XP Expert

‘Furos’ no Teto de Gastos: a encruzilhada do governo à sombra do abismo fiscal

Entenda o atual dilema que tem exposto algumas divergências econômicas entre o governo e o Ministério da Economia

Compartilhar:

  • Compartilhar no Facebook
  • Compartilhar no Twitter
  • Compartilhar no Whatsapp
  • Compartilhar no LinkedIn
  • Compartilhar via E-mail

Após um período breve de arrefecimento das tensões políticas no cenário doméstico e a 15 dias do envio do Orçamento anual para 2021 ao Congresso, o foco volta-se, mais uma vez, para o palco político-econômico em Brasília. Como esperado, os principais atores são a equipe do ministro Paulo Guedes e suas decisões no âmbito fiscal, com uma conturbada articulação do governo.

Mais do que a “debandada” de secretários do Ministério da Economia, o que atraiu a atenção dos mercados nesta semana foi a discussão que circunda o contexto sob o qual as saídas aconteceram: a incerteza sobre a manutenção das regras fiscais a partir do ano que vem, em especial a do Teto de Gastos.

Teto de Gastos e a sombra do abismo fiscal

Em vigência desde 2016, o Novo Regime Fiscal limita o crescimento das despesas primárias do governo à inflação. Ou seja, o total de despesas, em termos reais, é congelado. Entretanto, o regime que ficou conhecido como Teto de Gastos não impede o crescimento de despesas individuais eventualmente acima da inflação, exigindo que o total de despesas não ultrapasse o devido “teto” medido pelo IPCA (apurado de julho a junho).

Essa briga não é nova, mas ganhou contornos mais fortes durante a crise provocada pela pandemia do coronavírus, em que o governo se viu obrigado a flexibilizar parte das normas fiscais vigentes, com o Orçamento de Guerra, e a alterar a rota de sua política econômica na direção de gastos emergenciais.

Os estímulos aprovados já somam mais de R$ 500 bilhões e devem elevar a relação dívida/PIB em 20 pontos percentuais no período de um ano, com a maior fatia direcionada ao pagamento do benefício mensal de R$ 600 a informais e desempregados. O Teto de Gastos segue em vigor mesmo neste ano, com o aumento de despesas sendo incorrido por meio de créditos extraordinários – classificados como de exceção e, portanto, excluídos do teto.

A encruzilhada de Brasília

O aumento de gastos neste ano apenas reforça o contexto de restrição orçamentária para 2021, impulsionando uma batalha que já se arrastava dentro do governo sobre escolhas para políticas econômicas no pós-pandemia. De um lado, Paulo Guedes tenta conduzir o governo de volta à agenda de reformas estruturais e de sustentabilidade fiscal – que dava apenas os primeiros passos com a aprovação da reforma da Previdência no ano passado.

Do outro, alguns ministros, como o do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, veem espaço para ampliar os investimentos em infraestrutura e emplacar uma agenda de aumento de gastos para além de 2020 como motor para a retomada.

E a disposição de Bolsonaro de pender para um lado ou para o outro que ganhou visibilidade nos últimos dias.Diante dessa indefinição, Guedes fez espécie de “apelo”, em entrevista ao lado do presidente da Câmara na última terça-feira, criticando os ministros “fura-teto” e dizendo que uma eventual irresponsabilidade fiscal poderia conduzir Bolsonaro ao impeachment.

A partir daí, tivemos três passos de Bolsonaro em sentidos contraditórios. No dia seguinte à entrevista, o presidente foi às redes sociais e fez um gesto em defesa do teto ao lado de ministros e dos presidentes da Câmara e do Senado. Na quinta-feira, em sua Live semanal nas redes sociais, no entanto, admitiu a disputa e sinalizou compreensão com os “ministros finalistas”, para mais uma vez ir às redes na manhã desta sexta-feira sinalizar que  “a responsabilidade fiscal e o respeito ao teto seriam o nosso norte”.

As idas e vindas e sinais em direções contrária são marcas do presidente não só nesse caso. No início de sua relação com o Congresso, não foram poucas as vezes em que acenos aos deputados e senadores eram desfeitos por postagens críticas à velha política nas redes sociais.

No caso atual, as contradições revelam a encruzilhada em que está o presidente, que sabe que precisa de Guedes como sinal de estabilidade acerca da agenda reformista e liberal a que casou sua campanha eleitoral, mas tomou gosto pela possibilidade de governar gastando. A leitura corrente sobre os números das pesquisas de popularidade — que atribuem ao auxílio emergencial parte dos bons resultados — vem reforçar esse dilema.

De maneira imediata, o governo encontrou uma solução intermediária. Decidiu abrir crédito de R$ 5 bilhões para obras de infraestrutura neste ano — o que ainda depende da superação de interpretações legais sobre a destinação dos recursos extraordinários — mas sem alterar previsão das regras fiscais no ano que vem. O cenário de restrição torna-se muito mais rígido a partir do ano que vem, quando, em teoria, retornam à vigência normal as normas fiscais como a Regra de Ouro e a exigência do cumprimento da meta fiscal. A batalha, então, deve seguir, principalmente depois do envio do Orçamento ao Congresso no final deste mês.

Os próximos capítulos

Para o futuro, o “plano perfeito” do governo é aliar as duas frentes: retomar discussões sobre a implementação de gatilhos para redução de despesas obrigatórias (como o congelamento de salários do funcionalismo e a vedação da criação de novos cargos e novas despesas obrigatórias), o que abriria espaço para o aumento de gastos com infraestrutura e o programa de transferência de rendas, sem necessidade de alteração ou efetiva ruptura no teto.

Tal solução poderia vir a ser avaliada positivamente por agentes de mercado, que já passam a precificar cenários alternativos para o ano que vem: aquele com ruptura do teto, quebra parcial ou manutenção. Como esperado, quanto mais longe do teto, piores se tornam as perspectivas para a trajetória do câmbio, bolsa e outros ativos no mercado brasileiro.

As resistências para implementação dessas medidas, no entanto, ainda são grandes no Congresso e dependem mais de vontade política vinda de dentro do Planalto do que das contas do time econômico. Essa não é a primeira vez que Paulo Guedes precisará forçar o avanço de sua agenda frente às alas políticas. A disputa tende a se desenrolar em um caminho que não está traçado em linha reta  — assim como o desfecho, que não deve pender só para um lado ou para o outro.

XPInc CTA

Se você ainda não tem conta na XP Investimentos, abra a sua!

XP Expert

Avaliação

O quão foi útil este conteúdo pra você?


Newsletter
Newsletter

Gostaria de receber nossos conteúdos por e-mail?

Cadastre-se e receba grátis nossos relatórios e recomendações de investimentos

Disclaimer:

Este material foi elaborado pela XP Investimentos CCTVM S/A (“XP Investimentos” ou “Companhia”) e não deve ser considerado um relatório de análise para os fins na Resolução CVM 20/2021. As opiniões, projeções e estimativas aqui contidas são meramente indicativas da opinião do autor na data da divulgação do documento sendo obtidas de fontes públicas consideradas confiáveis e estando sujeitas a mudanças a qualquer momento sem necessidade de aviso ou comunicado prévio. A Companhia não apoia ou se opõe contra qualquer partido político, campanha política, candidatos ou funcionários públicos. Sendo assim, XP Investimentos não está autorizada a doar fundos, propriedades ou quaisquer recursos para partidos ou candidatos políticos e tampouco fará reembolsos para acionistas, diretores, executivos e empregados com relação a contribuições ou gastos neste sentido. XP Investimentos e suas afiliadas, controladoras, acionistas, diretores, executivos e empregados não serão responsáveis (individualmente e/ou conjuntamente) por decisões de investimentos que venham a ser tomadas com base nas informações divulgadas e se exime de qualquer responsabilidade por quaisquer prejuízos, diretos ou indiretos, que venham a decorrer da utilização deste material ou seu conteúdo. Os desempenhos anteriores não são necessariamente indicativos de resultados futuros. Este material não leva em consideração os objetivos de investimento, situação financeira ou necessidades específicas de qualquer investidor. Os investidores devem obter orientação financeira independente, com base em suas características pessoais, antes de tomar uma decisão de investimento. Este relatório é destinado à circulação exclusiva para a rede de relacionamento da XP Investimentos, incluindo agentes autônomos da XP e clientes da XP, podendo também ser divulgado no site da XP. Fica proibida sua reprodução ou redistribuição para qualquer pessoa, no todo ou em parte, qualquer que seja o propósito, sem o prévio consentimento expresso da XP Investimentos.

Para os casos em que se usa o IPESPE:

Por fim mas não menos importante, a XP Investimentos não tem nenhuma conexão ou preferência com nenhum dos candidatos ou partidos políticos apresentados no presente documento e se limita a apresentar a análise independente coletada pelo Instituto de Pesquisas Sociais, políticas e econômicas (IPESPE) que se encontra devidamente registrado conforme a legislação brasileira.

A XP Investimentos CCTVM S/A, inscrita sob o CNPJ: 02.332.886/0001-04, é uma instituição financeira autorizada a funcionar pelo Banco Central do Brasil.Toda comunicação através de rede mundial de computadores está sujeita a interrupções ou atrasos, podendo impedir ou prejudicar o envio de ordens ou a recepção de informações atualizadas. A XP Investimentos exime-se de responsabilidade por danos sofridos por seus clientes, por força de falha de serviços disponibilizados por terceiros. A XP Investimentos CCTVM S/A é instituição autorizada a funcionar pelo Banco Central do Brasil.


Este site usa cookies e dados pessoais de acordo com a nossa Política de Cookies (gerencie suas preferências de cookies) e a nossa Política de Privacidade.