Resumo
Nos Estados Unidos, o principal relatório sobre mercado de trabalho trouxe dados fortes. Com isso, as taxas de juros dos títulos do Tesouro americano voltaram a subir.
Na Europa, o banco central (BCE) reduziu as taxas de juros de referência em 0,25 p.p. após deixá-las inalteradas por cinco reuniões consecutivas. No comunicado que acompanhou a decisão, o BCE manteve a abordagem “dependente de dados” e de avaliação “reunião a reunião”.
No Brasil, alteramos nossa projeção de taxa Selic de 10,00% para 10,50% em 2024. Além disso, o PIB surpreendeu para cima no 1º trimestre de 2024, impulsionado pelo forte consumo das famílias e retomada dos investimentos.
Com relação ao cenário fiscal, o governo anunciou medidas que limitam o uso de créditos do PIS/Cofins para compensar a desoneração da folha de pagamentos de 17 setores e municípios.
Cenário internacional
Dados do mercado de trabalho nos Estados Unidos surpreenderam para cima
O principal relatório sobre o mercado de trabalho dos EUA (Nonfarm Payroll) mostrou criação líquida de 272 mil vagas de emprego em maio, bem acima da expectativa de 180 mil. Os números de março e abril foram revisados para baixo, compensando timidamente a surpresa positiva. O dado reforça que o banco central americano (Fed) não deve ter pressa para reduzir as taxas de juros, embora ainda consideremos que os dados do Payroll seguem mostrando reequilíbrio gradual do mercado de trabalho. A taxa de desemprego aumentou de 3,9% para 4,0% e o salário médio por hora subiu de 3,92% para 4,08% na variação acumulada em 12 meses – acima do nível compatível com a inflação dentro da meta de 2%.
O mercado reagiu negativamente aos dados do Payroll: os rendimentos dos títulos do Tesouro americano de 2 anos subiram cerca de 0,15 p.p.. Os próximos dados de atividade e inflação de maio devem manter o mercado dividido entre um primeiro corte na taxa de juros em setembro ou dezembro, sendo provável que as expectativas permaneçam voláteis e sensíveis às divulgações prospectivas.
Acreditamos que o Fed reduzirá os juros pela primeira vez em dezembro. Considerando a situação atual da economia, achamos que o risco de um corte nos juros muito cedo supera o risco de um corte muito tarde, especialmente porque o primeiro poderia prejudicar a credibilidade do Fed para atingir a meta de 2%.
Banco Central Europeu iniciou o ciclo de corte de juros
Conforme amplamente esperado, o Banco Central Europeu (BCE) reduziu suas três taxas de juros de referência em 0,25 p.p., iniciando o ciclo de flexibilização monetária. O BCE havia subido juros pela última vez em setembro de 2023, mantendo-os neste patamar durante cinco reuniões. A decisão anunciada foi quase unânime, com apenas um membro votando contra a diminuição de juros. A taxa de refinanciamento recuou para 4,25%, a de empréstimo, para 4,50% e a de depósito, para 3,75%.
No comunicado que acompanhou a decisão, o BCE manteve a abordagem “dependente de dados” e de avaliação “reunião a reunião”. Na conferência de imprensa, a Presidente do BCE, Christine Lagarde, destacou os avanços no processo de desinflação como justificativa à decisão de queda de juros. O banco central não se comprometeu com qualquer trajetória para as taxas básicas nas próximas reuniões.
Prevemos redução em 0,25 p.p. nas reuniões de setembro (pulando julho) e dezembro (pulando outubro). Os próximos cortes de juros dependerão, em grande parte, da inflação de serviços, dinâmica dos salários e política monetária do Fed.
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Enquanto isso, no Brasil…
Alteramos nossa projeção de taxa Selic para 10,50% em 2024
Em nosso relatório Brasil Macro Mensal de junho, destacamos que os desafios da política monetária aumentaram com a elevação das expectativas de inflação. Acreditamos que o Copom fará uma pausa em seu ciclo de flexibilização na próxima reunião, mantendo a taxa Selic em 10,50%. Considerando o nível de incertezas acima do usual, projetamos, por ora, taxa Selic estável até o final de 2025. Também sob forte incerteza, mantivemos nossa projeção para a taxa de câmbio em R$/US$ 5,00 no final de 2024 e R$/US$ 5,15 no final de 2025. Além disso, mantivemos nossas projeções de crescimento do PIB em 2,2% este ano e 1,7% no ano que vem. No entanto, reconhecemos maiores incertezas no curto prazo, com fatores de alta e de baixa. Também esperamos que a inflação de curto prazo permaneça bem-comportada em meio à deterioração das expectativas, às incertezas sobre o Rio Grande do Sul e ao mercado de trabalho apertado. Prevemos IPCA de 3,7% em 2024 e 4,0% em 2025, sem alterações em relação ao relatório anterior. Por fim, revisamos nossa projeção de déficit do governo central em 2024, de 0,6% para 0,5% do PIB, devido a revisões nas medidas de aumento de receita.
Para detalhes, leia o relatório completo “Brasil Macro Mensal – Copom: pausa para reavaliação”.
PIB surpreende para cima no 1º trimestre de 2024
O PIB do Brasil cresceu 0,8% no primeiro trimestre de 2024 ante o quarto trimestre de 2023. Pelo lado da demanda, a alta foi impulsionada principalmente pelo forte consumo das famílias e pela retomada dos investimentos em ativos fixos; sob a ótica da oferta, destaque para o sólido desempenho dos setores de serviços e agropecuária. Olhando adiante, prevemos ritmo de crescimento mais moderado. Entre os fatores explicativos, destacamos: (i) os impactos da tragédia climática no Rio Grande do Sul; (ii) o menor impulso fiscal; e (iii) manutenção dos juros em patamar restritivo. Assim, projetamos que o PIB do Brasil crescerá 2,2% em 2024 e 1,7% em 2025.
Para informações adicionais, leia o relatório completo “PIB do primeiro trimestre de 2024: Um bom começo para um ano de incertezas”.
Governo anuncia limitação do uso de PIS/Cofins para compensar a desoneração da folha de 17 setores e municípios
O governo anunciou as principais linhas da medida para compensar a desoneração da folha de 17 setores e dos municípios, que juntos têm estimativa de impacto de R$ 26,3 bilhões. Para tanto, o governo propôs duas medidas principais: i) créditos presumidos não podem mais ser ressarcidos, com impacto de R$ 11,7 bilhões; e ii) limitação da compensação cruzada de créditos de PIS/Cofins, com impacto estimado de R$ 17,5 bilhões. No total, as medidas de compensação atingem R$ 29,2 bilhões.
Avaliamos que haverá forte resistência em relação à restrição do ressarcimento pelos setores que se beneficiam de créditos presumidos. É possível que os efeitos da Medida Provisória, se aprovada, sejam diluídos. Por outro lado, a restrição ao uso de créditos de PIS/Cofins para compensação pode de fato impactar as projeções de resultado primário neste ano, embora tenha efeitos neutros sobre a arrecadação dos anos seguintes. Desta forma, nossa projeção de déficit de R$ 60,5 bilhões (0,5% do PIB) para este ano passa a ter viés de baixa (déficit menor), mas vamos esperar a tramitação do projeto para revisar a estimativa. Para 2025 em diante, as projeções podem piorar, a depender da do volume de crédito que ficar represado para os próximos anos.
Para mais informações, leia o relatório completo “Restrição à compensação e ressarcimento de PIS/Cofins pode ter efeitos positivos na arrecadação deste ano, mas efeitos de médio prazo são incertos”
Diretor do BC reconhece a necessidade de a política monetária reagir à alta das expectativas
O Diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, reconheceu ontem que o processo de desancoragem das expectativas inflacionárias, que se intensificou desde maio, coloca a autoridade em posição mais complicada para a condução da política monetária adiante. Segundo Galípolo, “não cabe ao BC explicar as razões. A nossa função é reagir, ainda que não se consiga estabelecer de maneira clara e objetiva os motivos”. O dirigente reforçou que a função do Copom é colocar a taxa de juros em patamar restritivo o suficiente para provocar a convergência da inflação à meta. Além disso, Galípolo, que votou contra a maioria no último Copom, afirmou: “Vejo muito valor no consenso. Não só agora, mas em qualquer momento. É mais difícil errar em nove pessoas do que errar sozinho”. Conforme destacado acima, prevemos manutenção da taxa Selic (em 10,50%) na próxima decisão do Copom.
Produção industrial recua em abril, mas abertura setorial traz boas notícias
A produção industrial caiu 0,5% em abril ante março, em linha com as expectativas. No entanto, em nossa opinião, a abertura setorial foi relativamente positiva. A indústria extrativa contraiu em abril, parcialmente explicada pelos elevados estoques de minério de ferro, embora acreditemos que ela voltará a crescer nos próximos meses. Por outro lado, a categoria de bens de capital foi o destaque, com crescimento de 3,5% com relação a março e 4,7% no acumulado do ano até abril. A recuperação na produção de caminhões e a melhora nas condições de crédito para aquisição de veículos contribuíram significativamente para essa dinâmica. Projetamos que a indústria total crescerá 2,5% em 2024.
Gráfico da Semana
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O que esperar da semana que vem
No cenário internacional, as atenções se voltarão à decisão de política monetária dos Estados Unidos, na 4ª-feira. Projetamos manutenção das taxas de juros nesta reunião, com início do ciclo de cortes apenas em dezembro. A inflação acima da meta exige uma abordagem cautelosa por parte do banco central, tornando a última reunião do ano o momento mais apropriado para começar o ciclo de flexibilização. Também teremos dados de inflação ao consumidor na China (3ª-feira) e nos Estados Unidos – inflação medida pelo CPI (4ª-feira).
No Brasil, destacamos a divulgação do IPCA de maio na 3ª-feira, a primeira leitura que capturará os efeitos das enchentes no Rio Grande do Sul sobre a inflação. Do lado da atividade econômica, o IBGE divulgará a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) de abril na 4ª-feira e a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do mesmo mês na 5ª-feira. Por fim, o IBC-Br, a proxy mensal do PIB, será publicado na 6ª-feira. Esperamos altas mensais para as três divulgações. Veja as nossas projeções abaixo.
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