O mercado global de gás natural liquefeito (GNL) está à beira de uma transformação?

Destaques do evento sobre o GNL realizado pela BloombergNEF

O mercado global de gás natural liquefeito (GNL) está à beira de uma transformação, com uma onda de novos projetos do lado da oferta, que devem entrar em operação antes do final da década. Com o objetivo de entender como a dinâmica entre oferta e demanda está moldando o mercado, participamos do evento Global Gas Market Outlook 2030 da BloombergNEF. Abaixo, destacamos as principais conclusões do fórum, incluindo mensagens sobre o possível excesso de oferta, riscos, demanda desacelerando e papéis para os investidores ficarem de olho.

A ameaça de excesso de oferta paira sobre o mercado de GNL (…) Com um número recorde de projetos em construção previstos para entrar em operação até 2030, o mercado global de GNL está à beira de grandes transformações. De acordo com as estimativas da BNEF, esse aumento no número de projetos provavelmente levará a um excesso de oferta a partir de 2027, pressionando os preços para baixo. Projeta-se que a capacidade de produção global aumente em 54%, atingindo 623 milhões de toneladas até 2030 (valor que se compara com as 404 milhões de toneladas atuais), com os EUA e o Catar¹ respondendo por 65% da oferta adicional.

(…) mas existem incertezas. A BNEF identifica dois principais riscos que poderiam afetar a oferta e atrasar o aumento da capacidade: (i) atrasos nos projetos, que poderiam adiar o fornecimento de 15 a 43 milhões de toneladas para anos posteriores (~10% dos volumes atuais); e (ii) sanções adicionais ao GNL russo – em contexto, as importações da Rússia representaram 16% do fornecimento total de GNL da União Europeia (UE) em 2023.

Demanda crescente, ofuscada por um excedente de oferta a partir de 2027. De acordo com a BNEF, a demanda de GNL deverá atingir 560 milhões de toneladas até 2030, um aumento de 26% em relação a 2023 (mas ainda abaixo da oferta projetada de 623 milhões de toneladas). Sobre os fatores que impulsionam a demanda, eles destacaram: (i) expansão da infraestrutura de gás; e (ii) esforços para a descarbonização (principalmente nos setores industriais e de energia). No mais, estima-se que o aumento da demanda seja liderado pela China, Sul e Sudeste Asiático, enquanto no mercado da UE (que ultrapassou a China como o maior importador de GNL do mundo em 2023), a demanda deve atingir o pico em 2026 antes de diminuir em 2030 – a BNEF estima que a energia eólica e solar cobrirá 50% da demanda total de energia da UE até 2030, reduzindo o consumo de gás na matriz para 16%. De modo geral, embora o mercado atual de GNL permaneça apertado devido à alta demanda, espera-se que isso mude em 2027, com a desaceleração do crescimento da demanda, junto com um aumento considerável da oferta, levando a um excedente significativo de volume no mercado.

Potencial oferta de biometano na UE. Além do GNL convencional, a BNEF destacou o forte crescimento do mercado de biometano, especialmente na UE, o maior produtor mundial. De forma geral, o biometano desempenha um papel fundamental: (i) na diversificação do suprimento de gás da UE; e (ii) na redução da dependência da energia russa. No entanto, a BNEF observou que o crescimento previsto da oferta local pode não ser suficiente para atender às metas da UE, exigindo um aumento nas importações – para atingir a meta REPowerEU² de 25 bcm³ de produção anual de biometano até 2030, as taxas de crescimento precisariam aumentar de 20% para 35% no mesmo período.

Ações para ficar de olho. Para os investidores que buscam exposição ao GNL, vale a pena monitorar a Cosan (CSAN3), enquanto destacamos a Raízen (RAIZ4), Orizon (ORVR3), São Martinho (SMTO3) e Jalles (JALL3) para exposição ao biometano (link).

¹ espera-se que o North Field Expansion Project aumente a capacidade de produção de gás natural liquefeito (GNL) do Catar em 43%, de 77 milhões de toneladas por ano (Mtpa) para 110Mtpa;

² O Plano REPowerEU proposto pela Comissão Europeia tem como objetivo diminuir rapidamente a dependência da União Europeia do combustível fóssil russo;

³ bilhões de metros cúbicos.