1. Visão Geral do Fundo
O XPCA11 é gerido pela XP Asset, e seu patrimônio líquido atual é de R$ 203,8 milhões, o que faz do fundo o oitavo maior FIAgro listado em bolsa atualmente. O fundo já concluiu três emissões de cotas, e atualmente possui 21.649 cotistas.
Atualmente, o fundo possui 82,9% de seu patrimônio líquido alocado em CRAs, 1,0% alocado em cotas de FIDC FIAgro, e os demais 12,1% alocados em instrumentos de caixa. Todos os CRAs são indexados ao CDI, e sua taxa média de aquisição é de 4,55% a.a., com duration de 2,08 anos.
Para o setor de Insumos Agrícolas, no qual 28% do portfólio está alocado, nossa avaliação é de que, após o período de ótimos resultados com os preços mais altos, os revendedores de insumos devem passar, no curto prazo, por um momento de normalização e retorno à média com a redução nos preços dos fertilizantes. No âmbito do setor de Açúcar e Etanol, associado a 13% do portfólio, nossa perspectiva é de que os próximos anos sejam positivos em termos de rentabilidade, em especial para os players mais experientes e com níveis saudáveis de endividamento. Para o segmento Produtor Rural (22% do portfólio), em que predomina a Produção de Grãos, vemos um momento favorável, com preços de soja e milho em patamares rentáveis e projeções atuais de safras recordes para os dois produtos.
Nossa projeção é de que o fundo deve totalizar um pagamento de dividendos de R$ 1,62/cota referente ao ano de 2022, o que equivale a um dividend yield de 16,2% sobre o valor da cota atual. Para 2023, esperamos proventos mensais médios entre R$ 0,12/cota e R$ 0,15/cota, perfazendo um dividend yield de aproximadamente 16% sobre o preço atual da cota.
Portanto, esperamos que o fundo entregue uma boa rentabilidade no curto prazo e avaliamos ainda que o fundo negocia próximo ao nosso valuation, que leva em conta seu nível de risco de crédito e diversificação do portfólio. Desse modo, iniciamos nossa cobertura do fundo com recomendação de COMPRA.
2. Os FIAgros
O Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (“FIAgro”) é uma junção dos recursos de vários investidores para a aplicação em ativos de investimentos do agronegócio, sejam eles de natureza imobiliária rural ou de atividades relacionadas à produção do setor.
O FIAgro pode investir em uma ampla variedade de ativos, tais como: direitos creditórios, imóveis, valores mobiliários, ações ou cotas de sociedades, sempre no contexto das atividades integrantes da cadeia produtiva agroindustrial.
Pessoas físicas estão isentas de imposto de renda sobre os rendimentos, desde que:
- As cotas do FIAgro sejam admitidas à negociação exclusivamente em bolsas de valores ou no mercado de balcão organizado.
- O fundo escolhido possua, no mínimo, 50 (cinquenta) cotistas.
A receita do investimento é periodicamente distribuída para os cotistas, entretanto, diferente dos fundos imobiliários, não há obrigatoriedade regulatória de distribuir o resultado. Para FIAgros que aplicam em títulos e valores mobiliários, a renda se originará dos rendimentos distribuídos por esses ativos ou ainda pela diferença entre o seu preço de compra e de venda (ganho de capital).
Nessa modalidade, o FIAgro é uma fonte de financiamento para o agronegócio brasileiro. Atualmente, grande parte da captação para o setor de agronegócio no Brasil advém do setor bancário ou de investidores institucionais especializados. Portanto, o FIAgro permite o acesso dos investidores em geral aos investimentos nesse setor.
Os FIAgros foram regulamentados pela Comissão de Valores Mobiliários em julho de 2021, e desde então, o mercado vem assistindo à criação de novos fundos dessa modalidade. O gráfico abaixo mostra o valor mensal de novas ofertas de FIAgros, em milhões de reais, desde sua regulamentação:
Os gráficos abaixo mostram a relação valor de mercado/valor patrimonial média dos FIAgros de maior patrimônio líquido atualmente negociados na bolsa e o dividend yield anualizado médio dos mesmos fundos, juntamente às nossas projeções para IPCA e Taxa Selic.
3. Equipe
O fundo é gerido pela XP Asset Management, gestora de recursos do grupo XP Inc. com mais de R$ 152 bilhões de ativos sob gestão, com produtos de renda variável, multimercados, renda fixa e fundos de investimentos estruturados/alternativos. A gestora conta atualmente com mais de 143 profissionais e mais de 300 fundos abertos sob gestão.
No mais recente relatório gerencial do XPCA11, a XP Asset inclui a seguinte descrição da equipe responsável pela gestão do fundo:
André Masetti
Sócio da XP Inc., possui mais de 15 anos de experiência no mercado financeiro, Imobiliário e Agronegócio. Anteriormente, foi associado da RB Capital Asset Management por 4 anos e trabalhou no family office do Grupo Ambev e Deloitte. Formado em Contabilidade (PUC-SP), tem o certificado de gestão financeira (CFM – Certificate in Financial Management) pelo Insper e possui a Certificação de Gestores da Anbima (CGA).
Evandro Santos
Sócio da XP Inc., com mais de 9 anos de experiência no mercado financeiro. Iniciou sua carreira na área de Modelagem e Precificação do Banco BTG Pactual. Foi associado da Captalys na área de Análise de Crédito para pequenas e médias empresas. Ingressou na XP Investimentos em 2017, inicialmente responsável pela modelagem e precificação dos ativos das mesas de trading de Renda Fixa e Crédito Privado. É formado em Engenharia Eletrônica pelo Instituto Militar de Engenharia (IME-RJ) e possui a Certificação de Gestores da Anbima (CGA). Atualmente cursa o MBA em Agronegócios pela ESALQ-USP.
Gustavo Almeida
Possui mais de 13 anos de experiência no mercado financeiro, sendo 10 dedicados ao agronegócio, tanto em análise de crédito para o setor quanto relacionamento comercial. Iniciou a carreira no Unibanco tendo passagens pelo Itaú, Banco Fibra, HSBC e os últimos 5 anos no Rabobank, onde gerenciou grandes contas de produtores rurais em todo Brasil. Formado em Administração de Empresas pelo IBMEC-MG com pós-graduação em agronegócios pela ESALQ-USP.
Rafael Bincoletto
Com formação acadêmica e profissional focada no agronegócio, iniciou sua carreira na Bayer S/A na área de Digital Farming. Foi Analista na área de Análise de Crédito do Itaú BBA no setor agro. Ingressou na XP Investimentos em 2020 agregando no time de Fundos de Renda fixa e estruturados com foco no Agronegócio. É formado em Engenharia Agronômica pela ESALQ-USP.
Gabriel Tosini
Iniciou sua carreira na Itaú Asset Management. Posteriormente migrou para o setor agro, atuando na área de Pesquisa Setorial e de Crédito do Itaú BBA, com foco no setor. Com o então recém criado Projeto Agro no banco, atuou desde o início do mesmo como analista de crédito especializado nos segmentos de Produtores Rurais e Agroindústria. É formado pela Universidade Federal do ABC em Ciências Humanas e Economia. Atualmente cursa o MBA em Agronegócios pela ESALQ-USP.
4. Portfólio
De acordo com a XP Asset Management, “O XP Crédito Agrícola FI Agro “XPCA” tem como objetivo auferir ganhos pela aplicação de seus recursos em ativos financeiros com lastros do agronegócio, tais como CRA, LCA, cotas de FI Agros e FIDCs Agro”.
O fundo tem taxa de administração de 1,00% a.a. sobre o PL, e taxa de performance de 10% sobre rendimentos que excedam 100% do CDI. O XPCA11 teve início em novembro de 2021, com captação inicial de R$ 140,9 milhões. A 2ª emissão de cotas foi concluída em junho de 2022, captando R$ 34,2 milhões, enquanto a 3ª emissão de cotas, que captou R$ 130,2 milhões, foi encerrada em outubro de 2022.
Atualmente, o fundo possui 82,9% de seu patrimônio líquido alocado em CRAs, 1,0% alocado em cotas de FIDC FIAgro, e os demais 12,1% alocados em instrumentos de caixa. Todos os CRAs são indexados ao CDI, e sua taxa média de aquisição é de 4,55% a.a., com duration de 2,08 anos. Em termos de diversificação regional, os CRAs no portfólio do fundo estão associados a empresas com operação em 13 estados brasileiros, com destaque para MT (23,7%), SP (14,1%) e PR (14,1%).
Já em termos setoriais, o fundo apresenta uma boa diversificação entre diversos setores ligados ao agronegócio. Destacam-se os ativos do setor de Insumos Agrícolas (28%), Produtor Rural (22%) e Açúcar e Etanol (13%).
Nossa projeção é de que o fundo deve manter o pagamento de dividendos mensais referentes aos resultados de novembro e dezembro de 2022 próximos ao valor atual, totalizando um pagamento de R$ 1,62/cota referente ao ano de 2022, o que equivale a um dividend yield de 20,0% sobre o valor da cota no início do ano ou 16,2% sobre o valor da cota atual.
Para 2023, esperamos proventos mensais médios entre R$ 0,12/cota e R$ 0,15/cota, perfazendo um dividend yield de aproximadamente 16% sobre o preço atual da cota.
Nas figuras a seguir, comparamos o portfólio do XPCA11 com o portfólio dos principais FIAgros listados atualmente, selecionados por critérios de liquidez e valor atual do patrimônio líquido. O fundo possui o menor duration dentre os fundos selecionados, enquanto a taxa de aquisição média e a volatilidade histórica do XPCA11 estão próximos da média de seus pares. Calculando-se a rentabilidade nominal dos CRAs esperada para 2023, à partir das projeções macroeconômicas do Research XP e com base no portfólio atual dos fundos, o XPCA11 também se encontra em linha com a média dos pares selecionados.
4.1 CRA Solubio
A Solubio é uma empresa de biotecnologia criada em 2016, com sede em Jataí/GO. O foco da empresa é a busca de alternativas sustentáveis com o uso de bioinsumos, e atualmente atende produtores rurais que ocupam cerca de 3 milhões de hectares no país. A empresa atua com o modelo de negócio OnFarm, que envolve a produção dos bioinsumos adequados a cada cultura a partir de biofábricas instaladas na própria fazenda.
4.2 CRA Copagril/Frimesa
A Cooperativa Agroindustrial Copagril foi criada em 1970, na cidade de Marechal Cândido Rondon/PR, por um grupo de produtores rurais do oeste paranaense. Com cerca de 5.440 associados, a cooperativa se dedica à produção de grãos, em especial soja e milho, pecuária leiteira, e proteína animal (aves, suínos e peixes). Além disso, a cooperativa possui supermercados, postos de combustíveis e lojas agropecuárias próprias, além de atuar na comercialização de máquinas agrícolas e gerir uma transportadora com sua marca.
Em 1979, a Copagril se filiou à Frimesa, uma central de cinco cooperativas do Paraná fundada em 1977, com sede em Medianeira/PR. A Frimesa atua na industrialização de alimentos e bebidas derivados de leite e carne suína. O CRA conta com a garantia de um contrato take-or-pay com a Frimesa.
4.3 CRA Sierentz
A Sierentz Brasil atua na produção de soja e milho em seus mais de 90 mil hectares plantados nos estados do MA, PI e PA. A empresa é uma subsidiária de um conglomerado agrícola internacional com sede na Suíça e fundado em 2010, pertencente atualmente a membros da família Louis Dreyfus, fundadores da trading global Louis Dreyfus Company (LDC).
4.4 CRA Agrogalaxy
A AgroGalaxy atua como uma plataforma de varejo de insumos agrícolas, como fertilizantes e sementes, serviços para o agronegócio, com lojas espalhadas em grande parte do território nacional. Em 2021, a empresa passou a ser listada na B3, e atualmente possui um valor de mercado de R$ 1,3 bilhões. O Research XP possui cobertura das ações da AgroGalaxy, que pode ser acessada através deste link.
4.5 CRA Carvalho Dias
O grupo Carvalho Dias é um dos maiores pecuaristas do Brasil, com mais de 150 mil animais abatidos por ano, e controla fazendas nos estados de SP, MT e MS. Nos seus 52 mil hectares de área propria, a produção também inclui soja, milho, algodão, cana-de-açúcar e eucalipto.
4.6 CRA Flora
A Flora é uma indústria de bens de consumo com atuação nos setores de cosméticos, higiene pessoal e limpeza doméstica, e possui marcas como Minuano, Francis, Neutrox e Phytoderm, produzindo mais de 300 produtos. A empresa tem origem na divisão de Higiene e Limpeza da JBS, e, em 2007, tornou-se uma empresa independente dentro do Grupo J&F.
Em 2021, a empresa teve receita líquida de R$ 1,4 bilhões, despesa financeira de R$ 26,9 milhões e EBITDA de R$ -17,2 milhões, e registrou uma dívida total com empréstimos e financiamentos de R$ 345,8 milhões. O CRA tem lastro em debênture para compra de insumos do agronegócio.
4.7 CRA ACP
O Grupo ACP atua na produção de cana-de-açúcar, soja e milho, com 53 mil hectares de operações nos estados de SP, GO, MS e TO. A empresa se destaca como um dos maiores fornecedores de cana-de-açúcar do Brasil, com produção de 3 milhões de toneladas projetada para a safra 2022/23. O grupo ainda projeta uma produção de 625 mil sacas de soja e 280 mil sacas de milho na safra 2022/23.
4.8 CRA Usina Santa Fé
A Usina Santa Fé, localizada em Nova Europa/SP, foi fundada em 1925, e faz parte do Grupo Itaquerê, que também controla a Agropecuária Nova Europa. A capacidade de processamento da usina é de 4,6 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por ano, com capacidade de produção de açúcar cristal branco de 310 mil toneladas e de etanol de 220 mil m³. O FIAgro FGAA11 também possui recursos alocados nesta emissão de CRA, conforme discutido em nosso relatório do fundo.
4.9 CRA Atto Sementes
A Atto Sementes teve origem em 1980, e está sediada no município de Rondonópolis/MT. A empresa atua no melhoramento, multiplicação e distribuição de sementes, com especial atuação no estado do Mato Grosso e foco em sementes de soja.
4.10 CRA Minerva
A Minerva atua na produção e comercialização de proteína animal, e é a maior exportadora de carne bovina da América do Sul, com atuação em diversos países da região. A empresa teve origem na cidade de Barretos/SP, em 1924, e, em 2007, realizou sua abertura de capital na Bolsa de Valores de São Paulo. As ações da empresa possuem valor de mercado atual de R$ 8,2 bilhões e possuem cobertura do Research XP, que pode ser acessada por meio deste link.
A empresa possui rating AAA em escala nacional emitido pela S&P, e o fundo informa que esta é uma operação de caráter tático, com o objetivo de maximizar o retorno do fundo enquanto outras operações se encontram em processo de diligência interna. O Research XP também possui uma análise detalhada das diversas emissões de CRA da empresa, que pode ser acessada através deste link.
4.11 CRA UISA
A Usinas Itamarati S.A. é uma usina sucroalcooleira com sede em Nova Olímpia/MT. A empresa tem 40 anos de história, e atua no plantio, comércio, logística e distribuição dos derivados da cana-de-açúcar nas regiões Centro-Oeste e Norte. Recentemente, passou a adotar o nome de UISA, de modo a simbolizar um novo período de transformação do grupo em uma biorrefinaria com o foco na produção de energias limpas, alimentos e insumos à base de cana-de-açúcar e milho.
As duas emissões de CRAs da UISA, de R$ 270 milhões, representam 29,4% da dívida líquida consolidada de 918 mi informada pela empresa em seu Relatório de Resultados do 4º trimestre da Safra 21/22. Na tabela abaixo, apresentamos alguns indicadores operacionais e financeiros do ano safra 2021/22 da UISA em comparação à Usina São Martinho (SMTO3), considerada benchmark do setor pelos analistas do setor Agro do Research XP.
4.12 CRA Usina Ester
A Usina Ester é uma das mais antigas usinas de açúcar do estado de SP, tendo sido fundada em 1898 em Cosmópolis/SP. A usina possui capacidade de moagem de 2,2 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, produzindo açúcar VHP e cristal, etanol neutro, industrial e destilado alcoólico.
4.13 CRA Jotabasso
A Sementes Jotabasso teve origem na década de 1970, em uma área de 1000 hectares no estado de Mato Grosso, e mais tarde ampliou sua estrutura em Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul. A empresa é uma das maiores produtoras de soja do país, e também atua com sementes de sorgo e milho, além da criação bovina em Rondonópolis/MT.
5. Dados de Mercado e Rentabilidade
Nos gráficos abaixo, comparamos alguns indicadores atuais do XPCA11 em relação aos FIAgros com maior patamar de liquidez e patrimônio líquido atualmente listados na bolsa. Por se tratar de um produto com regulamentação recente, optamos por apresentar indicadores de retorno e risco na janela dos últimos 3 meses.
Já o gráfico abaixo mostra a evolução do investimento em cotas do XPCA11 desde o início de suas negociações:
Os gráficos abaixo mostram a relação risco/retorno recente dos FIAgros selecionados e a relação VM/VP vs. dividend yield anualizado dos pares. O gráfico demonstra que os FIAgros se encontram atualmente em patamar similar de ágio com relação ao valor patrimonial e dividend yield.
6. O Setor de Açúcar e Etanol
O setor de Açúcar e Etanol envolve a produção de cana-de-açúcar e seu processamento, em usinas especializadas, nos seus subprodutos: em especial, açúcar, etanol e geração elétrica. Com a tecnologia alcançada pelo setor no Brasil, as usinas têm relativa facilidade de converter rapidamente sua produção para um foco maior em etanol ou em açúcar, em resposta à atratividade dos preços de cada produto no mercado. Outra questão estratégica para as usinas é a origem da cana-de-açúcar utilizada como matéria prima, que pode ser adquirida de terceiros ou produzida pela própria empresa, em áreas próprias ou arrendadas.
O etanol produzido no país é utilizado, em sua maioria, como combustível de automóveis no mercado doméstico. Como a maior parte da frota brasileira é de veículos flex, a sua dinâmica interna de preços é fortemente interligada à dinâmica de preços da gasolina, que por sua vez é afetada pela cotação internacional do petróleo.
Já a dinâmica de preços do açúcar está mais fortemente envolvida com o mercado externo. Segundo dados da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia), o Brasil é, com 23% da produção global, o maior produtor mundial de açúcar. Aproximadamente 70% dessa produção é exportada, o que equivale a 49% das exportações mundiais do produto. Com isso, o preço do produto é determinado em mercados internacionais, de modo que a atratividade da sua produção para as usinas, com relação à da produção de etanol, pode variar constantemente.
Atualmente, a relação de preços favorece um mix com maior preponderância do açúcar na produção das usinas. Com o momento atual de queda nos preços internacionais de petróleo e após as alterações nas alíquotas de impostos federais e estaduais realizadas a partir de julho, o consumidor brasileiro vem observando preços mais atrativos para a gasolina do que para o etanol como combustível automotivo. Por outro lado, o preço internacional do açúcar (tomando como referência o contrato ICE Sugar #11) vem se recuperando do nível atingido no início da pandemia de COVID-19 e se manteve entre 0,18 e 0,20 USD/lbs ao longo de 2022. Em 2023, acreditamos que os incentivos fiscais à gasolina devem ser ao menos parcialmente revertidos, o que tende a recuperar a competitividade do etanol. Embora seja esperado um aumento da produção no Brasil devido a uma melhora na produtividade e um aumento na moagem, o preço da energia em alta deve continuar pressionando as regiões em que a produção de açúcar envolve um alto custo energético, como a União Europeia, e as demais regiões produtoras, como a Índia, possuem pouco espaço para ampliar a produção. No médio prazo, esperamos a manutenção de preços internacionais favoráveis para a exportação de açúcar, com um piso para os preços entre 0,14 e 0,15 USD/lbs. Portanto, em nossa visão, a perspectiva é de que os próximos anos sejam positivos para o setor em termos de rentabilidade, em especial para os players mais experientes e com níveis saudáveis de endividamento.
7. O setor de Insumos Agrícolas
O setor de Insumos Agrícolas envolve a produção e comercialização de diversos produtos utilizados em algum momento da produção agrícola, como fertilizantes, defensivos agrícolas e sementes. As perspectivas para as empresas do setor dependem do nível de verticalização de cada uma e sua inserção no mercado.
Em particular, o mercado de fertilizantes está conectado às indústrias petroquímica e de mineração, e o Brasil ainda depende de importações em mais de 80% de seu uso anual, segundo dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA). Com a invasão da Ucrânia pela Rússia no início de 2022, o risco sobre o abastecimento do mercado interno foi elevado, dado que grande parte do volume importado no país provém da Rússia. Entretanto, apesar da forte elevação dos preços observada no 1º semestre do ano, o volume importado no período acabou sendo um pouco maior que o do 1º semestre do ano anterior, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX).
Com a disparada dos preços nos primeiros meses após a invasão, a relação de troca de soja e milho contra fertilizantes chegou a patamares muito acima da média histórica. Entretanto, essa relação já se aproxima de valores próximos à média histórica, e esperamos que se mantenha no curto prazo próxima aos níveis atuais. Portanto, após o período de ótimos resultados com os preços mais altos, os revendedores de insumos devem passar, no curto prazo, por um momento de normalização e retorno à média com a redução nos preços dos fertilizantes.
8. O setor de Produção de Grãos
Ao longo das últimas décadas, a soja conquistou posição de grande destaque na produção e exportação agrícolas brasileiras, particularmente pelo seu crescimento na região Centro-Oeste do país. Segundo estimativas da Conab, a produção nacional de soja na safra 2021/22 foi de 124 milhões de toneladas, das quais 39% foram consumidas no mercado interno e 61% (75,2 mi ton) exportadas. Do lado do consumo interno, boa parte da produção é direcionada para a fabricação de biodiesel, que é adicionado ao diesel automotivo vendido nos postos de combustíveis brasileiros atualmente a uma proporção de 10%. Globalmente, cerca de 77% da soja é usada para a nutrição animal e 19% para consumo humano, principalmente na forma de óleo de soja, segundo o USDA.
Em 2021, cerca de 70% da soja exportada pelo Brasil teve a China como destino, segundo dados do Comex Stat/MDIC. Em 2020, a produção brasileira foi equivalente a 34,4% da produção mundial, segundo a FAO. Os principais competidores na produção e exportação de soja são os EUA e a Argentina.
Outro grão de destaque na agricultura nacional é o milho, cuja produção estimada na safra 2021/22 foi de 114,7 milhões de toneladas, segundo a Conab. Uma particularidade do milho é apresentar a possibilidade de duas safras ao longo do ano. Boa parte dos produtores de soja realizam o plantio alternado das duas culturas, com particular sucesso obtido na região Centro-Oeste. Segundo dados do USDA, a produção brasileira da safra 2021/22 foi equivalente a cerca de 9,5% da produção mundial, dominada por EUA (31%) e China (22%).
O percentual da produção exportada do milho é atualmente menor relativamente à soja: 37,5 mi ton (ou 33% da produção) foram exportadas. Por outro lado, a destinação das exportações é mais diversificada, com destaque para países do Oriente Médio e Norte da África, como Egito (16,2% do volume exportado em 2021) e Irã (15,8%), da União Européia, como Espanha (10%), e do Leste Asiático, como Japão (8,5%) e Coreia do Sul (5,4%).
A dinâmica de preços internos de ambos os produtos segue o preço negociado internacionalmente, com os preços negociados na Chicago Board of Trade (CBOT), nos EUA, sendo considerados de referência para o setor. Dessa maneira, a cotação do dólar é também um dos principais drivers do setor. A desvalorização do real observada desde o início da pandemia de COVID-19, conforme observamos nos gráficos abaixo, trouxe os preços em moeda nacional da soja e do milho para patamares bastante superiores aos observados nos anos anteriores.
Atualmente, os preços de soja e milho seguem em patamares rentáveis ao produtor rural, mesmo com a elevação de custos de produção. Os preços vêm mantendo-se acima de 180 Reais por saca de soja e 80 Reais por saca de milho, de acordo com os indicadores do CEPEA. Devido à dinâmica internacional do preços de commodities, as cotações em Chicago têm refletido o risco da Guerra entre Ucrânia e Rússia, trazendo volatilidade e oportunidades de precificação a bons níveis. A recente depreciação do câmbio é um fator que contribui para a remuneração em reais do produtor rural. Do lado dos riscos, o clima é um fator a ser acompanhado, com o Brasil entrando em um terceiro ano de La Niña, o que pode reduzir o volume de chuvas na Região Sul do Brasil. Porém, os efeitos negativos desse fenômeno climático são menos presentes sobre as lavouras do Centro-Norte do país, trazendo boas perspectivas para a produção nessas Regiões. As projeções atuais da safra nacional de soja e milho esperam volumes recordes para os dois produtos. Apesar disso, a demanda de exportação deve estar presente para absorver o volume recorde de safras brasileiras, sem aumento de estoques globais.
9. Os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs)
Os Certificados de Recebíveis do Agronegócio, ou CRAs, são o principal tipo de ativo a integrar os portfólios de investimentos dos FIAgros, e são títulos de crédito privado, representando uma promessa de pagamento em dinheiro no futuro. Sua característica principal é ser obrigatoriamente vinculado a direitos creditórios originados de transações entre produtores rurais, ou cooperativas, e terceiros, que tenham relação com a produção e manipulação de produtos agropecuários ou bens utilizados nessa atividade. Um possível exemplo é a venda a prazo, por parte de um produtor de soja, de sua produção a uma exportadora de grãos.
A emissão dos CRAs é exclusiva de companhias securitizadoras, que adquirem uma variedade de direitos creditórios vinculados ao agronegócio e os “empacotam” em um único título de renda fixa (o CRA), emitindo-os no mercado de capitais.
Vale observar que, apesar de o CRA ser emitido pela companhia securitizadora, esta é apenas uma intermediária financeira da transação, já que o risco de crédito do produto está associado à empresa ligada ao agronegócio que originou os direitos creditórios “empacotados” no CRA. Podemos classificar o CRA de acordo com risco de crédito envolvido:
- Corporativo, em que o risco está atrelado à empresa devedora na operação, que utiliza a emissão do CRA para financiar, por exemplo, sua produção ou a compra de maquinário.
- Pulverizado, em que o risco está atrelado a uma carteira de créditos de diversos devedores.
Os CRAs vêm se convertendo, gradualmente, em uma importante fonte de financiamento da atividade agropecuária. Os gráficos abaixo mostram a evolução dos estoques e das novas emissões de CRA comparativamente aos estoques e novas emissões de CRI, ativo similar ao CRA, porém lastreado em créditos do setor imobiliário. Pode-se observar pelos gráficos que as emissões de CRA têm ganhado velocidade nos últimos anos como alternativa importante de acesso ao mercado de capitais por parte do setor agropecuário.
9. Riscos
Listamos abaixo alguns dos principais riscos associados aos FIAgros:
- Risco de Crédito: Risco associado à falta de capacidade de pagamento dos devedores em suas obrigações contratuais.
- Risco de Liquidez: Risco associado à dificuldade de converter cotas de FIAgros em dinheiro no futuro, por falta de negociação do ativo.
- Risco de Mercado: Risco associado a (i) condições macroeconômicas em geral (ex. taxas de juros, inflação e USD); (ii) políticas públicas locais e internacionais. (ex. reforma tributária); e (iii) preço das commodities em geral.
- Risco de Governança: Risco associado à violação, pelo gestor fundo, de sua política de investimento e/ou má condução de negócios. (ex. falta de procedimentos internos, transparência, política de ética definida).
- Risco de Concentração: Um fundo pode investir em um único ativo ou em poucos ativos, concentrando o risco da carteira em poucos locatários.
- Risco Climático: Possível impacto negativo que um evento climático pode causar na agricultura ou pecuária dos devedores, afetando adversamente, por consequência, sua capacidade de pagamento.
10. Glossário
ABL: Área Bruta Locável |
ATR: Açúcar Total Recuperável, indicador da quantidade de açúcar contido na cana-de-açúcar |
Cap Rate: Lucro operacional em termos anuais / valor de mercado |
CDCA: Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio |
Cota: Valor da cota negociado em bolsa ajustado por proventos |
CRA: Certificado de Recebíveis do Agronegócio |
CRI: Certificado de Recebíveis Imobiliários |
CVM 400: Oferta de valores imobiliários, com prospecto e registro obrigatório na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Não há restrição quanto ao número de clientes que podem subscrever. O investidor não precisa necessariamente ser qualificado para investir no ativo, a não ser que haja uma exigência da emissão. |
CVM 476: Oferta pública, mas com esforços restritos, destinada a investidores profissionais. Será permitida a procura de, no máximo, 75 investidores profissionais e os valores mobiliários ofertados deverão ser subscritos ou adquiridos por, no máximo, 50 investidores profissionais. |
Dividend Yield: média dos proventos distribuídos no período multiplicado por 12 períodos e dividido pelo valor de mercado |
Dividend Yield Projetado: Estimativa realizada com base nas receitas recorrentes e premissas definidas pela XP |
Follow-On (FON): São as novas ofertas subsequentes ao IPO |
Lucro Operacional: Receita total obtida com a propriedade menos despesas operacionais |
LTV: Loan to Value. Relação entre o valor da dívida e o valor das garantias oferecidas. |
Patrimônio Líquido (PL): Ativos Totais menos Passivos Totais |
Patrimônio Líquido (PL)/Cota: Patrimônio Líquido dividido pelo total de cotas emitidas |
Performance: Variação da cota acrescida dos proventos obtidos no período dividido pelo valor da cota |
Peso no IFIX: Participação do fundo no IFIX (índice de fundos imobiliários) |
Rendimentos: Proventos distribuídos por cota em R$ |
TCH: Toneladas de Cana por Hectare. Indicador de produtividade do canavial. |
TIR: Taxa interna de retorno |
Vacância Anunciada: Taxa de vacância informada pelo administrador (física ou financeira), considerando saídas ou locações anunciadas por fatos relevantes |
Vacância Financeira: Proporção da receita potencial que a área vaga teria na receita do fundo considerando o último aluguel pago |
Vacância Física: Proporção que a área vaga representa em relação ao ABL total do empreendimento |
Valor de Mercado (VM): Número total de cotas x valor da cota negociado em bolsa |
VM/PL: Valor de mercado/Patrimônio Liquido |
Volume Diário: Média diária do volume em R$ |
Se você ainda não tem conta na XP Investimentos, abra a sua!