Em nossas carteiras recomendadas de alocação (“carteiras por perfil“), definimos mensalmente os percentuais sugeridos para investimento por classe de ativo de acordo com cada política de investimentos, sendo que cada política, por sua vez, tem um objetivo de risco (volatilidade) e um horizonte de investimento.
Abaixo as alocações sugeridas por classe de ativo para cada política de investimentos para o mês de dezembro de 2023:
Esses percentuais de alocação por classe de ativo tem um componente estrutural, com base em retornos esperados de longo prazo (3 a 5 anos) e são revisados ao menos a cada 12 meses. Entretanto, uma outra parcela dessa alocação pode ter um componente tático, de curto e médio prazos, olhando para 3 a 6 meses a frente e que são revisados e sugeridos mensalmente com base nas discussões do Comitê de Alocação.
Essas perspectivas de alocação por classe de ativo de curto e médio prazos podem apresentar 3 qualificações possíveis:
- Positiva – sugere uma sobrealocação para aquela classe de ativo em relação ao percentual definido em cada carteira
- Neutra – sugere uma alocação em linha para aquela classe de ativo, ou seja, igual ao percentual definido em cada carteira
- Negativa – sugere uma subalocação para aquela classe de ativo em relação ao percentual definido em cada carteira
Perspectivas de alocação por classe de ativo
Alguns dos destaques do mês:
- Para prazos muito curtos, menores a 12 meses, o pós fixado ainda continua atrativo na renda fixa local, porém para prazos médios e mais longos, a perspectiva é que ele vá apresentando menor ganho real (acima da inflação);
- Visão ainda construtiva para os papéis de crédito privado, principalmente para carrego (levar até o vencimento), porém os spreads em CDI e IPCA parecem começar a entrar em um regime de acomodação;
- A renda fixa global segue sendo a nossa classe de ativo internacional predileta, sendo que no atual estágio do ciclo monetário, começamos a ficar mais confortáveis em ir adicionando alguma duration a essa exposição, especialmente via Treasuries ou fundos de gestão ativa;
- Vemos esse estágio do ciclo como positivo para as ações brasileiras à medida que finalmente caminhamos pra sair de níveis de juros tão restritivos. Com um macro ainda turbulento à nossa frente, atrelado a valuations atrativos, acreditamos que não é necessário tomar muito risco para obter bons retornos na bolsa brasileira;
- Nas teses de investimentos alternativos ilíquidos, temos uma visão construtiva para crédito estruturado, que geralmente apresenta riscos maiores e/ou mais complexos, porém possuem camadas de proteções, com garantias adicionais ou senioridade na estrutura, que tornam o equilíbrio de risco x retorno mais atrativo.
Na tabela abaixo estão as perspectivas de alocação por classe de ativo de curto e médio prazos para o mês de dezembro de 2023:
Comentários gerais por classe de ativo
RENDA FIXA LOCAL
Pós fixado – o CDI caminha para fechar o ano perto dos 13,3% enquanto a inflação medida pelo IPCA deve terminar perto de 4,5%, o que representará um rendimento real perto dos 8,5% ao final de 2023. Para o próximo ano, no cenário mais conservador, com a Selic terminando 2024 em 10%, o CDI médio deverá acumular algo como 10,5% com um IPCA projetado de 3,9%. Nesse cenário, o ganho real já deverá cair para 6,3% em 2024, o que ainda é um patamar elevado se pensarmos que os títulos de inflação para vencimentos próximos ao final do ano que vem e começo de 2025 estão com taxas perto de IPCA + 5,9% e os prefixados com 10,4%. Em suma, para prazos muito curtos, menores a 12 meses, o pós fixado ainda continua atrativo, porém para prazos médios e mais longos, a perspectiva é que ele vá apresentando menor ganho real (acima da inflação).
Inflação – o processo desinflação vem se consolidando nos últimos meses e o IPCA vem se estabilizando entre 4 e 5% no período de 12 meses. Enquanto isso, a inflação implícita, por mais que também venha se acomodando no geral, ela ainda está acima do IPCA projetado por nós. No curto prazo, os riscos de choques inflacionários parecem estar controlados, entretanto o principal vetor de preocupação no longo prazo para a inflação no Brasil é a nossa política fiscal. Dito isso, mesmo com fechamentos de taxas relevantes no último mês, ainda vemos prêmios interessantes dos títulos de inflação médios e longos, com vencimentos até 2035.
Prefixado – as taxas dos títulos públicos prefixados já vinham comprimidas principalmente para os vencimentos que temos mais conforto em assumir posições (até 2027). Esse cenário ficou ainda mais apertado após o rali nos preços dos títulos no mês de novembro, com o fechamento da curva dos DIs. Nesse contexto, aproveitamos para reduzir marginalmente a exposição a essa classe, mantendo uma exposição neutra se comparada ao seu histórico uma vez que os prêmios estão bem reduzidos. Sugerimos cautela em novas alocações nessa classe, pois os pontos de entrada em taxas atrativas deverão ser cada vez mais oportunísticos, principalmente quando o mercado volta a embutir mais prêmio nas taxas tanto dos títulos públicos quanto nos spreads dos títulos bancários e privados.
Crédito Privado – os spreads de crédito em IPCA e CDI estão ainda em níveis mais elevados que as médias dos últimos anos, porém parecem começar a entrar em um regime de acomodação. Não vemos gatilhos para que apresentem grandes fechamentos no curto prazo, o que não invalida uma visão ainda construtiva para os papéis de crédito privado, principalmente para carrego (levar até o vencimento).
RENDA FIXA GLOBAL
Com um retorno esperado elevado principalmente quando ajustado ao risco, a renda fixa global segue sendo a nossa classe de ativo internacional predileta. Nosso foco continua em fundos, títulos e bonds de alta qualidade, com predileção pelos títulos públicos, mas também pelos títulos corporativos americanos, que tenham resiliência para atravessar um ciclo de aperto monetário como o atual. Inclusive, no atual estágio desse ciclo, começamos a ficar mais confortáveis em ir adicionando alguma duration a essa exposição, especialmente via Treasuries ou fundos de gestão ativa, calibrando para que o prazo médio desses títulos ou dos fundos de renda fixa global, não estejam muito acima de 3 a 4 anos.
Mesmo assim, a preferência ainda é pelas Treasuries e TIPs de vencimentos mais curtos, uma vez que as taxas desses títulos estão maiores do que as de vencimentos mais longos, porém os riscos de reinvestimento vão se ampliando com o passar do tempo, a medida que as curvas futuras dão sinais de acomodação e até um fechamento mais recente.
MULTIMERCADOS
Por mais contraintuitivo que possa parecer, em um ano em que a mediana dos fundos multimercados deverá fechar abaixo do CDI, a perspectiva de alocação nessa classe segue positiva para os meses a frente por alguns motivos, sendo o principal deles a de que os Multimercados, quando bem selecionados e na exposição correta a cada perfil de risco, aumentam o retorno esperado das carteiras, reduzindo a sua volatilidade pela sua baixa correlação com as principais classes de ativos (renda fixa e renda variável). Em momentos como o atual, extremamente volátil, no qual o regime de correlação entre algumas classes de ativos parece ter mudado, diversificar os riscos das carteiras através dos Multimercados se faz ainda mais relevante.
RENDA VARIÁVEL LOCAL
O panorama de 15 anos do Ibovespa mostra que, fundamentalmente, as ações brasileiras ainda estão baratas mesmo com o forte rali recente. Olhando para os múltiplos de Preço/Lucro, Preço/Valor Patrimonial, EV/EBITDA, vemos que esses indicadores negociam abaixo de suas médias históricas de longo prazo. Além disso, o Prêmio de Risco e o Dividend Yield também estão acima de suas médias; enquanto o ROE (retorno sobre patrimônio) negocia acima da média dos últimos 15 anos apesar de juros em dígitos duplos.
Ainda estamos pelo menos na metade de um ciclo de corte de juros no Brasil e vemos esse estágio do ciclo como positivo para as ações brasileiras à medida que finalmente caminhamos pra sair de níveis de juros tão restritivos. Se acreditarmos que os bancos centrais globais estão mais próximos de falar em cortes de juros do que em altas, isso ainda deverá tirar um pouco da pressão para manter a taxa Selic em níveis elevados e, consequentemente, ajudar os ativos de risco brasileiros como as ações.
Com um macro ainda turbulento à nossa frente, atrelado a valuations atrativos, acreditamos que não é necessário tomar muito risco para obter bons retornos na bolsa brasileira.
RENDA VARIÁVEL GLOBAL
Reiteramos a necessidade da diversificação com ativos de renda variável internacional para a composição de uma carteira otimizada e com perfis de risco x retorno mais atrativos. Porém, para tomarmos mais risco em renda variável global, em um momento em que o Fed mantem sua taxa básica de juros no maior patamar em 22 anos (5,5% a.a.), precisaríamos ver maiores retornos esperados para as ações, pois eles estão, no geral, abaixo dos retornos da renda fixa americana, por exemplo, especialmente quando ajustados ao risco.
Dito isso, seguiremos defensivos nas alocações em ações internacionais, prezando por maior diversificação global, sem grandes sobrealocações em nenhum país ou região, quando comparadas ao principal índice global (MSCI ACWI). No micro, ainda privilegiando setores mais defensivos, empresas com baixo beta, múltiplos atrativos e com teses que tenham menos cíclicas.
ALTERNATIVOS
A exposição ao segmento de shoppings e galpões logísticos via fundos imobiliários segue relevante, pois ainda capturam os efeitos positivos dos cortes da taxa Selic e de uma menor sensibilidade aos riscos globais, que seguem elevados, quando comparados a outros ativos de risco com características de renda variável como as ações.
Nas teses de investimentos alternativos ilíquidos, temos uma visão construtiva para crédito estruturado, que geralmente apresenta riscos maiores e/ou mais complexos, porém possuem camadas de proteções, com garantias adicionais ou senioridade na estrutura, que tornam o equilíbrio de risco x retorno mais atrativo. Existem indícios também que podemos estar vivendo uma janela importante e atrativa de originação de ativos de créditos estressados (distressed), bem como de direitos creditórios decorrentes de ações judiciais (legal claims) que podem ser encontrados em fundos de Situações Especiais (Special Situations), principalmente considerando o período de baixa liquidez e política monetária restritiva que vivemos recentemente e que ainda deve perdurar por pelo menos mais alguns meses.
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