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Tarifas podem reduzir o crescimento do PIB do Brasil em 0,3 p.p. em 2025 e 0,5 p.p. em 2026

Estimamos que as tarifas possam reduzir o crescimento do PIB em 0,30 p.p. em 2025 e 0,5 p.p. em 2026. As exportações para os EUA cairiam em US$ 6,5 bilhões em 2025 e US$ 16,5 bilhões no ano seguinte. Não vemos impacto material sobre a inflação, a menos que o governo brasileiro retalie.

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O governo dos Estados Unidos anunciou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, com início em 1º de agosto. O aumento das tarifas de importação tende a impactar a atividade doméstica por meio da balança comercial e do aperto nas condições financeiras.

Estimamos que as tarifas possam reduzir o crescimento do PIB em 0,30 p.p. em 2025 e 0,50 p.p. em 2026. As exportações para os EUA cairiam em US$ 6,5 bilhões em 2025 e US$ 16,5 bilhões no ano seguinte.

Não vemos impacto material sobre a inflação, a menos que o governo brasileiro retalie. Nesse caso, haveria aumento de custos de produção em diferentes setores, especialmente em produtos farmacêuticos e transporte, devido ao custo dos combustíveis. Ainda assim, considerando que as importações brasileiras vindas dos EUA são limitadas, o impacto sobre a inflação não seria severo, em nossa visão.

Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil. Em 2024, as exportações brasileiras para os EUA totalizaram US$ 40,3 bilhões (12% do total exportado), enquanto as importações de produtos estadunidenses somaram US$ 40,6 bilhões (15,5% do total importado).

Para avaliar o impacto potencial das novas tarifas dos EUA sobre as exportações brasileiras, consideramos elasticidades setoriais da demanda. Entre os poucos estudos acadêmicos sobre o tema, destacamos “The sector elasticities of Brazilian exports: an empirical analysis for the period 1999–2013”, que estima uma elasticidade-preço de -2,1 para as exportações brasileiras de manufaturados aos países do NAFTA — o que implica que um aumento de 10% nos preços relativos reduz o volume exportado em aproximadamente 20%. Assim, com o recente anúncio de aumento de 50% nas tarifas, as vendas de manufaturados para os EUA seriam inviabilizadas. Por outro lado, exportações de bens básicos (commodities) são menos sensíveis ao preço e, mais importante, podem ser redirecionadas para outros mercados. Por exemplo, o caso do “ferro-gusa”: os EUA respondem por cerca de 85% das exportações brasileiras desse item, que já enfrentava uma tarifa inicial de 25%, posteriormente elevada para 50%. Ainda assim, conforme ilustrado em gráfico no relatório original, as exportações não mostraram grande reação às tarifas anteriormente impostas pela administração Trump.

Classificamos os produtos exportados para os EUA em dois grupos: com alta e baixa exposição líquida a perdas. Para isso, realizamos uma análise detalhada produto a produto, com base nas categorias econômicas, reconhecendo que alguns itens classificados como manufaturados nos dados oficiais (MDIC) podem ser redirecionados a outros mercados. A contribuição das equipes de Equity Research da XP foi essencial para a avaliação de produtos-chave (como carne, papel e celulose, café, suco de laranja, aço e alumínio). Estimamos que os bens manufaturados com alta exposição a perdas de exportação representem cerca de 40% do total exportado aos EUA — são esses que enfrentariam maior dificuldade para encontrar compradores alternativos.

Considerando que os EUA absorvem cerca de 12% das exportações totais do Brasil, estimamos que as tarifas de 50% possam levar a uma redução de até US$ 6,5 bilhões em receitas de exportação ainda este ano e uma queda de US$ 16,5 bilhões em 2026, assumindo a manutenção das tarifas entre agosto de 2025 e o fim de 2026.

Caso o Brasil opte por retaliar com tarifas similares sobre produtos dos EUA, estimamos também seus impactos. A estrutura das importações brasileiras oriundas dos EUA é majoritariamente composta por bens manufaturados (cerca de 90%) e altamente diversificada, com predominância de bens finais. O principal item são “equipamentos e máquinas de geração de energia” — principalmente aeronaves e peças —, cuja participação dos EUA é de aproximadamente 48% do fornecimento ao Brasil. Dada a baixa capacidade de substituição, adotamos uma elasticidade-preço da demanda de -0,6. Nessa hipótese, tarifas de 50% levariam a uma queda de cerca de 30% no volume importado. Assim, estimamos que as importações brasileiras dos EUA poderiam subir em US$ 0,8 bilhão neste ano e em US$ 2,2 bilhões em 2026, se as tarifas retaliatórias forem mantidas no período de agosto de 2025 até o final de 2026.

As tarifas mais altas podem reduzir o crescimento do PIB brasileiro em 0,3 p.p. em 2025 e 0.5 p.p. em 2026. As exportações do Brasil para os EUA representam cerca de 1,9% do PIB, sendo aproximadamente 40% compostas por manufaturados com pouca possibilidade de redirecionamento para outros mercados. O impacto das tarifas não é uniforme: exportações de carne, por exemplo, provavelmente seriam redirecionadas com impacto limitado nas margens; já para aeronaves, o choque seria mais significativo. Calculamos que o impacto direto sobre o crescimento do PIB via comércio seria de cerca de 0,3 p.p. em 2025, levando em conta vendas antecipadas em julho (fluxo acima da sazonalidade) e a vigência das tarifas entre agosto e dezembro. Além disso, o impacto pode ser amplificado por condições financeiras mais apertadas. Embora difícil de mensurar, esse canal não deve ser desprezado e dependerá da resposta do governo brasileiro e da possibilidade de desescalada do conflito comercial. Para 2026, estimamos uma queda de 0,5 p.p. no crescimento do PIB, já considerando a base fraca de 2025, contração nas importações e ausência de novos choques tarifários.

Sob o cenário de retaliação brasileira, o impacto sobre a inflação é mais complexo de estimar. A cesta de importações do Brasil é bastante diversificada e inclui combustíveis, produtos químicos e farmacêuticos, insumos automotivos e aeroespaciais, entre outros. Um aumento de tarifas tende a elevar preços nessas cadeias, mas parte desses insumos pode ser substituída por produção nacional ou por fornecedores alternativos, dificultando a quantificação líquida do impacto.

No caso dos combustíveis, cerca de 3% da gasolina e 5% do diesel consumidos no Brasil vêm dos EUA. A substituição por outros fornecedores não seria fácil, mas possível. O ponto mais crítico, no entanto, são as passagens aéreas, já que entre 10% e 15% do querosene de aviação usado no Brasil tem origem americana. Supondo que o Brasil não consiga fornecedores alternativos e os preços das passagens aumentem proporcionalmente, estimamos impacto de cerca de 5bps no IPCA. Há também um fator mais preocupante: a dependência do Brasil em relação a aeronaves norte-americanas, o que poderia elevar ainda mais o custo das passagens.

Por fim, o câmbio é o principal canal de preocupação inflacionária. O real apresentou desempenho positivo nos últimos meses, ajudando a moderar a inflação de curto prazo. No entanto, isso pode ser revertido caso a percepção de risco em relação ao Brasil aumente em meio a tensões comerciais persistentes. Estimamos uma elasticidade de repasse cambial de 0,90 p.p. para o IPCA ao longo de quatro trimestres. Assim, mesmo que o crescimento do PIB seja reduzido — o que impactaria negativamente o hiato do produto —, esse efeito seria insuficiente para compensar uma possível desvalorização do real nos próximos meses.


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