1. Dados econômicos mistos e incerteza fiscal nos EUA – Dados de inflação e atividade econômica nos Estados Unidos provocam volatilidade no mercado de treasuries
2. Sinais das eleições primárias às vésperas da Super-Terça – Julgamento de imunidade de Trump e votos democratas “uncommited” em Michigan são destaque às vésperas do dia mais importante das primárias
3. Alphabet: Uma imagem vale mais que mil palavras – Críticas ao novo produto de inteligência artificial do Google despontam e companhia volta atrás com -mais uma – funcionalidade
4. Apple: iCar abandona a corrida – Após 10 anos e cerca de US$ 10 bi gastos, Apple abandona projeto Titan
5. Bitcoin: Metade do dobro? – Bitcoin volta a bater US$ 60 mil na expectativa de um halving em abril
1. Dados econômicos mistos e incerteza fiscal nos EUA
Nesta semana, uma série de dados de inflação e atividade econômica nos Estados Unidos provocou volatilidade no mercado de treasuries. A segunda leitura do PIB dos Estados Unidos veio em linha com a primeira e mostrou avanço de 3,2% no 4º trimestre de 2023, indicando a continuidade da resiliência da economia americana mesmo em um cenário de juros elevados. A inflação medida pelo deflator do índice de preços das Despesas de Consumo Pessoal (PCE) – o indicador de inflação preferido pelo Federal Reserve – veio em linha com as expectativas, avançando 0,3% em janeiro, e acumulando alta de 2,4% em 12 meses. Apesar de em linha, as expectativas já vinham em alta devido às surpresas altistas nas últimas divulgações da inflação ao consumidor (CPI) e ao produtor (PPI). Uma preocupação importante é o componente de serviços, que apresentou uma forte alta no mês.
Por outro lado, uma série de dados de atividade econômica vieram levemente mais fracos, animando o mercado após a divulgação do deflator PCE. Índices de gerentes de compras da indústria, de emprego e de encomendas da indústria entraram ainda mais em terreno contracionista. Gastos com construção também caíram no mês, o sentimento do consumidor apresentou leve melhora, e expectativas de inflação medidas pela Universidade de Michigan se mantiveram estáveis (mas ainda consideravelmente acima da meta).
Esses sinais de desaceleração da economia, entretanto, não são o suficiente para a antecipar a expectativa do início do ciclo de cortes de juros nos EUA, que permanece em junho. Além do risco inflacionário e da necessidade de uma desaceleração mais tangível no mercado de trabalho, um risco relevante para a trajetória de juros é a existência de um impulso proveniente do fiscal.
Desde setembro do ano passado, paira sobre os Estados Unidos uma incerteza acerca do orçamento de 2024 e a possibilidade de um shutdown, processo que paralisa o governo americano. O Congresso americano já evitou a paralisação diversas vezes por meio de leis de stopgap, que postergam a decisão do orçamento. A última lei do tipo adiava parte das decisões para o dia 1º de março, e parte para 8 de março, e um novo acordo foi realizado nessa semana para estender o prazo para 8 de março e 22 de março, respectivamente. O novo adiamento é uma sinalização negativa quanto ao compromisso dos congressistas americanos com a trajetória fiscal do país em um ano eleitoral.
Com a divulgação de inflação mais aquecida, dados de atividade mais fracos que o esperado e incertezas fiscais, a semana foi volátil para as treasuries: a taxa de 10 anos encerrou a semana em 4,19% (contra 4,25% o fechamento da semana passada) tendo chegado a atingir 4,32% após a divulgação de dados de inflação na quinta-feira. Já a taxa de 30 anos encerrou a semana em 4,33%, (contra 4,37%), tendo atingido uma máxima de 5,10% na semana.
2. Sinais das eleições primárias às vésperas da Super-Terça
À medida que a Super-Terça (dia decisivo para as eleições primárias que nesse ano ocorre no dia 5 de março, saiba mais aqui) se aproxima, sinais advindos das pesquisas eleitorais e das últimas votações realizadas ficam em evidência.
Entre os Democratas, o presidente Joe Biden, que concorre praticamente como candidato único nas eleições primárias, sofreu onda de rejeição na votação de Michigan, quando membros do partido organizaram um voto de protesto ao apoio de seu governo a Israel no conflito contra o Hamas. Eleitores do estado, lar de uma grande população árabe-americana, foram incentivados a marcar suas “uncommited” (ou “sem compromisso”) em suas cédulas eleitorais. A quantidade de votos de protesto excedeu a expectativa dos organizadores, e é preocupante para a campanha de Biden, principalmente por Michigan ser um swing state, ou seja, estado sem afiliação partidária clara, que pode ser determinante na vitória das eleições em novembro.
Já do lado Republicano, o ex-presidente Donald Trump venceu por uma ampla margem as eleições primárias de Michigan e da Carolina do Sul contra Nikki Haley, ex-governadora deste último. Durante a corrida pela Carolina do Sul, Trump fez o mínimo necessário uma vez que as pesquisas e os resultados de outros estados já apontavam uma vitória tranquila. A vitória de Trump na Carolina do Sul indica que ele mantém um forte apoio entre a base trabalhadora do Partido Republicano, enquanto os eleitores de Haley, se concentram principalmente entre os republicanos mais educados e ricos, bem como entre os independentes e democratas que desejam bloquear o retorno de Trump. Apesar da derrota em seu estado, Nikki Haley não se retirou da corrida eleitoral, possivelmente aguardando uma decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos sobre a candidatura de Trump.
Para além da constitucionalidade da decisão da Suprema Corte do Colorado, que determinou que o nome de Trump ficaria fora das urnas das primárias republicanas do estado (que comentamos aqui), a Suprema Corte dos Estados Unidos julgará também a alegação de imunidade de Donald Trump contra processos criminais por tentar reverter sua derrota na eleição presidencial de 2020. A arguição oral do caso foi marcada para a semana de 22 de abril, e a questão julgada será “Até que ponto um ex-presidente desfruta de imunidade presidencial contra processos criminais por conduta alegada envolvendo atos oficiais durante seu mandato no cargo.”. Em um post na rede social Truth Social, Donald Trump declarou: “Sem imunidade presidencial, um presidente não será capaz de funcionar adequadamente ou tomar decisões no melhor interesse dos Estados Unidos da América. Os presidentes sempre estarão preocupados e até paralisados pela perspectiva de processos injustos e retaliação após deixarem o cargo. Isso poderia levar à extorsão e chantagem de um presidente.”.
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3. Alphabet: Uma imagem vale mais que mil palavras
Quando a OpenAI abriu a caixa de Pandora da inteligência artificial ao lançar para nós (meros mortais) o ChatGPT o mundo pode, finalmente, entender o porquê dos investimentos muitibilionários que as Big Techs estavam despejando no tema. Uma infinidade de aplicações e soluções do mundo corporativo (e contemporâneo) se mostrou viável e acessível (embora os GPUs da Nvidia não sejam nada baratos).
Uma empresa, em particular, viu-se ameaçada e pressionada a incorporar elementos de A.I. em seus produtos e liberar, para o público em geral, funcionalidades que antes estavam disponíveis apenas para um seleto grupo de colaboradores – a Alphabet, dona do Google.
Vendo seu principal produto, o motor de pesquisas, com risco de ser “disruptado” por concorrentes como o Bing, da Microsoft, fortalecido pela parceria com a OpenAI, formou-se uma força-tarefa para estancar a crise. E em fevereiro de 2023 veio a primeira resposta, com o lançamento do Bard. Sem muito sucesso e apresentando muitos erros, a ferramenta foi relançada em maio de 2023, prometendo maior acurácia. Em dezembro, mais uma mudança, o motor por trás da interface de AI da empresa foi reformulado e relançado sob o nome de Gemini prometendo ser superior ao GPT-4 da OpenAI.
Porém, nos últimos dias, mais um obstáculo no caminho do A.I. da Alphabet veio à tona: uma grande controvérsia envolvendo a geração de imagens de pessoas pelo Gemini. O modelo foi amplamente criticado por representar de forma imprecisa figuras e cenários históricos, em especial em relação à raça. Diversos exemplos desses erros foram compartilhados nas redes sociais, em especial no X/Twitter (controlado por Elon Musk e seus 174 milhões de seguidores, que não poupou críticas à Alphabet e promoveu sua própria A.I. Grok).
Em resposta às críticas, a Alphabet decidiu por suspender a geração de imagens envolvendo pessoas, o que não foi suficiente pra estancar as críticas, que foram direcionadas para outros produtos da companhia em busca de erros e vieses em seus resultados/respostas. Os questionamentos não se contiveram às redes sociais e chegou em Washington DC, onde o senador republicano JD Vance, aliado do ex-presidente e pré-candidato Donald Trump, pediu o desmantelamento da companhia alegando “controle monopolista da informação”.
As ações da Alphabet (GOOG) fecharam a semana em queda de 5%, na contramão do mercado (SPY +1% e QQQ +2%), refletindo a incerteza quanto ao futuro do seu produto de A.I., as chances de boicotes à companhia e, possivelmente, uma maior regulação e/ou tributação nos próximos anos. No ano, as ações se juntam a Apple (-6,6%) e Tesla (-18,4%) como Big Tech no território negativo ao ceder -2%.
4. Apple: iCar abandona a corrida
Desde 2014 a Apple vem trabalhando secretamente (mas nem tanto) em iniciativas voltadas para a concepção de desenvolvimento de um veículo elétrico. Internamente chamado de Projeto Titan, a empresa de tecnologia do Vale do Silício atraiu diversos talentos de montadoras tradicionais como Ford, Mercedes e outras.
Inicialmente o foco do Projeto Titan era desenvolver um carro 100% elétrico, porém, com o surgimento de concorrentes como Tesla e BYD, o direcionamento foi alterado para que o grande diferencial do “iCar” fosse a capacidade de direção autônoma.
Frente às dificuldades de desenvolvimento (o que torna a história de Elon Musk na Tesla ainda mais impressionante) e as mudanças constantes de direção do projeto, nesta semana a Apple decidiu encerrar o Projeto Titan. Fontes afirmam que cerca de 200 funcionários serão desligados e o restante será realocado para outras áreas, em especial nos projetos envolvendo A.I. Estima-se que, ao longo desses últimos 10 anos, a empresa tenha gastado cerca de US$ 10 bilhões no projeto.
A decisão de abandonar a ideia de ser uma montadora de veículos vem num momento em que a companhia tem lutado para crescer. Após 4 trimestres consecutivos de queda de receita (no comparativo anual), a Apple conseguiu crescer 2,1% a receita no 4º trimestre de 2023 devido, principalmente, às vendas mais fortes de iPhones no Japão e na Europa, algo que não deve se sustentar nos próximos trimestres. As grandes apostas para retomar a trajetória de crescimento ficarão a cargo do novo óculos de realidade mista, Vision Pro, e das ainda não reveladas iniciativas de A.I.
No ano, as ações da Apple refletem as preocupações com o crescimento futuro e caem cerca de 6,5%. Um desempenho bastante inferior ao índice S&P 500 (+7,8%) e ao setor de tecnologia (+9,5%). Mesmo com a underperformance, os múltiplos seguem acima da média histórica, com o índice Preço/Lucro por volta das 26,3x.
5. Bitcoin: Metade do dobro?
O ano de 2024 definitivamente será um marco significativo no mundo das criptomoedas com a criação dos Fundos Negociados em Bolsa (ETFs) de Bitcoin. Os reguladores dos EUA aprovaram o lançamento desses ETFs em janeiro de 2024 e essa aprovação abriu uma nova avenida para o acesso dos investidores ao Bitcoin com uma estrutura de ETF regulamentada. Os ETFs forneceram um mecanismo que permitiu que instituições de grande porte ganhassem exposição ao Bitcoin. Alguns dos ETFs mais populares, administrados pela Grayscale, Fidelity e BlackRock, viram os volumes de negociação dispararem, indicando um aumento definitivo no interesse.
Após a aprovação dos ETFs, a criptomoeda sofreu perdas e seu preço em dólares, que havia ultrapassado os 47.000 na expectativa dos novos produtos, chegou a romper os 40.000 em queda de mais de 15%. Porém, a correção teve vida curta. Desde então o BTC já sobe quase 60% em pouco mais de um mês e supera os 62.000!
A alta coincide com a antecipação um evento conhecido como halving (reduzir pela metade, em inglês), esperado para abril. O halving é um processo de diminuição (pela metade) das recompensas de blockchain pagas em Bitcoin aos mineradores por validar transações e criar novos blocos no blockchain. Este processo ocorre após 210.000 blocos ou, aproximadamente, a cada 4 anos e têm como objetivo limitar a oferta de moedas e criar valor de escassez.
Esses eventos, no passado, foram catalisadores de altas significativas e estimulam a especulação antes do fato, em especial agora, com a facilidade do acesso à criptomoeda de Satoshi Nakamoto* via os novos produtos listados em bolsa.
*fonte: duvidosa