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Por que o Credit Suisse virou notícia?

Leia aqui o que trouxe o banco Credit Suisse para as notícias nos últimos dias e o que esperamos para o setor no Brasil.

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Depois de um início de semana bem volátil, com os mercados preocupados com o setor bancário americano após o colapso do Silicon Valley Bank (SVB), no dia 15 de março foi a vez dos bancos europeus.

O catalisador foi o banco Credit Suisse (CS) depois de o seu maior acionista, o Saudi National Bank, dizer que deixaria de injetar liquidez no banco porque já havia atingido o limite máximo regulatório. Com isso, ao longo do dia, a ação chegou a cair mais de 30%, os bonds caíram fortemente, e o CDS (credit default swap, indicativo de percepção de risco de crédito de emissores por parte do mercado) do banco disparou a níveis históricos, indicando a busca de investidores por proteção. O movimento também afetou outros bancos europeus e contaminou o sentimento das bolsas globais.

Vale notar que desde o ano passado o mercado já tem sido pressionado por preocupações em relação à inflação acima da meta, aperto monetário, e temores de uma desaceleração econômica em 2023, o que agora é complementado por receios em relação ao crédito de empresas e bancos.

Uma série de eventos que levaram à situação atual

SVB: o início das incertezas

Como explicamos sobre o caso da SVB, o colapso do banco americano foi uma combinação específica de: (i) base de clientes muito concentrada no setor de tecnologia, (ii) desalinhamento de prazos e má gestão dos ativos no balanço, composta em grande parte por títulos com vencimentos mais longos e sensíveis a juros, e (iii) aperto monetário mais agressivo do que esperado pelo Federal Reserve, que resultou em forte perda de valor dos ativos ao mesmo tempo que afetou a liquidez dos principais clientes do banco que também sofreram em meio a esse cenário.

Cabe destacar que a indústria financeira é majoritariamente dependente de credibilidade e que, portanto, qualquer desconfiança pode levar às chamadas corridas bancárias. Diante de eventos como este, que têm potencial para afetar negativa e virtualmente instituições financeiras de qualquer porte, os depositantes correm para sacar seus depósitos, o que pode gerar problemas de liquidez, dado que boa parte destes recursos foi utilizada na atividade principal do banco: conceder empréstimos.

Os depositantes do SVB foram socorridos pelos reguladores americanos, que garantiram que todos teriam acesso aos depósitos no banco, e agora o banco central americano considera fazer uma revisão nas regras de bancos de médio porte, com requisitos mais rígidos de capital e liquidez – indicando que estão de olho em uma crise no sistema bancário.

Por outro lado, quando olhamos para os bancos de maior relevância nos EUA, ainda mostram indicadores saudáveis depois de anos sob regulações mais rigorosas pós-2008.

Credit Suisse: sinais já apareciam

Já o caso do Credit Suisse é resultado de uma série de eventos e um processo de reestruturação da empresa. Antes mesmo do anúncio realizado pelo Saudi National Bank, CS apresentava problemas há alguns anos. Ou seja, não foi catalisado pelo colapso da SVB.

O banco esteve envolvido em crises, entre eles a falência do hedge fund Archegos Capital em 2021, que levou a uma perda de quase US$ 5 bilhões ao banco. Em 2022, o CS anunciou um plano de recuperação com prazo de três anos, envolvendo corte de custos e restruturação do banco de investimento, para voltarem a focar no negócio de wealth management, isto é, a gestão de patrimônio de famílias.    

Com toda essa sequência de crises, a ação do banco já cai mais de 90% desde o pico e hoje negocia nas mínimas históricas.

Ajustes no rating

Na tabela abaixo, é possível observar que, desde o início de 2021, o grupo Credit Suisse AG (holding não operacional) vinha apresentando maiores riscos na visão das agências de rating, com sucessivas ações de rebaixamento. Ou seja, já era possível acompanhar certa deterioração na qualidade de crédito da instituição. Ressalta-se, no entanto, a nota ainda elevada apesar disso.

A ação mais recente partiu da S&P Global Ratings, em 1° de novembro de 2022. Na súmula relacionada à decisão de rebaixamento para ‘BBB-‘ em escala global, a agência destacou riscos de execução e de franquia devido ao plano de reestruturação do grupo financeiro.

O plano, conforme mencionado acima, consiste em desmembrar a unidade de banco de investimento buscando se concentrar em seu principal negócio de gestão de patrimônio.

Visão do CEO

Em entrevista à Bloomberg TV no dia 14 de março, o CEO do CS, Ulrich Körner, destacou que, por ser um banco global de importância sistêmica, está sujeito a normas consideravelmente mais rígidas de exigências de capital, captação de recursos, liquidez e alavancagem.

Além disso, relatou que ao final de 2022, o CS registrava índice de capital principal de 14,1% e índice de cobertura de liquidez médio de 144%, que a partir daí melhorou até se aproximar de 150% (em 8 de março de 2023). Em relação aos empréstimos, segundo Körner, 90% contam com garantias e mais de 60% encontra-se na Suíça – levando índice de provisão para perdas a ser historicamente mais baixo do que dos pares.

Sobre a relação com o acontecimento no SVB, que quebrou na semana passada, confirmou que o CS adota posição conservadora contra riscos de taxa de juros e que a exposição a crédito no Silicon Valley Bank não é relevante.

Anúncio de reforço da liquidez

Na manhã do dia 16 de março, o Credit Suisse divulgou em comunicado que tomaria ações preventivas para reforçar sua liquidez. Isto se dará através do exercício de sua opção de tomar empréstimo junto ao Swiss National Bank (SNB) de até 50 bilhões de francos suíços em instrumentos integralmente garantidos por ativos de elevada qualidade, de acordo com o banco.

Além disso, anunciou ofertas por parte do Credit Suisse International de recompra de alguns instrumentos de dívida sênior de suas subsidiárias operacionais para levantar até 3 bilhões de francos suíços em caixa.

Após o anúncio, as ações do banco apresentaram sinais de recuperação. O CDS reduziu da máxima de 3.700 (dia 15/3) para 3.460 na manhã do dia 16/3.

O aumento foi expressivo desde o início da semana, quando partiu de 500 no dia 13/3. A média histórica do CDS do banco era próxima a zero.

Credit Suisse Brasil

A subsidiária do Credit Suisse AG no Brasil é avaliada com rating ‘AAA(bra)’ pela Fitch. Os ratings em escala nacional se correlacionam com os ratings em escala global acima da nota soberana do Brasil (atualmente ‘BB-‘) e consideram o provável suporte do grupo em caso de necessidade.

Além da avaliação pelas agências de rating, vale destacar os resultados da operação do CS no Brasil. Observa-se que, nos últimos trimestres, o banco reforçou seu índice de Basileia, que se encontra confortavelmente acima do requerimento regulatório mínimo de 11%.

Bancos no Brasil não preocupam

Assim como citado na análise realizada sobre o caso do SVB, entendemos que a situação financeira dos bancos brasileiros é sólida, com indicadores saudáveis de empréstimo por depósitos; margem com mercado; títulos mantidos até o vencimento; e indicador de liquidez de curto prazo (LCR). Portanto, não esperamos algum tipo de contágio advindo destes eventos particulares recentes.

Registra-se ainda que a própria existência de LFTs (Letra Financeira do Tesouro – títulos pós-fixados emitidos pelo governo) traz um nível adicional de proteção aos balanços dos bancos.

Por outro lado, não é possível descartar que haja um aumento da percepção de risco do setor (que já havia sido afetado no início deste ano por eventos desfavoráveis de crédito corporativo), o que pode se traduzir em aumento da volatilidade dos ativos de empresas financeiras no Brasil.

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