Em nossas carteiras recomendadas de alocação (“carteiras por perfil“), definimos mensalmente os percentuais sugeridos para investimento por classe de ativo de acordo com cada política de investimentos, sendo que cada política, por sua vez, tem um objetivo de risco (volatilidade) e um horizonte de investimento.
Abaixo as alocações sugeridas por classe de ativo para cada política de investimentos para o mês de janeiro de 2024:
Esses percentuais de alocação por classe de ativo tem um componente estrutural, com base em retornos esperados de longo prazo (3 a 5 anos) e são revisados ao menos a cada 12 meses. Entretanto, uma outra parcela dessa alocação pode ter um componente tático, de curto e médio prazos, olhando para 3 a 6 meses a frente e que são revisados e sugeridos mensalmente com base nas discussões do Comitê de Alocação.
Essas perspectivas de alocação por classe de ativo de curto e médio prazos podem apresentar 3 qualificações possíveis:
- Positiva – sugere uma sobrealocação para aquela classe de ativo em relação ao percentual definido em cada carteira
- Neutra – sugere uma alocação em linha para aquela classe de ativo, ou seja, igual ao percentual definido em cada carteira
- Negativa – sugere uma subalocação para aquela classe de ativo em relação ao percentual definido em cada carteira
Perspectivas de alocação por classe de ativo
Alguns dos destaques do mês:
- Mesmo com o IPCA mais recente em patamar menor do que vimos nos últimos 2 anos, tornando o carrego menos atrativo, é importante manter uma parcela considerável de títulos e/ou fundos atrelados à inflação para proteção contra seu efeito ao longo do tempo, especialmente considerando a imprevisibilidade em relação à sua trajetória em prazos mais longos, podendo se beneficiar de retornos ainda maiores por conta da marcação a mercado em cenários de corte da Selic, como o atual;
- Nessa fase do ciclo econômico brasileiro, a dispersão dos spreads entre setores e papéis deve seguir elevada, exigindo bastante seletividade na escolha dos papéis aos quais se estará exposto, sendo que esse papel pode ser delegado a um gestor de fundos de crédito, ainda mais em um cenário em que os fechamentos dos spreads de crédito parecem estar mais limitados, com os carregos desses spreads sendo a aparente melhor estratégia;
- Em Multimercados, seguimos com um portfólio privilegiando gestores Macro, mas com uma boa diversificação em estratégias Long & Short e Quantitativos, além dos multimercados globais, que atualizamos para uma visão neutra em termos de perspectivas, com os quais buscamos estratégias pouco encontradas na indústria local de fundos;
- A Renda Fixa Global segue sendo a classe de ativos internacional predileta com retornos ajustados ao risco ainda bastante atrativos, seja para alocação via fundos, títulos ou bonds de alta qualidade. Inclusive, a preferência também advém da opcionalidade, que a renda variável não apresenta, da renda fixa global poder obter um bom desempenho no caso do cenário alternativo de uma recessão da economia americana, que causaria um provável fechamento mais abrupto na curva de juros dos EUA.
Na tabela abaixo estão as perspectivas de alocação por classe de ativo de curto e médio prazos para o mês de janeiro de 2024:
Comentários gerais por classe de ativo
RENDA FIXA LOCAL
Pós fixado – Mesmo com a Selic ainda bastante elevada em 2023, os títulos públicos ou bancários que seguiram a rentabilidade de até 100% do CDI perderam no acumulado do ano para os retornos dos papéis prefixados e híbridos (IPCA+). É bem verdade que mesmo assim os ativos pós fixados tiveram ganhos reais, acima da inflação, bastante representativos no ano, com volatilidade quase zero. Dito isso, com a recente atualização do nosso valor estimado para a Selic terminal em 2024 para um valor consideravelmente mais baixo (9,0%), o retorno esperado de curto/médio prazo para essa classe ficou menor, tendendo a perder um pouco de espaço nas carteiras de perfil moderado e agressivo, mas ainda sendo a maior exposição nas carteiras de perfil conservador, com horizontes de investimentos mais curtos, principalmente para reserva de emergência e/ou gestão de caixa.
Inflação – Em nosso cenário base, esperamos que a inflação medida pelo IPCA fique um pouco abaixo dos 4% nos próximos 2 anos. De qualquer forma, vale dizer que historicamente, na maioria das vezes, a inflação é subestimada no Brasil, ou seja, as projeções costumam errar para baixo, com o IPCA acabando maior do que o projetado. No cenário atual, o principal vetor de preocupação no longo prazo para a inflação no Brasil seria a nossa política fiscal. Por isso, enxergamos que, mesmo com o IPCA mais recente em patamar menor do que vimos nos últimos 2 anos, tornando o carrego menos atrativo, é importante manter uma parcela considerável de títulos e/ou fundos atrelados à inflação para proteção contra seu efeito ao longo do tempo, especialmente considerando a imprevisibilidade em relação à sua trajetória em prazos mais longos, podendo se beneficiar de retornos ainda maiores por conta da marcação a mercado em cenários de corte da Selic, como o atual.
Prefixado – Apresentaram retornos ajustados ao risco bastante atrativos em 2023 impulsionados pelo início do ciclo de corte de juros e que, na continuidade desse movimento de queda da Selic, devem ainda trazer ganhos de marcação a mercado. O novo cenário de Selic ainda mais baixa do que estimávamos anteriormente para o final desse ciclo de afrouxamento monetário, agora em 9%, pode trazer no curto prazo pontos de entrada mais atrativos para papéis desse indexador, sem a necessidade de alongamento excessivo dos vencimentos, por conta dos riscos fiscais.
Crédito Privado – uma queda de mais de 4% na taxa básica de juros, que está vindo dos 13,75%, e um considerável fechamento dos spreads de crédito em CDI e em IPCA (incentivado) desde os seus picos nos primeiros meses de 2023, são e serão ingredientes fundamentais para a normalização do mercado de crédito nos meses a frente, com as empresas enfrentando melhores condições para reequilibrar a capacidade de pagamento das suas dívidas. De qualquer forma, nessa fase do ciclo econômico brasileiro, a dispersão dos spreads entre setores e papéis deve seguir elevada, exigindo bastante seletividade na escolha dos papéis aos quais se estará exposto, sendo que esse papel pode ser delegado a um gestor de fundos de crédito, ainda mais em um cenário em que os fechamentos dos spreads de crédito parecem estar mais limitados, com os carregos desses spreads sendo a aparente melhor estratégia.
RENDA FIXA GLOBAL
Mesmo com o recente fechamento das taxas dos títulos americanos e dos principais países desenvolvidos, a renda fixa global, principalmente a americana, segue sendo a classe de ativo internacional predileta com retornos ajustados ao risco ainda bastante atrativos, seja para alocação via fundos, títulos ou bonds de alta qualidade. Inclusive, a preferência também advém da opcionalidade, que a renda variável não apresenta, da renda fixa global poder obter um bom desempenho no caso do cenário alternativo de uma recessão da economia americana, que causaria um provável fechamento mais abrupto na curva de juros dos EUA.
Seguimos cautelosos com grandes exposições a ativos mais risco (high yield) e ao aumento demasiado de duration até mesmo pelos títulos e fundos menos arriscados e mais “curtos” em prazo médio dos papéis já estarem com retornos esperados muito bons.
MULTIMERCADOS
Os últimos meses do ano de 2023 trouxeram um alívio ao retorno recente da classe, principalmente para os fundos Macro. As posições favoráveis aos ativos de risco brasileiros de grande parte dos gestores foram as principais contribuições aos retornos positivos, com a alta de bolsa, valorização do real e fechamento dos juros reais por aqui. Adicionar estratégias pouco correlacionadas entre si e com as demais posições das carteiras, adicionando maior expectativa de retorno, sem necessariamente adicionar risco (volatilidade), é o grande papel desses fundos, que têm um perfil mais tático e utilizam de diferentes instrumentos para extrair resultados dos mercados locais e globais.
Seguimos com um portfólio privilegiando gestores Macro, mas com uma boa diversificação em estratégias Long & Short e Quantitativos, além dos multimercados globais, que atualizamos para uma visão neutra em termos de perspectivas, com os quais buscamos estratégias pouco encontradas na indústria local de fundos.
RENDA VARIÁVEL LOCAL
Mantemos uma visão construtiva para as ações brasileiras. Acreditamos que os fluxos podem continuar a ser fortes em 2024 devido a: 1) valuation ainda bastante descontado em diversas métricas; 2) a continuidade dos fluxos estrangeiros e o retorno dos investidores domésticos; e 3) o fato do ciclo de flexibilização monetária estar em pleno vapor.
O Brasil tem se destacado como um mercado que vêm superando as expectativas de crescimento, uma trajetória de políticas econômicas melhor do que esperado e um baixo risco geopolítico, o que o torna “um porto seguro em meio à tempestade”. Em termos de política monetária a economia brasileira está bastante à frente dos seus pares globais, o que tende a favorecer o desempenho para os ativos de renda variáveis locais como as ações.
Os principais riscos envolvem a dinâmica fiscal doméstica e a macroeconomia global.
RENDA VARIÁVEL GLOBAL
Muitas das razões que justificavam as visões mais negativas para as bolsas globais em 2023 seguirão presentes em 2024. Com uma relativa persistência da inflação nos países desenvolvidos mantendo os banqueiros centrais ainda em alerta, especialmente num ambiente em que o mercado de trabalho segue aquecido e pressionando preços de serviços, as taxas de juros devem seguir elevadas, a não ser que o mundo entre rapidamente em uma recessão econômica.
Essa visão cautelosa é reforçada em um cenário em que temos a continuação do processo de aperto quantitativo (quantitative tightening) pelo Fed e a consequente diminuição da liquidez do sistema que ele causa. Soma-se a isso a diminuição da poupança acumulada das famílias e a necessidade crescente de refinanciamentos a taxas de juros mais elevadas, tanto por parte das empresas quanto das pessoas físicas. Tudo isso num ambiente no qual os governos têm dificuldades em justificar os aumentos nos seus déficits fiscais para estimular as economias e as projeções de crescimento começam a cair.
Reforçamos que a visão negativa para renda variável global significa ter exposições menores do que as médias históricas para a classe, especialmente olhando para horizontes mais curtos. Mesmo assim, os portfólios de perfil moderado e agressivo seguem tendo exposição não desprezíveis à essa classe de ativo.
ALTERNATIVOS
Seguimos tendo preferência por alocações em investimentos ilíquidos nessa classe através de fundos de Private Equity, Venture Capital ou até mesmo Crédito Estruturado e Situações Especiais, tendo o cuidado de diversificar os gestores dos fundos, as “safras” e , se possível, diversificar geograficamente também. Entretanto, sabemos que alguns estudos sobre a indústria de fundos alternativos do Brasil mostram que mais do que nas outras classes de fundos líquidos, a escolha do gestor e dos fundos corretos faz toda diferença entre estar no 1º quartil com ótimos resultados, comparáveis até mesmo aos pares globais, ou obter resultados medíocres ou até negativos. Portanto a diligência para a escolha dos produtos para esse tipo de alocação deve ser minuciosa.
Em investimentos alternativos líquidos, nos quais buscamos teses temáticas e/ou táticas através de instrumentos, ainda temos uma visão construtiva para ativos reais, como os fundos imobiliários de tijolos, além de transição energética, tecnologia, entre outros. Vale ressaltar que nesse mês passamos a ter uma visão mais negativa para exposições direta a commodities em geral, principalmente pelo atual momento do ciclo econômico de desaceleração global.
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