Em nossas carteiras recomendadas de alocação (“carteiras por perfil“), definimos mensalmente os percentuais sugeridos para investimento por classe de ativo de acordo com cada política de investimentos, sendo que cada política, por sua vez, tem um objetivo de risco (volatilidade) e um horizonte de investimento.
A partir do mês de julho, reduzimos o número de carteiras de 7 para 5, em linha com a redução das políticas de investimentos de 8 para 6. Lembrando que a política Ultra, a que não tem limite de pontos de risco, é a única que não possui uma alocação específica sugerida através de uma carteira.
O objetivo dessa mudança é simplificar a escolha de qual política melhor atende aos objetivos dos clientes, não perdendo a capacidade de personalizar o nível de risco que se pretende correr, dentro de um determinado horizonte de investimento.
Abaixo as alocações sugeridas por classe de ativo para cada política de investimentos para o mês julho de 2023:
Esses percentuais de alocação por classe de ativo tem um componente estrutural, com base em retornos esperados de longo prazo (3 a 5 anos) e são revisados ao menos a cada 12 meses. Entretanto, uma outra parcela dessa alocação pode ter um componente tático, de curto e médio prazos, olhando para 3 a 6 meses a frente e que são revisados e sugeridos mensalmente com base nas discussões do Comitê de Alocação.
Essas perspectivas de alocação por classe de ativo de curto e médio prazos podem apresentar 3 qualificações possíveis:
- Positiva – sugere uma sobrealocação para aquela classe de ativo em relação ao percentual definido
- Neutra – sugere uma alocação em linha para aquela classe de ativo, ou seja, igual ao percentual definido
- Negativa – sugere uma subalocação para aquela classe de ativo em relação ao percentual definido
Perspectivas de alocação por classe de ativo
Entramos na segunda metade de 2023 com uma visão mais construtiva para Brasil. Refletimos isso nas carteiras recomendadas nos últimos meses com as perspectivas de curto/médio prazo saindo de “Neutra” para “Positiva” primeiro em Renda Fixa Prefixada no mês de junho (veja aqui) e agora, no mês de julho, em Renda Variável brasileira.
Na tabela abaixo estão as perspectivas de alocação por classe de ativo de curto e médio prazos para o mês de julho de 2023:
Comentários gerais por classe de ativo
RENDA FIXA LOCAL
Pós-fixado – CDI médio dos próximos 12 meses deve rodar entre 12,5% e 12,0%, o que ainda garante mantermos a maior parcela da renda fixa local nesse indexador nas carteiras de menor risco (Precavida e Cautelosa). Apesar disso, buscamos evitar concentração excessiva em ativos que rendem puramente Selic ou 100% do CDI. Nas carteiras de mais risco equilibramos ainda mais a alocação em renda fixa pós-fixada com os demais indexadores (prefixado e IPCA+).
Prefixado – foi ganhando maior exposição nas carteiras no 2º trimestre de 2023 por identificarmos cada vez mais um cenário a frente favorável para esse tipo de investimento, que são os de proximidade de afrouxamento monetário e maiores chances de uma inflação mais baixa e mais controlada. Ou seja, diferente do que muita gente pensa, aumento de alocações em prefixados normalmente devem ser realizados quando existe uma visão mais construtiva para o Brasil, como estamos agora e culminam não só em uma visão positiva para classe, mas também mais um aumento marginal na exposição das carteiras. A título comparativo, nos últimos três períodos de estabilidade da Selic antecedentes a um ciclo de queda (2011, 2015 e 2018), os investidores que fizeram aportes em títulos prefixados em algum desses anos, sem resgatar, tiveram sua rentabilidade maior do que 150% do CDI após 2 anos, em média, considerando a marcação a mercado os papéis. Destacamos que os prêmios estão cada vez menores nos vencimentos até 2026, mas que continuam sendo nossa predileção por conta dos riscos associados ao prefixado muito longo.
Inflação – é o indexador predileto para renda fixa nas carteiras de mais risco (Energética e Destemida). Historicamente, alocações em IPCA+ nos períodos de estabilidade da Selic e que antecederam ciclos de queda de juros, como o que se aproxima, possuem maior probabilidade de obter rentabilidades acima do CDI em prazos superiores a 2 ou 3 anos principalmente quando as taxas dos títulos são adquiridas acima de IPCA + 5%. Com a redução dos riscos extremos ligados ao cenário fiscal brasileiro, estamos mais construtivos com vencimentos acima de 2030, principalmente para alocação com visão de longo prazo.
Crédito Privado – a redução na percepção de risco vem permitindo uma normalização nos mercados primário e secundário e consequente fechamento dos spreads de crédito tanto para emissões em CDI+ e IPCA+. Esse ambiente tem sido mais favorável ao desempenho dos títulos (bancários e privados) e, consequentemente dos fundos de crédito privado, que inclusive já apresentaram menores fluxos de resgates. De qualquer forma, as palavras de ordem seguem sendo seletividade, diversificação/pulverização e monitoramento para exposições em crédito privado.
RENDA FIXA GLOBAL
Rendimentos (yields) das Treasuries seguem subindo, principalmente nos vencimentos mais curtos (até 2 anos), o que tem trazido boas oportunidades para investimentos em títulos públicos e privados (bonds), sem necessidade de alongar demasiadamente prazos. Assim como no mercado local, a seletividade e diversificação seguem sendo importantes, uma vez que os juros devem se manter altos por mais tempo, impactando de forma bastante distinta emissores de diferentes setores e segmentos da economia e em diferentes geografias. Não temos visto ainda aberturas relevantes nos spreads de crédito, mesmo dos títulos high yield e de mercados emergentes, mas esse risco vai se tornando maior nos meses à frente, com empresas sendo cada vez mais pressionadas por altos custos de empréstimos e encargos de dívida cada vez mais onerosos.
Nesse ambiente, a busca por gestores de renda fixa/crédito globais pode ser um caminho para obter retornos atrativos com maior diversificação de estratégias e pulverização de carteira. Vale destacar que a classe de ativo segue apresentando correlação de curto prazo positiva em relação à renda variável global, mas ainda tem comportamento distinto da renda fixa brasileira, ajudando na diversificação de riscos da parcela de renda fixa como um todo.
MULTIMERCADOS
São o primeiro passo para os investidores que possuem exposição somente em renda fixa e querem começar a diversificar a carteira, tomar mais risco e buscar retornos superiores de médio/longo prazo. Nesse 2º trimestre de 2023 identificamos um aumento no nível de risco alocado pelos gestores dos fundos em comparação ao começo de ano, com destaque para algumas das posições mais comuns entre eles como (i) vendidos em dólar versus real; (ii) comprados em ouro; (iii) tomados em Treasury 2 anos (apostando na sua alta); (iv) aplicados na Treasury 10 anos (apostando na sua queda) e; (v) vendidos em bolsa americana. E é principalmente essa última posição que tem afetado negativamente a performance de curto prazo dos multimercados, especialmente os Macro.
Sobre o Brasil, existe um menor pessimismo ou até algum otimismo, o que fez vários deles reduzirem ou zerarem posições vendidas na bolsa brasileira, ficando neutros ou levemente comprados. A recente melhora de desempenho na bolsa brasileira e ativos de risco locais foi mais bem capturada pela parcela de fundos sistemáticos/quantitativos e Long & Short da carteira. Seguimos privilegiando gestores Macro, mas com uma importante diversificação através de fundos sistemáticos/quantitativos e Long & Short.
RENDA VARIÁVEL LOCAL
A combinação de taxas de juros nominais e reais mais baixas, maior visibilidade em relação aos gastos fiscais e melhores perspectivas para a atividade econômica no Brasil vem trazendo um tom mais otimista para os ativos brasileiros, inclusive para a renda variável. As principais altas recentes têm sido nos setores mais sensíveis às taxas de juros e que vinham sofrendo bastante até poucos meses atrás: Educação, Construtoras e Varejo. Essas altas vêm refletindo inclusive na melhora do desempenho dos fundos de ações das nossas carteiras que possuem maior exposição exatamente a esses papéis que são mais sensíveis aos juros.
Entendemos que, mesmo com o rally mais recente, os ativos brasileiros seguem baratos em relação aos seus pares globais, sem contar que ainda há uma importante sublocação em ações brasileiras por parte de alguns investidores, como os fundos multimercados locais, pessoas físicas e fundos de pensão. Por esse motivo resolvemos alterar esse mês a perspectiva da classe para positiva, aumentando também a exposição sugerida nas carteiras. Riscos existem, mas os principais parecem estar mais controlados ou postergados: descontrole fiscal, recessão global e maiores impactos por conta da reforma tributária que, se por um lado pode afetar negativamente no micro pontualmente alguns setores, por outro lado, no macro, pode impactar positivamente a produtividade e o crescimento do Brasil. Dito isso, vemos espaço para o Brasil seguir indo bem no curto/médio prazo, tanto em termos absolutos, quanto no relativo global.
RENDA VARIÁVEL GLOBAL
A “tão aguardada” recessão da economia dos EUA parece estar cada vez mais sendo empurrada para frente, talvez para meados de 2024, mas com um mercado imobiliário passando por grandes desafios, produção industrial americana contraindo e estimativas de lucro das empresas também em queda com margens apertadas, fica difícil imaginar que a maior economia do mundo conseguirá escapar de uma recessão, mesmo que branda e não tão duradoura, antes de retomar o caminho do crescimento.
As bolsas americanas parecem ainda ignorar esses dados e estão em bull market técnico, com altas acima de 20% desde o seu piso mais recente. É sabido que quase toda essa alta está concentrada em alguns poucos papéis dos setores de tecnologia e comunicações do S&P500 e Nasdaq, principalmente os que se favoreceram da tese de Inteligência Artificial. Esse rally da maioria das bolsas globais na primeira metade de 2023 só reforça a nossa tese de que sempre se faz necessária a exposição à renda variável global como diversificação de um portfólio completo, mesmo que com posições menores quando as perspectivas são mais negativas, pois aquele investidor que tenha zerado suas posições em bolsas globais no pânico de saber sobre uma possível recessão nos EUA desde o ano passado, perdeu altas expressivas que poderiam ter contribuído de forma pouco correlacionada ao desempenho dos seus ativos brasileiros.
Portanto, pelos motivos citados acima, além dos preços das ações cada vez mais caros na sua maioria, políticas monetárias ainda precisando de algum aperto adicional ou de mais tempo para fazerem efeitos nos países desenvolvidos, temos uma perspectiva de curto prazo ainda bastante desafiadora para as ações globais e por isso, mantivemos não só baixa exposição à renda variável global nas carteiras, como sugerimos uma sub alocação, principalmente para investidores de curto prazo. Quanto à exposição regional, seguimos mais construtivos com Mercados Emergentes, onde o Brasil se destaca.
ALTERNATIVOS
Seguimos construtivos com as teses mais ilíquidas e de longo prazo via fundos de Private Equity, Venture Capital, Infraestrutura, Crédito Estruturado e Situações Especiais, pois apresentam maior relação com a economia real e menor correlação com outros ativos financeiros. Além disso, em um cenário global mais complexo, com uma provável recessão a frente e sem a abundância de liquidez de outros tempos, o capital privado, seja via ações (Private Equity e Venture Capital) ou via dívida/crédito, pode representar uma alternativa para as empresas captarem recursos, favorecendo a originação de bons ativos e/ou lançamentos de novos produtos.
Entretanto estudos sobre os resultados da jovem indústria de fundos alternativos do Brasil mostram que mais do que nas outras classes de fundos líquidos, a escolha do gestor e dos fundos alternativos corretos faz toda diferença entre estar no 1º quartil com ótimos resultados, comparáveis até mesmo aos pares globais, e obter resultados medíocres ou até negativos. Portanto a diligência para a escolha dos produtos para esse tipo de alocação deve ser detalhada.
Em investimentos temáticos, através de instrumentos mais líquidos, ainda temos uma visão construtiva para ativos reais, como fundos imobiliários de tijolos, além de commodities, principalmente energéticas e agrícolas, transição energética e tecnologia.
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