Semanalmente, aos sábados, um novo episódio do Outliers é divulgado nos agregadores de podcasts. Até aí, sem novidades. As boas novas são que os episódios passarão a ser transmitidos também em vídeo no Youtube da XP e que o time de analistas da XP passará a cobrir esses episódios para depois publicar um relatório, como esse, que se aprofunda mais ainda em informações e detalhes sobre a gestora e/ou sobre o(s) fundo(s) discutido(s) em cada episódio. Nosso objetivo é ir mais fundo para ajudá-lo na análise desses produtos, por isso apresentamos o “Indo a Fundo no Outliers”.
Aproveitaremos a grande qualidade dos assuntos abordados e escolheremos um para analisarmos a fundo. No caso desta versão discorremos com mais detalhes sobre o fundo Jive XP Bossa Nova High Yield Advisory FIC FIM. Mas é impossível ir a fundo neste sem explicarmos com mais detalhes o mundo dos ativos de crédito em dificuldade ou de baixa qualidade creditícia, os chamados Distressed Credit.
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Investimentos alternativos: Distressed Credit
Um mercado financeiro saudável, vibrante e em constante evolução tem invariavelmente como um dos pilares os Investimentos Alternativos. Como o próprio nome sugere, esses investimentos se apresentam como uma “alternativa” aos investimentos tradicionais como, por exemplo, ações e renda fixa.
O mercado de distressed debt, que pode ser chamado de dívida em recuperação, é uma modalidade de investimento alternativo que oferece ao investidor exposição a crédito (dívida) de empresas maduras, em geral de capital fechado, em fase de reestruturação financeira ou que estão passando por dificuldades, mas que pretendem iniciar um processo de transformação e assim voltar a gerar valor para seus investidores.
O Brasil é um país onde empreender é muito difícil, estando na 124ª posição no ranking global Doing Business em 2020, e, por conta disso, podem existir inúmeras razões para uma empresa passar por dificuldade financeira. Essa dificuldade pode ser traduzida em endividamento excessivo, quebra de obrigação contratual com os atuais credores, passivo jurídico elevado, contexto regulatório, falência da empresa-mãe (holding) entre outros. Nesse sentindo, os investidores em distressed debt em geral procuram uma situação em que as empresas estão em dificuldade financeira, mas que já tenham um modelo de negócio de sucesso, onde uma eventual reestruturação pode equacionar as questões e recolocá-la nos “trilhos” novamente.
Obviamente, esse processo não é simples, tampouco fácil, ainda mais no Brasil. Contudo, é exatamente por conta da relação risco-retorno que é possível vislumbrar taxas de retornos atrativas para essa classe.
O retorno esperado para essa classe de investimento é elevado, rodando pelo menos entre 20 e 25% ao ano, afinal, caso o gestor tenha avaliado corretamente uma oportunidade, investindo estrategicamente na dívida e se envolvendo em um processo muitas vezes complexo e moroso associado a reestruturação empresarial de uma empresa problemática, é esperado que exista um alto retorno sobre seu investimento que justifique esse risco e trabalho.
Os investimentos em distressed debt, em geral, são feitos por meio de gestoras especializadas que selecionam as teses de investimento e que tem profundo conhecimento dos mecanismos jurídicos associados a recuperação judicial e lei falimentar. Essas gestoras buscam gerar valor por meio de contribuição no processo estratégico e financeiro das empresas, eventualmente promovendo acesso de capital, reestruturação societária, consultoria jurídica entre outras iniciativas.
Essa modalidade sempre foi muito desafiadora no Brasil, pois:
- O custo de capital para remunerar o risco desses investimentos sempre foi muito alto no país, em especial pelo nosso histórico de taxa de juros alta;
- Na ótica no investidor estrangeiro, o risco país já é elevado. O risco de uma empresa com problemas, em um país que já possui risco elevado, historicamente “espantou” capital estrangeiro;
- Requer uma expertise do time de gestão muito específica de lei falimentar local e finanças corporativas, o que é difícil de encontrar.
Em suma, essa modalidade desfruta de taxa de retorno elevada que, por consequência, está associada ao maior risco desse investimento. As principais vantagens de investir em dívida em recuperação são:
- Os credores têm preferência nos recebíveis da empresa em caso de falência sobre os acionistas;
- Possibilidade do gestor negociar cláusulas de “kicker” nas dívidas. Esse mecanismo ajuda o investidor a se beneficiar de uma eventual recuperação da performance operacional da empresa;
- No Brasil, a recuperação de crédito é de ~15% do valor investido (14,6 centavos a cada 1 real investido) em caso de insolvência. Como base de comparação, na América Latina esse valor é aproximadamente 30%, enquanto em mercados desenvolvidos é de 70%. A despeito desse fator aumentar o risco jurídico do investimento no Brasil, esse contexto beneficia o investidor em distressed debt, pois aumenta o seu poder de barganha para negociar cláusulas novas e/ou comprar as atuais dívidas com bastante desconto.
A Jive Investments
Foi fundada em 2010 para adquirir uma carteira de créditos inadimplidos da Lehman Brothers, que foi à bancarrota em 2008. Após a falência nos diversos países em que operava, a Jive se aproveitou do leilão dos ativos do banco no Brasil e comprou uma estrutura que possuía, dentre outros ativos, uma carteira de créditos vencidos. Foi uma experiência riquíssima, pois esta carteira era composta por companhias com diversos níveis de inadimplência – falidas, em recuperação judicial, que estavam só passando por alguma dificuldade, etc -, de diferentes setores, regiões e tamanhos. A receita dos fundos da Jive é proveniente das recuperações que ela consegue nesses ativos.
Entre 2015 e 2020 lançou 3 fundos de ativos alternativos distressed para mais de 1500 investidores profissionais, incluindo a IFC, membro do Grupo Banco Mundial, a maior instituição de desenvolvimento global voltada para o setor privado nos países em desenvolvimento. O primeiro Fundo teve um retorno medido pela TIR¹ de 20 %a.a.
¹Taxa interna de retorno (TIR). A rentabilidade divulgada acima é líquida de custos de servicing dos ativos, taxas de administração e performance, mas não é líquida de impostos. Fonte: Jive Investments, 2022.
O time de gestão
Atualmente a gestora possui 8 bilhões sob gestão e 293 funcionários. O número altíssimo de funcionários, quando comparado a outra gestoras, é devido à necessidade de uma equipe multidisciplinar, com experiência na condução de processos robustos de originação, precificação, análises, diligência e gestão. Abaixo mais informações sobre os principais sócios:
Alexandre Cruz
Começou a investir em ativos estressados na Neointelligence , empresa em que foi sócio. Antes disso, Alexandre trabalhou na Ernst & Young e no Banco Santander. Formado em Economia pela USP, direito na PUC SP e com MBA na Fundação Getúlio Vargas.
Guilherme Ferreira
Trabalhou durante 4 anos no Lehman Brothers na mesa de renda fixa, e depois como liquidante da operação do banco na América Latina. Antes disso, Guilherme trabalhou como advogado com foco em direito empresarial no Brasil e em Nova York. Formado em Direito pela USP e mestre em Direito (LLM) pela Columbia University em Nova York.
Diego Fonseca
Durante 11 anos no Credit Suisse Hedging Griffo (CSHG), desempenhou cargos como Managing Director , COO e Head of Products para o Private Banking. Antes disso, atuou no Corporate & Investment Bank do ABN AMRO Bank e na Rio
Bravo Investimentos. Bacharel em Administração de Empresas pela EAESP FGV e em Direito pela USP, possui MBA em Banking
pela Fundação Dom Cabral e pós graduação em Direito Tributário pela EDESP FGV.
Mateus Tessler
Trabalhou nas áreas de fusões, aquisições e consultoria em finanças corporativas na Deloitte e em Private Equity e Venture Capital como gestor de recursos na InvestTech e DLM Invista. Formado em Direito pelo Mackenzie, também completou um curso em Finanças pelo Insper.
Marcelo Martins
Trabalhou por 12 anos em Private Equity e Banco de Investimento, tendo trabalhado na Axiom Capital Management, GP Investimentos e no banco Goldman Sachs. Ele também foi co-fundador da Spring Wireless, empresa de tecnologia que teve como investidores a Intel Capital, Goldman Sachs e UBS. Engenheiro Elétrico formado pela UNICAMP e MBA pela Harvard Business School.
Benefícios do Ecossistema
Alguns dos benefícios ao fazer investimentos em empresas em dificuldades é a capacidade de ver companhias em diferentes estágios do ciclo de recuperação e se conectar com esse ecossistema de diferentes formas, conseguindo explorar seu conhecimento específico em oportunidades de investimento.
A Jive, por exemplo, ao perceber que boa parte dos créditos financeiros eram lastreados em imóveis, e que a empresa já lidava com o desembaraço deles, percebeu que poderia não só trabalhar com eles em um ambiente de reestruturação empresarial, mas com diferentes óticas de um potencial litígio jurídico, como por exemplo questões tributárias, espólio, execução de garantia, entre outros.
Outra grande oportunidade seria atuar fornecendo crédito para empresas em rota de recuperação, que já passaram pelo agudo do processo de reestruturação. Essas empresas em geral teriam dificuldade de conseguir uma linha de crédito com os bancos locais, seja pelo histórico ou pelo ainda alto risco, mas já uma gestora especializada em distressed debt, que acompanhou sua trajetória de recuperação, teria a expertise e muito mais elementos para enxergar o ponto de inflexão e usufruir do relacionamento para promover crédito ainda com altas taxas de retorno, mas inferiores ao Distressed Debt– conhecido como crédito High Yield.
Inclusive falamos desse modalidade de gestores e fundos no relatório Uma pimenta na renda fixa: a sofisticação da gestão dos fundos high yield
E é justamente nessa modalidade de crédito High Yield que a gestora visa fazer em um produto para plataforma. Resumindo, a Jive utilizaria o ecossistema de empresas em dificuldades para fornecer oportunidade de investimento High Yield para empresas em rota ascendente no ciclo de recuperação.
Jive XP Bossa Nova High Yield Advisory FIC FIM
Antes a gestora só possuía produtos acessíveis a investidores profissionais, como são chamados aqueles que detêm, no mínimo, R$ 10 milhões em investimentos. A partir do lançamento do Jive Bossa Nova High Yield Advisory FIC FIM, previsto para 31 de janeiro, investidores qualificados também poderão ter acesso à gestora.
Esse fundo será focado em ativos high yield, representado por dívidas renegociadas de empresas que não estejam em recuperação judicial, mas sim em rota ascendente no ciclo de recuperação, conforme explicado acima.
Como esses ativos podem se encaixar na carteira?
Na ótica de portfólio de investimento, em geral, a modalidade “Alternativos” contribui positivamente em duas frentes: (I) aumento de retorno potencial – o contrabalanceamento de investimentos mais arriscados é a possibilidade de retornos esperados mais elevados, podendo ser uma “pimenta” na carteira de investimentos; (ii) benefícios de diversificação – por deterem riscos muito específicos das empresas alvo dos investimentos, essa modalidade de investimentos acaba, por consequência, tendo uma baixa correlação com o mercado em geral e com ativos em investimentos tradicional como ações e mesmo em renda fixa.
Nesse sentindo, sugerimos esse investimento distressed debt em doses baixas, mesmo para o investidor sofisticado que detém capacidade financeira, disposição e conhecimento técnico mais aprofundado dos riscos para fazer esse tipo de investimento. Vale ressaltar que o horizonte de investimento desses fundos oscila entre 5 e 7 anos, então outro aspecto importante a ser considerado é a baixa liquidez.
Já os high yield, são dívidas de empresas solventes, mas com capitalização de mercado limitada, com algumas dificuldades para se financiarem. Possuem estruturas muito menos complexas, com taxas de retorno entre CDI + 4% e CDI +10%, mas são mais líquidas, permitindo assim que o horizonte de investimentos seja menor.
Uma das grandes vantagens que percebemos no novo fundo da Jive, o Jive XP Bossa Nova High Yield Advisory, é a de trazer a combinação de altos retornos e ampla diversificação através de ativos high yield, com a possibilidade de um horizonte de investimentos menor, cujo prazo de resgate é de apenas um ano.