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Como selecionar um fundo de investimento

A escolha de um fundo de investimento pode parecer complicada, mas é possível tornar esse processo praticável e minimamente embasado. A seguir, listamos os principais pontos que você deveria levar em consideração ao selecionar um fundo.

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Como selecionar um fundo de investimento

Num artigo escrito anteriormente, procuramos relatar de maneira sucinta o que NÃO fazer na hora de selecionar um fundo. Fizemos questão de frisar que não é aconselhável tentar selecionar fundos de maneira muito simplificada e rápida, baseando-se simplesmente nos retornos de curto prazo.

Nossa ideia foi “pavimentar” o caminho para este texto, que é o que você de fato gostaria de ter lido primeiramente. “E aí, o que eu faço então? Como seleciono um fundo em 5 minutos?!”

Infelizmente não existe uma maneira ágil e condensada de se selecionar fundos (pelo menos não uma que conheçamos). Seria razoável investirmos somente 5 minutos na análise de um investimento que vai garantir nossa aposentadoria? Ou que irá pagar os estudos dos nossos filhos?

Você há de concordar que a resposta é não. E é por isso que investimos, tipicamente, muito mais do que esses famigerados 5 minutos para achar bons fundos.

O trabalho de um analista dedicado a selecionar gestores se assemelha muito ao de um investigador: gasta-se muito tempo coletando informações da empresa gestora, entendendo o currículo de seus profissionais, estrutura societária, características do fundo, a composição de sua carteira, controles de risco adotados, limites gerenciais e regulamentares, histórico de retornos, desempenho comparado aos concorrentes, etc.

Pense que, quando investimos em um fundo, estamos terceirizando para uma empresa e sua equipe de profissionais o trabalho de garimpar para nós bons ativos no mercado financeiro. E, obviamente, nosso desejo é que, ao longo do tempo, depois de pagarmos esses profissionais (via taxa de administração e de performance), nossos ganhos sejam superiores aos que teríamos se investíssemos sozinhos ou se deixássemos o dinheiro aplicado na poupança ou em um título conservador do bancão.

Com isso em mente, comece se fazendo uma primeira pergunta importante:

  • Para maximizar as chances de que os retornos desse fundo atendam ou superem minhas expectativas, quais os requisitos mínimos que essa empresa e seus profissionais deveriam atender para gerir um fundo como esse no qual quero aplicar?

É assim que iniciamos o processo de análise de gestores e fundos na XP, com um questionário bastante minucioso que culmina em algumas dezenas de perguntas que precisam ser respondidas por nossa equipe de analistas.

Tendo superado a primeira pergunta, tente responder mais uma:

  • Dentro de um universo tão vasto de opções de gestores (no Brasil e fora do país), o que torna essa empresa (e seus fundos) melhor do que seus concorrentes?

Esse segundo questionamento nos leva a mais algumas dezenas de análises, gráficos, tabelas e muito debate entre nossa equipe de análise.

Procuramos agrupar todos os desdobramentos desses questionamentos em um processo de análise que cunhamos de “6 P’s”: Passado & Presente, Pessoas, Processos, Produto, Performance.

a) Passado & Presente: como surgiu a empresa, qual sua evolução e histórico e como está estruturada hoje

b) Pessoas: qual o currículo dos profissionais que fazem gestão, sua experiência com a estratégia do fundo e seu alinhamento com os investidores

c) Processos: como os gestores geram retornos e quais os controles de risco utilizados

d) Produto: qual a estrutura do fundo, taxas, prazo de resgate, tributação, carteira, etc

f) Performance: qual o desempenho do fundo em janelas de curto, médio e longo prazos; como o fundo performou comparado aos concorrentes; como performou em momentos de mercado em baixa, mercado em alta, etc.

Se, por um lado, não é possível ser tão assertivo em 5 minutos, por outro, sabemos que a maioria dos investidores não possui tempo ilimitado para se aprofundar no tipo de investigação que fazemos.

Mais do que isso, muitos dados das gestoras não estão acessíveis de maneira pública e é comum precisarmos assinar acordos de confidencialidade para ter acesso a determinadas informações sigilosas e estratégicas da empresa, mas que são essenciais em nosso processo de análise.

Assim, buscamos destacar somente os pontos cruciais de cada uma das seções acima e nos restringindo exclusivamente à análise de dados que são acessíveis (na maioria das vezes) de maneira pública e sem a necessidade de entrar em contato com o gestor do fundo.


1 e 2. Passado & Presente

Procure entender como a empresa surgiu, quais são suas principais áreas de atuação e como está estruturada atualmente. Para tanto, procure no Google o website da gestora e navegue pelas diferentes seções (caso haja – muitas vezes o site é bem simples).

Há uma seção específica do site de toda gestora em que a empresa é obrigada a disponibilizar documentos regulatórios. Um desses documentos que geralmente traz informações importantes é chamado de “Formulário de Referência”. Nele você terá acesso ao histórico da empresa e outras informações que auxiliarão a entender sua estrutura atual.

Procure em seções denominadas “Compliance”, “Políticas e Manuais”, “Informações Regulatórias”, “Documentos” ou termos parecidos com esses.


3. Pessoas

Utilize o Google, Linkedin, site da gestora.

Avalie a qualificação das pessoas que gerem o fundo.

Pode parecer um tanto óbvio, mas a gestão de um fundo de investimento é feita por seres humanos. São pessoas que fazem análises, que geram ideias de investimento, que gastam sola de sapato no Brasil e no mundo visitando empresas e profissionais de mercado e que também possuem uma formação acadêmica e um histórico profissional.

É preciso avaliar a bagagem desses profissionais no mundo da gestão de recursos – quantos anos de experiência possuem no mercado financeiro, por quais empresas passaram, quais funções tiveram. Essa etapa é inclusive mais importante do que medir a performance do fundo, que é muitas vezes reflexo de um time de investimentos bem qualificado e entrosado.

Podemos fazer uma analogia entre a seleção de um fundo e a escolha de um médico para a realização de uma cirurgia importante. Você certamente buscará entender a formação acadêmica do profissional, a experiência que ele teve em determinado ramo da medicina ou os hospitais em que já trabalhou. Afinal, é a sua saúde que está em jogo.

Imagino que os seus investimentos também mereçam a devida atenção, e a mesma checagem de histórico profissional deve ser feita para o gestor de recursos.

Assim, selecionamos os fundos cujos gestores possuam um histórico longo e comprovado no que tange à estratégia do fundo.


4. Processo

Vasculhando o site da gestora e os documentos que ela disponibilizar, procure entender como o gestor e sua equipe ganham dinheiro para o fundo. O processo utilizado é algo que pode ser replicado? É escalável? Quais os riscos que esse fundo corre?

Vale reforçar que cada fundo possui um processo de investimento específico e o que buscamos aqui é identificar se o processo está bem definido e formalizado, assim como adequado à estratégia do produto.


5. Produto

Aqui, busca-se entender as características operacionais do fundo, principalmente as suas taxas de administração e performance e
o seu prazo de resgate.

Se as taxas forem elevadas demais, podem comprometer a capacidade do fundo de entregar bons retornos no longo prazo. Assim, avaliamos se os valores de taxa estão em linha com a complexidade da estratégia. Vale lembrar que é natural que fundos com estratégias mais complexas, como os multimercados ou fundos de ações, possuam taxas maiores do que as de fundos mais simples, como os de renda fixa.

Não existe regra para as taxas, mas podemos dizer que:

– Fundos de Renda Fixa sem exposição a crédito deveriam cobrar taxas inferiores a 1,00%

– Fundos de Renda Fixa com exposição a crédito deveriam cobrar taxas inferiores a 1,00%, com exceção daqueles mais arrojados, que podem
chegar a cobrar até 2,00%.

– Fundos Multimercados deveriam cobrar taxas entre 1,5% e 2,00% para aqueles mais arrojados e inferiores a 1,50% para aqueles com perfil
moderado ou conservador.

– Fundos de Ações deveriam cobrar taxas entre 1,5% e 2,00%, com raríssimas exceções cobrando 3,00% (nesses casos, a taxa de performance
deveria ser zero).

Quanto ao prazo de resgate, é essencial que o período esteja alinhado com o tipo de ativo em que o fundo investe. Esse prazo costuma oscilar entre 1 e 90 dias, mas há muitos casos em que pode chegar a 180 ou 360 dias.

Se o fundo investe em ativos não tão líquidos, ter um prazo de resgate muito curto pode acabar comprometendo sua performance nos momentos mais intensos de solicitação de resgates.

Assim, evitamos selecionar os fundos cujas características operacionais estejam inadequadas à sua estratégia.


6. Performance

Já frisamos em outras publicações, mas vale reforçar: a performance de curto prazo (12 meses ou menos) não deveria ser levada em consideração isoladamente para se aplicar em um fundo.

Uma avaliação adequada dos retornos deve levar em conta principalmente horizontes mais longos, como de 24 ou 36 meses, ou desde o início do fundo, caso ele exista há menos tempo.

É elucidativo também analisar janelas de anos fechados, principalmente aqueles em que houve maior aversão a risco e pessimismo no mercado. Os anos de 2008, 2013 e 2015 são bons anos para se avaliar como os gestores se saíram, pois foram anos em que os ativos mais arriscados sofreram bastante. Para todas essas janelas, como ficaram as medidas de risco do fundo? Duas delas são a volatilidade e o “drawdown” (queda máxima desde último pico). Basicamente, quanto maior a volatilidade de um fundo, mais arriscado ele é. Analogamente, quanto maior o drawdown de um fundo, mais risco ele corre, tipicamente.

Além dos números do fundo isoladamente, é importante entender como o fundo se sai em comparação ao seu “benchmark” (ou objetivo de retorno) nas diferentes janelas mencionadas anteriormente.

Tudo isso para ter um melhor embasamento quantitativo necessário a fim de julgar a consistência dos retornos do fundo.

Você provavelmente não desejaria que uma performance atrativa de um fundo fosse fruto apenas de um movimento recente de mercado, que o gestor “surfou” de forma passiva. Temos de tentar entender se a capacidade de geração de retornos no longo prazo são um diferencial da gestora ou se foram simplesmente sorte.

Depois de analisar esses pontos gerais, lembre-se de um ponto importante: apesar de estarmos falando de como selecionar um fundo, não se limite em selecionar um único produto, como se ele fosse uma grande aposta e merecesse todas as suas fichas.

O fato é que os fundos, juntamente com os outros tipos de investimentos (renda fixa, ações, etc) devem ser enxergados como as peças do quebra-cabeça que é o seu portfólio, a sua carteira. Cada investimento apresenta um fator de risco predominante, assim como cada fundo possui uma estratégia específica. Então, a fim de minimizar o risco da sua carteira e mantendo-se um determinado objetivo de retorno, lembre-se de diversificar. Recomendamos o investimento em, no mínimo, 6 ou 7 fundos de diferentes estratégias, dependendo do seu perfil de risco.

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