XP Expert

Uma luz no caso Light: o que está acontecendo?

Entenda por que a Light, empresa de energia elétrica, virou notícia recentemente.

Compartilhar:

  • Compartilhar no Facebook
  • Compartilhar no Twitter
  • Compartilhar no Whatsapp
  • Compartilhar no LinkedIn
  • Compartilhar via E-mail

Continuaremos monitorando os próximos passos sobre a Light e atualizaremos este relatório conforme novas informações se tornem conhecidas.

  • A Light S.A. é uma holding integrada que atua nos setores de distribuição, geração, comercialização e soluções de energia. O segmento de distribuição é o mais relevante, representando 67% do EBITDA Ajustado do 3T22.
  • A sua única concessão de distribuição, operada pela Light Serviços de Eletricidade (Light SESA) vencerá em 2026. Credores e acionistas aguardam definição sobre a renovação antecipada para continuar a emprestar e investir recursos na empresa.
  • No dia 31 de janeiro, a Light anunciou a contratação da Laplace Finanças para obter assessoria na análise de estratégias financeiras, visando, principalmente, apresentar melhorias em sua estrutura de capital. A notícia ocasionou preocupação a investidores e impactou seus ativos negociados no mercado.
  • Nos dias 2, 3 e 7 de fevereiro, houve o rebaixamento das notas de crédito da Light e suas subsidiárias pelas agências de rating Fitch (de ‘AA-(bra)’ para ‘CCC(bra)’), S&P (de ‘brAA+’ para ‘brA-’), Moody’s Global (de ‘Ba3’ para ‘B3’) e Moody’s Local (de AA-.br para B.br). No dia 16 de fevereiro, novo downgrade foi anunciado pela S&P (de ‘brA-‘ para ‘brBB-‘).
  • Rumores foram circulados na mídia sobre potencial pedido de Recuperação Judicial pela, que foram desmentidos pela Companhia. A Aneel também descartou a possibilidade.
  • Continuaremos monitorando a evolução das conversas com o regulador e com a Laplace.

O que já era conhecido?

Área de atuação complexa

A sua atuação em termos geográficos é um dos pontos mais relevantes sobre a empresa. Devido às complexidades socioeconômicas do Rio de Janeiro, há um alto nível de perdas de energia na área de concessão da Light, que é uma das mais difíceis do país em termos operacionais, resultantes principalmente do elevado furto de energia (“perdas não técnicas”) e regiões marcadas por violência urbana.

A companhia vem testando diferentes modelos de combate às perdas ao longo dos anos, incluindo modernização de medidores e trabalho junto às comunidades. Apesar de ter havido melhora marginal nos indicadores de perdas recentemente, não foi o suficiente para que a Light se adequasse aos padrões exigidos pela agência reguladora, Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).

Quando uma distribuidora de energia falha em atingir os níveis regulatórios, há penalidades aplicadas sobre as tarifas (através de fatores redutores nos reajustes tarifários e nas revisões periódicas – que acontecem a cada cinco anos no caso da Light).

Devolução de PIS/COFINS

Além das perdas, que prejudicam a receita, houve aprovação por parte da Aneel – Agência Nacional de Energia Elétrica – para que a Light devolvesse créditos fiscais relacionados à cobrança indevida de PIS/COFINS dos consumidores finais.

A companhia começou a devolver os créditos em 2021: R$ 374,2 milhões no reajuste de 2021 e de R$ 1,05 bilhão no reajuste de 2022. Ao final de dezembro de 2022, houve revisão tarifária extraordinária de -5,89%, relacionadas à devolução.

Em 2023, há montante expressivo a ser ressarcido aos clientes. A devolução é realizada através de desconto nas tarifas, o que afeta diretamente o faturamento da Light.

Endividamento

O combate às perdas, que requer volumes relevantes de investimentos por parte da companhia, além da inadimplência, são entraves à redução do endividamento e alavancagem.

No 3T22, a Light reportou aumento da sua Dívida Bruta, que totalizou cerca de R$ 12,8 bilhões. O endividamento líquido, que subtrai da dívida bruta as disponibilidades em caixa (R$4 bilhões), encerrou o período em R$ 8,7 bilhões, aumento de 21% A/A. O prazo médio é relativamente curto, de 2,9 anos a um custo nominal atual de 13,7% a.a.

A alavancagem, medida em dívida líquida / EBITDA, fechou o trimestre em 3,0x, aumento de 0,6x em comparação ao 3T21. O índice de cobertura (EBITDA / Despesa Financeira) apresenta valores abaixo de 1x, o que demonstra custos financeiros acima dos seus retornos operacionais.

Conforme gráfico acima, é possível notar que há pouco espaço em relação aos indicadores estabelecidos em suas cláusulas contratuais (covenants), o que é um risco para a companhia (pois, em caso de descumprimento, precisará negociar waivers com credores).

Há volume relevante de vencimentos de dívida a partir de 2024. Para arcar com essas amortizações, além de investimentos em qualidade, a Light necessita refinanciar sua dívida. No entanto, dificilmente credores aceitarão realizar essas operações sem garantia de que a concessão será renovada.

Em caso de dívidas que venham a vencer após 2026, contratualmente a Light deverá antecipar o pagamento para 2025 – e, para isso, precisará de recursos para arcar com essas dívidas.

A dívida da companhia se concentra no longo prazo, mas houve aumento da representatividade da dívida de curto prazo no 3T22. Isto é um ponto de pressão sobre a liquidez, embora o indicador permaneça próximo a valores históricos.

Renovação (ou não) da Concessão

A concessão da Light Serviços de Eletricidade S.A. (Light SESA), a distribuidora do grupo, vencerá em 2026. Diferente de outras empresas do setor, esta é a única concessão de distribuição detida pela Light S.A., o que aumenta naturalmente os riscos ao Grupo pela concentração. A companhia tem até junho de 2023 para demonstrar interesse na renovação. Após isso, a Aneel teoricamente possui 18 meses para responder (final de 2024).

O consenso no mercado é de que a Light precisa negociar com a Aneel a renovação antecipada da concessão, dando assim maior segurança aos acionistas e credores. No entanto, para que a renovação aconteça, entende-se ser prudente uma revisão no contrato e a criação de metas mais realistas de perdas, dada a área de concessão complexa. 

No caso de não renovação, a Light teria cerca de R$ 10 bilhões a receber referentes a ativos nos quais investiu e que ainda não foram depreciados (RAB). O pagamento provavelmente seria feito pelo próximo concessionário, via outorga, porém provavelmente haveria ainda discussões sobre prazos e valor a ser efetivamente recebido.

Um ponto de atenção é uma possível complexidade para o Estado do Rio de Janeiro encontrar outros operadores privados com interesse em atuar na área de concessão da Light (dados os desafios já mencionados) e ainda pagar o volume da outorga.

O que foi novidade?

Contratação da Laplace Finanças

No dia 31 de janeiro a Light, anunciou a contratação da Laplace Finanças, para obter assessoria na análise de estratégias financeiras, visando, principalmente, trabalhar em melhorias em sua estrutura de capital.

O entendimento é de que a Laplace conversará com bancos credores da Light. No entanto, a saída que parece mais favorável no momento, na visão do mercado, seria maior clareza sobre a renovação antecipada da concessão. Isto poderia abrir espaço para rolagem das dívidas.

Por que investidores ficaram preocupados com a Laplace?

Ao contratar uma assessoria financeira, a Light acendeu um alerta para investidores, uma vez que os receios que já estavam presentes em relação à renovação de sua concessão e desafios de rolagem relacionados tiveram um novo fator.

Como resultado, as ações da companhia (LIGT3), suas debêntures e bonds sofreram após o comunicado realizado. No caso da renda fixa local, o spread (prêmio de risco de crédito) subiu significativamente, indicando percepção de risco de crédito (calote) aumentada, por parte dos investidores.

Em nossa visão, a reação do mercado pode ter sido acentuada pelos acontecimentos recentes envolvendo a Americanas, cujo caso elevou a percepção de risco dos investidores. Vale notar, no entanto, que as situações que levaram as duas empresas a serem mais acompanhadas recentemente não se assemelham de nenhuma maneira.

Rating rebaixado pela Fitch, S&P e Moody’s

No dia 2 de fevereiro, a Fitch rebaixou os ratings da Light S.A. (“Light”) e suas subsidiárias Light Serviços de Eletricidade S.A. (“Light SESA”) e Light Energia S.A. (“Light Energia”), de ‘BB-‘ para ‘CCC+’ em escala global e de ‘AA-(bra)’ para ‘CCC(bra)’ em escala nacional. Os principais pontos elencados pela agência foram: i) potencial reestruturação da dívida; ii) elevadas necessidades de refinanciamento; e iii) alavancagem consolidada moderada.

Na sequência, no dia 3 de fevereiro, a a agência de classificação de risco S&P rebaixou as notas de rating da Light Light SESA na escala nacional de ‘brAA+’ para‘brA-’, e de emissor de curto prazo na mesma escala de ‘brA-1+’ para ‘brA-2’, com perspectiva negativa, devido aos seguintes fundamentos: (i) incertezas sobre a renovação da concessão; (ii) menor acesso ao mercado de capitais; e (iii) maior alavancagem.

Da mesma forma, a agência Moody’s Global realizou o downgrade do rating da Light e de suas subsidiárias Light Energia e Light SESA para B3, de Ba3, na escala global, tendo sido destacados: (i) a falta de visibilidade da estratégia financeira da Light, em relação ao endereçamento dos próximos vencimentos de dívida; (ii) a condição mais adversa do mercado de crédito; e (iii) a maior despesa financeira. A perspectiva da nota de crédito foi colocada sob revisão, o que pode indicar novo rebaixamento.

Por fim, no dia 7 de fevereiro, a Moody’s Local também rebaixou as notas de crédito da Light e suas subsidiárias Light Energia e Light SESA para B.br, de AA-.br. A perspectiva da nota de crédito foi colocada como “em revisão para rebaixamento”, ante “estável”. Segundo a agência, a ação de rating foi motivada pela deterioração do perfil de liquidez da Light, com os riscos de refinanciamento tendo aumentado após a contratação da Laplace Finanças.

Em 16 de fevereiro, a agência S&P voltou a rebaixar os ratings da Light SESA, na escala nacional de ‘brA-’ para ‘brBB-’, e de emissor de curto prazo na mesma escala de ‘brA-2’ para ‘ brB’, com CreditWatch negativo. Além da permanência da incerteza sobre a renovação da concessão e da estratégia que será adotada para a otimização de sua estrutura de capitais, os downgrades refletem o evento de inadimplemento (não automático), decorrente do rebaixamento dos ratings auferidos pela Companhia, conforme notificado pelo Agente Fiduciário da 3ª emissão de debêntures da Light SESA e da 8ª emissão de debêntures da Light Serviços de Energia S.A. (“Light Energia”), o qual seria objeto de votação em assembleias gerais de debenturistas para declaração ou não de vencimento antecipado.

Tais emissões têm como credor único o FI-FGTS. Na visão da S&P, este fato pode ser um facilitador das negociações para a deliberação, em assembleias, do não vencimento antecipado de suas dívidas, denominado waiver. No entanto, até o momento, a Light SESA e a Light Energia não divulgaram as respectivas obtenções do waiver.

Leia aqui os comentários completos sobre os rebaixamentos de rating:
Fitch rebaixa ratings da Light para CCC+ e CCC(bra)
Ratings da Light SESA rebaixados para ‘brA-/brA-2’ pela S&P; perspectiva negativa
Moody’s rebaixa ratings da Light para B3, de Ba3; perspectiva sob revisão
Ratings da Light rebaixados pela Moody’s Local para B.br; perspectiva em revisão
Ratings da Light SESA rebaixados para ‘brBB-/brB’ pela S&P; CreditWatch negativo

Comunicado ao mercado sobre Recuperação Judicial

No dia 6 de fevereiro, uma notícia foi veiculada, na qual continha a informação de que a Light estaria na iminência de pedir recuperação judicial.

No dia 7 de fevereiro, a Companhia divulgou em Comunicado ao Mercado o esclarecimento de que a informação não procede.

Aneel também se pronuncia

De acordo com matéria publicada pelo Valor Econômico no dia 8 de fevereiro, a Aneel afirmou que até o momento verifica-se que a Light tem atendido os critérios de eficiência na gestão econômico-financeira, dados: i) os aportes de capital realizados e ii) a adimplência com as obrigações intrassetoriais (ou seja, aquelas exigidas às empresas do setor). Leia mais aqui.

A partir de agora, o que acompanhar?

Entendemos que as possibilidades disponíveis sejam as seguintes, de maneira resumida.

Sendo assim, como anteriormente, os principais temas de acompanhamento continuam sendo o processo de negociação de renovação antecipada e a rolagem de suas dívidas. Isso envolve conversas com a Aneel em torno das condições regulatórias da Light. Uma indicação mais clara a respeito da renovação poderia ser benéfica para rolagem de dívidas com seus credores. Além disso, continuaremos monitorando atualizações sobre a contratação da Laplace.

Veja mais

XPInc CTA

Se você ainda não tem conta na XP Investimentos, abra a sua!

XP Expert

Avaliação

O quão foi útil este conteúdo pra você?


Newsletter
Newsletter

Gostaria de receber nossos conteúdos por e-mail?

Cadastre-se e receba grátis nossos relatórios e recomendações de investimentos

Disclaimer:

Este material foi elaborado pela XP Investimentos CCTVM S/A (“XP Investimentos” ou “XP”) tem caráter meramente informativo, não constitui e nem deve ser interpretado como sendo material promocional, solicitação de compra ou venda, oferta ou recomendação de qualquer ativo financeiro, investimento, sugestão de alocação ou adoção de estratégias por parte dos destinatários. Os prazos, taxas e condições aqui contidas são meramente indicativas. As informações contidas neste relatório foram consideradas razoáveis na data em que ele foi divulgado e foram obtidas de fontes públicas consideradas confiáveis. A XP Investimentos não dá nenhuma segurança ou garantia, seja de forma expressa ou implícita, sobre a integridade, confiabilidade ou exatidão dessas informações. Este relatório também não tem a intenção de ser uma relação completa ou resumida dos mercados ou desdobramentos nele abordados.
Os instrumentos financeiros discutidos neste material podem não ser adequados para todos os investidores. Este material não leva em consideração os objetivos de investimento, situação financeira ou necessidades específicas de qualquer investidor. Os investidores devem obter orientação financeira independente, com base em suas características pessoais, antes de tomar uma decisão de investimento. A XP Investimentos não se responsabiliza por decisões de investimentos que venham a ser tomadas com base nas informações divulgadas e se exime de qualquer responsabilidade por quaisquer prejuízos, diretos ou indiretos, que venham a decorrer da utilização deste material ou seu conteúdo. Os desempenhos anteriores não são necessariamente indicativos de resultados futuros. Este relatório é destinado à circulação exclusiva para a rede de relacionamento da XP Investimentos, incluindo agentes autônomos da XP e clientes da XP, podendo também ser divulgado no site da XP. Fica proibida sua reprodução ou redistribuição para qualquer pessoa, no todo ou em parte, qualquer que seja o propósito, sem o prévio consentimento expresso da XP Investimentos. A Ouvidoria da XP Investimentos tem a missão de servir de canal de contato sempre que os clientes que não se sentirem satisfeitos com as soluções dadas pela empresa aos seus problemas. O contato pode ser realizado por meio do telefone: 0800 722 3710.

A XP Investimentos CCTVM S/A, inscrita sob o CNPJ: 02.332.886/0001-04, é uma instituição financeira autorizada a funcionar pelo Banco Central do Brasil.Toda comunicação através de rede mundial de computadores está sujeita a interrupções ou atrasos, podendo impedir ou prejudicar o envio de ordens ou a recepção de informações atualizadas. A XP Investimentos exime-se de responsabilidade por danos sofridos por seus clientes, por força de falha de serviços disponibilizados por terceiros. A XP Investimentos CCTVM S/A é instituição autorizada a funcionar pelo Banco Central do Brasil.


Este site usa cookies e dados pessoais de acordo com a nossa Política de Cookies (gerencie suas preferências de cookies) e a nossa Política de Privacidade.