Participamos do Investor Day da CPFL, que ocorreu em 10 de dezembro. A empresa reforçou sua estratégia de se apoiar em seus ativos existentes, principalmente distribuição e transmissão, e estão investindo fortemente em digitalização/automação, resiliência da rede (especialmente após os eventos no Rio Grande do Sul) e demanda na área de concessão. Do lado financeiro, a empresa acredita que seu nível atual alavancagem permita a continuidade do alto pagamento de dividendos, apesar do grande programa de capex a ser implementado. Outro aspecto comentado foi o conhecimento e o suporte financeiro que podem ser fornecidos pelo seu acionista controlador, a State Grid.
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Visão Estratégica
No segmento de distribuição, o CEO da CPFL, Sr. Gustavo Estrella, discutiu as próximas renovações de concessão e a necessidade de aumentar os investimentos para atender às demandas de qualidade mais elevadas impostas pelas regulamentações e pelos consumidores. Ele enfatizou a importância da digitalização e da automação da rede como essenciais para oferecer a qualidade esperada, especialmente diante de desafios climáticos severos. Ele destacou a colaboração com órgãos reguladores e governos locais para enfrentar esses desafios. Olhando para o futuro, o Sr. Estrella ressaltou a necessidade de adaptar as estratégias de negócios nos segmentos de distribuição, transmissão e geração, considerando a atual transição energética e a crescente participação de fontes de geração intermitentes. Ele enfatiza a importância de explorar várias tecnologias e soluções para garantir a sustentabilidade operacional e a rentabilidade.
Estratégia de Financiamento
A CFO da empresa, Sra. Kedi Wang, destacou que os objetivos estratégicos da CPFL estão alinhados com os da State Grid, focando em produtos excelentes, forte branding, inovação e governança moderna. A State Grid, a maior empresa de utilities do mundo, fornece tecnologia avançada e força financeira, enquanto a CPFL conta com uma equipe de gestão de primeira linha e um potencial de crescimento significativo no mercado brasileiro. A State Grid apoia a CPFL com assistência técnica e ajuda financeira, levando a uma melhoria nas classificações de crédito das subsidiárias em vários países. A CPFL visa equilibrar crescimento e pagamentos de dividendos, com uma meta de índice de alavancagem de 2,0 a 2,5x Dívida Líquida/Ebitda. Apesar dos investimentos significativos previstos no setor de distribuição, a empresa planeja manter uma relação de pagamento de dividendos de 70-80%. Em 2024, a CPFL levantou R$7 bilhões em financiamento e emitiu R$4,1 bilhões em debêntures a uma taxa competitiva, estendendo a média do prazo da dívida de 3,0 para 5,7 anos. A CPFL planeja levantar mais de US$10 bilhões em empréstimos, com metade destinada à gestão de passivos e a outra metade para capex. A empresa busca aproveitar as condições favoráveis do mercado e explorar novas oportunidades de investimento, incluindo mercados internacionais e bancos de desenvolvimento. A nova CFO enfatizou a importância de construir confiança com os investidores e acredita que a parceria com a State Grid ajudará a CPFL a enfrentar desafios e aproveitar oportunidades, criando valor para os investidores.
Alocação de Capital
Foi reconhecido que a renovação da concessão é um pré-requisito para oportunidades de fusões e aquisições (M&A) e expressa otimismo de que em breve criará um ambiente favorável para aquisições potenciais. A empresa observa que o mercado está atualmente consolidado, com cinco grupos detendo quase 60% do mercado, o que leva a possibilidades limitadas de M&A. Embora a importância de manter uma imagem positiva seja reconhecida, acreditam que isso não deve impedir a exploração de oportunidades, especialmente considerando a experiência e o tamanho da CPFL no setor de distribuição.
Investimentos em Medidores Inteligentes
A empresa enfatizou a importância de alinhar o reconhecimento dos investimentos com os ciclos tarifários para garantir retornos razoáveis. Atualmente, os investimentos feitos no início do ciclo tarifário enfrentam atrasos no reconhecimento e na depreciação, levando a ineficiências financeiras. A CPFL defende o reconhecimento anual dos investimentos tecnológicos, o que aceleraria a escalabilidade dos projetos e melhoraria a qualidade do serviço para os clientes. Eles reconhecem a pressão tarifária de curto prazo decorrente do aumento dos investimentos, mas destacam que, no médio prazo, esses investimentos podem levar a eficiências operacionais e reduções de custos, beneficiando, em última instância, os clientes. Detalharam o projeto em andamento de medidores inteligentes, que visa instalar 1,6 milhão de medidores inteligentes nos próximos cinco anos, apesar dos desafios regulatórios.
Leilão de Capacidade
A CPFL destacou os crescentes desafios da intermitência na geração de energia, que devem aumentar. Eles mencionam a demanda estável por novas instalações e a necessidade de capacidade para mitigar problemas de intermitência. Apesar da incerteza em torno das condições do leilão, a empresa expressa interesse em explorá-lo como um potencial canal de investimento, reconhecendo sua importância na resolução de desafios operacionais.
Resiliência da Rede de Distribuição
A CPFL delineou os desafios enfrentados durante as enchentes no estado do Rio Grande do Sul, enfatizando o impacto tanto na população quanto na rede de distribuição. O Sr. Luiz Ferreira Pinto (VP de Distribuição da CPFL) explicou que a CPFL implementou um sistema de resiliência em colaboração com a Climatempo e a FGV, analisando a intensidade do vento e investindo na robustez da rede. A empresa passou a utilizar postes mais duráveis e melhorou a construção da rede para suportar condições climáticas extremas. Ele destacou a importância de manter redes aéreas para reparos mais rápidos e descreveu os planos de contingência desenvolvidos para restaurar a energia, que incluíram o uso de veículos militares e barcos. Ele observou as lições aprendidas e as adaptações feitas, como a realocação de subestações para evitar futuras enchentes e o aprimoramento de seus centros de distribuição de materiais.
Segmento de Transmissão
Esta área também enfrentou desafios, com várias subestações submersas e numerosas linhas de transmissão afetadas. A equipe executou com sucesso planos de contingência para manter o serviço. Atualmente, estão focando em melhorar a resiliência dos ativos contra futuros eventos climáticos extremos e estudando possíveis melhorias para as fundações das torres. Foi discutido o aumento significativo no capex, que subiu de aproximadamente R$40 milhões antes da privatização para R$650 milhões atualmente. Eles enfatizam a importância da automação e da tecnologia na melhoria da eficiência operacional e da qualidade do serviço.
State Grid
As experiências da State Grid na China em relação às fontes renováveis também foram apresentadas. O palestrante abordou os desafios de gerenciar a crescente capacidade de energia renovável, particularmente na China, que adicionou 200 GW de nova capacidade renovável no ano passado, com mais de 60% sendo solar. Eles enfatizam a necessidade de uma rede inteligente para responder rapidamente às flutuações de demanda e gerenciar a estabilidade da energia. Para o Brasil, as principais recomendações para abordar esse problema foram:
- Conhecimento e Tecnologia: aprimorar a inteligência da rede para melhorar os tempos de resposta a mudanças de carga, gerenciar frequência e estabilizar tensão;
- Soluções de Armazenamento em Baterias: explorar soluções de armazenamento de energia tanto de curto quanto de longo prazo, reconhecendo a atual dependência do armazenamento em baterias para necessidades horárias;
- Capacidade de Armazenamento por Bombagem: destacando o investimento significativo da China em armazenamento por bombagem, com cerca de 56 GW em operação e 134 usinas em construção, o que ajuda a consumir energia renovável e mitigar a limitação de geração.
Painel sobre Data Centers
Houve um painel discutindo o potencial para Data Centers no Brasil em geral e na área de concessão da CPFL. O Sr. Gustavo Souza, chefe da Ascenty, pioneira em data centers para clientes de grande escala, atendendo principalmente grandes empresas de tecnologia como Microsoft, Amazon, Google, Oracle e IBM, apresentou suas percepções. Ele enfatizou a importância da segurança, do fornecimento de energia e da infraestrutura nas operações de data centers, explicando como garantem confiabilidade por meio de conexões de energia robustas e sistemas de backup.
O Sr. Gustavo destacou o significativo potencial de crescimento para data centers no Brasil, impulsionado pela crescente demanda por serviços de nuvem e inteligência artificial (IA). Ele observou que, enquanto o Brasil possui cerca de 350 MW de capacidade de energia de TI, os EUA têm 12 GW, indicando espaço para crescimento. A taxa de crescimento esperada para data centers em mercados emergentes como o Brasil é projetada para ser de 20-30% nos próximos anos.
A discussão então se voltou para os desafios de expandir a infraestrutura energética para atender às crescentes demandas dos data centers. Luiz enfatizou a necessidade de uma abordagem descentralizada para subestações, a fim de melhorar a redundância e a confiabilidade. Ele discutiu as complexidades de acomodar grandes demandas de energia, particularmente de data centers relacionados à IA, que requerem significativamente mais potência do que as configurações tradicionais.
A Sra. Karen Luquezzi, VP de Operações de Mercado da CPFL, abordou o cenário regulatório, observando que, embora o Brasil tenha uma abundância de recursos de energia renovável, os obstáculos regulatórios e a necessidade de um planejamento de infraestrutura aprimorado são críticos.
Preços de Energia
A discussão começou com um foco no cenário de preços de energia, especialmente à luz das mudanças esperadas em 2025. A introdução de um novo modelo ajustado ao risco (CVAR) deve levar a um aumento na volatilidade dos preços, com picos e vales mais frequentes. Apesar do atual excesso de oferta, a combinação de fontes de energia intermitentes e variabilidade climática deve elevar os preços médios.