Resiliência confirmada
O PIB Brasileiro cresceu 1,2% entre o 1º trimestre de 2021 e o 4º trimestre de 2020, resultado em linha com nossa expectativa (1,1%) e acima da mediana das projeções do mercado (0,9%). Em relação ao 1º trimestre de 2020, o PIB registrou alta de 1,0% (XP: 0,8%; consenso de mercado: 0,5%). Os números do PIB confirmaram a maior resiliência da economia doméstica no período recente, conforme havia sido sugerido por um conjunto amplo de indicadores de atividade divulgados nos últimos meses. De fato, o PIB continuou em trajetória de recuperação a despeito do agravamento da pandemia a partir de meados de fevereiro e da interrupção de medidas de estímulo fiscal no final de 2020 (principalmente as transferências de auxílio emergencial às famílias mais vulneráveis). Conforme apresentado na figura logo abaixo, o PIB retornou ao nível pré-pandemia (4º trimestre de 2019).
Em nossa avaliação, os principais fatores explicativos do desempenho sólido do PIB no último trimestre foram: (i) forte expansão dos Investimentos, tanto pela maior produção (e importação) de máquinas e equipamentos quanto pelo maior dinamismo da construção civil; (ii) recomposição de estoques na indústria e aumento expressivo da safra agrícola (sobretudo da soja), que levaram a uma variação bastante positiva da conta de Estoques no PIB pelo lado da demanda (calculamos contribuição de 1,9 ponto percentual sobre a variação do PIB total); (iii) retomada da economia global e preços de commodities em alta, que impulsionam as exportações (Brasil é grande produtos e vendedor de bens primários); e (iv) melhor adaptação de empresas e famílias ao cenário pandêmico, que parece ter suavizado os efeitos adversos da “segunda onda da Covid-19” sobre o setor de serviços (lado da oferta) e o consumo das famílias (lado da demanda). No que diz respeito ao último fator, notamos que o agravamento da pandemia no começo deste ano vem causando impacto menos acentuado na atividade econômica em comparação ao choque visto no ano passado (embora a “segunda onda” tenha gerado, infelizmente, maiores perdas em termos de saúde pública). Os agentes econômicos parecem ter aprendido a manter atividades em funcionamento mesmo com a menor mobilidade, possivelmente devido a novos protocolos sanitários e comportamentais, diferentes rotinas de trabalho (esquemas remotos), ampliação das vendas online (e-commerce), avanços de ferramentas tecnológicas, entre outros.
PIB do 1º trimestre de 2021: Resultados desagregados
Pela Ótica da Oferta, todos os setores agregados cresceram no 1º trimestre de 2021, em comparação ao trimestre imediatamente anterior e após ajuste sazonal. O PIB da Agropecuária registrou expansão de 5,7% nesta métrica (e alta de 5,2% ante o 1º trimestre de 2020), impulsionado sobretudo pelo crescimento expressivo da safra de soja em grão (quase 65% do volume produzido desta cultura agrícolas são contabilizados nos três primeiros meses do ano). O PIB da Indústria Total cresceu 0,7% no período, com bons resultados em todos os principais componentes. O PIB da Indústria de Transformação apresentou recuo de 0,5% entre o 1º trimestre de 2021 e o 4º trimestre de 2020, mas é importante ressaltar o efeito da base de comparação elevada, já que o setor exibiu forte expansão no final do ano passado (em relação ao 1º trimestre de 2020, por sua vez, a Indústria de Transformação cresceu 5,6%). Destacamos também a retomada do PIB da Construção Civil no último trimestre (elevação de 2,1% ante o 4º trimestre de 2020), conforme previamente indicado pelo salto na produção de insumos típicos do setor (ex: cimento).
O PIB de Serviços cresceu 0,4% no 1º trimestre de 2021, com resultados positivos em praticamente todos os subsetores. Os Serviços de Transporte e Armazenagem expandiram 3,6% em comparação ao último trimestre de 2020, puxados pelo desempenho favorável da indústria local. Além deste, os Serviços de Informação e Comunicação (1,4%), Serviços de Intermediação Financeira (1,7%) e as Atividades Imobiliárias e Aluguéis (1,0%) continuaram em rota de firme recuperação. O PIB do Comércio trouxe uma grata surpresa, ao expandir 1,2% no período apesar do frágil desempenho dos segmentos varejistas mais atrelados a gastos discricionários, como as vendas de veículos, móveis, eletrodomésticos e vestuário. Por outro lado, os Serviços de Administração, Saúde e Educação Públicas ficaram muito aquém das expectativas (queda de 0,6% entre o 1º trimestre de 2021 e o 4º trimestre de 2020), refletindo os efeitos da pandemia sobre as operações do setor público. Ademais, o componente de Outros Serviços apresentou números fracos, devido sobretudo à contração dos serviços prestados às famílias, que foramseveramente impactados pelo aperto das restrições de mobilidade (implementadas em fevereiro e março) para contenção do contágio do coronavírus.
Pela Ótica da Demanda, o Consumo das Famílias ficou praticamente estável no 1º trimestre (-0,1% ante o último trimestre de 2020), em linha com a menor circulação das pessoas e maior precaução nas decisões de aquisição de bens e serviços. Por sua vez, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) apresentou desempenho bastante sólido no começo do ano (aumento de 4,6%). Os resultados animadores dos investimentos foram impulsionados pelo maior consumo aparente de bens de capital (máquinas e equipamentos) e pelos avanços da construção civil. Por sua vez, o Consumo do Governo recuou 0,8%, confirmando os níveis de atividade ainda muito deprimidos na administração pública. Por último, mas não menos importante, tanto as Exportações (3,7%) quanto as Importações (11,6%) tiveram aumentos significativos no 1º trimestre. A recuperação robusta da economia global (combinada ao aumento dos termos de troca do Brasil) deve continuar impulsionando as exportações, enquanto a reabertura da economia doméstica tende a reforçar a retomada das importações.
O que esperar dos próximos trimestres?
Os dados de atividade do 2º trimestre também vêm mostrando sinais relativamente favoráveis, em linha com o aumento significativo dos índices de mobilidade a partir de meados de abril (que retornaram aos patamares observados no início do ano, antes da piora aguda da pandemia) e da firme retomada da confiança de consumidores e empresários após o tombo registrado em março. Além disso, a nova rodada de auxílio emergencial às famílias de baixa renda (pagamento entre abril e julho) e a antecipação de benefícios previdenciários (13º salário do INSS) devem dar sustentação aos serviços prestados às famílias e vendas varejistas, que aparentemente estão recuperando antes e mais fortemente em relação às expectativas formadas após a implementação de medidas de distanciamento social mais rígidas em fevereiro e março. Ou seja, o desempenho da atividade econômica brasileira no 1º semestre de 2021 será muito mais sólido do que o projetado há alguns meses.
Entretanto, riscos relevantes permanecem no radar. A crise da Covid-19 segue como o principal deles, já que algumas estatísticas relacionadas à pandemia publicadas recentemente aumentaram as preocupações acerca de outro recrudescimento agudo da crise sanitária no país (principalmente no que diz respeito à disseminação de uma nova variante do coronavírus e ao ritmo errático de imunização da população contra a doença). Dito isso, mantemos a avaliação de que a campanha nacional de vacinação ganhará tração nas próximas semanas, evitando retrocessos (ao menos generalizados) no processo de reabertura econômica em curso. Ainda assim, continuamos a monitorar com cautela a evolução dos números da pandemia. Além disso, temores relacionados à possível escassez de energia elétrica (continuamos a avaliar como improvável o cenário de racionamento), inflação em alta e problemas no fornecimento de insumos industriais (especialmente no setor automotivo) são riscos adicionais que chamam a atenção.
Considerando todos os fatores apresentados acima, elevamos nossa projeção de crescimento do PIB em 2021, de 4,1% para 5,2%. Para detalhes sobre a revisão, acesse este relatório.
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