O IPCA registrou alta de 4,76% no acumulado em doze meses até outubro de 2024. O resultado foi impulsionado principalmente por preços de energia e alimentos, ultrapassando o limite superior da meta do Banco Central. Apesar de alívio em algumas métricas, como bens industriais, o cenário adiante preocupa – e o Banco Central deve seguir elevando os juros em resposta. Investimentos que protegem contra a inflação e se beneficiam de uma Selic elevada seguem centrais em uma carteira diversificada.
A inflação medida pelo IPCA, nosso principal indicador de preços ao consumidor, registrou alta de 0,56% em outubro de 2024. O resultado mensal levou a métrica acumulada em dozes meses para 4,76% em outubro, acelerando em relação aos 4,42% registrados em setembro.
O patamar atingido em outubro rompeu o limite superior de 1,5 p.p. da meta de inflação do Banco Central (de 3,0%) – alimentando preocupações sobre o ritmo de alta de preços adiante e seus impactos na economia.
Meta de inflação: o que é?
O regime de metas de inflação é parte do que chamamos de política monetária – a política responsável pelo controle da quantidade de moeda em determinada economia, que fica sob a responsabilidade do Banco Central.
Esse regime determina uma meta de inflação explícita e numérica (% ao ano), a ser perseguida pelo Banco Central. No caso brasileiro, a meta de inflação atual é de 3,0%. Isso significa que o Banco Central tem a responsabilidade de controlar a alta de preços de maneira contínua, de modo que ela se mantenha no ritmo de 3,00%.
O modelo brasileiro também inclui uma banda de tolerância de 1,50 pontos percentuais para cima e para baixo. Essa “banda” serve para acomodar eventuais choques, como por exemplo uma seca que afete a produção de alimentos e eleve a inflação além do controle do Banco Central, ou uma pandemia que derrube os preços.
Caso o IPCA se mantenha acima do limite de 4,5% por seis meses consecutivos, o presidente do Banco Central deve enviar carta ao Presidente da República indicando: i) os motivos do não atingimento da meta; ii) medidas planejadas para que a inflação retome à meta; e iii) o tempo projetado para que isso se concretize.
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Alimentos e energia impulsionam preços em outubro
A alta de outubro veio dentro do esperado por analistas, com o resultado apresentando poucas surpresas em relação ao projetado. Deste modo, a reação imediata observada nos mercados foi limitada, apesar do estouro da meta.
Mas isso não significa que não vimos alta substancial de preços em certas categorias, tampouco que as perspectivas adiante não preocupam – como detalhamos abaixo.
O destaque do mês ficou para o comportamento dos preços da energia elétrica e dos alimentos – assim como observado em setembro. A ativação da “bandeira vermelha 2” na tarifa de eletricidade (partindo da “bandeira vermelha 1”) explica a alta de 4,7% registrada para a categoria energia elétrica residencial no mês, refletindo a ativação de termelétricas para fornecimento de energia diante do baixo nível de chuvas em boa parte do país nos últimos meses.
Vale destacar: mais de 60% da energia no Brasil é gerada por usinas hidroelétricas. Assim, períodos de seca prolongada acabam levando à necessidade de que a geração de energia termelétrica seja impulsionada, para garantir a geração de energia no país.
Uma vez que o custo de geração de energia por termelétricas é mais alto, o sistema de “bandeiras tarifárias” (verde quando em situação normal, evoluindo até o vermelho 2) tem o objetivo de cobrir tal diferença de custo, incorrendo em “contas de luz mais caras” para famílias e empresas.
Já a inflação de alimentos foi puxada principalmente pela variação nos preços de carnes, que registraram alta de 5,8% somente em outubro – acumulando elevação de 8,33% nos últimos doze meses. Os principais motivos por trás da alta no preço das carnes incluem o momento do ciclo pecuário (específico ao abate bovino), a demanda aquecida diante da alta da renda real disponível da população, e o real despreciado – que tende a impulsionar exportações, reduzindo a oferta doméstica de proteínas.
Além das carnes, produtos lácteos e bebidas (café, principalmente) contribuíram para a alta de 1,22% observada nos preços dos alimentos no mês – uma aceleração relevante frente os 0,56% registrados no mês anterior.
Em bom português: os preços dos alimentos estão subindo, e o ano deve encerrar nesse ritmo. Para ilustrar, projetamos que a inflação de alimentos ultrapasse 8% em 2024.
Do outro lado, o destaque “positivo” do mês (ou seja, com preços menos pressionados) ficou para os preços de bens industriais, como roupas, carros e eletrodomésticos. Para ilustrar, a inflação da categoria registrou queda para 2,4%, quando consideramos a tendência dos últimos três meses, na esteira do cenário de queda de inflação global. O preço de “refrigeradores”, por exemplo, caiu aproximadamente 2% no mês.
O que esperar? Cenário adiante preocupa
Apesar de dentro do esperado pela maior parte dos analistas, e de certas boas notícias em preços industriais, o resultado de outubro reforça preocupações sobre o cenário de preços adiante.
Isso porque os últimos meses foram marcados pelo aumento de fatores de pressão inflacionária tanto no cenário doméstico quanto global – com maior protagonismo para o primeiro.
No cenário global, a recente eleição de Donald Trump à presidência americana adicionou riscos ao ambiente de inflação global, na esteira de promessas eleitorais incluindo políticas mais restritivas contra imigração, maiores tarifas e corte de impostos – todas que podem pressionar os preços na maior economia do mundo.
Além disso, o risco do agravamento de tensões geopolíticas no mundo ainda presente se somou ao potencial aumento de sanções contra países exportadores de petróleo por parte dos Estados Unidos, podendo impactar preços de combustíveis e insumos industriais no mundo.
Enquanto isso, por aqui, a economia aquecida, com destaque para o mercado de trabalho e a alta da renda das famílias, adicionam pressão sobre os preços. O efeito é visto especialmente no setor de serviços, mas também em bens industriais, alimentos e bens de consumo de uma maneira geral. Afinal, com maior renda disponível, famílias tendem a elevar o consumo para além de bens essenciais.
O mercado de crédito também aquecido reforça esse cenário, ainda sem refletir a alta recente dos juros. Afinal, vale lembrar que mudanças na taxa Selic demoram um tempo para serem sentidas na economia – dinâmica que chamamos de “defasagem da política monetária”.
Em resumo: o ambiente de economia aquecida, com desemprego baixo, salários em alta e crédito abundante impulsiona a demanda das famílias por bens e serviços, pressionando os preços de maneira generalizada.
Fatores não relacionados ao aquecimento da economia (ou seja, não cíclicos) também adicionam pressão aos preços adiante: em especial, aqueles relacionados à dinâmica de preços de energia, alimentos – como falamos acima – e combustíveis.
O fiscal como risco inflacionário
Por fim, mas não menos importante, vale destacar a piora da percepção de risco fiscal como um dos principais riscos ao controle dos preços olhando para frente. Isso porque o aumento dos gastos públicos não somente contribui para elevar a demanda por bens e serviços na economia, como também impacta as expectativas de inflação e a precificação dos ativos por aqui – incluindo a nossa moeda.
Afinal, se o governo gastar muito além do que arrecada e sinalizar que seguirá impulsionando a economia, muitos entenderão que os preços seguirão pressionados adiante, influenciando efetivamente o nível da inflação no futuro (lembrando que as expectativas sobre os preços no futuro importam).
Na mesma linha, com receios de que a inflação possa corroer os ganhos a frente, investidores “colocam no preço” dos ativos brasileiros esse risco maior – e nossa moeda perde valor.
Nesse contexto, definições relacionadas a sustentabilidade e manutenção das regras fiscais vigentes (em especial o arcabouço fiscal), incluindo potenciais cortes de despesas para flexibilizar o orçamento público, seguirão centrais – e um fator de risco – para o rumo dos preços adiante.
Selic deve atingir 13,25% para trazer inflação de volta à meta
Diante do cenário descrito acima, projetamos que o IPCA encerre esse ano e o próximo acima da meta do Banco Central: em 4,9% em 2024 e 4,7% em 2025.
Observando seu objetivo de manter a inflação na meta, o Banco Central deve seguir atuando para reverter o cenário de alta de preços. Isso significa seguir elevando a nossa taxa básica de juros, a Selic.
Afinal, a gestão da taxa Selic é a principal ferramenta do Banco Central para controlar a variação de preços na economia – aquecendo ou desaquecendo a atividade econômica, e impactando fatores como a taxa de câmbio (com capital sendo atraído por maiores retornos, valorizando nossa moeda) e as expectativas de inflação para o futuro.
Como contamos aqui em detalhes, projetamos que a Selic atinja 13,25% em maio de 2025, quando poderá haver espaço para o início de um breve período de quedas, até o fim do ano. Porém, como destacamos, riscos seguem no radar tanto no Brasil quanto no mundo.
Como se proteger da alta de preços?
Embora não vejamos um cenário de forte reaceleração dos preços no curto prazo, a inflação segue motivo de cautela e atenção – como falamos.
Assim, proteger os investimentos contra a alta de preços segue essencial.
Títulos indexados à inflação (como o título público NTN-B 2030), emissões bancárias de instituições sólidas e com boa classificação de risco e debêntures incentivadas (sem cobrança de Imposto de Renda ao investidor) são ótimas alternativas. Falamos mais das melhores oportunidades de renda fixa aqui.
Outra classe de ativos que pode ajudar o investidor a se proteger da inflação são os fundos imobiliários. Por serem muitas vezes atrelados a índices de inflação, os FIIs podem ser excelentes aliados do investidor em um cenário ainda cauteloso com a alta de preços. Aqui te indicamos nossa carteira recomendada de Fundos Imobiliários.
Mas não só de proteção contra a inflação devem viver os investimentos nesse momento. Por isso, confira o detalhe das nossas recomendações de investimento atualizadas de acordo com o seu perfil de investidor no “Onde Investir”.
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