Queda em setembro puxada por Bolsas globais e preocupações com o cenário fiscal no Brasil
Setembro historicamente tende a ser um mês fraco para a performance das Bolsas. Nos últimos 20 anos, na realidade, setembro foi – na média – o pior mês para retornos na Bolsa americana! Isso foi uma das poucas coisas que em 2020 não foi diferente. Após um agosto que foi um dos melhores meses para as Bolsas globais, setembro foi um mês negativo, com o índice MSCI Global recuando -3,90%.
No mercado americano, uniu-se à essa sazonalidade usualmente mais fraca para o mercado, uma correção de preços no setor de tecnologia. Tanto o índice da Nasdaq quanto o S&P500 fecharam o mês no negativo, com quedas de -5,16% e -3,92%, respectivamente. Em 2020, e principalmente após o início da pandemia, vimos as ações ligadas ao setor de tecnologia se descolarem dos demais setores, com as FAAMGs (Facebook, Amazon, Apple, Microsoft e Google) atingindo uma valorização de 48,47% até agosto, performance esta que se compara à alta de 8,34% do S&P500 no mesmo período (gráfico abaixo), levantando discussões quanto à uma possível bolha especulativa, que escrevemos no mês passado. Em setembro, contudo, vimos uma correção no preço desses ativos, com as FAAMGs recuando -9,38% no mês.
À medida que nos aproximamos de novembro, as eleições americanas ficam cada vez mais próximas, sendo um evento que está muito no radar dos investidores e que pode trazer volatilidade para o mercado adiante. Joe Biden (Democrata) lidera as pesquisas nacionais com margem média de ~7 pontos percentuais em relação à Donald Trump (Republicano), favorecido pela evolução do coronavírus nos Estados Unidos, os resultados econômicos e os protestos contra o racismo. Ontem o primeiro debate foi realizado, veja aqui a análise da nossa equipe política sobre esse caótico debate.
O medo de uma segunda onda de contaminações pelo coronavírus na Europa também adicionou pressão nas Bolsas ao redor do mundo. O aumento de novos casos de COVID-19 levou países da Europa, como a Inglaterra, França e Espanha, a retomarem medidas de restrições, o que prejudica a recuperação econômica, ao mesmo tempo em que não houve anúncios de novos estímulos no continente europeu. A Bolsa de Londres fechou setembro cedendo -1,63%, a de Frankfurt -1,43%, e o Índice Europe Stoxx-600 -1,48% (no acumulado do ano, as bolsas acumulam queda de -22,23%, -3,69% e -13,17%, respectivamente).
Preocupações fiscais e políticas voltam ao radar no Brasil
No Brasil, o Ibovespa seguiu o movimento global, recuando -4,80% em moeda local no mês e fechando no patamar dos 94.603 pontos, ao mesmo tempo em que vimos o Dólar-Real voltando a depreciar no fim do mês, fechando a R$5,61/USD. No acumulado do ano, o Ibovespa recua -41,70% em dólares e -18,20% em moeda local. Em dólares, o Brasil voltou a ser a Bolsa do mundo com a pior performance no ano (gráfico à esquerda), e isso muito por conta da performance fraca da nossa moeda. De forma semelhante, o Real retornou ao posto de pior moeda do mundo em performance frente ao Dólar, depreciando 28,15% no ano (ou o Dólar se apreciou 39,2% em relação ao Real, voltando acima do nível de R$5,60/USD).
Além da Bolsa e do câmbio, os juros longos no Brasil também sofreram por conta dessas preocupações, com as taxas do DI longas (10 anos) já voltando a se aproximar de 9,0%a.a. Isso traz um efeito negativo para as empresas, pois captar recursos a longo prazo fica quase inviável pelo alto custo, além de aumentar a taxa de desconto para as ações.
Em setembro, as preocupações sobre a trajetória fiscal voltaram ao foco, uma vez que o aumento substancial de gastos durante a pandemia com os pacotes de estímulos aumentou a dívida bruta do país, que chegará próximo à 100% ao final desse ano. Além disso, as discussões sobre a renovação do programa de auxílio emergencial e como custeá-lo levaram a uma forte correção dos ativos brasileiros. Veja mais nesse relatório Governo anuncia Renda Cidadã, e mercado vira; entenda o porquê.
Na última reunião do Copom, ocorrida nos dias 15 e 16 de setembro, o Banco Central optou por manter a taxa de juros brasileira inalterada em 2% ao ano, em linha com o esperado por nossa equipe econômica e pelo mercado. A ata da reunião sinalizou que não devem haver mais cortes na Selic, mas que tampouco haverá elevações nos próximos trimestres, pois não pretendem aumentar os juros enquanto as expectativas de inflação não se aproximarem da meta. Porém, o BC também sinalizou na ata que os juros podem voltar a subir caso haja uma mudança no regime fiscal (ou seja, ao nosso ver, mudança no teto de gastos).
Reafirmamos nossa visão de que a taxa Selic permanecerá em 2,0% até o segundo semestre de 2021, e subirá gradualmente até 3,0% no final do ano. Vale ressaltar que, caso a perspectiva de sustentabilidade das contas públicas se deteriore significativamente, o Copom pode optar por elevar a Selic mais cedo do que o contemplado em nosso cenário.
A perspectiva de juros baixos por mais tempo deve continuar impulsionando a Bolsa brasileira adiante, dado o aumento do fluxo de investidores procurando por uma maior rentabilidade migrados da Renda Fixa (onde há aproximadamente R$ 7,0 trilhões investidos) e da Poupança (quase R$ 1,0 trilhão).
Seguimos otimistas com o índice Ibovespa, e mantemos o target da Bolsa em 115 mil pontos dentro dos próximos 3-6 meses. Essa estimativa se baseia na projeção de lucros das empresas que compõem o índice e um múltiplo de Preço/Lucro justo de 14x. Com a queda recente da Bolsa, esse múltiplo comprimiu de 13x para 11,5x no momento. Portanto, esse é o principal risco por trás dessa estimativa – o aumento do prêmio de risco no Brasil gerado pela preocupação da trajetória fiscal pode continuar pressionado os múltiplos da Bolsa brasileira, levando mais tempo para que o índice volte a negociar em um patamar de 14x Preço/Lucro.
Nos últimos dias realizamos uma nova edição da nossa pesquisa com os assessores de investimento de escritórios autônomos filiados à XP Investimentos. De acordo com a nossa pesquisa de setembro, 73% dos assessores acreditam que o Ibovespa superará os 110 mil pontos até o fim do ano, sendo a média de palpites de 110.270 pontos, em forte recuperação do vale de 63 mil pontos em março e um pouco abaixo da nossa estimativa de 115 mil pontos. Clique aqui para ler o relatório completo.
Onda de IPOs no Brasil – é de se preocupar?
Desde o início do ano, 16 empresas brasileiras fizeram suas ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) e estrearam na B3, Bolsa brasileira, movimentando mais de R$ 10 bilhões (tabela abaixo). Somado a isso, a fila de empresas que pediram autorização para negociar ações na bolsa de valores continua aumentando, com 41 companhias aguardando a autorização da CVM para realizarem seu IPO.
Se continuar nesse ritmo, 2020 pode se aproximar do histórico ano de 2007, quando a Bolsa brasileira registrou o recorde de 64 IPOs, que somaram R$55,6 bilhões à época. 2010 foi o ano da capitalização da Petrobras pelo governo, devido à cessão onerosa.
Nesse cenário, alguns investidores (principalmente no Fintwit) se preocupam que o aumento de IPOs irá levar a uma grande pressão de preços negativa na Bolsa. Nós não enxergamos dessa forma, e iremos explicar o porquê. O cenário atual é consideravelmente diferente do passado e apresentamos abaixo 3 fatores que nos levam a acreditar que essa entrada de novas empresas no mercado não é tão problemática quanto em janelas passadas de IPOs.
1) O Brasil possui pouquíssimas empresas listadas vs. outros países
Atualmente, o Brasil possui 429 companhias com ações disponíveis para negociação. Um ano atrás, esse mesmo número era de 326. Mesmo com a evolução, e ainda considerando o aumento desse número frente à atual onda de IPOs, a verdade é que o Brasil possui pouquissímas empresas listadas quando comparamos com outros países.
Na Inglaterra, o número se aproxima de 2.000 empresas, enquanto na Ásia, destaque para a China e o Japão, que possuem quase 4.000 companhias listadas. Liderando essa corrida temos os Estados Unidos, com um número que se aproxima a 5.000 empresas – veja o gráfico abaixo.
2) Hoje o mercado é muito mais líquido do que no passado
No início dos 1990, o mercado acionário brasileiro chegou a ter mais de 600 empresas, mas a Bolsa era dominada por estatais e a liquidez de boa parte das empresas era irrisória. Apesar do menor número de empresas hoje, a situação atual em relação à liquidez da Bolsa brasileira, ou seja, o volume negociado, é bem diferente do passado.
No ano de 2000, o volume médio de negociação diária na B3 era de R$0,6 bilhões. Hoje, esse mesmo valor já ultrapassa os R$25 bilhões, conforme ilustra o gráfico abaixo. Na comparação com o ano passado, vimos um aumento de +55% no giro diário.
Na nossa visão, dois fatores têm sido preponderantes nessa evolução do mercado de capitais no Brasil e eles estão diretamente relacionados. O primeiro deles é a taxa de juros, que alcançou o patamar mais baixo da história, quando a Selic chegou ao nível de 2% ao ano (gráfico mais à esquerda). O segundo, derivado do primeiro, é o aumento do número de investidores na Bolsa. Sem dúvida, esse cenário de juros baixos faz com que o investidor precise se arriscar mais para obter mais rentabilidade, o que faz o brasileiro migrar para a Bolsa. Consequentemente, quando olhamos para o número de investidores na B3, esse valor passou de 619,6 mil em 2017 para 2,99 milhões em 2020 (gráfico central), com o total de recurso alocado na Bolsa seguindo o mesmo movimento (gráfico mais à direita).
3) A alocação em renda variável, tanto de investidores locais quanto estrangeiros, segue muito baixa
Em 2007, quando vimos um boom de IPOs, a alocação dos fundos de investimentos brasileiros em ações atingiu o valor recorde, em 21,7% (lembrando que a taxa Selic no período era de 11,25% ao ano). Atualmente, mesmo com os juros na mínima histórica, em 2% ao ano, vemos uma alocação dos fundos de investimento brasileiros em ações de apenas 11,5% – um aumento quando comparado à 2019, mas ainda abaixo da média histórica de 13,6% (gráfico à esquerda).
Em se tratando da alocação dos fundos de pensão em ações, a conclusão é semelhante: esse percentual hoje é de 18%, também abaixo do histórico de 21,3% (gráfico à direita).
Na nossa visão, considerando a Selic nos níveis atuais, estimamos que para os fundos de investimentos e de pensão atingirem retornos de CDI +2-3% ao ano, a alocação na Bolsa deveria ser de pelo menos 25%.
Do lado dos investidores estrangeiros, também vemos uma baixa alocação na Bolsa brasileira, diferentemente do que vimos em 2007. Treze anos atrás, o mercado vinha de um longo período de poucos lançamentos na Bolsa, enquanto que o PIB no Brasil cresceu 6,1% naquele ano e o capital estrangeiro mostrava bastante apetite pelas ações brasileiras. Hoje, o cenário é diferente. Em 2020, os investidores estrangeiros já retiraram R$88,9 bilhões* do mercado acionário brasileiro. Além disso, a participação do Brasil no índice de Mercados Emergentes (MSCI Emerging Markets), que já chegou a ser de quase 20% em 2007, se encontra hoje em seu menor nível (4,1%).
Dito isso, vemos que o cenário atual é consideravelmente diferente do passado e acreditamos que a entrada de novas empresas no mercado não é tão problemática quanto em janelas passadas de IPOs, e investidores devem se acostumar com essa realidade.
Com a recente queda da Bolsa dado o aumento de preocupações no Brasil e o elevado número de ofertas em uma mesma “janela”, já começamos a ver várias empresas anunciando o cancelamento ou postergação dos seus planos de abertura de capital. É natural que em um cenário assim os investidores sejam mais seletivos nas ofertas de ações. Porém, acreditamos que conviver com os IPOs recorrentes deverá ser a nova realidade do mercado brasileiro. Essa é uma boa mudança que trará mais oportunidades de investimento aos investidores e mais opções de financiamento produtivo para as empresas.
*Até 23 de setembro de 2020
Como as eleições americanas podem afetar os mercados?
A menos de 40 dias da eleição nos Estados Unidos, as pesquisas apontam vantagem democrata, com Joe Biden liderando as pesquisas nacionais por margem média de aproximadamente ~7 pontos percentuais e retendo vantagem em grande parte dos estados mais disputados do colégio eleitoral americano. O atual cenário parecia pouco provável antes da chegada do coronavírus, quando Trump era o favorito.
No entanto, a dinâmica da disputa foi influenciada por três fatores: a evolução do coronavírus no país, os resultados econômicos e os protestos contra o racismo. Todos esses aspectos incialmente favoreceram Joe Biden. Nas próximas semanas, a tendência esperada de estabilidade ou melhora dos indicadores econômicos e da saúde favorecem o acirramento da disputa.
É importante para o mercado financeiro acompanhar também a disputa no Congresso norte-americano. Caso o presidente eleito não tenha controle das duas Casas, será difícil implementar políticas mais arrojadas, como aumentos tributários defendidos por Biden. Antes da pandemia, era praticamente certo que o Congresso se manteria dividido: Câmara sob controle dos democratas e Senado dos republicanos. Porém, com a chegada do coronavírus e a queda de Trump nas pesquisas, a disputa pelo Senado se viu acirrada mais uma vez. Apesar disso, num cenário em que a diferença entre Biden e Trump se reduz até novembro, um arrebatamento democrata do Senado parece pouco provável.
O estudo feito pelos times de Análise Política e Estratégia Macro da XP mostra o impacto nos mercados para cada cenário eleitoral. Tanto no cenário da eleição de Biden com o Congresso dividido (maioria democrata na Câmara dos Representantes e republicana no Senado), quanto no da eleição de Trump e Congresso com a mesma divisão do primeiro cenário, esperamos uma reação semelhante dos mercados, com o S&P500 chegando em 3.550 pontos e o Ibovespa em 115 mil pontos ao fim de 2020.
No entanto, no caso de eleição de Biden por larga margem e Senado com maioria democrata, o que acreditamos ter uma probabilidade menor de ocorrer, o S&P500 pode chegar a 2.900 pontos ao final do ano, 18% abaixo do cenário base atual, e o Ibovespa dificilmente sairia ileso.
Na relação com o Brasil, existe a possibilidade de uma maior tensão, uma vez que a pauta ambiental tem peso na agenda democrata e o Brasil está tendo dificuldades em mostrar uma imagem positiva em relação ao tema. Clique aqui para ler na íntegra o relatório que fizemos sobre ESG, com tudo o que você precisa saber sobre o tema.
Ontem o primeiro debate foi realizado, veja aqui a análise da nossa equipe política sobre esse caótico debate.
Queda no Tesouro Selic – o que aconteceu?
A pandemia levou o Brasil, assim como outros países do mundo, a elevarem seus gastos devido aos estímulos fiscais, aumentando a dívida bruta, que deve alcançar 93% do PIB ao fim de 2020, frente 75,9% em 2019. Esse cenário leva a uma maior necessidade de financiamento do governo, havendo a emissão de novas dívidas e a diminuição dos recursos da conta única, uma espécie de “conta corrente” do governo, onde são geridos as receitas e pagamentos de despesas, a fim de pagar os títulos que vão vencendo.
No dia 10 de setembro, o Tesouro Nacional realizou uma oferta de R$ 46 bilhões em títulos no maior leilão da sua história, gerando um impacto negativo no mercado por indicar que precisaria de uma grande quantidade de recursos, o que provocou uma percepção de risco em relação ao Brasil. Somando-se a isso, ganharam destaque no mês as discussões do aumento nos programas de transferência de renda e a ameaça que toda essa conjuntura representa para o teto de gastos.
Esse risco levou à exigência de um maior prêmio, fazendo com que o spread* do Tesouro Selic aumentasse de 0,03% para acima de 0,10%. A aversão ao risco pode ser notada também nas expectativas de juros futuros, o que fez com que a curva DI futuro abrisse, ou seja, o valor esperado para os juros nos próximos anos aumentou.
Spread é o percentual prefixado do Tesouro Selic, formado por 100% da Selic + spread. Geralmente essa porção da rentabilidade pouco ou nada varia, diferente do que tem acontecido nos últimos dias.
No entanto, caso não ocorra nenhum outro evento que impacte o balanço fiscal, nossa expectativa é do encaminhamento para uma estabilidade de rentabilidades e do prêmio demandado pelo mercado.
Leia na íntegra o relatório sobre os riscos fiscais e seu impacto no Tesouro Selic clicando aqui.
Top 10 ações XP
Em setembro, nossa carteira Top 10 ações XP caiu -3,90%, contra -4,80% do Ibovespa. As principais movimentações do mês foram:
Banco do Brasil (BBAS3): Em setembro, os bancos incumbentes em geral performaram abaixo do índice Ibovespa influenciado pelos cenários regulatório e competitivo desafiadores. Ainda neste mês, o novo presidente do banco, André Brandão, tomou posse do cargo e acreditamos que sua chegada deve ser positiva. Contudo, mantemos nossa recomendação de Compra baseado em: i) sua carteira de crédito mais defendida, com mais de 40% da carteira nos segmentos de agronegócio e consignado; ii) possível beneficiamento de fatores não dependentes da economia, como redução de provisões operacionais e custo de captação mais barato via depósitos judiciais; e iii) valuation descontado.
B3 (B3SA3): Durante o mês de setembro, as ações da B3 performaram abaixo do índice Ibovespa. Apesar disso, os dados operacionais referentes a agosto apresentaram aumento do volume financeiro médio diário (ADVT) de 59,1% na comparação anual e aumento de 6,9% mensalmente. O número de investidores ativos seguiu crescendo 4,7% mensalmente e 119,9% anualmente, atingindo 2,98 milhões de investidores. Contudo, permanecemos otimistas com a retomada do mercado de capitais e com as baixas taxas de juros.
Gerdau (GGBR4): Em setembro, a performance das ações de Gerdau acima do benchmark foi novamente puxado pelos dados de recuperação do setor de construção pós-pandemia. As vendas de aços longos cresceram 6% em agosto, de acordo com dados do IABr, destacando a perspectiva positiva sobre o segmento. Além disso, dados de produção industrial da China melhores que o esperado (+5,6% no mês) também contribuiu para a alta do papel.
Iguatemi (IGTA3): Em setembro, as ações da Iguatemi foram amplamente impactadas possivelmente em decorrência do aumento do número de casos de COVID-19 na Europa, o que elevou a percepção de risco em relação a um novo aumento de casos no Brasil e, consequentemente, uma nova onda de fechamento de shopping centers no Brasil e seu reflexo na recuperação econômica. Ainda, as ações performaram negativamente nos últimos dias após a subida das taxas de juros futuras.
Locaweb (LWSA3): No mês de setembro, as ações da Locaweb tiveram desempenho inferior ao do Ibovespa. O desempenho das ações acompanhou principalmente o movimento de realização de lucros no setor de tecnologia no mundo. De qualquer forma, ainda vemos (I) espaço para uma maior aceleração do crescimento de receita, em especial no segmento de e-commerce, bem como (ii) oportunidades de captura de valor por meio de aquisições (duas já anunciadas no mês de setembro). Por fim, embora os múltiplos pareçam altos, com as ações negociando a múltiplo EV/Receita de 11,7x em 2021, esperamos que o crescimento da Locaweb ultrapasse o de seus principais pares internacionais. Projetamos crescimento anual médio para os próximos três anos de 16% na receita, 27% no EBITDA e 42% no lucro líquido.
Lojas Americanas: (LAME4): No mês de setembro, as ações de Lojas Americanas tiveram um desempenho inferior àquele reportado pelo índice, principalmente devido ao movimento de realização de lucros no setor de tecnologia no mundo – o que afetou o desempenho da B2W (controlada pela LAME com 61% de participação). No entanto, ainda vemos um forte crescimento médio de lucro de +20% entre 2019 e 2022 e retornos sólidos (ROIC de 28% em 2021). Nas nossas estimativas, a operação de lojas físicas da Lojas Americanas (LASA) atualmente negocia a um múltiplo P/L atrativo de 17,4x em 2021.
Movida (MOVI3): Apesar da performance negativa no mês, as ações da Movida tiveram performance superior ao do Ibovespa. Nas primeiras semanas do mês, a ação operou em alta devido à (i) otimismo do mercado quanto a retomada das atividades do setor (ii) dados positivos de venda de veículos no mês de Agosto. Entretanto, na última semana do mês, houve uma correção no preço das ações, em linha com a queda do Ibovespa.
Vale (VALE3): Mesmo com a queda no preço de minério de ferro a partir da metade do mês, a performance levemente positiva das ações da Vale foi suportada pela alta do dólar e, principalmente, pelo anuncio de novos pagamentos de remuneração aos acionistas no valor de R$2,40/ação (na forma de dividendos e de juros sobre o capital próprio). Adiante, além do retorno anualizado de 8,4% em 2020, esperamos um retorno mínimo de 7% para o ano que vem, considerando um preço médio de minério de ferro em US$85/t.
Via Varejo (VVAR3): No mês de setembro, as ações da Via Varejo tiveram um desempenho abaixo daquele apresentado pelo índice e pela nossa cobertura de varejo, também afetadas pela realização de lucros no setor de tecnologia no mundo. Entretanto, esperamos que a companhia continue apresentando um forte crescimento no segundo semestre, com uma rápida recuperação de vendas nas lojas a partir da reabertura das mesmas (crescimento de vendas mesmas lojas de -1% A/A no 2S20), e continuidade do forte desempenho das vendas online (+118% A/A) no 2S20. Por fim, em nossas estimativas as ações da Via Varejo são negociadas a múltiplo EV/GMV de 0,6x em 2021 (vs. 1,4x para B2W e 2,8x para Magalu).
Vivara (VIVA3): No mês de setembro, as ações da Vivara tiveram desempenho superior ao do índice Ibovespa. A ação foi beneficiada pelo maior otimismo dos investidores com a retomada gradual das atividades do setor de varejo. Nesse contexto, apesar da perspectiva de vendas no curto-prazo continuar desafiadora para a companhia, ressaltamos que o crescimento do e-commerce continua a acelerar (vendas no canal +387% A/A) e que no mês de agosto as vendas totais já permaneceram estáveis em relação ao mesmo período do ano anterior, com 261 lojas reabertas. Por fim, vemos as ações negociando a um múltiplo de 19x P/L 2021 – atrativo para uma companhia com crescimento anual médio de lucro de +18% entre 2019 e 2023, com ROIC (retorno sobre capital) de 30%.
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Alterações da carteira para o mês de outubro
Nesse mês, estamos realizando duas mudanças na nossa Carteira Top 10 Ações XP. Entram Omega e Marfrig e saem Iguatemi e Movida. Continuamos gostando dos setores de shoppings e aluguel de veículos, mas estamos reduzindo a nossa exposição ao setor de consumo e aumentando a exposição à papeis mais defensivos, dolarizados ou do setor elétrico.
Seguimos otimistas com o índice Ibovespa, e mantemos o target da Bolsa em 115 mil pontos dentro dos próximos 3-6 meses. Essa estimativa se baseia na projeção de lucros das empresas que compõem o índice e um múltiplo de Preço/Lucro justo de 14x. Com a queda recente da Bolsa, esse múltiplo comprimiu de 13x para 11,5x no momento. Portanto, esse é o principal risco por trás dessa estimativa – o aumento do prêmio de risco no Brasil gerado pela preocupação da trajetória fiscal pode continuar pressionado os múltiplos da Bolsa brasileira, levando mais tempo para que o índice volte a negociar em um patamar de 14x Preço/Lucro.
Omega (OMGE3): Temos recomendação de Compra em Omega e preço-alvo de R$ 44/ação. Acreditamos que a Omega continua a crescer com retornos muito atrativos, sendo assim nossa top pick no setor elétrico. Em nossa opinião, a execução consistente de transações de M&A tanto dentro do Grupo Omega quanto com terceiros, deve reforçar a confiança dos investidores na estratégia de crescimento da Omega, bem como deve concretizar a visão de que a empresa é uma consolidadora no segmento de energias renováveis. Por fim, não temos quaisquer preocupações com o aparente elevado endividamento da Omega, dado que os vencimentos de dívida estão completamente alinhados com a geração de caixa dos ativos da companhia.
Marfrig (MRFG3): Após registrar alta de 77% no ano até agosto, o papel registrou queda de cerca de 16% em setembro, em um movimento de provável realização de ganhos por parte dos investidores e frente à piora no cenário político brasileiro. Entendemos que se trata de uma oportunidade de compra interessante para aumentar a exposição da carteira a commodities, uma vez que os fundamentos da empresa seguem sólidos, com exportações robustas que devem seguir beneficiando a operação na América do Sul, bem como margens atrativas na operação na América do Norte. Adicionalmente, destacamos a liderança da Marfrig nas questões de ESG relacionadas à cadeia pecuária, com destaque para a iniciativa de rastreamento de fornecedores, além do lançamento da linha de carne carbono-neutra. Reiteramos nossa recomendação de Compra no papel, com preço-alvo de R$ 18.
Top Dividendos XP
Para o mês de outubro, realizamos uma alteração na carteira XP Dividendos: troca de Sanepar por EdP Energias do Brasil. A Sanepar vem passando por momentos de incerteza em relação a revisões e reajustes tarifários, com o regulador (Agepar) suspendendo o reajuste tarifário já aprovado de 9,6299%. A decisão veio depois que o governo do Paraná pediu a suspensão da aplicação das novas tarifas. Além disso, o Paraná enfrenta grave crise hídrica em 2020, que tem como consequência a adoção de medidas de rodízio de abastecimento pela companhia. Por outro lado, a EdP adotou uma nova política de dividendos, que vemos como positiva e mais atrativa.
EdP: Destacamos como positiva a nova política de dividendos adotada pela companhia em Agosto de 2020, segundo a qual a EdP distribuirá a acionistas o maior entre os seguintes valores (i) 25% do Lucro Líquido, (ii) 50% do lucro líquido ajustado por efeitos não caixa como os resultados do segmento de transmissão e (iii) R$1/ação. De acordo com a companhia, por meio da nova política de dividendos a administração formaliza sua intenção de distribuir a acionistas todo fluxo de caixa remanescente após investimentos a seus acionistas, bem como mantém o compromisso de manter a alavancagem da companhia em patamares mais otimizados. Estimamos um dividend yield de 6,2% em 2021-22. Mantemos nossa recomendação de Compra na EdP Energias do Brasil, com um preço-alvo de R$ 20/ação
Cesp: A companhia reforçou seu ao alto potencial de geração de caixa nos resultados do 2T20, que acreditamos que culminará ou em maiores distribuições de dividendos ou em investimentos em oportunidades de crescimento. Além disso, ao longo do 2T20, a CESP registrou uma redução de R$ (1,0) bilhão no total de passivos contingentes, dos quais R$ 154 milhões eram classificados como prováveis, implicando uma redução de -8% nas estimativas totais de passivos judiciais. Consideramos tal redução de passivos muito positiva, pois implica uma menor correção monetária destes processos em resultados futuros e, portanto, maiores lucros e potencial de distribuição de dividendos no futuro. Estimamos um dividend yield de 6,0% entre 2021 e 2022. Reiteramos nossa recomendação de Compra na CESP, com um preço-alvo de R$ 36/ação.
Cteep: Não vemos grandes riscos para a prática de dividendos da CTEEP de pagamento de 75% do lucro líquido regulatório, dada a sua posição de caixa de R$ 2,69 bilhões e nossa projeção de EBITDA para 2020 de R$ 2,36 bilhões, que são mais do que suficientes para fazer frente aos vencimentos de dívidas de R$ 1,07 bilhão e nossa estimativa de investimento de R$ 1,5 bi em 2020. Estimamos um dividend yield de 7,4% em 2021-22. Mantemos nossa recomendação Neutra na CTEEP, com preço-alvo de R$ 23/ação.
Taesa: Vemos a posição da Taesa como confortável para manter a distribuição de 100% de lucros em 2020, pois sua posição de caixa de R$ 2,4 bilhões e nossa estimativa de EBITDA para 2020 de R$ 1,0 bilhão são suficientes para fazer frente aos investimentos em 2020 de R$ 1,0-1,1 bilhão e vencimentos de dívida de R$ 734 milhões. Dito isso, assumimos o pagamento mínimo de 50% previsto no estatuto por conservadorismo e, caso a empresa faça um anúncio nesse sentido, consideraríamos perfeitamente razoável. Estimamos um dividend yield de 7,6% em 2021-22. Mantemos nossa recomendação neutra em TAESA, com preço-alvo de R$ 30/ação.
Tietê: Destacamos como positivo que a empresa tenha mantido sua prática de distribuição de dividendos no patamar máximo no primeiro semestre de 2020 apesar do contexto atual de incertezas, o que reforça nossa visão de que a AES Tietê é uma das nossas preferidas como pagadora de dividendos. Estimamos um dividend yield de 9,7% em 2021-22. Mantemos nossa recomendação de Compra na AES Tietê, com um preço-alvo de R$ 17/unit.
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