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Esther Duflo, ganhadora do Nobel, nos convida a repensar a Economia tradicional

Economia útil para tempos difíceis: veja abaixo os destaques do painel com Esther Duflo, a mais jovem ganhadora do prêmio Nobel de economia

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A visão de Esther acerca da metodologia econômica tradicional

Esther Duflo, economista franco-americana e ganhadora do Prêmio Nobel de Economia do ano de 2019, deu início ao painel de hoje com uma interessante provocação acerca da metodologia econômica tradicional. Citando o dado de que em 2017 menos de um terço da população confiava em economistas, ela preconiza: “o que precisamos fazer é seguir qualquer que seja a intuição que temos e colocar isso à prova”. Esther ficou famosa ao fazer exatamente isso por meio de seus experimentos econômicos randomizados. O que exatamente isso significa? Em alguns lugares escolhidos aleatoriamente dentro de um grupo relativamente homogêneo, um rascunho de uma política pública é testado; em outros lugares, outras versões são experimentadas. Assim, várias “intuições” podem ser testadas simultaneamente e a versão que obtiver o maior sucesso é implementada em larga escala. Graças a sua rapidez e robustez, Esther acredita que o uso de tais experimentos randomizados vem se tornando cada vez mais frequente no campo econômico nas últimas duas décadas.

Leia mais sobre os experimentos de Esther Duflo clicando aqui e veja como a pesquisadora desenhou um sistema de incentivo que ajudou a multiplicar a taxa de vacinação em mais de seis vezes em 134 vilarejos na Índia.

O COVID-19 e a desigualdade social

Ainda no tema de pobreza e desigualdade, Esther destacou que a América Latina em geral vinha passando por um momento interessante, obtendo sucesso na diminuição da desigualdade após décadas de aumento. Segundo a economista, “esse sucesso já estava a todo vapor nos últimos anos, mas, infelizmente veio o COVID-19”. Esther discorda da visão que a pandemia tem efeitos equalizadores, já que o vírus não saberia se você é rico ou pobre, conforme alguns vem argumentando. Para ela, pelo contrário, o coronavírus pode vir a aprofundas desigualdades sociais, citando o caso dos EUA, por exemplo, onde latinos e africanos são de 3-4x mais prováveis de se infectar por COVID e vir à óbito do que a população branca e não latina. Tal disparidade estaria relacionada ao fato de que essas populações precisam, geralmente, continuar fisicamente comparecendo aos seus postos de trabalho mesmo em meio à pandemia, reduzindo sua chance de cumprir o distanciamento social. Adicionalmente, Esther comenta que, caso fiquem doentes, tais grupos dificilmente receberão o mesmo tratamento que os demais.

O papel do Estado no cenário de pandemia

Quanto ao papel do Estado, Duflo destacou que um governo ideal se voltaria sobretudo às necessidades dos mais vulneráveis da sociedade, especialmente neste momento. Em um cenário de crise durando mais tempo do que o previsto em países como o Brasil e a Índia, na visão de Esther, o plano B para em termos de medidas de isolamento social envolveria, por exemplo, continuar garantindo que as pessoas mais pobres tenham acesso aos “recursos de rendimento” – ou seja, fontes de renda. Na Índia, as grandes fontes de rendimento, mesmo para aqueles que vivem nas zonas pobres, estão nas zonas urbanas. Muitas dessas pessoas tiveram que parar durante o período de lockdown no país e agora estão retornando lentamente aos seus postos. Caso haja uma segunda onda, uma pergunta natural seria “será que eu vou perder meu emprego, será que terei algum suporte do governo se isso acontecer?”. Então, na visão de Esther, o que o governo ou mesmo a indústria precisa fazer é comprometer-se a criar condições de vida para as pessoas pobres, certificando-se de que elas têm acesso à máscaras, habitação e transporte para onde trabalham, dentre outra medidas. “Nada disso é motivo de preocupação no ponto de vista do orçamento de grandes economias como Brasil e Índia, mas poderia fazer uma grande diferença para a vida desses indivíduos.”

Teremos uma onda de desglobalização no período pós-pandêmico?

Quanto à globalização e como a crise afetou a visão acerca do tema, Esther acredita que o mundo está aprendendo sobre a importância de diversificar a cadeia global de suprimentos. Trata-se de uma grande oportunidade para países emergentes enfrentarem a competição da China e se tornarem mais relevantes no mercado internacional, inclusive o Brasil. Esther destaca, ainda, que estaríamos aprendendo sobre a importância da cooperação entre países, por exemplo: “assim que a China pôde reiniciar sua produção, eles já foram capazes de produzir e inclusive exportar ventiladores, salvando muitas vidas”. Esther conclui que, de certo modo, estaríamos aprendendo mais, inclusive sobre como enfrentar os desafios impostos pela globalização. “A questão é sempre buscar uma forma de não fazer qualquer coisa que nos leve a uma dependência extrema da China, e não só da China”.

O papel da economia na era pós COVID

Quando perguntada se acredita que a economia, como área de atuação, pode ter um papel diferente nessa era pós COVID, ela afirma acreditar que muitas pessoas estão prontas para agarrar qualquer oportunidade de se tornarem “auxiliadores”. A economista comenta: “se alguém estará disposto a escutar economistas, eu não tenho certeza”. O que ela está tentando fazer é dar voz aos economistas que estão tentando ajudar em diversas áreas, não apenas onde se é esperado que eles ajam. Esther pontua que economistas talvez passem a repensar assuntos mais abrangentes que foram drasticamente alterados pela pandemia, como o ensino domiciliar, distanciamento social no trabalho, home office etc.

Mulheres no campo econômico

Quanto à presença das mulheres na economia, Esther diz: “Certamente não há mulheres o suficiente na economia, em nenhum nível. Há perdas em todos os estágios do caminho das mulheres nessa profissão.” Indo além, ela destaca que qualquer minoria é sub representada no campo econômico, não apenas mulheres. Esther entende que existem duas principais razões para isso. Em primeiro lugar, predominaria uma visão e pouco informada sobre o trabalho de um economista, ainda muito focada em tópicos tradicionais que costumam não atrair minorias engajadas em ativamente mudar o mundo.  Em segundo lugar, as próprias formas de recrutamento de acadêmicos e profissionais ainda são muito enviesadas, limitando a diversidade de candidatos. Esther reforça: “Economia é uma ciência social, então nos empobrecemos muito se todos tiverem a mesma aparência”.

A importância da abordagem pragmática

Por fim, Esther afirmou ser otimista, ressaltando que, ao contrário do que se pode imaginar, ter uma abordagem pragmática ajuda a tornar as pessoas mais esperançosas. Ela afirma: “Se você quiser resolver o problema da pobreza como um todo, ele pode parecer grande demais. Agora, se você divide a questão em pedaços e atende sistematicaticamente um de cada vez, você obtém progresso em cada pedaço – pode parecer algo muito pequeno, mas é algo que se constrói gradualmente.”

Uma mensagem de esperança

Esther encerrou o painel com uma mensagem de esperança: “Nos últimos 30 anos, a mortalidade infantil e a pobreza extrema caíram pela metade, a mortalidade materna também foi drasticamente reduzida. Os últimos 30 anos têm sido bons! Claro que o COVID está ameaçando tudo isso, mas começaremos em uma posição bem diferente da qual estávamos há muitas décadas.”

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