A Minerva é a maior exportadora de carne bovina da América do Sul, e uma das líderes locais na produção e comercialização de carne in natura e seus derivados e no processamento de carne bovina, suína e de aves. O atual desequilíbrio entre oferta e demanda no mercado de carne bovina global e a desvalorização cambial vêm beneficiando as operações dos exportadores da América do Sul. A receita líquida da empresa apresentou avanço de 39% no 1T21 frente ao 1T20 para R$ 5,8 bilhões. O EBITDA totalizou R$ 485 milhões, expansão anual de 27%. A Minerva reportou endividamento líquido de R$ 5,4 bilhões ao fim de março de 2021, em linha com o registrado em dezembro, enquanto a razão dívida líquida / EBITDA foi de 2,4x, confortavelmente abaixo de seu covenant de 3,5x.
Destaques positivos
- Maior exportadora de carne bovina da América do Sul.
- Diversificada em termos geográficos (países), porém 100% na América do Sul.
- Conjuntura global favorável, com redução do rebanho em outras regiões.
- Crescimento do mercado consumidor chinês.
Pontos de atenção
- Dinâmica de custos e preços de venda (commodities).
- Exposição cambial.
- Concentração em bovinos.
- Riscos sanitários
Quem é a Minerva?
História
O início das operações da Minerva remete a 1924, com a fundação da ‘Charqueada Minerva’ por Antonio de Pádua Diniz e Mauro Guimarães, na cidade de Barretos (SP).
Em 1992, a Família Vilela de Queiroz, experiente no transporte de bovinos e na atividade pecuária, adquiriu o então Frigorífico Minerva do Brasil, constituindo a Indústria e Comércio de Carnes Minerva Ltda.
Em 2007, a empresa realizou sua abertura de capital na Bolsa de Valores de São Paulo, captando cerca de R$ 905 milhões.
O ano de 2018 marcou a consolidação das operações internacionais da empresa, com a criação da Athena Foods a partir da fusão dos negócios na Argentina, Chile, Colômbia, Paraguai e Uruguai. Hoje, a Athena é uma empresa chilena 100% controlada pela Minerva S/A.
Com a assinatura de uma joint venture com a chinesa JoeyFoods em 2019, a Minerva se tornou a primeira empresa brasileira a atuar na distribuição de carne bovina na China.
Atuação
A empresa é a maior exportadora de carne bovina da América do Sul, e uma das líderes locais na produção e comercialização de carne in natura e seus derivados e no processamento de carne bovina, suína e de aves.
Possui atualmente capacidade diária de abate de 25.480 cabeças de gado e de desossa equivalente a 27.100 cabeças de gado.
Presença
Estando presente no Brasil, Paraguai, Chile, Argentina, Uruguai e Colômbia, a Minerva opera 24 plantas de abate e desossa e três plantas de processamento, e comercializa seus produtos com mais de 100 países.
Composição acionária
Saudi Agricultural and Liverstock Investment (Salic) (33,8%): fundo de investimento criado pelo reinado da Arábia Saudita e tem como objetivo investir em empresas do agronegócio em países com vantagens competitivas com foco em exportação.
VDQ Holding S.A. (17,2%): tem os integrantes da Família Vilela Queiroz com 100% do capital social.
Outros (49,0%).
As ações ordinárias da Minerva Foods (BEEF3) são negociadas no segmento Novo Mercado da B3, que reúne as companhias com o mais elevado grau de governança corporativa. Há um acordo de acionistas entre VDQ e Salic, vigente desde 2015, com o objetivo de regulamentar seus direitos, obrigações e responsabilidades em relação à empresa.
Principais fatores do crédito
Para melhor entendimento, esclarecemos que a nomenclatura “1T21” significa “primeiro trimestre de 2021”. Suas variações também se aplicam (ex: 4T20 seria o quarto trimestre de 2020).
Fonte: XP Investimentos, Minerva.
Cenário atual
A atual conjuntura mundial para o mercado de carne bovina, marcada pelo desequilíbrio entre oferta e demanda, vem beneficiando as operações dos exportadores da América do Sul.
Do lado da oferta, o continente sul-americano consiste na única região com rebanho em expansão, dado que o tamanho do rebanho bovino global segue em retração. A Austrália, por exemplo, que é o terceiro maior exportador de carne bovina do mundo, conta com oferta restrita de gado após dois anos de redução do rebanho forçada pela seca.
Quanto à demanda, nota-se um crescimento do consumo de carne bovina na China como reflexo da peste suína africana, representando cerca de 34% das exportações consolidadas da Minerva em 2020. Além da desvalorização cambial, as exportações de carne bovina da América Latina também são beneficiadas pela reabertura dos Estados Unidos para o Brasil, a habilitação de exportações da Rússia e do Chile para a Colômbia, a aprovação da Arábia Saudita para importar do Uruguai, Paraguai e Colômbia, e a abertura da Tailândia para a importação de carne bovina brasileira.
Destaques operacionais
A Divisão Brasil abateu 1,5 milhão de cabeças de gado em 2020, retração de 16,3% em comparação com 2019, enquanto a Athena Foods apresentou retração de 4,9% nos abates para 1,7 milhões cabeças de gado.
Sendo assim, houve contração de 11% no abate total em 2020, de 3,2 milhões de cabeças de gado. A redução no ritmo dos abates é decorrente das adequações e medidas de segurança implementadas diante da pandemia da covid-19.
No primeiro trimestre de 2021, a Divisão Brasil abateu 309,9 mil cabeças de gado, retração de 12,2% ao ano, com taxa de utilização da capacidade de 63,0%. Em virtude da valorização da cotação da arroba do boi gordo, os pecuaristas optaram pela retenção de fêmeas, o que diminui a oferta no curto prazo para aumentar a quantidade de bezerros, e, com isso, obter maior rentabilidade.
Já a Athena Foods abateu 552,2 mil cabeças de gado na mesma janela, representando expansão de 39,3%, com taxa de utilização de 72,5%. O volume consolidado de abate no trimestre foi de 862,0 mil, crescimento anual de 15,1%. Houve aumento da capacidade instalada nesse intervalo, explicado pela aquisição de uma planta na Colômbia, pertencente ao Frigorífico Vijagual.
Destaques financeiros
Receita e EBITDA
A receita bruta da Divisão Brasil registrou expansão anual de 18% em 2020 para cerca de R$ 10 bilhões. O crescimento foi decorrente tanto das exportações, que avançaram 15% ante 2019, quanto do mercado interno, cuja receita avançou 22% no mesmo intervalo.
O bom desempenho do mercado externo foi decorrente da maior demanda do sudeste asiático, região que representou 53% do total exportado pela divisão. No mercado interno, houve aumento de 34% dos preços no ano, compensando a retração do volume vendido.
Em 2020, a receita bruta da Divisão Athena Foods (Paraguai, Argentina, Uruguai e Colômbia) atingiu R$ 8,8 bilhões, expansão de 20% na comparação anual.
A receita líquida da empresa totalizou R$ 19,4 bilhões em 2020, incremento de 13% ao ano. Já o EBITDA no mesmo intervalo alcançou R$ 2,1 bilhões, crescimento de 22% em comparação com 2019, sendo um patamar recorde para a empresa.
Ainda influenciado pelo movimento do câmbio e forte demanda externa por carne bovina, a receita líquida apresentou avanço de 39,3% no 1T21 frente ao apurado no 1T20 para R$ 5,8 bilhões. O EBITDA totalizou R$ 484,9 milhões, expansão anual de 27,1%.
Endividamento e alavancagem
A Minerva reportou endividamento bruto de R$ 11,8 bilhões ao fim de março de 2021, relativamente estável em comparação com o saldo do fim de 2020. Embora cerca de 80% da dívida bruta esteja atrelada ao dólar, a empresa mantém hedge de no mínimo 50% da exposição cambial de longo prazo, o que suaviza os efeitos da volatilidade cambial. Além disso, 67% da receita bruta da empresa vem de exportações, o que atua como hedge natural para a dívida.
A empresa apresentou posição de caixa de R$ 6,4 bilhões ao fim do primeiro trimestre, resultando em endividamento líquido de R$ 5,4 bilhões, também em linha com o apurado no 4T20. As atuais disponibilidades são suficientes para o cumprimento do cronograma de amortizações até meados de 2028.
A alavancagem medida pela razão dívida líquida / EBITDA no 1T21 foi de 2,4x, confortavelmente abaixo de seu covenant de 3,5x.
Pontos de atenção
Dinâmica de custos e preços de venda (commodities)
A rentabilidade da Minerva é dependente do preço de aquisição de matérias-primas e do preço de venda dos seus produtos. O gado representa cerca de 80% do custo dos produtos vendidos da empresa e é uma commodity, ou seja, é oferecido em grande quantidade, com grau de diferenciação limitado e obedecendo a padrões que determinam seu preço no mercado global.
Dentre os principais fatores que podem afetar as cotações da carne bovina, citam-se: oferta e demanda de animais, alteração da renda dos consumidores, surtos de doenças, condições meteorológicas atípicas e condições econômicas.
Já o preço de venda pode variar em decorrência da demanda por carne bovina nos mercados domésticos e externos, bem como no mercado de outros produtos de proteína, incluindo aves e suínos (que podem ser considerados substitutos).
Diante disso, caso as margens operacionais da Minerva sejam comprimidas, sua rentabilidade deverá ser negativamente afetada.
Exposição cambial
Além dos riscos referentes à cotação da matéria-prima, a Minerva também está exposta à flutuação das taxas de câmbio. Cerca de 80% do seu endividamento ao fim de 2020 foi denominado em moedas estrangeiras e 67% da receita bruta de vendas do ano foi derivada de exportações, principalmente em dólares.
Em suma, a valorização do dólar em relação ao real torna os preços dos produtos da companhia mais atrativos nos mercados internacionais, porém aumenta seu endividamento bruto em reais. Para mitigar o risco da volatilidade cambial no endividamento, a empresa mantém hedge de no mínimo 50% da exposição cambial de longo prazo.
Concentração em bovinos
Apesar da diversificação geográfica, a Minerva concentra suas atividades em bovinos e seus processados, em contraste com seus pares no setor, como JBS e Tyson Foods. A falta de diversificação para outras proteínas aumenta as consequências de um eventual cenário adverso para o mercado de gado.
Riscos sanitários
Um dos principais riscos dos frigoríficos em geral abrange questões sanitárias. Surtos de febre aftosa, BSE (doença da vaca louca), ou outras doenças de gado nos países em que a companhia atua podem afetar negativamente suas atividades.
Como exemplo recente, cita-se o avanço da peste suína africana, que dizimou o rebanho de suínos na China e alterou os padrões de consumo no país, com consequências para frigoríficos em todo o mundo.
Por conta dessas questões, países importadores possuem órgãos de vigilância sanitária, que aprovam a exportação de frigoríficos caso a caso, visando garantir padrões de qualidade para os alimentos comercializados em seus territórios. Com uma certa recorrência, notícias são veiculadas sobre habilitações e desabilitações de plantas no Brasil por parceiros comerciais e novas movimentações neste sentido poderiam representar riscos à companhia.