Semanalmente, aos sábados, um novo episódio do Outliers é divulgado nos agregadores de podcasts. Até aí, sem novidades. As boas novas são que os episódios passaram a ser transmitidos também em vídeo no Youtube da XP e que o time de analistas da XP passou a cobrir esses episódios para serem publicados em um relatório, como esse, que se aprofunda mais ainda em informações e detalhes sobre a gestora e/ou sobre o(s) fundo(s) discutido(s) em cada episódio. Nosso objetivo é ir mais fundo para ajudá-lo na análise desses produtos, por isso apresentamos o “Indo a Fundo no Outliers”.
Aproveitaremos a grande qualidade dos assuntos abordados e escolheremos um para analisarmos a fundo. No caso desta versão discorremos com mais detalhes sobre os fundos cujo gestor principal é Welliam Wang, um dos entrevistados do 45º episódio do Outliers. Atualmente, os principais sob responsabilidade final de Wang são o AZ Quest Advisory Total Return FIC FIM, AZ Quest TOP Long Biased FIC FIA e AZ Quest Small Mid Caps FIC FIA.
20 anos de história e quase R$ 20 bilhões sob gestão
Fundada em 2001 e associada ao Grupo Azimut desde 2015, hoje a AZ Quest é uma das maiores gestoras independentes do país, contando com mais de R$18 bilhões em ativos sob gestão e uma grade de fundos bem diversificada, além de terem passado por diversos ciclos de mercado que foram importantes para a construção do “ecossistema” presente na empresa hoje. Em 2020 receberam da Moody’s a mais alta avaliação “MQ1 (Excelente)” na Qualidade de Gestão, dado o disciplinado processo de gestão de investimentos da casa.
Após mais de 20 anos de história, a AZ Quest gere atualmente mais de 60 fundos entre mandatos abertos ao público e exclusivos. É uma prateleira com as mais diferentes estratégias de Ações, Macro, Crédito Privado e Arbitragem. O objetivo é ter produtos com pouca interdependência entre si e oferecer aos clientes diferentes oportunidades.
O jeito AZ Quest de fazer gestão
Ter um ecossistema rico em interações, com profissionais experientes e alinhados é uma vantagem competitiva que a AZ Quest explora muito bem. A troca de informações entre as diferentes áreas é algo bem comum e que gera sinergia – e bons negócios.
Um exemplo disso foi citado no episódio, em um caso de uma empresa de alta qualidade que tanto a equipe de renda variável, quanto a equipe de renda fixa realizam a cobertura da companhia. Nesse caso, a equipe de crédito notou movimentos técnicos estranhos na emissão de um bond, uma dívida emitida no exterior, que apresentou uma desvalorização abrupta. Ao tomar conhecimento do ocorrido, a equipe de renda variável analisou mais a fundo o papel, encontrando nos fundamentos um movimento negativo para a precificação da empresa, e logo desenhou uma estratégia para se proteger do ocorrido – montando uma posição vendida.
Em 2020, não só a equipe de renda variável composta por onze pessoas e a de crédito por sete, tiveram seus times ampliados, mas também a área macro, após a aquisição da MZK Investimentos. Atualmente só na área de pesquisa econômica são cinco pessoas, diariamente enviando dados que podem ser utilizados ou não pelas equipes de gestão. Abaixo mais detalhes do histórico profissional do time de renda variável:
AZ Quest Total Return: ganhando dinheiro com a queda nas ações de e-commerce
O AZ Quest Advisory Total Return FIC FIM é um fundo long short direcional, ou seja, sua estratégia é composta por uma carteira comprada e vendida em ações. Quando fazemos a subtração do percentual das posições compradas das posições vendidas, temos a exposição net do fundo, que em média, nesse fundo varia entre -10% e 10%.
No gráfico acima temos o comportamento da exposição net (líquida), da exposição bruta ou gross – soma das posições compradas e vendidas – e a rentabilidade do fundo ao longo de 2021. Interessante notar que devido ao seu net ser baixo, seja positivo ou negativo, a sua correlação com a direção do mercado de ações não é relevante para a rentabilidade do fundo (linha amarela) que em 2021 foi de 4,75% mesmo com o Ibovespa caindo quase 12%. O cenário perfeito para esse tipo de estratégia seria se as ações da carteira comprada subissem e os da carteira vendida caíssem, gerando assim retornos nas duas pontas. No momento atual, em que diversos investidores estão preocupados com o cenário macro e veem isso como um motivo para não estarem com muita exposição comprada em renda variável, esse fundo multimercado se mostra como uma uma opção para não estar muito direcional, comprado ou vendido, no mercado de ações.
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Sob a gestão de Welliam desde janeiro de 2021, seja comprado ou vendido, tiveram performance positiva em diversos setores: varejo, serviços financeiros, bens de consumo, mineração, empresas de utilidade pública (exceção às associadas ao setor de energia), papel e celulose, setor imobiliário e transportes. Mas o que realmente nos chamou a atenção, foi quão representativo foi o retorno capturado com as ações de e-commerce.
O nicho chamado de e-commerce não é um setor da bolsa e há divergência entre os analista sobre quais são exatamente essas ações. Nesse relatório partiremos do pressuposto que são empresas que possuem no mínimo um braço de comércio online. Elas estão majoritariamente contidas no setor de varejo como Lojas Renner, mas também podem estar no setor de serviços financeiros como Méliuz.
A pandemia sem dúvidas teve um impacto relevante no comportamento do consumidor, abaixo você pode conferir o comportamento das variações dos preços das ações ligadas ao e-commerce nos últimos 24 meses.
Entre o começo da pandemia e hoje vimos dois movimentos muito fortes, em geral, nessas empresas: (i) uma valorização bem significativa a partir do piso em torno de março e abril de 2020, resultado do crescimento acelerado não só das compras online, mas também de produtos conhecidos como de linha “branca” como geladeira e eletrodomésticos, seguida de (ii) uma desvalorização dos preços das ações dessas empresas, iniciado em torno de fevereiro de 2021 para boa parte dessas ações e acentuado no segundo semestre do ano passado, devido ao aumento da competição entre as empresas e crescimentos abaixo do esperado pelo mercado. As ações de Magazine Luiza (MGLU3), por exemplo, tiveram uma queda acima de 70%, desde o final de fevereiro de 2021 até o final do mesmo ano.
Diferente da visão da maioria dos analistas e dos gestores do mercado, o time de renda variável da AZ Quest não só tinha uma visão mais pessimista sobre elas, como passou a operar vendido nesses papeis, esperando ganhar dinheiro com a queda delas. E foi que ocorreu. A cesta de ações, que o fundo estava vendido, foi responsável por 2,60% do retorno do AZ Quest Advisory Total Return FIC FIM em 2021, ou seja, mais do que 50% do total no ano que foi de 4,75%. Abaixo, detalhamos as contribuições mês a mês das quatro principais ações do nicho de e-commerce:
Essa tese da gestora surgiu a partir do acompanhamento detalhado que a equipe faz do mercado acionário americano, sempre buscando tendências deste que poderiam ou não ser replicadas no nosso mercado. Analisando esse setor nos Estados Unidos, o maior mercado do mundo, chegaram a conclusão de que há apenas um vencedor, ou seja, apenas uma empresa leva a maior parte dos lucros. No mercado brasileiro a competição está super acirrada e ainda distribuída em muitos players como: Mercado Livre, Magazine Luiza, Lojas Americanas, Shopee, além da própria Amazon, etc.
No curto prazo, o time da AZ Quest espera que haja contração das margens operacionais – um conceito de eficiência da companhia calculado a partir da parcela de caixa que foi gerada a partir da atividade principal da empresa em relação ao lucro – a ponto das empresas não apresentarem mais lucro líquido. Os resultados atuais já apresentam pioras relevantes em indicadores operacionais chaves como crescimento de receita e aumento de volume de transações financeiras, o que deve aumentar o questionamento sobre a robustez das plataformas para o longo prazo.
No Brasil, consideram os múltiplos de Preço/Lucro dessas empresas extremamente elevados, dado que algumas delas apresentam bases de lucro muito comprimidas ou até prejuízos para 2021 e 2022. Apesar das quedas, continuam com posições vendidas em algumas companhias desse nicho e não veem qualquer sinal de fraqueza como oportunidade para compra, dado o valuation ainda extremamente caro.
AZ Quest TOP LB: flexibilidade, proteção e bons retornos
O AZ Quest TOP Long Biased FIC FIA, como o próprio nome sugere é um fundo long biased, cuja exposição net líquida pode variar entre -5% e 120% e está sob a gestão de Welliam desde janeiro de 2017. Diferente da maioria dos fundos dessa categoria, ele chegou a ficar com essa exposição inferior a zero. Esse evento ocorreu no mês de setembro de 2021 conforme gráfico abaixo.
A seguir temos o comportamento da exposição líquida e a rentabilidade do fundo e o desempenho do Ibovespa desde janeiro de 2017.
Destacamos no gráfico três períodos distintos para melhor compreensão de como a gestão ativa do net do fundo foi importante para defender a performance do fundo em períodos críticos do mercado, visto em (i) maio de 2018, quando tivemos o Joesley Day, a exposição líquida do fundo (linha preta) caiu de algo próximo a 75% para 40%, o que permitiu que o retorno do fundo (linha amarela) fosse bem melhor que do Ibovespa (linha cinza). Outro período foi (ii) entre agosto e setembro de 2020 quando o risco fiscal pressionou o desempenho da bolsa brasileira e as mudanças ativas na exposição líquida do fundo permitiram uma desempenho positivo do fundo. Por fim, (iii) de julho de 2021 até agora, em um período de aumento da aversão a risco, esse movimento fica mais evidente, com o retorno do fundo caindo bem menos que a bolsa em um primeiro momento e até chegando a subir nos últimos meses mesmo com o Ibovespa ainda em trajetória de queda. Esse resultado foi possível, pois o net do fundo chegou a ir para os menores patamares dos últimos 5 anos, com uma média próxima a 35%, chegando a ficar negativo (mais vendido do que comprado).
Outra forma de mostrar a capacidade de gestão da equipe e sua característica de buscar não só bons retornos, mas também ampla preocupação em proteger o patrimônio dos seus cotistas nos grandes movimentos de queda pode ser ilustrada no outro gráfico abaixo.
Segundo dados da própria AZ Quest, desde o início do fundo, em média, conseguiram capturar 88,2% dos movimentos de alta do Ibovespa enquanto na queda seguem 63,4% também em média. Exemplos mais recentes dessa dinâmica foram os dois períodos, sendo um deles entre 24/03/2020 e 15/07/21, quando o Ibovespa teve alta de 100,5% no período, enquanto o fundo subiu 82,4%. Já entre 16/07/21 e 31/12/21, o Ibovespa teve um retorno negativo de 17,8%, enquanto o fundo teve uma queda de apenas 6,5%. Lembrando que se trata de um fundo long biased, fica claro que o cotista do fundo abre mão de eventualmente ter maior retorno positivo em determinados momentos, para também não ter retornos negativos piores que a bolsa, o que no retorno acumulado acaba fazendo com que o fundo supere o Ibovespa em mais de 30% nesses últimos 5 anos.
Por fim, na ilustração acima, temos outra forma de analisar sua performance relativa. No eixo vertical temos a diferença do fundo em relação ao Ibovespa e no eixo horizontal a performance do Ibovespa. Considerando janelas móveis diárias que pegam o retorno dos 12 meses anteriores, ou seja, considerando a entrada no fundo em qualquer momento e permanecendo nele por doze meses, o investidor estaria em um dos quatro quadrantes. O pior seria o inferior à esquerda, cuja performance do índice foi negativa e o fundo teve performance ainda pior ao do índice, caso que ocorreu em apenas 5,4% das vezes. Já o melhor cenário encontra-se no quadrante superior à direita, cuja performance do fundo foi superior ao do índice mesmo em momentos de alta do Ibovespa, este caso ocorreu em mais de 40% das vezes. O fundo destaca-se por ter um retorno acima do índice, nessas janelas de tempo, em 72% dos casos.
AZ Quest Small Mid Caps: o fundo mais premiado da casa, em breve, também na versão previdência
O AZ Quest Small Mid Caps FIC FIA, como o nome já sinaliza, foca em ações small caps cuja capitalização, ou seja, o seu valor de mercado, seja de até R$ 2 bilhões. Já as mid caps são ações que tem um valor de capitalização de até R$ 10 bilhões, mas não são organizações consideradas grandes e já consolidadas, como ocorre com as large caps.
O fundo já recebeu classificação máxima – 5 estrelas – por diversos anos de empresas como a Morningstar, Valor Econômico, Exame, etc. Em 2020, ficou em segundo lugar no Ranking InfoMoney-Ibmec na categoria melhores fundos de ações da década.
Quando comparado aos demais fundos apresentados aqui, ele é o que possui maior risco, por operar ações cujo mercado de capitalização é menor, e por isso são consideradas mais arriscadas, ou seja por não poder ter uma carteira vendida em ações como os anteriores, que podem proteger o fundo em momentos de queda. Portanto, ele se trata de um fundo long only (apenas comprado).
No entanto, para o investidor que possui tolerância a risco e horizonte mais longo para investimentos ele é um excelente veículo para capturar o crescimento e valorização das ações menos visadas pelo mercado. Lançado em 2009, poucos fundos de small caps possuem tanto tempo de existência.
O fundo está sob a gestão de Welliam desde junho de 2011. Nesse período, o fundo não só teve uma performance mais que 4x superior ao do principal fundo de índice de Small Caps (SMALL11) e também do Ibovespa, como obteve esse retorno com um risco inferior. A volatilidade anualizada do fundo foi de 21,21% frente às volatilidades anualizadas de 23,75% e 25,31% do SMALL11 e Ibovespa, respectivamente. No gráfico acima fica demonstrado pelo ponto amarelo que está muito mais à esquerda (menos volatilidade anualizada) e também pela posição mais acima no eixo de retorno acumulado de quase 300%.
Dadas as suas característica já apresentadas, ele é um excelente veículo para acúmulo e aumento de patrimônio (ganho de capital) em ações no longo prazo. Sendo assim, para quem possui tolerância ao risco e horizonte de investimento acima de 4 ou 5 anos, AZ Quest Small Mid Caps FIC FIA se mostra uma excelente opção ainda mais agora que também terá sua versão de previdência, com lançamento previsto entre fevereiro e março desse ano. Além de se mostrar uma estratégia vencedora de longo prazo, o veículo de previdência trará os benefícios sucessórios e tributários que só agregam vantagens para o investidor que entende que maiores riscos também podem significar retornos superiores em janelas de tempos maiores.