Ao lidar com crises, experiência conta e muito. Para debater sobre a pandemia do Coronavírus, convidamos duas casas com décadas de atuação, JP Morgan Asset Management e Pimco, que já passaram por muitos acontecimentos e crises ao redor do mundo para entender o que pensam sobre a pandemia do Coronavírus.
Em live exibida no dia 30 de Março, nosso especialista de fundos, Fabiano Cintra, debateu com Gabriela Santos, Estrategista de Mercados Globais do JP Morgan Asset Management e Luis Oliveira, Vice-Presidente Executivo da Pimco, as perspectivas da crise causada pela pandemia do Covid-19, qual a eficácia das medidas tomadas pelos Bancos Centrais mundo afora e o cenário do crédito global.
Crise mundial sem precedentes, medidas sem precedentes
Segundo Gabriela Santos, os mercados demoraram a entender que o Coronavírus não era um fenômeno restrito somente à China ou a alguns territórios asiáticos. Entretanto, a propagação global do vírus, o ritmo de contágio nos EUA, Europa e agora América Latina aumentou de forma extremamente rápida, fazendo com que estes países também tivessem de tomar medidas de isolamento social como forma de evitar o colapso dos sistemas de saúde. Com a adoção destas medidas restritivas, porém necessárias, ocorreu um choque que já está causando uma recessão global.
Uma vez que esta é uma crise diferente das anteriores, os Bancos Centrais de todo o mundo, cada um em sua proporção, lançaram o maior pacote de medidas econômicas da história como forma de tapar o “rombo” que o Covid-19 vem apresentando para a economia global. Gabriela argumenta, entretanto, que as medidas dos Bancos Centrais e as medidas fiscais que estão sendo tomadas pelos Governos não possuem como efeito principal estimular a economia imediatamente, mas sim ajudar os países a superarem os efeitos da crise após passado o período de lockdown.
Mesmo assim, a estrategista-chefe explica que as medidas foram muito importantes para corrigir alguns problemas imediatos na Renda Fixa, pois este mercado passou a apresentar alta volatilidade e preços com pouca referência devido à falta de liquidez. Com isso, muitos Bancos Centrais ao redor do mundo passaram a prover a necessária liquidez à Renda Fixa e já foi possível observar na última semana uma volta à normalidade dos preços destes ativos.
Gabriela ressaltou também que, devido ao tamanho das medidas que estão sendo implementadas pelos diferentes países, será necessário aumentar o endividamento público como forma de financiar esses programas. Com isso, a equipe do JP Morgan analisa que as economias emergentes podem ter um rebaixamento de seu risco-país, uma vez que a demanda por seus títulos de crédito não é tão alta e recorrente quanto a de economias desenvolvidas. Pelo mesmo motivo, as economias desenvolvidas não devem ser tão impactadas em seu risco-país e provavelmente não terão seu rating rebaixado.
Outro ponto importante destacado pela estrategista é que, com cenários em que muitas economias desenvolvidas possuem taxas de juros próximas ou iguais a zero e com economias em lockdown, o efeito dos juros não é muito significativo em um primeiro momento como uma medida de estímulo à economia. Com isso, tanto o Federal Reserve quanto o Banco Central Europeu tiveram de ser criativos e iniciaram diversos programas de compra de ativos de Renda Fixa, além de empréstimos diretos para pequenas e médias empresas, como forma de corrigir anomalias no mercado de crédito.
Gabriela reiterou também que o principal desafio é saber a duração do lockdown nas economias globais. As estimativas da equipe do JP Morgan são que a economia terá uma recuperação em forma de U, na qual o primeiro semestre de 2020 será de queda forte na economia, seguido por um segundo semestre estagnado e recuperação intensa no ano de 2021.
Por fim, a equipe do JP Morgan ressalta que a forte alta do dólar ocorrida recentemente se deve principalmente a dois fatores: uma procura por ativos mais fortes e tidos como porto-seguro pelos investidores (fenômeno chamado de flight to quality) e falta de liquidez da moeda no mercado. Devido à volatilidade do mercado, a estrategista acredita que este movimento de alta da moeda deve se manter por um tempo, mas com menos intensidade devido aos esforços do Federal Reserve de prover liquidez de dólar nos mercados.
Já existe alguma crise de crédito globalmente?
Para Luis Oliveira, as medidas financeiras anunciadas pelos Bancos Centrais e Governos de todo o mundo, chamadas popularmente de bazucas financeiras, tiveram como objetivo prover liquidez para o mercado e, principalmente, restaurar a confiança dos investidores. A Pimco também acredita que a recessão terá recuperação em formato de U, mas com visão levemente mais otimista que o JP Morgan, uma vez que, segundo a gestora, a recuperação da economia se iniciaria no último trimestre de 2020.
Com relação ao crédito, a Pimco não acredita que há uma crise , mas ressalta que já vem tomando posição mais defensiva no crédito privado desde Dezembro de 2019 devido principalmente a alguns fatores:
- Empresas estavam com valuation muito caro e investidores não estavam sendo remunerados de forma adequada ao risco.
- Volume muito alto de emissões de crédito privado principalmente em economias desenvolvidas, nas quais após a crise de 2008 ficou muito barato emitir dívida.
- Piora do grau de investimentos das empresas no geral.
- Diminuição da liquidez do mercado devido a regulações impostas no mercado financeiro após a crise de 2008.
Mesmo com a posição mais defensiva, Luis ressalta que, devido à pandemia do Covid-19, já é possível observar algumas ótimas oportunidades no mercado de crédito. O mercado já tem projetado taxas de default (chance de não pagamento dos títulos) muito mais altas do que de fato foram vistas em crises anteriores, criando oportunidade de compra em alguns títulos devido à queda que tiveram em seus preços.
De acordo com o executivo, a distorção dos preços que tem sido vista no mercado de crédito no momento é reflexo principalmente de falta de liquidez (muitos investidores precisando se desfazer de posições vendendo seus ativos e pouca demanda para absorver estes títulos), principalmente para os títulos de crédito de alta qualidade. Mesmo assim, segundo perspectivas da gestora, algumas empresas tidas como high grade, terão um rebaixamento de rating para high yield e algumas empresas high yield apresentarão default (vão deixar de honrar com suas obrigações).
Em cenários de incerteza, a gestora tende a priorizar títulos de países desenvolvidos, setores não cíclicos e papéis investment grade. Em termos de setores, tem visto com bons olhos os setores de tecnologia, energia elétrica, torres de transmissão, farmacêuticos e supermercados. Ao mesmo tempo, com os efeitos da crise sendo muito fortes nestes setores, a gestora vê com pontos de atenção alguns setores tais como aéreas, turismo, petróleo, setor automotivo, varejo e setores químicos.
Neste cenário, a Pimco ressalta a necessidade de se ter uma gestão ativa em crédito, fazendo um contato próximo às empresas emissoras de dívida e contando com a expertise nas teses de investimentos.
Lições de crises passadas
Diferentemente de 2008, os Bancos Centrais aprenderam a agir de forma muito rápida na reação às crises globais. A ação coordenada global destas instituições como forma de atenuar os impactos na economia não mediu esforços econômicos e, segundo Luis, desta vez é muito capaz que o sistema financeiro atue como uma das soluções da crise.
A figura de um gestor que faça uma gestão ativa é ainda mais importante em um cenário de crises, pois este se posiciona e enxerga oportunidades no longo prazo que requerem recursos e experiência para atravessar por momentos turbulentos.
E, principalmente, é importante manter a calma neste momento e, ao mesmo tempo, ficar atento a oportunidades raras de compra nos diferentes ativos. Gabriela e Luis ressaltaram a importância de se ter uma diversificação global e prestar atenção nos diferentes movimentos das economias mundiais.
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