É comum ouvir que em momentos de volatilidade é possível capturar boas oportunidades, e nesses casos, estar bem posicionado faz toda diferença. Para isso ocorrer, a flexibilidade de alocação se torna um fator decisivo para o sucesso das estratégias de um fundo.
A premissa básica para um fundo ser classificado como multimercado é a presença de diferentes ativos e fatores de riscos em sua carteira, sem necessidade de concentração em nenhuma dessas classes. Dessa forma, o gestor possui maior flexilbidade de movimentação e alocação frente aos diferentes cenários econômicos. As possibilidades de aplicação são inúmeras: renda fixa, juros, câmbio, ações, tanto no Brasil quanto no mercado internacional. O gestor também poderá utilizar derivativos para alavancagem ou proteção da carteira quando necessário. Dessa forma, os fundos multimercados são veículos muito eficientes para capturar oportunidades nos diferentes cenários econômicos.
De olho no ciclo de alta das commodities, elaboramos um relatório especial sobre as commodities e como os alguns fundos multimercados estão tomando posição para capturar oportunidades. Verificando as diferentes estratégias e exposição e o resultado dessas estratégias dentro das carteiras dos fundos. Vale ressaltar, que devido as diversas estratégias e tipos de fundos, não são todos que possuem as commodities dentro do seu portfólio. Por isso selecionamos gestoras que possuem operações de commodities dentro da sua estrutura, como a Kinea Investimentos e SPX Capital, falando com os gestores Ruy Alves, gestor Macro Global da Kinea Investimentos e Ylan Adler, Head de Commodities na SPX Capital, para entender um pouco sobre as suas visões e estratégias referentes as commodities e qual o resultado dessas estratégias no retorno dos fundos.
Mas antes, entenda as commodities e os seus impactos na economia
Você consegue imaginar o que petróleo, água, milho, cobre e soja possuem em comum? Consigo citar pelo menos três características: (i) todos são mercadorias com possibilidade de produção/estoque em grande escala, além disso, (ii) todos eles possuem baixo índice de processamento ou estão em seu estado bruto/natural e por último, (iii) são produtos similares entre si, independentemente de onde foram extraídos – o cobre do Chile tem as mesmas características de um cobre da China. Em resumo, as commodities são matérias primas amplamente utilizadas por todo mundo e sua negociação e variação de preços possui relevância mundial.
Por falar em relevância, o Brasil é um dos maiores exportadores de commodities do mundo, e como nossa equipe de estratégia já destacou anteriormente no Raio-XP da Bolsa em maio: não há Brasil sem as commodities, já que existe uma alta correlação entre o PIB Brasileiro e o ciclo de commodities. Além disso, quando olhamos o fluxo de exportações brasileiro as commodities são responsáveis por 51% do total reforçando essa tese.
E se estamos falando de mercadorias necessárias para o mundo e que tem como base de preço a oferta e demanda, essa relevância para a economia brasileira se torna um fator positivo em cenários de alta demanda. Falando em alta, o índice Bloomberg Commodity Index – BCOM que reúne as principais commodities do mundo, subiu cerca de 177% desde seu menor patamar em 18 de março de 2020, no início da crise.
Maior liquidez no mercado, forte recuperação durante a reabertura das economias, aumento da demanda por insumos são alguns dos fatores que contribuíram para essa alta expressiva. O destaque para o ano de 2021 vai para as empresas ligadas ao setor de energia, porém é interessante olhar mais de perto e perceber o movimento de preços isolados. Para o estudo de movimento isolado, separamos índices de acordo com os principais segmentos das commodities seguindo os seguintes índices e classificações:
Bloomberg Precious Metals: é o indicador do desempenho médio das cotações de commodities consideradas preciosas, como ouro e prata.
Bloomberg Energy: índice relacionado as commodities de energia, como petróleo, gás natural, diesel, entre outros.
Bloomberg Industrial Metals: reune commodities de metal, relacionadas a produção indústria como cobre, alumínio, zinco, entre outros.
Bloomberg Livestock: cotações de gado vivo, porco magro.
Bloomberg Grains: cotações de grãos duros como milho, soja, farinha de trigo, entre outros.
Bloomberg Softs: cotações de mercadorias que são cultivadas, e não extraídas como açúcar, café e algodão
Durante o fechamento das economias em março de 2020, vimos um choque na demanda com as restrições de operação das indústrias e movimentação da população. O resultado disso foi condições financeiras muito mais restritas e consequentemente queda no preço das commodities. Vale um destaque para o colapso nos preços do petróleo que foi gerado pela falta de consumo e alto nível de armazenamento nas refinarias.
Perceba que o cenário se inverte no ano de 2021, onde vemos a disparada de preços dos ativos ligados a energia. A forte retomada econômica somada com (i) a oferta limitada que não acompanhou o crescimento da demanda, (ii) maior consumo da China que busca utilizar gás natural como substituto do carvão visando cumprir as metas de redução de poluentes, (iii) Europa também elevando o consumo do gás natural em decorrência da redução da geração de energia renovável. Além disso, com a chegada do inverno nos países do hemisfério norte o consumo de energia consequentemente tende a se elevar. Sendo um alerta para as autoridades.
O que é um super ciclo?
Imagine um período de forte crescimento econômico, com expansão da produção e oferta de bens e serviços, gerando crescimento e maior demanda por matérias primas. Foi isso que aconteceu com a China entre 2001 e 2014, puxando o segundo superciclo de commodities da história. O primeiro foi no início dos anos 70 com a quebra do sistema Bretton Woods em um ciclo de alta que levou cerca de 10 anos.
Com o recente avanço dos preços das commodities, o debate agora é se estamos ou não em um novo superciclo. Porém vale ressaltar que para ser considerado um super ciclo precisa ter alguns componentes específicos, como (i) um aumento generalizado de preços (ii) a duração da alta deve ter no mínimo de 5 a 6 anos de duração (iii) e o aumento precisa ser realmente expressivo.
Além disso, o termo “green inflation” tem aparecido com frequência, sinalizando que os esforços para combater as mudanças climáticas devem impactar diretamente no preço de algumas commodities, elevando seu preço no longo prazo. O argumento tem fundamento, durante o acordo climático de Paris, os países se comprometeram a reduzir sua produção de carbono para frear o aquecimento global.
Essas mudanças implicam em uma transição energética, onde algumas commodities poderão substituir o petróleo e o carvão, tendo seus preços elevados caso a oferta não acompanhe a demanda. Além disso, é possível um choque de demanda caso haja uma redução na produção do petróleo sem que a demanda acompanhe, resultando na disparada dos preços. A verdade é que no curto prazo existem muitas variáveis de impacto e em alguns casos só é possível confirmar um superciclo e sua duração, quando ele chega ao fim.
“O ciclo de commodities sempre demora mais tempo do que as pessoas acham que vai durar”
Ruy Alves – Gestor Macro Global da Kinea
Como investir em commodities
Se você não possui uma mina de ouro, alguns hectares de plantação ou um poço de petróleo no quintal, deve estar se perguntando como poderá capturar essas oportunidades. A boa notícia é que você não precisa ter o ativo físico se quiser aproveitar a alta de preços, existem algumas alternativas que te oferecem essa exposição e cada uma delas oferece um nível de risco distinto.
A primeira que podemos citar aqui é comprando os contratos de commodities no mercado futuro. Nesse mercado, não ocorre liquidação física do ativo, apenas financeira. Por exemplo: se um investidor realizar uma proteção de preços de sacas de milho, no vencimento ele não irá receber os milhos, apenas a diferença do valor acordado. Porém esse é um mercado de alto risco, e é recomendado apenas para investidores que possuem conhecimento sobre essas operações e contratos.
Além da operação direta através de contatos, é possível investir através de fundos indexados de commodities, podemos citar aqui o fundo Trend Commodities que possui aplicação mínima de R$ 100,00 com exposição ao índice: DBC – Invesco DB Commodity Index Tracking Fund – que apresenta exposição a commodities de energéticas, agrícolas e metálicas, incluindo metais industriais e preciosos. Desde seu início em março de 2021, o fundo acumula uma rentabilidade 22,59%.
Para capturar ganhos de forma ativa em commodities, existe a possibilidade de investir em fundos multimercados que possuem uma equipe de especialistas monitorando essas tendências e movimentos com o objetivo de capturar essas oportunidades.
O que os gestores dos fundos multimercados estão olhando?
Ruy Alves, gestor macro global da Kinea acompanha de perto o mercado de commodities e trouxe algumas visões interessantes sobre os ciclos desses ativos. Para ele, apesar das projeções de longo prazo serem positivas, é necessário entender as dinâmicas de preços, riscos e oportunidade. Ainda sobre a dinâmica de preços, Ruy ressalta que as precificações das commodities se diferenciam do mercado acionário – a existência do ativo em sua forma física e com contratos de curto prazo limitam o horizonte dos trades.
Para Ylan Adler, que é Head de Commodities na SPX Capital o pensamento é concordante, ele ressalta que é importante ter teses de longo prazo, mas para as commodities devido a sensibilidade de preços o cenário de curto prazo tem peso principal nas estratégias de trading. Com um horizonte de 6 – 12 meses a depender da convicção da tese de investimentos.
Quando questionados sobre os efeitos da agenda verde sobre os preços das commodities, ambos gestores enxergam um longo caminho pela frente, com efeitos para todo o mundo. Ylan reforça que referente a transição energética e implicações climáticas, não se trata apenas de comprar e vender empresas que irão se beneficiar – mas sim, entender que existem implicações que afetam todo o mundo e consequentemente todo o mercado financeiro.
Sobre o aumento de preços dos índices de energia, ambos gestores concordam que os investimentos feitos em energia nos últimos anos foram abaixo do necessário, o que impacta diretamente na oferta – que tem diminuído sem acompanhar a demanda que segue sólida. Por esse motivo, quando questionados sobre o cenário de transição energética, ambos ressaltam os riscos e incertezas que esse horizonte de transição pode trazer. Além disso, a existência de fatores de curto prazo que implicam nos preços norteiam as estratégias tomada pelos gestores nos últimos meses.
De olho no portfólio da Kinea
O fundo Kinea Atllas II acumula uma valorização de 66,34% desde o seu início em janeiro de 2017 até o fechamento do mês de setembro versus um CDI de 30,69% acumulado nesse mesmo período. O fundo possui alocações no mercado brasileiro e internacional, sendo que atualmente 3/4 do risco do fundo está fora do Brasil. Com atuação em 4 classes diferentes o fundo busca oportunidade no juros, moedas, ações e também nas commodities.
Quando abrimos a alocação do fundo, as commodities possuem uma alocação expressiva dentro da carteira, sendo em média 12% nos últimos 3 meses O retorno desse posicionamento tem sido fator relevante na atribuição de rentabilidade do fundo, apenas no último mês o retorno foi de 0,34%. E nos último 12 meses chegou a 1,64%.
Dentre os ativos já operados pela casa estão o uranio, cobre, platina, ouro, milho, soja. No momento, as operações compradas em petróleo e crédito de carbono vem gerando resultados positivos no mês. Além disso, vale o destaque para a posição comprada em juros internacionais, que entregou retornos de 1,65% no último mês.
Por dentro da estrutura da SPX
O fundo SPX Nimitz Gripen foi lançado em 2010 e acumula uma valorização de 250,44% desde o seu início. Dentro da estratégia do fundo, é possível encontrar estratégias globais com 5 focos principais: mercado de juros, índices de preços, taxas de câmbio, ações e commodities.
Dentro do portfólio dos fundos multimercados da SPX, em média 10% do risco está alocado em commodities – de forma direta excluindo alocações através de empresas. Ylan Adler, ressalta a importância de uma equipe robusta e estruturada para operações em commodities. A área de commodities da SPX possui 4 gestores e 7 analistas focados nas operações, investindo tempo e energia nas teses de investimentos.
Sim, o time é importante pois impacta no “timing” das operações – que faz toda diferença! Um exemplo trazido pelo Ylan foi o posicionamento comprado nas commodities agrícolas a partir do terceiro trimestre de 2020 – especialmente em grãos. Nesse período, eles identificaram um possível cenário para essa classe, que se consolidou através de três fatores (i) uma colheita ruim nos EUA que teve o desenvolvimento das lavouras em seu estado mais crítico para o período, (ii) período de seca aqui no Brasil que atrasou as plantações e consequentemente sua colheita que ocorreu em um período de chuvas, e por último (iii) consumo agressivo da China que alavancou a demanda e consequentemente os preços. Por isso, acompanhar de perto os ativos e segmentos faz toda diferença na hora de capturar oportunidades.
Olhando para a atribuição de performance, no ano as commodities são responsáveis por 1,69% do retorno do fundo que está em 7,80%. Nesse momento as teses de investimentos para commodities da SPX, estão direcionadas para energia, petróleo, metálicos – exceto minério de ferro e crédito de carbono.
Para Ylan, olhando para o médio/longo prazo, a tese de commodities é positiva – isso se as projeções da demanda de transição energética estiverem corretas. Ylan reforça que para a SPX é muito importante ter teses de longo prazo, mas para as operações em commodities, a grande sensibilidade de preços exige que as estratégias de trading sejam contrabalanceadas com o cenário atual e condições de mercado.
De olho no atual cenário econômico, Ylan reforça que existem teses de investimentos que funcionam bem para cada ambiente macro – com potencial de proteger o investidor. E historicamente as commodities oferecem essa proteção. Dessa forma, ressalta a flexibilidade dos fundos multimercados que conseguem aproveitar dessas oportunidades através da flexibilidade de alocação.
Se você ainda não tem conta na XP Investimentos, abra a sua!