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Inflação avança 0,42% em janeiro; para o mês, alimentação tem maior alta desde 2016

O resultado de janeiro veio acima do esperado pela maior parte dos analistas, impulsionado especialmente por alimentos

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O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, foi de 0,42% em janeiro com relação a dezembro, após variar 0,56% em dezembro. Nos últimos 12 meses, a inflação acumulada foi de 4,51%, segundo divulgou o Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira, 8.

O grupo alimentação e bebidas, que tem o maior peso no indicador (21,12%), registrou aumento de 1,38% em janeiro na variação mensal. Segundo o IBGE, é a maior alta de alimentação e bebidas para o mês desde 2016 (2,28%). Já o grupo de transportes, o segundo de maior peso no IPCA (20,93%), teve deflação de 0,65%. Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, sete tiveram alta em janeiro.

Vale lembrar que a inflação encerrou o ano de 2023 acima da meta do Banco Central (de 3,25%), mas dentro do limite de tolerância superior de 4,75% – o que não acontecia desde 2020.

Meta de inflação: o que é?

O regime de metas de inflação é parte do que chamamos de política monetária – a política responsável pelo controle da quantidade de moeda em determinada economia, que fica sob a responsabilidade do Banco Central.
Esse regime determina uma meta de inflação explícita e numérica (% ao ano), a ser perseguida pelo Banco Central.

No caso brasileiro, a meta de inflação atual é de 3,25% ao ano para o ano de 2023 e de 3,0% para 2024. Isso significa que o Banco Central tem a responsabilidade de controlar a alta de preços ao longo, de modo que ela se mantenha no ritmo de 3,25%.

O modelo brasileiro também inclui uma banda de tolerância de 1,50pp para cima e para baixo. Essa banda serve para acomodar eventuais choques, como por exemplo uma seca que afete a produção de alimentos e eleve a inflação além do controle do Banco Central, ou uma pandemia que derrube os preços.

El Niño segue pressionando preços de alimentos

O resultado de janeiro veio acima do esperado pela maior parte dos analistas, impulsionado especialmente por alimentos. Ainda refletindo efeitos do fenômeno climático El Niño, preços de alimentos no domicílio subiram quase 2% no mês, com destaque para alimentos in natura, como frutas, verduras e legumes.

Para se ter uma ideia, o preço da cenoura variou 44% e o da batata 29,5% apenas em janeiro. Na mesma linha, os preços do arroz acumulam alta de quase 30% nos últimos doze meses, impactados pela instabilidade climática dos últimos meses no sul do país.

Preços mais altos do que o esperado em itens de higiene pessoal, com destaque para perfumes, também contribuíram para a alta – subindo 1,46% no mês, aparentemente em um movimento de volta dos preços após promoções de Natal e Black Friday.

Inflação de serviços é o que preocupa

Embora as principais variações da inflação em janeiro tenham sido em preços de alimentos, o que acendeu a luz amarela do resultado mensal foram os preços de serviços. Conforme o número de janeiro, a métrica chamada “serviços subjacentes” (que exclui serviços com preços mais voláteis, como passagem aérea) registrou alta de 0,76%, elevando a média dos últimos três meses para 5,4% – o maior número desde junho do ano passado.

Vale destacar que os preços de serviços são bastante relevantes para o comportamento da inflação como um todo, sinalizando tendências adiante. Isso porque os preços no setor não são impactados por movimentos que chamamos de “oferta” (como o clima e a redução ou aumento da oferta de determinada commodity); e sim, pelo comportamento dos salários, além de, claro, o nível de demanda na economia. 

Assim, com um mercado de trabalho aquecido e políticas de aumento de gastos por parte do governo (o que impulsiona a demanda), a luz amarela para esses preços segue acesa. O forte crescimento esperado para a renda disponível das famílias nesse ano (de 4,2% acima da inflação) ilustra essa cautela.

Afinal, um mercado de trabalho aquecido pressiona salários, com destaque para o setor de serviços, que é o que mais emprega na economia do país – em um movimento que se retroalimenta.

Mas preços devem seguir comportados no ano

Apesar da alta mais forte do que o esperado em janeiro e da cautela com preços de serviços, seguimos esperando um ano de inflação relativamente comportada. A queda recente no preço de commodities industriais no mercado global (como borracha, cobre e algodão), além de uma moeda relativamente valorizada devem ajudar nessa frente.

Vale lembrar que o valor da nossa moeda impacta os preços por aqui, uma vez que boa parte do que consumimos é importado ou tem partes importadas (como o próprio “pãozinho”, que inclui como insumo a farinha importada em dólares).

Além disso, claro, vale lembrar dos efeitos ainda sendo sentidos da taxa de juros elevada. Como detalhamos abaixo, o Banco Central deve seguir reduzindo nossa taxa básica de juros ao longo do ano; porém, o processo deve seguir gradual, reforçando os efeitos aos poucos da retirada do freio na economia – e, consequentemente, dos preços.  

Projetamos que o IPCA encerre 2024 em 3,7%. Para 2025, esperamos uma inflação em patamar relativamente estável, mas ainda acima da meta do Banco Central (de 3,00%) – encerrando o ano em 4,0%.

Inflação comportada permite queda da Selic

Para o dia a dia dos brasileiros, o processo de moderação da inflação observado em 2023 contribuiu para a melhora da sensação de perda do poder de compra. De fato, a queda da inflação no ano tem contribuído para a elevação do rendimento médio real efetivo dos trabalhadores – que deve ter crescido 4,5% no ano que se encerrou.

Riscos nos cenários internacional e doméstico, entretanto, limitam uma queda nos juros para além de 9,0%.

No âmbito internacional, os potenciais impactos do conflito no Oriente Médio em preços de petróleo e fretes marítimos podem reverter o movimento recente de queda no preço de insumos industriais no mundo.

Já aqui no Brasil, além da cautela com a inflação no setor de serviços, alimentada por um mercado de trabalho aquecido, a deterioração das contas públicas segue como importante risco no radar. Afinal, se o governo gastar muito além do que arrecada e sinalizar que seguirá impulsionando a economia, muitos entenderão que os preços seguirão pressionados adiante – influenciando efetivamente o nível da inflação no futuro.

A deterioração do risco fiscal também tende a impactar a nossa moeda, uma vez que essa é percebida como mais arriscada. Um real mais desvalorizado adiciona pressão sobre a inflação, uma vez que boa parte do que consumimos e produzimos inclui insumos negociados em dólares ou mesmo produtos importados.

Em resumo, vemos um cenário em que a inflação seguirá comportada, mas deve seguir no radar – tanto dos brasileiros, quanto do Banco Central.

IPCA deve fechar o ano em 3,7%

Nossas projeções atualizadas no Brasil Macro Mensal de fevereiro apontam para alta de 3,7% este ano. A meta é de 3,0%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo (ou seja, de 1,5% a 4,5%).

Em 2023, o IPCA acumulou alta de 4,62%, acima da meta de 3,25%, mas dentro do intervalo de tolerância (até 4,75%). O resultado ficou mais de 1 p.p. abaixo do registrado em 2022 (5,79%), especialmente devido ao grupo de bens industrializados.

O IPCA aponta a variação do custo de vida médio de famílias com renda mensal de 1 e 40 salários mínimos.

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