O universo dos criptoativos vem se tornando cada vez mais popular e o debate sobre sua utilidade e se, de fato, eles se concretizam como uma nova classe de ativos e veículo de investimentos retorna a mesa.
Definindo as criptomoedas, quais são as características comuns?
- Ativos imutáveis: Ou seja, transações executadas na blockchain deverão ser improváveis ou muito difíceis de serem revertidas ou alteradas. Apenas o detentor da chave da carteira digital deverá ser capaz de movimentar seus fundos pelas redes. E todas as transações deverão ser registradas na blockchain, que por sua vez funciona como uma base de dados descentralizada.
- Descentralização: As redes das criptomoedas deverão ser politicamente e estruturalmente descentralizadas de modo que nenhuma instituição ou indivíduo possua controle sobre suas operações. Desta forma garante-se que a a blockchain será menos suscetível a falhas pontuais, uma vez que é executada por diferentes fontes computacionais. Ela será mais resistente contra-ataques maliciosos, visto que deverão ter grande parte da rede comprometida para que o invasor consiga fazer algum dano. E por fim, membros não serão capazes de burlar regras ou agirem em benefício próprio em detrimento de outros.
- Membros não necessitam confiar em um poder central: Os integrantes da rede não precisarão confiar uns nos outros para que todas as transações ocorram de forma legítima. O sistema não necessita de uma autoridade central para aferir e conferir todas as movimentações, uma vez que todos os integrantes da rede possuem uma “cópia” das transações registradas, então todos possuem como verificar as movimentações ocorridas.
Ainda assim, as criptomoedas ainda são o centro de grandes debates e são consideradas controversas por muitos investidores. O propósito inicial dos criptoativos seria servir de moeda universal e reserva de valor, uma vez que os projetos possuíam características deflacionárias e oferta limitada. Contudo, a alta volatilidade e falta de escalabilidade apresentada por alguns acaba inviabilizando sua utilização como moedas digitais por enquanto.
Por outro lado, o número de projetos utilizando estas novas tecnologias vem sendo altamente amplificado, assim como o interesse e adoção dos investidores. Em pesquisa feita em janeiro de 2022, a Finder estimou que países como Índia e Nigéria já possuem uma adoção superior a 25%. A maior potência mundial, EUA, também se aproxima de uma adoção em torno de 10% e, dados da companhia apontam que 24,7 milhões de usuários de internet no país possuem alguma criptomoeda.
E toda esta adoção não vem somente de especuladores e pessoas físicas, o chamado dinheiro institucional ou “smart money” também começa a buscar uma fatia neste mercado. Segundo o gráfico abaixo do Morgan Stanley, a alta recente em 2020 a 2021 do preço do Bitcoin foi fortemente catalisada pela entrada deste novo fluxo. Estima-se que companhias de médio porte adquiriram US$ 250 milhões em Bitcoins em 2020 e, em janeiro de 2021, duas das maiores gestoras de recursos do mundo ajustaram seus documentos legais para que possam alocar recursos na criptomoeda.
E o mercado de criptoativos não é só composto por Bitcoin, o número de novas tecnologias sendo desenvolvidas também aumenta exponencialmente. O Coingecko, plataforma que copila dados deste mercado, aponta que hoje, junho de 2022, existem quase 20 mil moedas sendo negociadas. Com o crescente surgimento de novos projetos, o escopo e utilidades das criptomoedas se torna também mais versátil.
Atualmente, os ativos servem como precursores de diversos outros serviços e representam uma “ameaça” a diversas indústrias, uma vez que poderão desencadear grandes quebras de monopólios e revolucionar modelos de negócios vigentes, assim como forçar empresas tradicionais a se adequarem a este novo universo. Um bom exemplo seria a descentralização de dados fornecida pela Web 3.0, que possui o potencial para interferir diretamente em negócios pautados na captação e comercialização de dados como os do Facebook e Google.
Outros exemplos de novos serviços proporcionados pelas criptomoedas:
- Finanças descentralizadas: É uma tecnologia financeira emergente baseada em livros distribuídos seguros semelhantes aos usados por criptomoedas. O sistema remove o controle que bancos e instituições têm sobre dinheiro, produtos financeiros e serviços financeiros.
- Non-Fungible Tokens (NFTs): Um identificador digital exclusivo que não pode ser copiado, substituído ou subdividido, que é registrado em uma blockchain e que é usado para certificar a autenticidade e a propriedade (como de um ativo digital específico e direitos específicos relacionados a ele).
- Soluções de pagamentos: Alguns projetos como a Solana prometem ser mais escaláveis que as redes atuais como a da Visa, que processa cerca de 1,7 mil transações por segundo. Segundo os desenvolvedores, a rede poderá alcançar 65 mil transações por segundo, o que aumentaria muito a velocidade dos pagamentos e transferência de capital ao redor do mundo. Porém, este potencial ainda não foi realizado e a rede passa por gargalos eventualmente.
Vale a pena alocar em criptomoedas?
Dados os argumentos apresentados acima, entendemos que ainda há um desenvolvimento necessário significativo das teses para ser entregue. Hoje, e, para o investidor interessado, é necessário ter cautela com o mercado de criptoativos que ainda se comporta de uma forma bastante volátil.
Abaixo, analisamos a correlação do Bitcoin, a mais consolidada criptomoeda e com histórico mais extenso, com as ações globais, representadas pelo índice MSCI ACWI:
Ao longo dos últimos 10 anos, notamos um aumento na correlação do Bitcoin com o mercado acionário, provavelmente explicado pela maior adoção da criptomoeda nos últimos anos. Com o aumento da liquidez neste novo mercado, a entrada dos investidores institucionais, a alta volatilidade característica ativos ainda em estágio inicial de desenvolvimento e a percepção de risco por parte dos investidores, entendemos que o nível de correlação visto atualmente não deverá reverter para patamares vistos no passado. Ou seja, o argumento de diversificação inicialmente estabelecido para os criptoativos em um portfólio começou a perder força.
Apesar das altas significativas que vimos nos preços de criptomoedas no passado, ter alocação nesse ativo também acarreta em um aumento expressivo da volatilidade e risco em um portfólio.
Tem potencial? Tem. Vale o risco? Depende.
Entendemos que o “boom” das criptomoedas ocorreu durante a pandemia, quando as pessoas possuíam mais tempo livre em casa e dedicaram-se a outras tarefas além da rotina oficial. Os estímulos massivos fornecidos por bancos centrais e a injeção de liquidez nas economias aumentou consideravelmente as reservas das famílias, o que deixou o cenário propício para novas modalidades de investimento e impactou diretamente no volume de negociações dos ativos globais. Tendo isso em vista, vimos uma forte e repentina apreciação dos criptoativos durante o período, o que acreditamos ter ocorrido, em grande parte, por especulação ou até o conhecido como “FOMO” (fear of missing out, ou medo de ficar de fora) dos investidores.
Analisando os projetos de criptomoedas no mercado individualmente, e ainda vemos um longo caminho até a concretização de suas teses e seus propósitos. Além disso, acreditamos que ainda faltam indicadores fundamentalistas e que comprovem uma geração de valor e consistência de retornos futuros para os investidores nesta nova modalidade de ativos.
Ainda assim, reconhecemos que muitas das tecnologias sendo desenvolvidas detêm potencial para serem implementadas. Para os que estão confiantes de que estamos diante de uma grande transformação que está sendo construída agora, um investimento pequeno sabendo dos riscos elevados que ele traz consigo, pode fazer sentido. Mas ele necessita reconhecimento de que esse novo tipo de investimento ainda pode mudar muito daqui pra frente.
Se você ainda não tem conta na XP Investimentos, abra a sua!