Sabemos quão desafiador está sendo investir em ativos e fundos no exterior, mas o investidor experiente não olha a rentabilidade passada, mas sim, olha para frente buscando entender qual o valor dos ativos atualmente e julga as melhores oportunidades e os gestores em diferentes momentos de mercado.
Visando nunca perder as oportunidades que a diversificação proporciona, apresentaremos nessa série “Onde estão investindo os multimercados globais”, fundos de grandes gestoras no exterior que possuem estratégias complementares as carteiras de investimentos no Brasil.
Os históricos apresentados nesses relatórios são curtos, pois por uma questão de regulamentação, apenas podemos mostrar o histórico do retorno no Brasil e não o histórico do veículo que cada um deles compra cotas no exterior. Serão cinco episódios, sendo o terceiro sobre o fundo BlackRock Global Event Driven.
Conheça a gestora
A BlackRock é a maior empresa de gestão de ativos do mundo. Fundada nos Estados Unidos em 1988, possui sede em Nova York. Hoje a empresa administra um patrimônio líquido acima de 7.9 trilhões de dólares. A BlackRock hoje está presente em mais de 38 países, no quais possui mais de 70 escritórios e 16 mil funcionários.
A estratégia BlackRock Global Event Driven tem um patrimônio líquido de aproximadamente R$ 300 milhões no Brasil, e a que o mesmo acessa no exterior, o BSF Global Event Driven Fund possui cerca de 4,5 bilhões de dólares. Conheça a seguir mais detalhes da equipe de gestão das estratégias de Event Driven.
A equipe de gestão
Mark McKenna – Fundador e Chefe Global das Estratégias de Event Driven
Mark McKenna, Managing Director, fundador e chefe global das estratégias de Event Driven, é responsável por gerenciar os esforços de investimento direcionados a eventos corporativos da BlackRock. Antes de ingressar na BlackRock em 2014, o Sr. McKenna foi Managing Director da Harvard Management Company (HMC) e cofundadora do fundo orientado a eventos da HMC. De 2004 a 2009, o Sr. McKenna foi Gerente de Portfólio da estratégia orientada a eventos na Caxton Associates, LLC. Antes de Caxton, o Sr. McKenna passou cinco anos na Salomon Smith Barney como vice-presidente em fusões e aquisições onde ele aconselhou mais de US$ 100 bilhões em mudanças corporativas. Antes da pós-graduação, o Sr. McKenna serviu como Tenente da Força Submarina Nuclear da Marinha dos Estados Unidos. O Sr. McKenna obteve um MBA, com distinção, pela New York University e um B.E. em elétrica engenharia do New York Maritime College.

Mark McKenna é o gestor responsável pelas decisões do portfólio. Apoiado por três gerentes, o núcleo de gestão é segmentado em três: execução, time de investimentos e estratégia de produtos. Os gerentes de portfólio são responsáveis pelo fornecimento de ideias, análises e diligência, trabalhando em conjunto com McKenna. Além disso, a equipe sênior de investimentos é apoiada por 8 analistas.
BlackRock Global Event Driven FIC FIM IE
O fundo BlackRock Global Event Driven busca obter um retorno absoluto positivo para os investidores, independentemente dos movimentos do mercado.
A estratégia tem um patrimônio líquido de aproximadamente 300 milhões de reais no Brasil, e a que o mesmo acessa no exterior, o BSF Global Event Driven Fund possui cerca de 4 5 bilhões de dólares. Para efeitos de performance o fundo tem como benchmark ICE BofAML 3 MO US Treasury Bill índice projetado para medir o desempenho dos títulos do Tesouro dos EUA com vencimento em 0 a 3 meses, apesar de apresentar baixa correlação com o mesmo. Não possui target de retorno e volatilidade. No Brasil foi lançado em 2019, no exterior em 2015.

Enquanto os mercados globais tiveram um ano desafiador, a estratégia, desde seu início apresenta uma rentabilidade de 22,82% contra o CDI que variou 21,29% para o mesmo período. Com aplicação inicial mínima de R$10.000,00 e resgates em D+1 corridos (liquidação 5 dias úteis depois), sua taxa de administração é de 0,90% ao ano no Brasil.
Por dentro das estratégias de Event Driven
Se tratando de um multimercado global, o fundo busca oportunidades de investimento baseadas em eventos corporativos que abrangem um amplo espectro que incluem: fusões e aquisições anunciadas, ofertas de empresas, spin-offs e split-offs, reestruturações financeiras e estratégicas, mudanças de gestão, entre outros. Tem como foco geográfico os mercados desenvolvidos e investe predominantemente em ações e títulos vinculados a ações.
Em termos de alocação o fundo busca uma exposição média de 70% em ações, podendo investir o saldo remanescente em renda fixa. O uso de derivativos na posição do fundo é realizado tanto em posições compradas quanto vendidas, buscando maximizar retornos através da diversificação. O fundo também pode investir até 10% do seu patrimônio em títulos Distresseds.
Dentro de seu mandato, o fundo conta com a flexibilidade para realizar ajustes de posições de acordo com as condições de mercado. Essa flexibilidade também está presente na exposição cambial da estratégia que pode variar. A busca por assimetrias é realizada através de uma abordagem fundamentalista do tipo bottom up (partindo do cenário macro para o cenário micro), buscando descorrelação tanto com os mercados de ações quanto os de crédito. O controle de riscos é realizado através de processos de hedge, utilizando uma tecnologia proprietária para este gerenciamento.
Em relação ao horizonte de investimento de cada alocação, esta varia de acordo com os catalizadores da estratégia. Dentro do horizonte de 6 a 24 meses estão os catalizadores de mudanças estruturais, reestruturação e mudanças de gestão. Esses englobam empresas que estão passando por fusões, aquisições, cisões, reestruturação, mudanças de diretoria entre outros. Com um horizonte de 6 a 18 meses estão os catalizadores de longo e curto prazo, relacionados ao valor absoluto e relativo da companhia. Fusões e aquisições anunciadas, que estão relacionadas às transações e compradores estratégicos, possuem um horizonte de 2 a 18 meses.
Eventos específicos da empresa entram no portfólio com um horizonte de 2 a 12 meses. Já para operações em arbitragens especificas, o horizonte é de 2 a 6 meses. Novas ofertas e emissões possuem um horizonte de 1 a 6 meses dentro da carteira do fundo.
Em relação ao processo de investimento, Mark McKenna gestor principal da estratégia tem autoridade final na tomada de decisão de alocação do fundo. São 5 etapas no total: geração de ideias, pesquisa profunda e due diligence, avaliação proprietária, cobertura e monitoramento do investimento.
O portfolio conta com cerca de 30 a 60 ideias ou estratégias de investimentos, sendo que uma “ideia” pode ser composta por vários títulos. O fundo também pode utilizar derivativos em suas operações como opções, swaps, futuros, credit default swats (CDS) entre outros, com o objetivo de gerenciar a carteira com eficiências. Os derivativos são utilizados tanto para proteção da carteira quanto para potencializar as oportunidades de geração de alfa.
A exposição comprada do fundo pode variar entre 100% a 150%. Em relação objetivo de volatilidade, o fundo não busca um específico, mas espera-se uma volatilidade entre 4% e 6% ao ano.
Qual alocação atual do fundo?
O Fundo permanece investido predominantemente na América do Norte, diversificado por setor e capitalização de mercado. Apesar da alocação visada em mercados desenvolvidos em momentos de alta queda nesses mercados o fundo tem se demonstrado mais reseliente, por meio da estratégia que consegue navegar esses diferentes cenários. Um bom exemplo foi a maior volatilidade experimentada nos mercados de ações e crédito durante o segundo trimestre, o conjunto de oportunidades parece ter reajustado e se tornado cada vez mais atraente para a estratégia. Em 30 de setembro de 2022, o breakdown por estratégia é 47% eventos hard, 41% soft e 12% em crédito. Os principais eventos investidos são os negócios entre a Parker Hannifin / Meggitt, TD Bank / First Horizon e NortonLifeLock / Avast.
Promotores e detratores de performance do fundo nos últimos 12 meses.
Os últimos meses foram muitos difíceis para os ativos internacionais, sejam eles de renda variável ou fixa. Segundo os gestores, mesmo em meio as turbulências relacionadas à inflação, subida dos juros americanos, possível recessão global e conflitos geopolíticos, o portfólio se comportou em linha com as expectativas para um “período de estresse” do mercado. Apesar da volatilidade significativamente maior do mercado, a volatilidade do fundo está em conformidade com os seus intervalos históricos.
Enquanto no nosso acompanhamento de fundos mensala média dos multimercados globais com hedge, ou seja, sem exposição ao dólar, teve retorno de -1,06% nos últimos 12 meses*, o BlackRock Global Event Driven FIC FIM IE acumulou um retorno de 5,2% no mesmo período.
O maior promotor foi o livro de eventos mais concretos (hard), impulsionado por resultados peculiares positivos como o recebimento das principais aprovações regulatórias em vários investimentos de alta convicção e a conclusão bem-sucedida de algumas outras transações de fusão.
O maior detrator foi o livro de eventos menos concretos (soft) devido a movimentos irracionais associados a redução do risco de muitos fundos de ações long&short. Segundo os gestores, as empresas mais alavancadas, com maior complexidade e sensibilidade econômica foram pressionadas durante o período, criando e expandindo nichos de ações mal precificadas.
O livro de eventos de crédito também foi marginalmente detrator em um período muito sensível para os mercados de renda fixa, que sofreu tanto com o aumento dos juros quanto o aumento dos spreads, ou seja, a diferença entre da taxa do papel e de um título público de mesmo prazo.
Qual a visão da BlackRock sobre o cenário atual?
Eventos corporativos ocorrem em mercados de alta, baixa e voláteis, permitindo que a estratégia obtenha oportunidades e gere retornos consistentes e absolutos em todos os ciclos de mercado. De qualquer forma, o time de gestão acredita que os eventos recentes criaram uma oportunidade significativa. Segundo eles, pela primeira vez nos últimos 10 anos, todos os três pilares de portfólio orientados a eventos (mais concretos, menos concretos e de crédito) estão com oportunidade bem atrativas, sendo um dos mais atraentes já sinalizados.
No livro de eventos mais concretos, mais especificamente em fusões e aquisições, as operações têm taxas de retorno atrativas com cerca de expectativa de retorno de 25% ao ano (TIR). Bancos e fontes privadas de crédito continuam a fornecer financiamento para fusões, e as transações continuam sendo fechadas normalmente. O aumento das preocupações regulatórias associadas ao novo governo americano, que poderia ser um fator negativo para a estratégia, diminuiu, pois, as autoridades antitruste nos Estados Unidos perderam quatro ações consecutivos de fusão nos tribunais nos últimos meses.
Em relação ao livro de eventos menos concretos, o mais prejudicado pelas distorções do mercado, conforme citado acima, apresentam as oportunidades mais atraentes da última década, uma vez que os ativos sofreram de forma indiscriminada e com menos justificativas microeconômicas e específicas de cada empresa.
Por último, a visão da gestora em relação ao livro de crédito, a menor parcela de risco do fundo, também está bem positiva. Segundo eles, os mercados de crédito estão entrando em um dos períodos mais dinâmicos para os investidores desde a Grande Crise Financeira. A oportunidade está sendo impulsionada por muitos fatores, sendo os três mais importantes: (i) as taxas reais de retorno mudaram estruturalmente de negativa para positiva; (ii) o retorno hoje está mais coerente com o risco dos ativos; (iii) existem melhores cláusulas e proteções nas dívidas. Embora ainda haja incerteza, acreditam que o conjunto de oportunidades de crédito se tornou altamente atraente, compensando inclusive a incerteza do mercado e da inflação.