- Ao investir, a diversificação é um dos fatores mais importantes para uma carteira com boa rentabilidade no longo prazo.
- Esta diversificação pode ser via diferentes indexadores, prazos, classes de ativos e, por que não, geografias.
- A possibilidade de investir em bonds abre novas oportunidades aos investidores que buscam as características da renda fixa atreladas ao dólar e à dinâmica do mercado norte-americano.
Devido, principalmente, ao histórico de elevadas taxas de juros, o Brasil é um país em que os investimentos em renda fixa são muito populares.
Investir em renda fixa nada mais é do que emprestar dinheiro para “alguém” – chamado de “emissor” – que pode ser o governo, instituições financeiras ou empresas. Todos esses emissores necessitam de recursos para suas operações ou investimentos, e uma das formas disponíveis para captar esses montantes é via emissão de dívidas. Ao final, os investidores (neste caso também chamados de “credores”) recebem seu valor inicial investido somado dos juros contratados no momento da compra do título.
Saiba mais sobre renda fixa aqui
O que significa investir em renda fixa fora do Brasil?
Normalmente, quando se pensa em investir em renda fixa, o primeiro (e talvez único) pensamento é investir em títulos brasileiros. No entanto, quando expandimos os horizontes, há um mercado muito maior à disposição: são os bonds corporativos.
Bonds corporativos (ou “corporate bonds”) são títulos de renda fixa emitidos por empresas em moeda estrangeira e negociados no mercado externo, como nos EUA. Eles possuem condições predefinidas, como taxa de remuneração e prazo, e podem ser emitidos por uma ampla variedade de empresas de setores distintos. Ou seja, são comparáveis às debêntures que já conhecemos no mercado local.
Quais as diferenças entre o mercado local e o internacional?
Quase R$ 200 trilhões de títulos já emitidos
O mercado de renda fixa nos Estados Unidos, por exemplo, apresenta um grau de evolução significativamente maior do que o brasileiro. Para efeitos de comparação, o estoque combinado de títulos soberanos (emitidos pelo Tesouro americano) e corporativos ao final de março de 2024 somou US$ 37,8 trilhões (o equivalente a R$ 204,1 trilhões, considerando dólar a R$ 5,40). No mesmo período, a combinação dos títulos soberanos e emitidos por empresas no Brasil somou R$ 8,6 trilhões.
Se formos considerar apenas os títulos corporativos no mercado de capitais, os chamados “corporate bonds“, o estoque de ativos no Brasil atingiu R$ 1,4 trilhão em agosto de 2024 (cerca de 0,8% do mercado global). Já nos EUA, encerrou o mesmo período em US$ 10,9 trilhões (R$ 58,9 trilhões ou 32% do mercado global).
Volume de negociação diária também impressiona
Além de o mercado norte americano ser consideravelmente maior em termos de títulos já emitidos, a negociação realizada por investidores no mercado secundário também é volumosa. A média diária de bonds corporativos negociados nos EUA em 2024 atingiu R$ 270 bilhões.
No mercado brasileiro, no entanto, apesar da tendência de crescimento, a média diária chegou a somente R$ 2,0 bilhões no mesmo período (considerando-se debêntures, CRIs e CRAs), o que equivale a 0,8% do volume negociado no mercado norte americano.
A disparidade de tamanho impressiona, mas os números também indicam que existe grande potencial de crescimento do mercado de renda fixa corporativa internacional no Brasil, se tomarmos como base o país norte-americano. Enquanto isso, a boa notícia é que é possível também aproveitar este mercado mais desenvolvido na hora de investir.
Vale notar que todos os bonds são marcados a mercado. Ou seja, é possível acompanhar diariamente na carteira de investimentos quais são as condições atuais dos nossos títulos em caso de necessidade de venda antecipada (antes do prazo de vencimento).
Empresas brasileiras também têm bonds
Apesar de bonds serem títulos em dólar, não são apenas empresas dos EUA que podem emiti-los. Na verdade, algumas empresas brasileiras também possuem títulos de renda fixa negociados no mercado norte americano.
Os casos mais comuns são empresas exportadoras, cujas receitas – ou parte delas – são denominadas em dólares. Desta forma, conseguem uma proteção ao menos parcial contra a variação do câmbio sobre suas dívidas. Alguns exemplos de empresas brasileiras deste universo são: Petrobras, Vale, Embraer, Klabin, BRF, dentre outras.
Há também empresas sem operações fora do Brasil que optam por emitir no mercado externo devido a eventuais condições de mercado mais favoráveis do que as encontradas no ambiente interno no momento da emissão, como: Aegea, Rede D’Or, Movida, dentre outras.
Vale ressaltar que, em geral, são empresas de boa qualidade de crédito e que já são consolidadas no mercado que encontrarão interesse de investidores internacionais em seus títulos – o que restringe o universo de emissores brasileiros com acesso à emissão de bonds.
Quais são os riscos de investir em bonds?
Como falado anteriormente, bonds nada mais são do que títulos de renda fixa, muito semelhantes àqueles que já conhecemos aqui no Brasil. Desta forma, os riscos também são os mesmos: risco de crédito, risco de mercado, risco de liquidez e risco de reinvestimento.
Saiba mais sobre os riscos da renda fixa
- Risco de crédito: também conhecido como risco de “calote”, dependerá da qualidade de crédito da empresa emissora. É possível se informar sobre esta qualidade (e reduzir seus riscos) através dos ratings (leia mais na seção “Ratings” do presente relatório) e da leitura de relatórios de análise.
- Risco de mercado: é o risco de oscilações no preço do título como resultado de variações nas condições de mercado. Quando o risco de mercado sobe (e, portanto, as taxas), o preço desvaloriza e vice-versa. Quanto mais longo o título, maior sua sensibilidade a essas oscilações.
- Isso pode afetar a avaliação da carteira do investidor. Se o valor de mercado do bond cair, a rentabilidade percebida também diminuirá, mesmo que o investidor mantenha o título até o vencimento.
- Risco de liquidez: se refere à facilidade para negociações do título no mercado secundário. Um título com poucos compradores potenciais pode ser desvalorizado no momento de uma cotação de venda.
- Risco de reinvestimento: trata-se do risco que o investidor corre ao escolher prazos menores do que o horizonte de tempo dos seus objetivos, podendo deparar-se com taxas piores no momento da reaplicação dos recursos que recebe quando ocorre o vencimento dos seus títulos.
Ao compararmos os dois mercados (brasileiro e norte americano), é possível concluir que o risco de liquidez é menor nos EUA, devido ao volume de negociação superior – conforme demonstrado. Afinal, quanto mais investidores negociam títulos entre si, maior a probabilidade de que uma venda antes do vencimento no mercado secundário seja bem-sucedida.
Já os riscos de crédito, mercado e reinvestimento são mais relacionados a características próprias de cada emissão, como seu indexador, prazo e emissor – assim como no Brasil.
Há também, para investidores brasileiros que investem em bonds, um risco adicional: o risco cambial. Afinal, os títulos são denominados em dólares e, a depender da variação da moeda em relação ao real, pode haver perdas ou ganhos adicionais em relação ao esperado. Por outro lado, pode ser visto como uma proteção da carteira de investimentos, por ser uma moeda forte.
Ratings – identificando o risco de crédito
Assim como no mercado brasileiro, títulos internacionais e seus emissores também podem ser avaliados através de ratings. O rating é uma nota que uma agência classificadora de risco de crédito atribui a um governo, uma empresa ou emissão.
Clique aqui para saber mais sobre ratings e o processo de análise.
As três principais agências globais de classificação de risco são: Fitch Ratings, Moody’s, e S&P Global Ratings. Todas baseiam suas análises em metodologias próprias, que são disponíveis ao público em geral.
O rating é dado em forma de letras, que compõem uma escala que vai de ‘AAA’ (mais alto) a ‘D’ (calote). Apenas para referência, atualmente o rating soberano do Brasil é BB na Fitch e S&P Global e Ba1 na Moody’s. Já o dos EUA é AA+ na Fitch e S&P Global e Aaa na Moody’s.
O rating mede a capacidade e disposição da emissora honrar suas obrigações financeiras com os credores (investidores) em sua totalidade e na data esperada. Funciona assim: quanto maior o risco de não-pagamento (ou calote, também chamado de default), menor o rating e vice-versa.
High grade e high yield
De maneira geral, quando bonds possuem ratings abaixo do que é considerado “grau de investimento”, são chamados de “high yield” – notas BB+/Ba1 ou abaixo. Em português, o termo seria traduzido livremente para “alto rendimento”.
Devido à relação risco-retorno, é esperado que quanto mais baixo for um rating, mais alta seja a rentabilidade do título.
Portanto, ao escolher um título para investir, é preciso mais do que apenas se atentar à taxa oferecida. Rendimentos mais altos são indicativos de riscos mais elevados. Isto não é uma característica negativa por si só, mas deve estar adequada aos objetivos e perfil de investidor.
Vale notar, no entanto, que existe uma ampla gama de emissores de boa qualidade de crédito (e, portanto, ratings mais altos) no mercado de bonds, que podem ser interessantes para diferentes perfis de investidores ao compor uma carteira diversificada.
Os bonds e suas características
Interpretando um ticker
Os bonds possuem uma padronização em sua nomenclatura (ticker ou código de negociação), o que torna muito mais fácil a identificação de informações básicas do ativo, principalmente se compararmos às debêntures brasileiras.
Através do ticker, é possível saber quem é o emissor, o cupom e a data de vencimento do bond.
Nesse exemplo:
- “PETRA” é o emissor Petrobras;
- “6 1/4” é o cupom (juro semestral), ou seja, 6,25% a.a.; e
- “03/17/2026” é a data de vencimento, lembrando que o padrão é em inglês, que começa pelo mês (“MM/DD/AAAA”), e não pelo dia, como estamos acostumados (“DD/MM/AAAA”). Neste caso, a data de vencimento é 17 de março de 2026.
Como os bonds são precificados?
A precificação dos bonds é influenciada pela taxa de juros de referência (como a taxa dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos) e pelo spread de crédito, que reflete o risco adicional do emissor em relação ao título livre de risco.
Além disso, existe o book de compra e venda de bonds – assim como existe para ações negociadas na B3, por exemplo, que determinam as tendências de oferta e demanda. A relação entre esses fatores determina o preço do bond no mercado.
Em suma, podemos dizer que o preço de compra é a composição de dois fatores:
- (1) Juros acumulados: Variam de acordo com o tempo do último pagamento de cupom;
- Para encontrar o preço unitário sem juros acumulados, é necessário buscar pelo “Clean Price”.
- (2) Ágio/Deságio: Varia de acordo com condições de mercado, incluindo os fatores mencionados acima.
Desta forma, entre a data de aplicação e o vencimento, o preço unitário (PU) do papel varia diariamente, podendo resultar em ganhos (ágio) ou perdas (deságio). Ao longo do tempo, o preço a mercado converge para a curva conforme se aproxima do prazo final.
Assim como para qualquer investimento, além do preço, é imprescindível a compreensão do risco e do retorno associados aos bonds. Diferentemente dos títulos corporativos locais, os bonds possuem duas taxas de remuneração. Por isso, ao analisar o rol de papéis disponíveis para compra e prever o fluxo de caixa esperado com o investimento, é importante analisar ambas as taxas:
- a rentabilidade (“yield“), que é prefixada e oscila conforme a marcação a mercado, influenciando o preço de compra e venda antecipada do papel; e
- o cupom (taxa de emissão), que também é prefixado, mas é constante desde o momento da emissão, ou seja, não sofre os efeitos da marcação a mercado, e é o que serve de base para os pagamentos periódicos de juros, normalmente semestrais, apesar de ser apresentada ao ano (“a.a.”).
Os cupons dos bonds são calculados por juros simples, ou seja, os juros são pagos apenas sobre o valor do principal, e não sobre os juros acumulados. Tal fato permite uma maior previsibilidade do fluxo de caixa do investimento, conforme exemplo a seguir:
Recompra antecipada dos bonds
Outra característica inerente aos bonds é a possibilidade de recompra do papel, pelo emissor, antes da data de vencimento, o que pode alterar a rentabilidade esperada. Apesar de tal cláusula também existir nos títulos brasileiros, o seu exercício é menos comum por aqui.
Assim, para uma melhor análise da rentabilidade oferecida pelo bond, é importante entender os termos abaixo:
- YTW: Yield to Worst – é a taxa de retorno mínima esperada, caso o título seja resgatado antes do vencimento ou seja carregado até a data de vencimento.
- Utilizar o YTW como base ajuda os investidores a entenderem o pior cenário possível (sem considerar o risco de crédito da empresa emissora), garantindo uma visão mais conservadora e realista sobre a rentabilidade esperada do investimento.
- YTM: Yield to Maturity – é a taxa de retorno esperada de um título caso seja mantido até o vencimento.
- YTC: Yield to Call – é a taxa de retorno esperada de um título caso haja resgate antecipado.
- Call date: é a data em que pode ocorrer o resgate antecipado (recompra) do título pelo emissor, ou seja, ele pode “chamar” o bond antes da data de vencimento. Vale mencionar que os bonds podem ter mais de uma call date, e que se tratam de “direitos” – e não “obrigações” – do emissor, ou seja, um bond pode ser passível de resgatado antecipado (“callable“), mas não necessariamente acontecerá a recompra antes do vencimento.
Na plataforma XP, a rentabilidade exibida já considera a menor taxa de retorno (YTW) entre os cenários de carregar o título até a data de vencimento (YTM) e o de ocorrer a recompra antecipada do papel pelo emissor (YTC).
As taxas em diferentes cenários
Devido às oscilações de mercado, em alguns casos a rentabilidade prefixada pode atingir um patamar menor do que a do cupom semestral. Isso pode ocorrer devido à valorização do bond no mercado secundário, lembrando da relação inversamente proporcional entre taxa e preço. Assim, se o preço do bond subir, a rentabilidade (yield) diminui, mesmo que o cupom semestral permaneça constante.
Após o call date, o emissor tem o direito (e não a obrigação) de resgatar o título antes do vencimento. Este evento tem maior probabilidade de acontecer em momentos de queda da taxa de juros, permitindo que o emissor realize novas emissõesa cupons mais baixos. Por um lado, esse processo faz parte da gestão de passivos das empresas, conhecido em inglês como “liability management“. Por outro, pode afetar a rentabilidade do investidor.
Quais são os impostos sobre bonds?
Os bonds não são isentos de impostos. Portanto, investidores que investem em renda fixa no exterior precisam recolher Imposto de Renda (IR) no Brasil. De acordo com a Receita Federal, os rendimentos gerados por aplicações em títulos fora do Brasil são considerados ganhos de capital (o que inclui os cupons de bonds). Os cupons recebidos sobre os bonds deverão também ser tributados como ganho de capital.
A alíquota aplicada de imposto sobre esses ganhos dependerá da diferença entre o valor de compra e o valor de venda do Bond (ganho de capital). Desde maio de 2024, passou a valer a nova tributação para investimentos no exterior*, devendo ser aplicada a alíquota de 15% sobre o ganho de capital, conforme a tabela abaixo:
Tributação | Alíquota |
---|---|
Cupom | 15% sobre o ganho |
Venda ou vencimento do título | 15% sobre o ganho |
Vale destacar que o IR incide sobre o recebimento de juros e outras espécies de remuneração. Em relação aos ganhos, também deve ser considerada a variação cambial sobre o principal, seja no resgate na data de vencimento ou na venda das aplicações financeiras.
A apuração e o recolhimento de impostos deve ser feito pelo próprio investidor (ou seja, não está sujeito à retenção exclusiva na fonte como outros investimentos em renda fixa). De acordo com a Lei nº 14.754, de 2023, os rendimentos de aplicações financeiras no exterior devem ser submetidos à tributação anualmente, de forma separada dos demais rendimentos.
Por que escolher um bond e não uma debênture?
Ao se deparar com um mercado cada vez mais completo em termos de opções para investir, os investidores podem ter dúvidas do que escolher. Neste momento, sempre vale lembrar da importância da diversificação e de acompanhar recomendações de especialistas em relação à proporção ideal de classes de ativos na composição da carteira.
Dito isto, há alguns fatores positivos em relação a investimentos em bonds que podem ser levados em consideração.
A renda fixa internacional é emitida em dólar e, assim, possibilita uma proteção àquela parcela da carteira a partir de uma moeda forte. Além disso, por ser emitida levando-se em consideração as condições de mercado nos EUA, têm como base de remuneração os juros norte americanos e, assim, sua rentabilidade acompanha a taxa de juros americana. Outro ponto é a diversidade de emissores no mercado internacional, que é muito grande e envolve nomes de diversos países, o que permite encontrar títulos adequados a diferentes objetivos em termos de prazo e risco.
Quando pensamos apenas em emissores que possuem títulos tanto no mercado brasileiro quanto no norte americano, há um fator interessante: empresas que são consideradas como risco muito baixo no Brasil são, muitas vezes, vistas como “high yield” (veja mais na seção “High grade e high yield“) no mercado externo – afinal, somos um mercado emergente. Sendo assim, em determinadas situações, uma mesma empresa pode apresentar taxas de bonds mais atrativas do que as de suas debêntures.
Ao final, ambos possuem vantagens e riscos. O mais importante é sempre considerar seu perfil de investidor(a) e objetivos. E lembrar que o ideal é possuir uma carteira diversificada, que pode contar com diferentes tipos de ativos.
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