Cenário internacional
No cenário internacional, o ano começa com dois principais destaques que fecharam o ano de 2020: o cenário político nos EUA e a vacinação contra a covid-19 ao redor do mundo.
A começar pelo cenário político norte-americano, essa semana foi marcada pela posse de Joe Biden como o 46° presidente dos EUA. Em cerimônia sem a presença e seu antecessor, Donald Trump, e medidas de isolamento social devido ao lockdown em Washington, Biden reservou um tom conciliatório a seu discurso, destacando temas prioritários para sua administração: uma maciça campanha de vacinação, programas que visam a recuperação econômica no pós pandemia, a retomada do multilateralismo nas relações comerciais e diplomáticas, a equidade racional e o foco transversal no tema de sustentabilidade.
Em seu primeiro dia de mandato, Biden assinou 17 ordens executivas, incluindo anunciou uma série de medidas de combate à pandemia como o uso obrigatório de máscaras, além de reverter a saída de Organização Mundial da Saúde (OMS) e determinar a volta dos EUA ao Acordo de Paris. Outras medidas incluíram o cancelamento do projeto do oleoduto Keystone XL, provendo um aceno à ala ambientalista da nova administração, e mudanças relativas à política de imigração implementada por Trump.
No lado econômico, o principal destaque foi a sabatina de Janet Yellen no Congresso, diante de sua nomeação como Secretária do Tesouro. Yellen defendeu o plano de estímulos fiscais de US$ 1,9 trilhões anunciado por Biden, destacando que a prioridade agora será recuperar a economia – mesmo diante de considerável elevação do nível de endividamento.
O debate sobre o nível ideal de novos estímulos à economia dos EUA tem crescido, e o receio sobre os efeitos da excessiva liquidez fiscal e monetária na inflação foi sentido nos mercados ao longo das últimas semanas, com a alta dos títulos soberanos de longo prazo.
Por outro lado, o posicionamento de Yellen sobre a não elevação de impostos no curto prazo impulsionou o otimismo nos mercados, especialmente por ser esse um dos maiores temores sobre a materialização da “onda azul” no Congresso dos EUA, com a vitória democrata para as últimas duas vagas no Senado nas eleições no estado da Georgia.
Já no lado das vacinas contra a covid-19, a vacinação já é uma realidade, com alternativas produzidas por diferentes laboratórios sendo aprovadas para uso emergencial ou permanente em diversos países no mundo. Agora, as atenções se voltam à capacidade de vacinação em massa por parte de governos, e aos primeiros sinais da efetividade dos imunizantes já na população. Israel despontou na frente na corrida pela imunização considerando a proporção da população vacinada, e sinais preliminares indicam efeitos positivos. Entretanto, dado o tempo necessário para conclusões materiais, e a necessidade de duas doses em grande parte das vacinas produzidas por ora, ainda é cedo para conclusões finais.
Enquanto isso, a segunda onda segue preocupante. Novas restrições de mobilidade foram impostas em regiões da China, onde apesar de a vacinação já ter começado, as proporções geográficas e o tamanho da população representam um desafio. Porém, isso não tem impedido que o país se recupere aceleradamente da crise econômica, registrando alta do PIB de 2,3% em 2020 - levado principalmente pela produção industrial e exportações, mas também pela retomada do consumo interno.
As medidas de isolamento também avançam na região da Europa, em países como Reino Unido, França e Alemanha. PMIs referentes à atividade na Zona do Euro em janeiro divulgados na sexta-feira ilustram essa realidade, com o índice composto em patamar de contração no mês de janeiro (em 47,5).
Nesse contexto, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, sinalizou que a economia do bloco está caminhando para uma recessão de duplo mergulho (double-dip). Na decisão de política monetária, a autoridade monetária manteve as taxas de juros inalteradas em território negativo, mas a presidente reforçou que o nível atual de estímulo monetário é suficiente por enquanto. Lagarde também disse que "um declínio no quarto trimestre se propagará no primeiro trimestre" e que discussões mais completas devem ocorrer em março, quando novas previsões econômicas estarão disponíveis e houver uma visão mais clara de como a crise se desenvolverá.
Enquanto isso, no Brasil
No Brasil, a vacinação também segue o principal destaque das primeiras semanas do ano. Após a aprovação pela Anvisa do uso emergencial das primeiras doses de vacinas produzidas pela AstraZeneca com Oxford e em parceria com o Instituto FioCruz no Brasil, e pela chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantã, tivemos nessa semana o início da vacinação para grupos de risco em diferentes regiões do país. Porém, questões de cunho diplomático e comercial representam um desafio no avanço da produção e distribuição das vacinas no país.
Na sexta-feira, tivemos anúncio da autorização pela Índia da exportação de 2 milhões de doses da vacina da AstraZenenca. Enquanto isso, conversas seguem com o governo chinês para insumos e doses da vacina Coronavac. Porém, o avanço da segunda onda também preocupa, e o Estado de São Paulo decretou fase vermelha para a região em todas as noites e finais de semana.
A materialização de um programa de vacinação amplo e relativamente célere segue essencial para a sustentabilidade da recuperação econômica nesse ano.
Enquanto isso, no cenário macroeconômico, o principal destaque da semana foi a decisão de política monetária do Banco Central. O comitê de política monetária do Banco Central (Copom) manteve a taxa básica de juros, a Selic, em 2,00% ao ano. Porém, o Comitê retirou o “forward guidance”, ferramenta utilizada para fortalecer o grau de estímulos da política monetária.
No comunicado, o Copom manteve o balanço de riscos para inflação, e avaliou que o estímulo monetário “extraordinariamente elevado” segue adequado, mas sinalizando que pode iniciar um ajuste adiante. Ao mesmo tempo, destacou que a elevada incerteza sugere cautela ao reduzir o grau de estímulo. Os dados recentes – atividade melhor no final do ano passado, choque inflacionário se prolongando – e a sinalização do comunicado nos fazem acreditar que o Copom optará por antecipar o ciclo de alta de juros para maio (antes, agosto). Projetamos agora a taxa Selic em 3,50% no final de 2021 (antes 3,00%) e 4,50 em 2022 (antes 4,00%).
Foi também divulgado nessa semana o índice de atividade medido pelo Banco Central, o IBC-Br, referente a novembro. O índice acelerou 0,6% no mês em relação a outubro, mas segue em patamar inferior ao pré crise.
Pela primeira vez desde o início da pandemia, as vendas no varejo pesaram negativamente sobre o resultado, enquanto a indústria e, principalmente, o setor de serviços foram os principais impulsionadores da alta. Olhando para frente, a inflação pressionada, o fim do auxílio emergencial e a piora da pandemia podem pesar sobre a dinâmica da atividade econômica no curto prazo, mas a normalização econômica gradual que deve começar a acontecer após a vacinação continua trazendo perspectivas positivas para 2021.
Finalmente, no cenário político, enquanto a disputa segue no Congresso para os novos presidentes das Casas, o mercado reagiu negativamente às falas de candidatos em relação a uma potencial extensão do auxílio emergencial. Sem a realocação de recursos já existentes, um aumento de gastos nesse ano pressiona ainda mais o orçamento já apertado para esse ano, colocando em risco a manutenação do teto de gastos e a sustentabilidade fiscal. A perspectiva de piora no cenário fiscal já foi sentida no câmbio na semana, com o dólar renovando máximas próximo de R$ 5,50.
O que esperar?
Dados de inflação referentes a janeiro (IPCA-15 e IGP-M), do mercado de trabalho (taxa de desemprego nacional e criação de empregos formais), de fiscal, a ata do Copom e a nota de crédito do Banco Central para o mês de dezembro serão os principais destaques da agenda econômica doméstica da próxima semana. No cenário internacional, os destaques serão os índices de inflação (CPI e PPI) das principais economias, a decisão de política monetária dos Estados Unidos e a divulgação do PIB de 2020 de alguns países, como França e Espanha.
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