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Bancos centrais adotam ações coordenadas para conter crise: primeiros entendimentos e impactos sobre o Brasil

Em resposta ao fluxo bastante negativo de notícias ao longo do final de semana, o Fed, o Banco do Canadá, o Banco da Inglaterra, o Banco do Japão, o Banco Central Europeu e o Banco Nacional Suíço anunciaram nesse domingo uma ação coordenada para melhorar a provisão de dólares no mundo. Para além das medidas […]

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Em resposta ao fluxo bastante negativo de notícias ao longo do final de semana, o Fed, o Banco do Canadá, o Banco da Inglaterra, o Banco do Japão, o Banco Central Europeu e o Banco Nacional Suíço anunciaram nesse domingo uma ação coordenada para melhorar a provisão de dólares no mundo.

Para além das medidas de liquidez coordenadas, o Fed alegou que "o surto de coronavírus prejudicou comunidades e interrompeu a atividade econômica em muitos países, incluindo os Estados Unidos" e, por isso, decidiu reduzir a taxa de juros em 1 ponto percentual. A nova taxa de juros, usada como referência tanto para empréstimos de curto prazo para instituições financeiras quanto para linhas de consumo, agora será de 0% a 0,25%. A decisão, no entanto, não foi unânime. A presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, foi a única integrante do comitê que votou por fixar a taxa em 0,5% a 0,75%.

Além disso, o Fed lançou um massivo programa de flexibilização quantitativa (QE) de US$ 700 bilhões (US$ 500 bilhões em compras de títulos e US$ 200 bilhões em hipotecas) e reduziu a zero a taxa de depósitos compulsórios a fim de estimular o crédito privado. As medidas seguem várias ações do Fed nas últimas duas semanas, dentre as quais: um corte de 0,5 ponto percentual na taxa de juros e expansão da liquidez com operações de recompra (repo) em até US$ 1,5 trilhão.

A ação era inesperada pelo mercado e visa fazer frente aos efeitos negativos do coronavírus sobre as principais economias.

Pelo lado positivo, as medidas adotas por todos os bancos centrais devem trazer um estímulo considerável para as economias uma vez que elas atuam em diversas frentes e devem ajudar empresas com dificuldade de liquidez.

Pelo lado negativo, as ações extraordinárias podem conturbar o canal de expectativas e piorar ainda mais as projeções dos agentes sobre o grau de desaceleração da economia global. Além disso, acreditamos que o fluxo de notícias e dados econômicos seguirão ruins pelo menos até abril ou maio, e que os bancos centrais, ao já terem anunciado tantas medidas em tão pouco tempo, podem ficar de mãos atadas. As ações podem ter seus efeitos ainda mais limitados na ausência de medidas fiscais.

No Brasil, acreditamos que o Banco Central deverá emitir algum posicionamento oficial em breve. Existe a possibilidade do corte de juros (já esperado) ser anunciado nessa segunda, antecipando a decisão da reunião prevista para acontecer nessa quarta.

Trata-se de uma situação complexa. Por um lado, a desaceleração econômica mais acentuada e a queda dos preços de commodities (petróleo, e etc) terão um efeito deflacionário e isso abre margem para cortes mais agressivos.

Por outro lado, a taxa de câmbio, atualmente em 4,85, pode subir ainda mais a depender do tamanho da ação do BC. Um corte pronunciado de juros tem, eventualmente, potencial de levar a cotação para 6,00 em um curto espaço de tempo, o que pressionaria a inflação mesmo em um cenário de desaceleração econômica. Soma-se a isso o fato de que o choque negativo de oferta (falta de produtos) pode pressionar ainda mais a inflação no curto prazo.

Mantemos nossa visão que o BC, ao longo da semana ou na segunda, anunciará um corte de 0,50 ponto percentual junto com outras medidas de estímulo. Possivelmente uma redução mais acentuada dos compulsórios (sobre depósitos a vista e a prazo) e medidas de liquidez para bancos pequenos e médios para estimular o mercado de crédito. Além disso, o BC deve aumentar o grau de intervenção no mercado de câmbio (swaps, linha e a vista) para permitir que a Selic possa cair ainda mais sem pressionar tanto o câmbio.

No entanto, mudamos nosso entendimento a respeito do corte total na Selic ao longo de 2020: de 3,50% para 2,75%. Seguimos acreditando que o BC fará uma reunião emergencial em abril para anunciar um corte adicional de 0,50 ponto percentual (ante projeção anterior de 0,25) e entregará um corte final de 0,50 ponto percentual na reunião de maio (ante projeção anterior de nenhum corte em maio).

O BC deve adotar uma posição gradualista a fim de não pressionar ainda mais o câmbio e as expectativas. O fato do Fed e de outros bancos centrais ao longo do mundo terem implementado cortes agressivos abriria margem para o BC cortar 0,75 ponto percentual agora (algo que ainda consideramos altamente provável). No entanto, acreditamos que o BC preferirá ir mais longe (2,75%) do que ir mais rápido (corte de 0,75 vs 0,50).

Mudamos também a Selic de 2021: de 5,00 para 4,75%.

Aguardaremos os desdobramentos da crise e das ações anti-cíclicas a serem apresentadas pelo governo (expansão de crédito de bancos públicos, liberação extra de FGTS, adiantamento do 13o para aposentados do INSS, crédito extraordinário para flexibilizar a meta de primário em 2020, etc) nessa semana para revalidar o nosso cenário de crescimento (viés de baixa para 2020), inflação (neutro) e câmbio (neutro).

Por fim e na mesma direção do cenário internacional, o cenário político doméstico se deteriora e deve aumentar o grau de incerteza sobre as condições econômicas.

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