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Um olhar sobre a saúde dos bancos médios

Por Camilla Dolle, Lucas Genoso e Mirian Abe O cenário incerto que vem se desenhando com a crise do covid-19 e seus impactos afeta diversos setores. Um deles é o setor bancário. Além dos grandes bancos que temos no Brasil, diversos outros de menor porte, dentre eles os chamados “bancos médios”, também sofrerão, em maior […]

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Por Camilla Dolle, Lucas Genoso e Mirian Abe

O cenário incerto que vem se desenhando com a crise do covid-19 e seus impactos afeta diversos setores. Um deles é o setor bancário.

Além dos grandes bancos que temos no Brasil, diversos outros de menor porte, dentre eles os chamados “bancos médios”, também sofrerão, em maior ou menor medida, com os efeitos da retração econômica e tudo o que ela representa.

Justamente por isso, e por serem os bancos a coluna dorsal da economia, diversas medidas vêm sendo anunciadas para atenuar estes impactos.

Por fim, vale lembrar que toda crise gera oportunidades. No caso dos bancos, isso significa taxas de ativos bancários mais atraentes do que pouco tempo atrás.

São esses riscos, mitigantes e oportunidades que pretendemos explorar.

BANCOS

A pandemia do covid-19 é o assunto do qual não podemos mais fugir, mesmo que queiramos. Seja por seus efeitos sobre a saúde, sobre a economia ou sobre os mercados.

Assim como temos falado nas últimas semanas, os impactos do covid-19 ficam cada vez mais claros. à medida em que o isolamento social se expande tanto em termos espaciais, alcançando novos territórios, como em termos de prazo. Já dura mais de um mês e não sabemos ao certo quando terminará.

Por outro lado, governos, incluindo o brasileiro, seguem anunciando novas medidas para conter os efeitos sobre a economia, mitigando o que poderia ser uma crise muito mais aprofundada sem essas iniciativas.

Um dos setores diretamente afetados, mas ao mesmo tempo (e justamente por isto) que mais tem tido anúncios de medidas de contenção é o setor bancário.

Os bancos são como uma coluna dorsal da economia, tendo como um de seus papéis a concessão de crédito para empresas e pessoas físicas.

Num momento em que uma crise econômica como esta ocorre, uma das primeiras preocupações é com uma potencial crise de crédito. Basicamente, se empresas e pessoas não têm mais capacidade de honrar com suas dívidas, pela redução de suas vendas ou perda de salários, o impacto para os bancos é direto com o aumento da inadimplência.

Medidas anunciadas

Como mencionado, já foram diversas as medidas anunciadas pelo governo federal e pelo Banco Central do Brasil (BCB) para atenuar os impactos negativos do covid-19 sobre o sistema bancário brasileiro.

Abaixo apresentamos um resumo das principais medidas, das mais recentes para as mais antigas, e a intenção por trás delas:

27 de março

O governo anunciou uma linha de crédito emergencial para financiamento da folha de pagamentos, no valor de R$ 40 bilhões, a empresas com faturamento anual entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões. Deste total, 85% do risco será assumido pelo Tesouro Nacional e os outros 15% pelos bancos.

Os empréstimos terão taxa de juros de 3,75% a.a (bastante inferior às taxas normalmente praticadas neste segmento) e prazo de até 30 meses. Em contrapartida, as empresas não poderão demitir funcionários durante dois meses.

A intenção da medida é garantir que as pequenas e médias empresas continuem tendo acesso a capital de giro e, com isso, evitar uma onda de falências e demissões em massa.

Além disso, no mesmo dia, o BNDES anunciou que retomará o auxílio a empresas em dificuldades através de aportes em debêntures conversíveis em ações, iniciando pelo setor aéreo.

23 de março

O BCB divulgou um novo pacote de medidas para conter os impactos no
sistema financeiro nacional, que também visam auxiliar no aumento da liquidez.

Em conjunto, todas as medidas representam o maior pacote de liquidez já feito pelo BCB, podendo chegar a mais de R$ 2 trilhões, sendo que parte delas é direcionada a atuações específicas, como por exemplo aumentar a liquidez no mercado secundário de debêntures, medida que enxergamos com um viés positivo princialmente para os fundos de investimento

Semana de 16 de março

Antecipando acentuação da piora econômica, o Conselho Monetário Nacional (CMN) e o BCB divulgaram medidas para injetar mais liquidez no sistema financeiro, bem como auxiliar os bancos na retomada da atividade econômica:

  1. Dispensa pelos próximos seis meses da obrigatoriedade de aumento do provisionamento em caso de repactuação de operações de crédito. Desta forma, estimulará renegociações com os devedores sem que isso afete o resultado das instituições financeiras.
  2. Redução do Adicional de Conservação de Capital Principal (ACP Conservação) de 2,5% para 1,25% pelo prazo de um ano, reduzindo a Basileia mínima de 10,5% para 9,25%. Esta medida expande a capacidade dos bancos de realizar concessões e renegociações, aliviando parcialmente a desaceleração.

O BCB estima que estas medidas sejam capazes de injetar quase R$ 4 trilhões na economia.

Naquela semana houve também a redução do teto de juros do crédito consignado de 2,08% ao mês para 1,80% ao mês, assim como o alongamento do prazo de pagamento das operações – medidas que já haviam sido anunciadas para ajudar a minimizar os efeitos da crise da pandemia do coronavírus.

O governo quer ainda ampliar a margem de comprometimento com o empréstimo, que hoje é de 35% (incluindo cartão).

Estimamos que esta medida tenha impacto positivo, mas limitado, no sistema financeiro, uma vez que a regra se aplica apenas ao consignado federal, ou seja, pensionistas do INSS, que são uma pequena parcela da
população. Entretanto, destacamos que esta medida auxiliará no resultado dos bancos que trabalham com este produto.

Outro ponto relevante foi a redução da taxa básica de juros (Selic) para 3,75%, o que traz um impacto positivo para os bancos: a redução do custo de captação.

Entretanto, essa redução pode também fechar os spreads, aumentando a
competição pelos bons clientes, o que pode prejudicar os bancos médios que trabalham com empresas.

Segmentos de atuação, riscos e atenuantes

Nosso entendimento é de que os riscos são diferentes para cada segmento bancário e é isso o que pretendemos apresentar a seguir, seguindo esquema de cores a depender da nossa percepção do risco:

Alto

Médio

Empréstimo Pessoal/CDC/Cartão

A redução da atividade econômica em geral e o isolamento social deverão afetar gravemente o consumo e, consequentemente, a originação de empréstimos neste segmento.

Além disso, a redução de turnos e do quadro de funcionários nas empresa terá impacto sobre a renda das famílias, o que deverá levar a um aumento da inadimplência.

Financiamento de veículos

A redução da renda das famílias pode aumentar a inadimplência dos financiamentos já existentes.

Além disso, a originação de novos créditos para aquisição de veículos deve cair substancialmente, em vista da menor confiança do consumidor e da adoção de critérios mais rígidos por parte dos bancos para a concessão desses créditos.

Empresas médias e pequenas (Middle market)

Com o cenário que se desenha, muitas empresas pequenas e médias já apresentam e devem continuar sofrendo com a queda das vendas e a falta de crédito para capital de giro.

A principal garantia que elas podem oferecer são duplicatas de vendas performadas, ativo que já está ficando escasso, uma vez que já vemos diminuição na atividade das empresas. Os impactos já devem ser sentidos no próximo trimestre.

Crédito consignado

O maior volume de crédito consignado existente foi concedido para funcionários públicos, aposentados e pensionistas, que contam com estabilidade de renda. Além disso, a cobrança dos empréstimos é realizada através do desconto diretamente na folha de pagamentos. Desta forma, não é esperado um aumento da inadimplência.

Por outro lado, assim como no caso dos empréstimos pessoais comuns, dependendo da duração da quarentena, a originação (ou seja, o aumento da carteira de crédito) poderá ser prejudicada, uma vez que depende, em sua maioria, da presença do tomador em lojas físicas.

Além disso, destacamos que bancos menos eficientes podem ser prejudicados com a redução da taxa-teto de juros do consignado.

Empresas grandes (Corporate/Large corporate)

A expectativa é que empresas mais alavancadas e com dívidas em dólar tenham que renegociar linhas de crédito neste contexto. Desta forma, o resultado dos bancos pode ser penalizado por menores receitas e maior provisão para devedores duvidosos (PDD).

Por outro lado, as empresas maiores e com melhor situação creditícia devem postergar investimentos, mitigando o risco de necessidade de renegociações.

Atenuantes para os riscos

Os bancos em geral estão bem capitalizados e com bastante caixa, com curvas de vencimento alongadas. Um dos maiores pontos de sensibilidade, a capitalização, foi atenuado pela redução da Basileia mínima para 9,25%.

Adicionalmente, a crise passada fez com que a maioria das instituições adequasse melhor suas carteiras, pulverizando mais os riscos e enrijecendo os critérios de concessão de crédito, o que reduz os riscos de inadimplência.

Ainda que aumentem os spreads bancários, o atual patamar da taxa de juros permite que a taxa do tomador final seja mais baixa que a média histórica, podendo manter ativo o mercado de crédito.

Principais bancos

A seguir, apresentamos os indicadores mais relevantes dos principais bancos de médio porte que acompanhamos.

Esses bancos são os que aparecem mais frequentemente captando recursos em plataformas de investimentos com pessoas físicas, através de CDBs, LCIs, LCAs e LCs.

Vale lembrar que todos tem seus ativos elegíveis cobertos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para investimentos de até R$ 250 mil.

Como agir?

As emissões bancárias (CDBs, LCIs, LCAs, LCs) são boa opção de ativo seguro, por contar com garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para investimentos de até R$ 250 mil.

Com a abertura da curva de juros, existem atualmente opções de títulos de prazo mais curto com rentabilidades melhores, em média, do que no começo do ano.

Além disso, para quem busca opções indexadas ao IPCA ou prefixados, há alternativas de prazos mais longos a taxas mais elevadas em relação ao início do ano.

Apesar de haver atualmente maior incerteza em relação ao setor bancário, esses ativos oferecem segurança ao investidor que busca rentabilidade mais elevada e pode permanecer dentro dos limites de garantia do FGC.

No entanto, é importante ter em mente que, em caso de falência do banco emissor, o FGC leva, em média, cerca de 90 dias para ressarcir o investidor (de acordo com dados históricos).

Por este motivo, ao investir em bancos com maior risco de crédito, sugere-se não aplicar a reserva de emergência e ter disponibilidade de manter o valor aplicado até o prazo de vencimento.

Quem já tem

  • Não há motivos para resgate antecipado, caso não haja necessidade.

Quem não tem

  • É um bom momento para aproveitar oportunidades com taxas mais elevadas.
  • Lembrando que emissões bancárias têm o mesmo risco da poupança (garantia do FGC), mas rende mais, de forma geral.
  • Procurar não ultrapassar o limite da garantia do FGC para bancos com risco mais elevado.
  • Mesmo com a garantia do FGC, procure entender o risco que o banco emissor apresenta.

Sempre observe seu perfil de investidor/apetite por risco antes de escolher um ativo.

Comece a aproveitar a janela de oportunidades em ativos bancários

Veja mais

Fontes

Sites de Relação com Investidores dos bancos mencionados
Banco Central do Brasil
Fundo Garantidor de Créditos

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