Na Copa do Mundo que será realizada pela FIFA em novembro, no Catar, 32 países disputarão o tão desejado título de melhor seleção de futebol. Ao longo dos últimos quatro anos, esses países enfrentaram diferentes obstáculos esportivos em termos de preparação e qualificação para o mais glorioso campeonato futebolístico.
No campo econômico, também houve diferenças relevantes entre o mesmo conjunto de países, especialmente devido ao choque causado pela pandemia de Covid-19. Protocolos para combate ao contágio do vírus, pacotes de estímulos monetários e fiscais, entre outros fatores, levaram a distintas dinâmicas de recuperação das economias nos últimos anos. Algumas retomaram os níveis pré-crise já no início de 2021, outras apenas recentemente.
Então, de forma lúdica (não tire nenhuma conclusão precipitada), este texto apresenta uma análise peculiar: se a disputa na Copa do Mundo do Catar fosse determinada pela variação real acumulada do PIB desde a última edição da competição (Rússia 2018), quem “levantaria o caneco”? Spoiler: é um país que nunca venceu uma Copa!
Antes disso: o que é PIB?
O PIB, ou Produto Interno Bruto, é a medida de toda a produção de bens e serviços finais em determinado período. É uma medida de fluxo, ou seja, não reflete a riqueza de um país (estoque), e sim tudo que foi produzido durante o trimestre ou ano contabilizado. A produção é computada na moeda local, e avaliamos o crescimento da economia em termos reais (ou seja, descontado o efeito da variação de preços).
Confira aqui mais detalhes sobre o PIB.
Quais as regras da nossa competição?
Em nossas simulações de Copa do Mundo de PIB, a disputa ocorre apenas entre os países participantes da Copa da FIFA, seguindo o chaveamento do campeonato esportivo (distribuição das seleções em oito grupos com quatro participantes cada e, posteriormente, avanço para as fases “mata-mata”). A vitória em cada etapa do torneio é determinada pelo confronto entre países com base no crescimento acumulado do PIB entre 2019 e 2022. Como obviamente não temos a variação anual de 2022, utilizamos as projeções oficiais mais recentes do FMI (Fundo Monetário Mundial) para todos os países em questão. Ou seja, ainda há espaço para algumas surpresas (afinal, sabemos que o jogo termina somente quando o árbitro apita!). Dito isso, temos resultados efetivos para os últimos três anos, e isso significa que grande parte da competição será definida pela forma como cada país lidou com a pandemia, pela resiliência de suas economias, particularidades setoriais e, claro, alguma dose de sorte considerando o sorteio dos grupos da Copa.
Resultados surpreendentes: nossa Copa tem um “campeão inédito”!
Conforme apresentado nas figuras abaixo, os vencedores das fases de grupos da nossa Copa do Mundo de PIB (lembrando que dois países de cada grupo avançam) provavelmente não estariam bem cotados nas casas de apostas esportivas. A maioria dos países que já conquistaram a competição – Inglaterra, Argentina, França, Espanha, Uruguai e Brasil – não se qualificariam para as oitavas-de-final. Apenas a tetracampeã Alemanha se classificaria (em segundo lugar) no Grupo E. No Grupo G, que inclui o Brasil, Sérvia e Camarões avançariam na primeira fase (ainda que bem que não estamos falando sobre desempenho esportivo!). De fato, esses dois países devem acumular crescimento econômico real superior a 10% entre 2019 e 2022. No caso brasileiro, a variação acumulada não deve ultrapassar 5%.
Em relação às fases de confronto direto, vemos abaixo que as semifinais seriam: Senegal x Sérvia e Austrália x Gana. E a final teria os dois países africanos! Em nossa brincadeira envolvendo PIB e futebol, Senegal seria campeã mundial!
Embora a seleção senegalesa tenha ótimos jogadores como Sadio Mané (Bayern de Munique), Koulibaly e Mendy (ambos atuam pelo Chelsea), parece improvável que ganhe a Copa do Mundo de futebol. Certo?!
Porém, em termos de crescimento acumulado de PIB em quatro anos, temos o grande campeão.
O que esses resultados sinalizam para a Copa do Mundo do Catar?
Nada!
Evidentemente, a evolução na Copa de PIB apresentada acima não tem implicações em outros temas, e tem inúmeras limitações em termos técnicos. Trata-se apenas de uma brincadeira!
Entre várias outras perguntas, eis que pode surgir: por que utilizar a variação real acumulada do PIB e não do PIB per capita? Houve tratamento por paridade do poder de compra? Por que projeções do FMI e não de outra instituição multilateral? Há múltiplas formas de simular a definição da Copa a partir de variáveis econômicas. O que não falta é imaginação. Aproveitando a publicação de resultados das Contas Nacionais do IBGE para o 2º trimestre de 2022, optamos por focar no crescimento do PIB.
A propósito, a economia brasileira cresceu 1,2% no 2º trimestre em relação ao 1º trimestre, acima das expectativas. E a maioria dos componentes exibiram elevação no período. Desta forma, as projeções de crescimento do PIB total em 2022 vêm sendo revisadas para cima. Algumas estimativas do mercado estão ficando próximas a 3% versus 2021!
Outras formas de usar o PIB
Em nossa Copa do Mundo de PIB, utilizamos a variação real acumulada do Produto Interno Bruto, mas poderíamos ter utilizado outras medidas, conforme já mencionado. Afinal, o PIB pode ser lido de formas distintas.
Por exemplo, em caso de utilização simplesmente do valor absoluto de cada economia estimado para o final do ano da Copa, os Estados Unidos teriam sido os vencedores de todas as edições desde o início do século passado (e isso não traria graça nenhuma!).
A versatilidade do PIB como indicador também aparece quando colocamos esta medida absoluta, de produção total de uma região em um período, em função de outras variáveis: é o caso do PIB per capita e do PIB ajustado por paridade de poder de compra, em que se revelam informações mais importantes para que possamos compreender como a população de cada país realmente vive.
O PIB per capita nada mais é do que o PIB de uma determinada região dividido pelo número de habitantes locais. Com ele, é possível dimensionar o valor médio agregado por indivíduo para a economia, o que ajuda, por exemplo, a diferenciar um país mais rico de um país que tem uma economia maior apenas por ter uma grande população.
Já o PIB ajustado por paridade de poder de compra (PPC ou PPP na sigla em inglês) leva em consideração o efeito das diferenças no poder de compra entre os países, refletindo melhor as diferenças entre padrão de vida e produtividade.
Ajustando a lista dos países da Copa apenas pelo PIB per capita, a Suíça passaria a encabeçar o ranking, seguida pelo Catar. Ajustando pela paridade de poder de compra, por sua vez, os Estados Unidos figurariam em primeiro, seguidos pelo Japão. Em ambas as listas, o Senegal, vitorioso pelo critério de variação real acumulada nos últimos quatro anos, seguraria a “lanterna” (última colocação) – resultado interessante, não?! Poderíamos falar aqui sobre teorias de convergência de renda (catch-up), ciclos econômicos, entre outros… Mas deixemos para outra oportunidade.
Tirando o PIB… teremos um Hexacampeão este ano?
Nem tudo está perdido para o Brasil. Conforme divulgado pelo IBGE nesta manhã (01/09), o PIB cresceu acima das previsões. Desde o início do ano, temos observado surpresas positivas e revisões altistas na expectativa de crescimento em 2022. Se continuarmos a surpreender, podemos melhorar nossa posição no ranking geral da Copa de PIB, embora seja muito difícil classificar para as oitavas-de-final (Sérvia e Camarões cresceram bastante nos últimos anos). A projeção da XP para a alta do PIB de 2022, atualmente em 2,2%, tem claro viés positivo.
Já na Copa do Mundo de futebol… Estamos bem-preparados e temos uma camisa pesada! Afinal, “Único Penta é o Brasilzão!” Enquanto a Copa do Mundo do Catar não chega, o jeito é encarar os efeitos da inflação das figurinhas. A paixão do brasileiro pelo futebol não tem limites. Na verdade, como dizem por aí, nunca é “apenas futebol”!
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