Em uma era em que os dados valem ouro, ter mecanismos que consigam ler, filtrar, consolidar, processar e resumir as informações para auxiliar a tomada de decisão é de extrema importância. O acesso à informação hoje em dia é mais fácil do que nunca, porém, a informação por si só não gera impacto se não houver um filtro do que está sendo recebido, para separar essa informação de acordo com a relevância. A tecnologia tem avançado muito nesse sentido, a todo momento vemos novas inovações tecnológicas que visam facilitar e solucionar problemas desse momento de mundo
Não é preciso ir muito longe para entender o funcionamento dessas novas tecnologias aplicadas ao mercado financeiro. Além de todos avanços relacionados a serviços bancários como internet banking, pix e mais recentemente o open banking, tivemos uma revolução dentro do mundo de fundos de investimentos após o aumento contínuo da utilização das máquinas visando ampliar a captura e análise de dados, extensivamente superior a capacidade humana. As assets que se destacam nesse quesito são as gestoras quantitativas.
Em linhas gerais, a gestão quantitativa utiliza a coleta e processamento de dados, para realizar uma modelagem dessas informações e criar modelos de tomada de decisão de investimento. É uma forma de investimento em que a tomada de decisão é realizada a partir de computadores, onde o machine learning busca padrões de riscos e de retornos de acordo com limites e objetivos do fundo, para trazer ativos que irão trazer o comportamento esperado pelo fundo.
Porém, é importante ressaltar que não são apenas fundos rotulados como “quantitativos” que estão utilizando desta tecnologia. As gestoras mais tradicionais, apesar de não necessariamente chegarem ao final do processo quantitativo que é deixar o modelo desenhado por si só comprar ou vender ativos, tem incorporado ao seu processo de investimentos essas leituras de dados em ampla escala, cálculos matemáticos e algoritmos refinados para auxiliar na tomada de decisão, avançando assim para aprimorar seu ferramental e com isso a possibilidade ter retornos ainda maiores em seu portfólio.
Para decifrar essas evoluções tecnológicas e como elas se aplicam em diferentes estratégias de gestão, convidamos o Guilherme Silva, analista quantitativo da Encore, gestora focada em fundos de ações, e Gustavo Aleixo, chefe da área de pesquisa da gestora Kinea, para entender a utilização da analise quantitativa dentro dos fundos de ações e nas mesas dos fundos multimercados respectivamente, confira a seguir.
O modelo híbrido de gestão da Encore
A inovação é essencial para a sobrevivência de um negócio, ainda mais em um mercado tão competitivo quanto o mercado financeiro. Visando a tecnologia como aliada para abandonar as metodologias arcaicas de gestão de recursos, a Encore aposta em uma abordagem conhecida como “quantamentum” que combina os elementos da análise fundamentalista, com ferramentas quantitativas.
“Você consegue levar meia dúzia de pessoas para dar uma volta na atmosfera, consegue fazer um carro dirigir sozinho, mas o processo de gestão de recursos, em especial aqui no Brasil ainda é muito arcaico.”
Guilherme Silva, Analista Quantitativo da Encore
A Encore não é uma casa focada em fundos puramente quantitativos, mas de acordo com o Guilherme, a junção da análise fundamentalista somada à quantitativa, permite absorver o que há de melhor da ciência de dados, e da expertise dos gestores da casa. Além dessa junção, a gestora se preocupa em estar sempre na vanguarda do conhecimento, próxima das novidades, tendências, temáticas, inovações, tanto aplicado às finanças, quanto em questões correlatadas, visando capturar oportunidades.
Dentro da casa, a análise quantitativa é dividida em três pilares de atuação:
Modelagem prêmios de riscos: através de uma pesquisa sistemática, o algoritmo consolida os dados para acompanhar os prêmios de riscos do mercado, ou seja, os valores que o mercado está pagando por determinados níveis de riscos. Esse tipo de levantamento utiliza modelos estatísticos – também conhecidos como machine learning, para determinar se esses achados são “falsos positivos” ou realmente é uma informação relevante e precisa. Os dados levantados são usados tanto na estratégia dos fundos de ações, quanto para entender o quão exposto está o fundo a cada um dos prêmios de riscos, ampliando a visão dos analistas.
Análise de portfólio: a informação leva tempo para chegar a todos agentes de mercado, e o “timing” é um fator decisivo para a rentabilidade dos ativos. Por este motivo, quando você monitora de perto o mercado e possui tecnologia que oferece agilidade ao gestor, a tomada de decisão se torna mais efetiva e com maiores chances de dar certo.
Em exemplo simples de análise dentro deste pilar, são relatórios periódicos, produzido pela área de dados para que os analistas consigam ter uma visão mais completa das correlações não tão obvias, como entre ações de diferentes setores, e com isso ampliar a decisão de uma melhor carteira de ações como um todo. Afinal quanto menor a correlação entre os ativos, mais defensivo é um portfólio.
Acompanhamento de fluxo e posicionamento: humanamente é impossível dar conta de todos dados gerados no mercado financeiro diariamente. Por esse motivo, a tarefa de monitorar posições, fluxos de compra e venda, é realizada através de algoritmos dentro da Encore, dessa forma, o modelo trará para o analista as informações filtradas, possibilitando o acompanhamento e avaliação de diversos critérios dos ativos: como liquidez, risco e rentabilidade. Bem como o comportamento de outros gestores, dados macroeconômicos e fenômenos que fazem os preços se moverem. Dados preciosos para a tomada de decisão dos analistas mais generalistas da casa, ou seja, que buscam analisar a carteira do fundo como um todo e não apenas o cenário específico de uma empresa ou setor.
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Por dentro da mesa de pesquisa da Kinea
A Kinea nasceu em 2007 como uma gestora de fundos multimercados e evoluiu sua prateleira de produtos oferecendo atualmente soluções de gestão de recursos em diversas áreas de negócios. Atualmente não possui um produto específico ou time para gestão quantitativa – partindo do princípio de que quando falamos em “gestão quantitativa” estamos nos referindo um processo de investimento 100% baseado em dados históricos, séries e modelos estatísticos e tomada de decisão. Por outro lado, a Kinea possui um time de pesquisa quantitativa, que está em uma área segmentada que foi estruturada para gerar suporte aos times de alocação.
Gustavo Aleixo, chefe da área de pesquisa da gestora Kinea, reforçou as diferenças entre o uso isolado das diferentes gestões (quantitativa e fundamentalista), bem como os benefícios combinação de ambas. Ressaltando que a gestão quantitativa tem vantagem competitiva quando olhamos para a escala dos dados históricos, que um gestor discricionário não conseguiria cobrir devido ao grande número de informações. Por outro lado, segundo Gustavo, a gestão 100% quantitativa exige constante aperfeiçoamento do modelo e depende das correlações históricas permaneçam constantes para que as análises se mantenham verdadeiras ao longo do tempo.
Ainda assim, a utilização da tecnologia para auxiliar na gestão é imprescindível. Vale pontuar as diferenças entre análises e gestão: sendo a análise a consolidação das informações que poderão ou não ser transformadas em movimentações de carteira. Já a gestão é a execução da movimentação sendo a aplicação da análise gerada anteriormente. Dessa forma, a Kinea conta com o suporte da área de pesquisa para gerar análises que servirão de inputs para os gestores de cada mesa – que terão liberdade para tomar decisões de acordo com essas informações.
Quando falamos em “mesa”, é importante ressaltar que os fundos multimercados da Kinea possuem uma estrutura cujo risco do fundo está dividido entre os gestores, cada um responsável por uma “mesa”, ou seja diferentes “ilhas” onde eles possuem a liberdade para escolher e comprar ativos de uma classe, ou de um determinado nicho de ativos dessa mesa. Aqui já temos uma atuação relevante das ferramentas quantitativas: a de gerenciar a alocação de risco direcionado para cada mesa.
Nesse caso, a alocação de riscos não é 100% quantitativa, porém, utiliza uma análise de dados robusta, leitura do histórico de performance de gestores, estuda a correlação entre as mesas e gera medidas de riscos para ajustar e direcionar o capital. Esse processo envolve otimizações que geram uma massa de informações, que é levada para um comitê e com isso define a alocação de capital de risco entre as mesas.
Além da modelagem de riscos para as mesas, de acordo com o Gustavo, a Kinea conta com outras ferramentas quantitativas, por exemplo:
Criação de indicadores quantitativos: pode envolver variáveis econômicas, de mercado, cruzamento de informações e principalmente análise técnica dos indicadores de preços. Hoje essa análise segue um fluxo muito parecido com a de uma gestão puramente quantitativa, porém, nesse caso, a ferramenta não irá executar ordens e sim gerar inputs para uso futuro dos gestores – que em última instancia poderá tomar a decisão de investimento de forma discricionária.
Economista robô: projeto que visa automação e atualização de modelos, a partir de um banco de dados robusto que vai acompanhar o grande universo de mercados e economias, para atualizar os modelos utilizados no escopo da pesquisa. Trazendo escala e qualidade para a gestão do fundo.
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A tecnologia a favor dos seus investimentos
O uso de dados para gestão de recursos não é uma novidade, afinal de contas, os dados são registros que irão nortear a tomada de decisão. Hoje, todos gestores utilizam dados históricos e informações relevantes para montar possíveis cenários macroeconômicos ou projeções futuras de dados. Isso acontece, pois, a busca por oportunidades se dá através de uma análise histórica que envolve riscos e incertezas, já que um gestor olhará para ativos/oportunidades que o mercado ainda não detectou. Dito isso, em uma era que temos dados valiosos e informações disponíveis de maneira muito rápida – a filtragem, organização, consolidação em larga escala é uma tarefa necessária para eficiência de um gestor.
Quando falamos em avanços tecnológicos, muitas pessoas não compreendem a importância das ferramentas quantitativas, justamente por envolver códigos, algoritmos, modelos, cálculos matemáticos, entre outros fatores que não são triviais. E quando reunimos esses termos ao mercado financeiro que já é complexo, de certo, pode causar muitas dúvidas. Por outro lado, a inovação acontece quando ninguém está olhando para um fator ou tendência, e por esse motivo, levar em consideração esses avanços para a gestão de recursos é muito importante.
Sem entrar no mérito sobre qual seria a melhor forma de gestão entre a quantitativa ou discricionária, entendemos que existem oportunidades e riscos em ambos modelos, mas que sem dúvidas, a tecnologia é um motor poderoso de acesso e facilidade para a humanidade. Além disso, o mundo está caminhando para um futuro em que a tecnologia estará integrada a nossa realidade, apesar de já termos muitos avanços nesse sentido, existem muitos projetos tecnológicos e inovadores que ainda estão saindo do papel.
Por fim, os investidores devem sempre se atentar se os seus recursos estão direcionados para acompanhar essas inovações e tendências, verificando o que há de novo no mercado, e se essas tecnologias estão auxiliando na geração de valor dos seus investimentos. Para aqueles investidores que desejam acompanhar de pertos essas oportunidades de mercado, poderá conhecer nossa plataforma EXPERT PASS e ter acesso aos melhores conteúdos e recomendações diretamente dos nossos analistas.
Quer saber mais sobre a gestão quantitativa? Confira abaixo outros artigos sobre o tema:
- Fundos quantitativos: Como é investir por meio de algoritmos?
- Reflexões sobre os fundos quantitativos, pelo olhar da Kadima.
- Mundos & Fundos: Giant Steps e a relevância dos fundos quantitativos
- Leda Braga: a “rainha dos fundos quantitativos” que conquistou Wall Street.
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