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Incertezas seguem elevadas: o que fazer nesse cenário?

2023 iniciou com um forte rali dos ativos de risco no mundo. As bolsas globais já sobem entre +7-15% em pouco mais de 1 mês, o melhor início de ano em décadas. Porém, ainda é cedo para dizer que os riscos já passar

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2023 iniciou com um forte rali dos ativos de risco no mundo. As bolsas globais já sobem entre +7-15% em pouco mais de um mês, registrando o melhor início de ano em várias décadas. Algumas ações do setor de tecnologia já subiram muito mais que isso, como por exemplo a Meta, que sobe +55% no ano após reportar resultados que agradaram os investidores. O Bitcoin é um outro exemplo desse rali do risco, e já sobe +38% no ano, após vir de uma forte queda em 2022.

Mas, se as incertezas seguem elevadas, como indica o título desse XPresso, então o que levou a essa forte alta nos ativos de risco? Alguns fatores, em nossa visão:

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  1. Economia resiliente: o consenso de mercado esperava uma recessão iminente nos EUA e na Europa em 2023. Mas a reabertura da economia da China, aliada a dados que mostram as economias dos EUA e Europa como bastante resilientes, já fizeram com que vários economistas revisem as suas projeções e retirem as estimativas de recessão esse ano, ou pelo menos no 1º semestre. Com a postergação do cenário de cauda na economia, os mercados naturalmente reagiram positivamente.
  2. Expectativa de cortes de juros nos EUA: a melhora da dinâmica inflacionária vem sendo precificada no mercado de juros. Afinal, os três últimos dados de inflação nos EUA (CPI) vieram abaixo da expectativa do mercado. Com isso, o mercado passou a precificar que o Federal Reserve irá começar a cortar juros já a partir do 2º semestre desse ano, e que os juros seguirão caindo em 2024. Juros menores = ativos de risco para cima.
  3. Temporada de resultados: existia um grande receio entre os investidores que os resultados do 4º trimestre já mostrassem uma piora significativa, além de corte nos guidances para 2023. Porém, até agora, quase 70% das empresas do S&P500 estão reportando lucros acima da expectativa do mercado. É verdade que a “surpresa” de lucros tem vindo bastante baixa, apenas 1% acima da expectativa, na média. Além disso, os lucros estão caindo 3% em relação ao 4º tri de 2021. Ou seja, a temporada está um pouco melhor que a baixa expectativa inicial, mas não dá pra dizer que os resultados estão fortes.
  4. Posicionamento favorável: um dos fatores mais importantes por trás da sólida performance dos ativos é o posicionamento leve dos investidores. Explico: os dados mostram que o sentimento e o posicionamento geral dos investidores institucionais e pessoas físicas estavam bastante negativos, com uma alta posição em caixa e uma posição média vendida em futuros e comprado em opções de venda. A melhora dos dados levou a um forte “short squeeze” no mercado, quando os investidores que estavam com posições vendidas são obrigados a recomprar suas posições após uma alta nos preços. Isso pode ter exacerbado o movimento de alta.  

Ainda é cedo para dizer que os riscos já passaram

É inegável que a economia global está se mostrando muito mais resiliente do que muitos imaginavam. 2022 viu uma guerra de grandes proporções se iniciar na Europa, crise energética e falta de gás, sanções econômicas, aumento das tensões geopolíticas com a China, e um forte aperto monetário pelos bancos centrais. Dessa forma, esperar uma retração em 2023 virou um forte consenso.

Mas acreditamos que ainda é cedo para se “cantar vitória”. A guerra ainda não se mostra próxima de terminar, alguns dados econômicos ainda estão fracos (como o mercado imobiliário), e os efeitos do forte aperto monetário no mundo ainda não terminaram.

O mercado de renda fixa precificar cortes de juros no 2º semestre pode significar 2 cenários completamente distintos para os ativos de risco: 1) um pouso suave (“soft landing”), onde a inflação é controlada, mas sem uma recessão, ou 2) uma recessão iniciando no 2º semestre, o que forçaria o FED e outros BCs a cortarem juros. Essa não seria uma “boa” razão para se cortar juros, e os ativos de risco tendem a sofrer nesse cenário.

Enquanto o mercado está precificando uma probabilidade maior de um “soft landing”, ainda não dá para dizer que os riscos da recessão terminaram, mas sim foram postergados para mais adiante.

Precificação da taxa de juros nos EUA (fed funds): mercado precifica cortes no segundo semestre

Fonte: Bloomberg

O Brasil tem ficado para trás nesse rali dos ativos de risco

Apesar do forte rali nos ativos mundiais, os ativos brasileiros não têm acompanhado na mesma magnitude. A Bolsa brasileira sobe apenas +1,8% no ano, contra 10-15% das Bolsas globais. Já o Real em relação ao Dólar tem se apreciado recentemente, atingindo a marca dos R$ 5,0 essa semana. Porém, esse é um movimento global de fraqueza do dólar.

Na verdade, desde as eleições presidenciais no Brasil, o Real tem a 5ª pior performance entre as maiores moedas do mundo, melhor apenas do que a Argentina, Russia, Turquia e Hong Kong. Excluindo HK, os outros países têm problemas muito maiores que o Brasil.

O mercado tem precificado o aumento nos riscos fiscais e políticos, na medida em que ainda existem dúvidas em relação à direção da política econômica brasileira adiante.

Desempenho das principais moedas no mundo vs. o Dólar, desde outubro de 2022

Fonte: Bloomberg

Private Equity – por que essa indústria pode se beneficiar do cenário atual

Quando o cenário adiante é cheio de incertezas, como o atual, a melhor maneira de se obter sólidos retornos futuros é via o alongamento do horizonte de investimento. Ou seja, quando mais à frente miramos, menos relevante se tornam os ciclos econômicos de curto prazo.

A indústria e os fundos de Private Equity podem ser uma excelente alternativa nesse caso, dado o horizonte longo de investimento e desinvestimento desses fundos, que podem chegar a 10 anos ou mais. Além da questão dos horizontes mais longos de investimento, os fundos de Private Equity também se beneficiam das incertezas para realizar investimentos em empresas em níveis de preços/valuation mais baixos, na medida em que a disputa por capital é muito maior do que em períodos de bonança. Ou seja, custo de capital maior = oportunidade de comprar bons ativos com preços depreciados.

Um estudo recente realizado pela ABVCAP (Associação do setor), Spectra e Insper, mostram que a indústria de Private Equity no Brasil obteve uma taxa interna de retorno média de 19% ao ano, com um múltiplo de valorização médio do capital (MOIC) de 5,8x em Reais, e um período médio dos fundos de 5,4 anos. O estudo mensurou 1334 transações, desde 1984 até 2022.

Esses níveis de retorno, segundo o estudo, são altos para padrões internacionais, e comprovam a nossa tese que quanto maior a incerteza, maior será também o potencial de retornos altos no futuro.

A indústria de Private Equity se mostra como muito bem colocada para se beneficiar desse cenário volátil e cheio de incertezas, dado essa combinação de se poder investir a preços menores em empresas, e com um horizonte longo de tempo.

Porém, dado a restrição de liquidez dos fundos de private equity e do longo prazo de investimento, é importante que seja alocado um percentual adequado e pequeno da carteira de investimentos na classe de ativos “alternativos”, e que respeite o seu perfil de investidor.

MOIC – Múltiplo de Retorno do Capital Investido por ano de investimento

Fonte: ABVCAP, Insper, Spectra
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