Resumo
Donald Trump, Presidente dos Estados Unidos, anunciou novas tarifas para 23 países nesta semana, inclusive para o Brasil, que foi taxado em 50%. As novas alíquotas serão válidas em 1º de agosto e complementares às impostas sobre blocos econômicos ou setores específicos. Ademais, o Fed, banco central, manteve o discurso de incerteza na ata da última reunião de política monetária. A autoridade reiterou que está bem-posicionada para aguardar por mais clareza sobre as perspectivas para a inflação e a atividade econômica
No Brasil, o IPCA de junho subiu 0,24% no mês, acima das expectativas, com inflação anual atingindo 5,35%. Foi a primeira vez que o regime de meta contínua – válido a partir deste ano – é rompido. Em carta aberta, o Banco Central citou a atividade econômica aquecida e expectativas de inflação desancoradas como algumas das razões para o descumprimento da meta.
No cenário político, a faixa de isenção parcial do Imposto de Renda, que será válida a partir do ano que vem, foi ampliada de R$ 7.000 para R$ 7.350.
Gráfico da Semana
Veja na seção “Estados Unidos taxam Brasil em 50%”.

Cenário Internacional
Trump anuncia novas tarifas para 23 países
Donald Trump, Presidente dos Estados Unidos, seguiu anunciando novas tarifas nesta semana, inclusive para o Brasil (ver abaixo). Com o fim da suspensão de 90 dias – adiado de 09 de julho para 1° de agosto – 23 países tiveram novas alíquotas anunciadas, que irão variar entre 20% e 50%. Canadá, por exemplo, será taxado em 35%, ante 25% anteriormente. As tarifas serão complementares, ou seja, se somarão às impostas sobre blocos econômicos ou setores específicos.
Scott Bessent, Secretário do Tesouro norte-americano, disse que ainda serão anunciadas tarifas nos próximos dias. O governo vem conduzindo negociações bilaterais que resultaram em acordos com Reino Unido e Vietnã, por exemplo, além de uma trégua com a China. O Japão e Coreia do Sul, recém taxados em 25%, buscarão um desfecho mais benéfico.
Ainda, Trump ameaçou uma alíquota adicional de 10% a todos os países que se alinharem às políticas consideradas antiamericanas do BRICS — composto por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e, desde 2024, também Egito, Indonésia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.
Banco central dos Estados Unidos mantém discurso de incerteza
O Fed (banco central dos Estados Unidos) divulgou a ata de sua última reunião de política monetária. O documento reforçou que a inflação ao consumidor permanece relativamente alta e que as condições do mercado de trabalho seguem sólidas. Ao discutir as perspectivas para a inflação, os membros do Fed destacaram que o aumento das tarifas provavelmente pressionará os preços, inclusive com riscos de impacto persistente. No entanto, ainda há considerável incerteza sobre o momento, o tamanho e a duração desses efeitos. Em relação à atividade, a autoridade monetária espera moderação no ritmo de crescimento.
Mais uma vez, o Fed reiterou que está bem-posicionado para aguardar por mais clareza sobre as perspectivas para a inflação e a atividade econômica. Os participantes da reunião concordaram que os riscos de inflação mais alta e piora do mercado de trabalho diminuíram, embora continuem elevados. A probabilidade atribuída pelo mercado à retomada dos cortes de juros na reunião de setembro permaneceu ao redor de 63%. Enquanto isso, as chances para julho seguiram em torno de 7%.
Após 4 meses de deflação, índice de preços na China sobe
Na China, o índice de preços ao consumidor subiu 0,1% em junho ante maio, após 4 meses de deflação. O dado refletiu o alívio das tarifas e relações comerciais com os Estados Unidos. O setor de vestuário (1,6%), saúde (0,4%) e educação (1,0%), foram os principais grupos responsáveis. Ademais, houve novas medidas de estímulos por Beijing. Por outro lado, o índice de preços ao produtor seguiu recuando. Em junho, a queda foi de 0,1% em relação a maio, a 4° deste ano.
O país segue enfrentando desequilíbrios de oferta e demanda, além de conflitos geopolíticos com os Estados Unidos. Este cenário vem impactando na desaceleração do PIB chinês.
Enquanto isso, no Brasil…
Estados Unidos taxam Brasil em 50%
O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou tarifas de 50% sobre todos os produtos importados brasileiros, com vigência a partir de 1º de agosto. Trump ainda apontou que a relação comercial entre as partes é “muito injusta”, marcada por desequilíbrios gerados por “políticas tarifárias, não-tarifárias e pelas barreiras comerciais do Brasil”. Ademais, acrescentou que, se o Brasil buscar retaliar, a alíquota aplicada pelos Estados Unidos será majorada em igual magnitude. De acordo com nossas estimativas, as tarifas podem reduzir o crescimento do PIB em 0,3 p.p. em 2025 e 0,5 p.p. em 2026. As exportações, por sua vez, cairiam em US$ 6,5 bilhões em 2025 e US$ 16,5 bilhões no ano seguinte. O impacto sobre a inflação deve ser limitado, a menos que haja retaliação brasileira, que poderia elevar custos em setores como farmacêutico e transportes, mas ainda assim o efeito inflacionário seria moderado.
Para mais informações, leia nosso relatório “Tarifas podem reduzir o crescimento do PIB do Brasil em 0,3 p.p. em 2025 e 0,5 p.p. em 2026”.
Inflação acima das expectativas não altera cenário benigno dos preços
O IPCA de junho subiu 0,24% no mês, acima das expectativas (XP: 0,18%; mercado: 0,20%). As principais surpresas altistas vieram de itens voláteis, especialmente transporte por aplicativo e alimentos in natura. Com relação aos indicadores subjacentes – que excluem itens com preços voláteis –, houve melhora significativa, conforme já antecipado pelo IPCA-15. A recente valorização do real tem refletido nas leituras moderadas de inflação, principalmente nos preços de bens industriais. Mantemos nossa projeção para o IPCA de 2025 em 5,0%. O principal risco é uma possível escalada das tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos, o que penalizaria a dinâmica do câmbio.
No resultado acumulado em 12 meses, a inflação acelerou de 5,32% para 5,35%, ainda acima do teto de tolerância estabelecido pelo Banco Central. É a primeira vez que o regime de meta contínua – válido a partir deste ano – é rompido. Neste cenário, a autoridade monetária divulgou a Carta Aberta sobre o descumprimento da meta. Algumas razões apontadas são: (i) atividade econômica aquecida, (ii) expectativas de inflação desancoradas, (iii) depreciação cambial ao final do ano passado, e (iv) inércia inflacionária – inflação passada afetando a inflação corrente. Segundo o Comitê, a política monetária “deve permanecer em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado para assegurar a convergência da inflação à meta”.
Ampliação da faixa de renda a ser beneficiada com redução de IR para R$ 7.350
O relator do projeto da reforma do Imposto de Renda (IR), o deputado Arthur Lira, apresentou o parecer do projeto. Lira manteve a faixa de isenção para R$ 5 mil e elevou de R$ 7 mil para R$ 7.350 a faixa de isenção parcial, beneficiando mais de 500 mil pessoas. Segundo o relator, esse acréscimo representará uma renúncia adicional de R$ 18 bilhões em um período de três anos.
Por outro lado, Lira eliminou o redutor – estabelecia que a soma da alíquota da pessoa física com a da pessoa jurídica não ultrapassasse 34% para empresas em geral, 40% para resseguradores e 45% para instituições financeiras. A mudança deve aumentar a arrecadação de impostos. O deputado também criou uma compensação para Estados e municípios e determinou que eventuais excedentes de arrecadação serão usados para reduzir a alíquota da CBS – tributo que será criado na reforma tributária do consumo para manter a reforma da renda fiscalmente neutra.
Atividade apresenta sinais de desaceleração
As vendas no varejo ampliado aumentaram 0,3% entre abril e maio, abaixo das expectativas de 1,0%. O fraco desempenho das categorias “Atacado de alimentos e bebidas” e “Combustíveis e lubrificantes” explicam boa parte da diferença entre nossa estimativa e o resultado efetivo do varejo total. O varejo permaneceu praticamente estável no segundo trimestre, reforçando a visão de que a atividade econômica está gradualmente perdendo força à medida que a política monetária restritiva entra em vigor.
No setor de serviços, houve avanço de 0,1% em maio ante abril, em linha com as expectativas, marcando o 4° avanço consecutivo. O setor terciário segue crescendo, ainda que de forma moderada. Em nossa visão, os serviços mais ligados à demanda das famílias devem continuar em trajetória de alta, ao passo que os serviços mais associados às empresas tendem a perder fôlego ao longo do segundo semestre. Nossa projeção para o crescimento do PIB em 2025 permanece em 2,5%.
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Destaques da próxima semana
No cenário internacional, o principal destaque será o CPI de junho nos Estados Unidos. Além disso, a inflação ao produtor e o Livro Bege também serão publicados – o documento é uma compilação de estudos sobre a atividade econômica nos EUA. Na China, será divulgado o combo de dados de atividade econômica de junho, além do PIB do 2T25.
No Brasil, a agenda de indicadores conterá somente a divulgação do IBC-BR de maio, o indicador mensal de atividade econômica do Banco Central. O mercado seguirá sensível às notícias sobre tarifas dos EUA sobre o Brasil. Em Brasília, discussões sobre a reforma do Imposto de Renda e uma reconciliação entre Executivo e Legislativo em torno do IOF serão os principais pontos de atenção.

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