“Estar em vários lugares diferentes gera muito valor”, diz CEO da Tenda 

No Expert Talks – Na Mesa com CEOs desta quinta-feira (15), recebemos Rodrigo Osmo, CEO da Tenda (TEND3), uma das principais construtoras e incorporadoras do país. A apresentação foi conduzida por Fernando Ferreira, estrategista-chefe e head de Research da XP, e contou com a participação de Ygor Altero, head de real estate. Assista abaixo:

Trajetória e entrada na Tenda

Formado em engenharia química, Rodrigo Osmo conta que trabalhou com seu pai em uma empresa de representação química, mas, por falta de identificação com a área, decidiu buscar outros caminhos.

Passou pela Bain & Company, uma empresa de consultoria estratégica e, em 2006, ingressou na GP Investimentos, uma companhia que atua na gestão de recursos, principalmente em fundos de private equity. Um dos investimentos da GP era a empresa Gafisa, marcando sua entrada no mercado imobiliário.

Em 2011, a Gafisa passava por grandes problemas financeiros, registrando R$ 1 bilhão de prejuízo líquido naquele ano. “Eu fui pra Tenda na condição de tentar gerar liquidez para o grupo Gafisa conseguir servir suas dívidas”, lembra.

Diversificação

Ao falar sobre a diversificação geográfica, o executivo explica que estar presente em várias regiões com critérios rigorosos para avaliação de viabilidade de empreendimentos tem sido uma vantagem competitiva.

Em Fortaleza, por exemplo, uma simples mudança no critério de avaliação da Caixa Econômica Federal transformou a viabilidade dos empreendimentos, segundo ele. “Fortaleza era uma praça que tinha uma demanda gigantesca e um custo de obra super barato, mas as avaliações da Caixa eram muito ruins. Quando isso mudou, os empreendimentos de Fortaleza começaram a entregar resultados muito acima da nossa expectativa, ao invés de ficarem abaixo da nossa régua.”

Tenda e Alea

Além da atuação com a Tenda, especializada em prédios em grandes regiões metropolitanas, a empresa também opera com a Alea, focada em casas pré-fabricadas para cidades médias e pequenas, majoritariamente no interior de São Paulo.

De acordo com o executivo, a Alea surgiu como uma solução para um obstáculo do mercado, dado que 70% da demanda por moradia no Brasil ser por casas, mas a maior parte da oferta estar concentrada em prédios.

“A execução no canteiro é muito complexa. São obras pequenas, em cidades ermas, que não têm mão de obra. É muito complexo você executar isso”, comenta Rodrigo, explicando como a empresa resolveu o desafio de construção no interior com uma abordagem industrial que permite a execução de 80% da obra fora do canteiro.

Minha Casa, Minha Vida

O CEO da Tenda destaca ainda a importância do programa Minha Casa Minha Vida para o setor, reforçando como ele ajuda as empresas a planejarem seus negócios no longo prazo. Segundo Osmo, por contar com uma fonte de recursos estável (o FGTS), o programa permite que famílias de baixa renda troquem o aluguel pela casa própria com prestações acessíveis e juros reduzidos quando comparados ao mercado.

“O programa é incrivelmente resiliente e blindado de fatores macro. Ele permite que empresas se programem para o longo prazo e que uma família de R$ 3 mil de renda consiga sair do aluguel e comprar um imóvel melhor localizado, pagando menos por mês.”

Ainda assim, o executivo alerta que o modelo exige operações altamente eficientes: “A dificuldade é você conseguir ter uma operação azeitada o suficiente, para dentro das condições do programa, ter uma operação rentável. Poucas empresas hoje conseguem”, diz.

Como a Tenda enfrentou a pandemia

Durante a pandemia, a Tenda enfrentou o maior desafio de sua história recente. Segundo Rodrigo, o período serviu como um “choque de humildade” para uma companhia que, até 2016, era vista como a queridinha do mercado, crescendo 40% ao ano, com alto retorno sobre o investimento e previsibilidade nos resultados.

“A pandemia mostrou que o nosso modelo de negócios não era à prova de bala. Ficou claro que havia fragilidades estruturais que precisavam ser endereçadas”, afirmou o CEO.

Com o cenário de inflação fora de controle, o modelo de negócios baseado em vendas rápidas e repasse imediato para a Caixa se revelou vulnerável. A inflação de custos, que antes era estimada em por volta de 5%, disparou para até 30% ao ano, corroendo a margem de projetos que já estavam com receitas travadas em valores nominais. Sem estoque e com baixa capacidade de reação, a empresa previa prejuízos em 2021, 2022 e 2023.

Diante desse cenário, Rodrigo optou por reconhecer o impacto de forma transparente e antecipada, mesmo com a quebra temporária de confiança no mercado. Com um plano claro de desalavancagem e recuperação, a Tenda conseguiu atravessar o período e, com o follow-on realizado, consolidou sua saída da zona de risco. “A Tenda entre 2021 e 2023 era o risco dela quebrar”, disse Osmo. “Hoje, essa possibilidade está superada.”

Liderança e indicações

Ao refletir sobre sua trajetória como líder, Osmo afirma que sua gestão evoluiu de um modelo “comando e controle” para um estilo baseado em liberdade e responsabilidade. “Eu entendi que meu estilo foi importante para trazer a Tenda até um certo patamar, mas seria prejudicial dali pra frente.”

Hoje, com mais equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, ele recomenda a série Ruptura, produzida pela Apple TV, que, segundo ele, oferece uma reflexão instigante sobre trabalho, identidade e propósito.

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