XP Expert

Expectativas de médio prazo são fundamentais para que a estratégia do Copom funcione

Em seu comunicado oficial, o Banco Central vem sinalizando que a taxa Selic em 12,75% é suficiente para trazer a inflação para a trajetória da meta. Será que vai dar certo?

Compartilhar:

  • Compartilhar no Facebook
  • Compartilhar no Twitter
  • Compartilhar no Whatsapp
  • Compartilhar no LinkedIn
  • Compartilhar via E-mail

Introdução

Em seu comunicado oficial, o Banco Central vem sinalizando que a taxa Selic em 12,75% é suficiente para trazer a inflação para a trajetória da meta. Será que vai dar certo? Manter as expectativas de inflação de longo prazo ancoradas é fundamental para responder a essa pergunta.

A inflação brasileira, medida pelo IPCA, atingiu níveis de dois dígitos durante a pandemia, impulsionado tanto pela demanda quanto pela oferta. O Banco Central reagiu prontamente, levando a taxa Selic a patamares contracionistas. Assim, quando (e se) as pressões inflacionárias globais diminuírem, o IPCA deverá convergir gradativamente para a trajetória de metas.

A expectativa de inflação é uma variável chave para avaliar a velocidade dessa convergência. Se as expectativas de médio prazo não estiverem bem ancoradas, a tarefa da política monetária se torna mais desafiadora.

Nesse sentido, as notícias recentes não são animadoras. O gráfico abaixo mostra as expectativas de inflação de 1 ano/ 1 ano à frente, coletadas pelo Boletim Focus do Banco central. Essa variável considera uma medida de médio prazo da expectativa de inflação e, portanto, não é diretamente afetada pela pressão inflacionária de curto prazo. O gráfico mostra que as expectativas de médio prazo estão em alta e estão 15,3% acima da meta para o período.

O aumento dessas expectativas está normalmente relacionado à falta de credibilidade da política monetária. Não acreditamos que seja o caso desta vez. O BC vem reagindo ao aumento da inflação desde março do ano passado (muito antes da maioria dos Bancos Centrais do mundo). A aprovação recente do projeto de independência do BCB no Congresso reforça essa visão.

O gráfico abaixo tem a mesma medida de desancoragem de expectativas que o gráfico acima. Ainda assim, plotamos junto com a surpresa inflacionária (medida pela diferença entre a inflação acumulada em 12 meses e a expectativa de inflação 12 meses à frente para o período observado). Observamos que o recente movimento de desancoragem está associado a surpresas crescentes.

É mais provável que o aumento das expectativas esteja ligado à intensificação do choque global de preços de commodities. Isso sugere que o efeito sobre a inflação ao consumidor (no Brasil e na maioria dos outros países) provavelmente durará além de 2022.

Outra pressão sobre as expectativas de inflação pode vir do risco fiscal doméstico. O mercado prevê que a relação dívida/PIB brasileira aumentará nos próximos anos, a partir de um patamar já elevado hoje (acima de 80%). A insustentabilidade fiscal pode eventualmente levar a uma inflação mais alta. O Copom vem apontando esse risco em seu comunicado oficial: “o Comitê ponderou que o risco de desancoragem das expectativas de mais longo prazo, decorrentes da evolução do cenário fiscal, sustenta um viés de alta para as projeções de seu cenário de referência”

Clique aqui para receber por e-mail os conteúdos de economia da XP

Canais de transmissão da política fiscal aos preços

O principal canal pelo qual a política fiscal afeta a inflação é a atividade. Quando colocada no campo expansionista, com resultado primário declinante em relação ao período anterior, a política fiscal faz com que o PIB cresça mais (pelo menos no curto prazo). Um aumento nos gastos do governo aumenta diretamente a demanda agregada. Ao mesmo tempo, uma tributação mais baixa leva a um aumento da renda disponível, do consumo e dos investimentos privados.

Quando a política fiscal é contracionista (com queda de gastos ou aumento de impostos), ocorre o contrário.

No entanto, vale ressaltar que esse mecanismo nem sempre é tão simples. Tomemos como exemplo a queda do IPI sobre automóveis no Brasil em 2012. O efeito inicial foi queda de preços e inflação mais baixa, mas isso não foi sustentável, uma vez que era esperado que os impostos voltassem a subir nos próximos anos. Assim, uma queda de impostos na situação atual da economia brasileira poderia fazer com que a inflação caísse no curto prazo (devido ao realinhamento de preços). Ainda assim, aumentaria novamente (aumentos de preços seriam incorporados às expectativas e à perspectiva de que a política fiscal permaneceria expansionista e exigiria novos aumentos de impostos no futuro).

Outro canal pelo qual a política fiscal pode afetar o nível de preços é a sustentabilidade da dívida, conforme explicado pela Teoria Fiscal do Nível de Preços. Quanto maior a dívida pública, mais difícil será sustentá-la em níveis razoáveis ​​ao longo do tempo, com o mercado exigindo taxas de juros mais altas para rolar a dívida do governo (que se eleva tanto por déficits estruturais quanto por taxas de juros) – consequentemente, prêmios de risco e a depreciação da taxa de câmbio (que aumenta a inflação) aumentam.

Assim, a preocupação com as contas fiscais brasileiras se justifica e influencia as expectativas de inflação.

Impacto de expectativas mais altas nas projeções de inflação

Utilizando o arcabouço de modelagem do Banco Central, buscamos estimar o impacto da desancoragem da inflação de médio prazo nas projeções de inflação, considerando os efeitos diretos e indiretos por meio da própria inflação, dos juros e hiato do produto.

Em nosso cenário básico, com a taxa Selic em 12,75%, a inflação e as expectativas de inflação convergirão para a meta até 2024. Isto significa que as expectativas de inflação a médio prazo estarão na meta no início de 2023.

E se a formação de expectativas mudar, tornando-se mais inercial (portanto mais influenciada pela alta inflação corrente)? Alterando os coeficientes da curva de expectativas de inflação, dando mais peso ao descolamento das expectativas, em linha com o que observamos agora e para o período 2014-2016, temos cenários em que a inflação pode ficar entre 0,5pp e 0,85pp mais alta em 4 trimestres, respectivamente.

Apesar da desancoragem da inflação ter um impacto significativo na definação de preços, parte do efeito é corrigido com taxas de juros mais altas. No cenário de choque de desancoragem atual, a taxa Selic necessária para trazer a inflação para a trajetória de convergência é de 14%, enquanto no cenário de maior desancoragem, a Selic deve atingir 15% no ciclo de aperto monetário.

Manter as expectativas de médio prazo ancoradas é fundamental para que a estratégia do Banco Central funcione

Em seu comunicado oficial, o Banco Central vem sinalizando que a taxa Selic em 12,75% é suficiente para trazer a inflação para a trajetória da meta. Será que vai dar certo? Nossas simulações mostram que, se o choque de oferta global não se deteriorar ainda mais, pode funcionar. Mas é fundamental manter as expectativas de inflação de médio prazo bem ancoradas. As expectativas para 2022 e 2023 podem estar um pouco acima da meta, mas as expectativas para 2024 e 2025 devem permanecer ancoradas – o que significa que as expectativas de inflação de médio prazo voltarão à meta nos próximos trimestres.

Para que isso aconteça, é fundamental que i) o Banco Central continue trabalhando de forma independente; ii) A regra de política fiscal reconstrua sua credibilidade, a fim de melhorar a dinâmica da dívida em relação ao PIB; iii) o próximo governo foque em reformas estruturais, como reforma tributária, reforma administrativa, concessões e privatizações.

Como mostramos acima, se as expectativas de inflação se tornam mais inerciais e continuam se afastando da meta, o esforço de política monetária necessário para trazer a inflação para a trajetória de convergência nos próximos anos será mais intenso.

E como pensar em seus investimentos nesse cenário econômico? Clique aqui para conhecer as recomendações dos experts de acordo com seu perfil

XPInc CTA

Se você ainda não tem conta na XP Investimentos, abra a sua!

XP Expert

Avaliação

O quão foi útil este conteúdo pra você?


Newsletter
Newsletter

Gostaria de receber nossos conteúdos por e-mail?

Cadastre-se e receba grátis nossos relatórios e recomendações de investimentos

Disclaimer:

Este relatório foi preparado pela XP Investimentos CCTVM S.A. (“XP Investimentos”) e não deve ser considerado um relatório de análise para os fins do artigo 1º na Resolução CVM 20/2021. Este relatório tem como objetivo único fornecer informações macroeconômicas e análises políticas, e não constitui e nem deve ser interpretado como sendo uma oferta de compra/venda ou como uma solicitação de uma oferta de compra/venda de qualquer instrumento financeiro, ou de participação em uma determinada estratégia de negócios em qualquer jurisdição. As informações contidas neste relatório foram consideradas razoáveis na data em que ele foi divulgado e foram obtidas de fontes públicas consideradas confiáveis. A XP Investimentos não dá nenhuma segurança ou garantia, seja de forma expressa ou implícita, sobre a integridade, confiabilidade ou exatidão dessas informações. Este relatório também não tem a intenção de ser uma relação completa ou resumida dos mercados ou desdobramentos nele abordados. As opiniões, estimativas e projeções expressas neste relatório refletem a opinião atual do responsável pelo conteúdo deste relatório na data de sua divulgação e estão, portanto, sujeitas a alterações sem aviso prévio. A XP Investimentos não tem obrigação de atualizar, modificar ou alterar este relatório e de informar o leitor. O responsável pela elaboração deste relatório certifica que as opiniões expressas nele refletem, de forma precisa, única e exclusiva, suas visões e opiniões pessoais, e foram produzidas de forma independente e autônoma, inclusive em relação a XP Investimentos. Este relatório é destinado à circulação exclusiva para a rede de relacionamento da XP Investimentos, incluindo agentes autônomos da XP e clientes da XP, podendo também ser divulgado no site da XP. Fica proibida a sua reprodução ou redistribuição para qualquer pessoa, no todo ou em parte, qualquer que seja o propósito, sem o prévio consentimento expresso da XP Investimentos. A XP Investimentos não se responsabiliza por decisões de investimentos que venham a ser tomadas com base nas informações divulgadas e se exime de qualquer responsabilidade por quaisquer prejuízos, diretos ou indiretos, que venham a decorrer da utilização deste material ou seu conteúdo. A Ouvidoria da XP Investimentos tem a missão de servir de canal de contato sempre que os clientes que não se sentirem satisfeitos com as soluções dadas pela empresa aos seus problemas. O contato pode ser realizado por meio do telefone: 0800 722 3710. Para maiores informações sobre produtos, tabelas de custos operacionais e política de cobrança, favor acessar o nosso site: www.xpi.com.br.

A XP Investimentos CCTVM S/A, inscrita sob o CNPJ: 02.332.886/0001-04, é uma instituição financeira autorizada a funcionar pelo Banco Central do Brasil.Toda comunicação através de rede mundial de computadores está sujeita a interrupções ou atrasos, podendo impedir ou prejudicar o envio de ordens ou a recepção de informações atualizadas. A XP Investimentos exime-se de responsabilidade por danos sofridos por seus clientes, por força de falha de serviços disponibilizados por terceiros. A XP Investimentos CCTVM S/A é instituição autorizada a funcionar pelo Banco Central do Brasil.


Este site usa cookies e dados pessoais de acordo com a nossa Política de Cookies (gerencie suas preferências de cookies) e a nossa Política de Privacidade.