2,54% até o dia 17/02 e fechou o mês com retorno de 0,50%, devolvendo boa parte da alta inicial. Em 12 meses, o índice sobe 3,91%, contra 2,41% do CDI.
Ainda que o IHFA represente o comportamento médio da indústria dos multimercados, os retornos no mês foram bastante variados conforme as diferentes estratégias. Entre os fundos que monitoramos, o destaque ficou por conta dos multimercados internacionais sem hedge (que se beneficiaram da alta do dólar), com alta de 1,75%, na média.
Também se destacaram os fundos quantitativos / sistemáticos, com retorno médio de 0,65% (embora seja um grupo bastante reduzido). Por fim, vale mencionar os fundos de estratégia long short, isto é, que investem em posições de valor relativo no mercado de ações, mas sem grande exposição a movimentos direcionais de mercado.
Entre os fundos de estratégia macro, a classe mais representativa e para qual a dispersão de retornos foi maior, cerca de 50% dos fundos ficaram no campo positivo em fevereiro, e a performance variou entre incríveis +9,60% para a média do três melhores e -4,06% para a média dos três piores – uma alta dispersão.
No agregado, essa classe teve um mês positivo de captação líquida, de R$ 10,5 bilhões – em linha com o forte ritmo de captação que tiveram ao longo do segundo semestre de 2020. Segundo a classificação da Anbima, os destaques ficaram por conta da categoria Multimercados Investimento no Exterior, seguido dos Multimercados Juros e Moedas e Multimercados Macro.
Fundos de Ações
Os fundos de renda variável locais, em sua grande maioria, tiveram o segundo mês de queda no ano, acompanhando a forte realização observada no índice Ibovespa. Chegamos a ultrapassar os 120.000 pontos em meados do mês, mas as tensões locais somadas às internacionais levaram o índice a perder cerca de 10.000 pontos na segunda quinzena.
Os índices de materiais básicos (muito ligados a commodities) e do setor industrial foram os únicos que ficaram no campo positivo nesse mês. Pelo lado negativo, despontou o setor imobiliário.
Mesmo com a queda expressiva do Ibovespa, no entanto, as categorias dos fundos de estratégia Long Biased e Long Only performaram acima do índice. Apesar das quedas e das incertezas que minaram o cenário, no entanto, os gestores continuam otimistas com a recuperação da bolsa, dado que tanto por aqui quanto no exterior existe a combinação de um ambiente de juros muito baixos e há perspectivas de retomada das economias, à medida que as campanhas de vacinação contra o covid-19 continuem avançando.
Segue abaixo um resumo com os retornos médios das principais categorias de fundos de Renda Variável presentes em nosso radar de acompanhamento:
Fundos Internacionais
Os fundos internacionais que mais se destacaram ao longo do mês foram aqueles com exposição cambial (“sem hedge”), dado mais um mês de valorização da moeda americana contra o real (+0,99% no período).
Dentro do universo de Renda Fixa, sofreram no período os fundos com maior exposição a títulos “High Grade” e aqueles com exposição a países emergentes, que foram impactados negativamente pela alta observada nos títulos americanos (Treasuries). Pelo lado positivo, os fundos com maior exposição a títulos “High Yield” ficaram no terreno positivo. Como referência, o índice S&P US High Yield Corporate subiu 0,24% e o S&P Investment Grade Corporate caiu 1,80%.
Dentre os Multimercados, além dos produtos que possuem exposição ao dólar, foram bem aqueles classificados como macro / multiestratégia. Os que possuem estratégias mais focadas em renda fixa e moedas (sem exposição a renda variável) ficaram para trás.
Por fim, nos fundos de Ações, foram bem os fundos com exposição global ou com foco em países desenvolvidos. No terreno negativo, ficaram os fundos com exposição a países emergentes (Brasil e China dentre eles). O índice MSCI All Countries (ACWI) subiu 2,21%, o MSCI Europe subiu 2,30% e o S&P 500 subiu 2,61%. Por outro lado, o MSCI China caiu 1,04%.
Fundos Alternativos
A queda da Selic vem reduzindo ganhos da tradicional renda fixa e representa uma oportunidade para alocação em fundos que investem na economia real, como o private equity e o venture capital.
Um recente estudo divulgado pela ABVCAP, Insper e Spectra demonstra que gestores de private equity com atuação no Brasil têm desempenho comparável aos melhores gestores globais, ficando classificados no primeiro quartil da indústria. O recorte avalia a performance dos fundos de 1994 a 2018, que somam R$84 bilhões em capitais.
Em praticamente todas as safras de fundos no intervalo de tempo do estudo, o índice TVPI (total value to paid-in capital), que mede o múltiplo do valor dos ativos em relação ao capital investido, foi superior a 1 – ou seja, os fundos teriam o que distribuir em lucros se fossem liquidados hoje. Em 87% dos casos, a taxa interna de retorno foi positiva. Adicionalmente, em média, os fundos brasileiros entregaram duas vezes mais que o Ibovespa, 1,9 vez o índice MSCI de emergentes e 2,6 vezes o CDI.
A XP vem se antecipando a essa tendência de diversificação e alocação da parcela do portfólio em ativos alternativos, dando acesso a seus investidores a diversas ofertas de fundos de gestoras altamente qualificadas. Últimas oportunidades disponíveis na plataforma incluíram os fundos das gestoras Monashees (janeiro) e Crescera (fevereiro). Abaixo, um breve resumo da experiência desses gestores:
- Monashees
Fundada em 2005, possui cerca de 80 companhias ativas no portfólio dentre as quais Loggi, MadeiraMadeira, Banco Neon, Petlove e Rappi. Levantaram 9 fundos de venture capital no Brasil, sempre focando em rodadas semente e series A. Esse novo fundo, distribuído pela XP, tem foco em empresas até o estágio pré-IPO.
- Crescera
Gestora de Private Equity e Venture Capital, com cerca de R$5,2 bilhões sob gestão. Já realizou 23 investimentos em 15 companhias investidas, e os principais setores de atuação incluem saúde, educação, bens de consumo, alimentos & bebidas e tecnologia da informação. A gestora tem obtido bastante sucesso em desinvestimentos, tendo levado 4 empresas ao mercado de capitais tanto na B3 quanto no exterior.
Fundos Imobiliários
No universo dos fundos imobiliários, o IFIX apresentou performance de +0,25% em fevereiro, após a alta de 0,32% em janeiro, impulsionado positivamente pelos fundos do segmento de recebíveis. O índice XPFI, índice geral de fundos imobiliários da XP, apresentou a performance de +0,21%, enquanto o XPFT, índice de fundos imobiliários de tijolos da XP, apresentou queda de -1,28% e o XPFP, índice de fundos imobiliários de papel da XP, apresentou performance de +2,27%.
A B3 anunciou o novo índice de fundos imobiliários, IFIX L, composto por fundos imobiliários com maior liquidez. Atualmente o IFIX possui 87 ativos em sua carteira, já o IFIX L é composto apenas por 51 ativos. O indicador foi lançado dia 22/02, indicando o desempenho médio das cotações dos FIIs mais líquidos negociados na Bolsa.
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