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Bernard Appy: “Efeitos da reforma tributária vão muito além da simplificação”

Caio Megale, Jennie Li e Júnia Gama conversaram com o secretário extraordinário de reforma tributária do Ministério da Fazenda, Bernard Appy

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Um ambiente mais favorável para investimentos no Brasil, com maior crescimento e qualidade de vida para o consumidor. Para Bernard Appy, os “efeitos da reforma tributária vão muito além da simplificação” de impostos. No Expert Talks desta quinta-feira (13), o economista considerado o “pai” da reforma tributária aprovada na Câmara apontou quais os principais pontos esperados da proposta que será analisada pelo Senado. Participaram da live também Caio Megale, economista-chefe da XP, Jennie Li, estrategista de ações, e Júnia Gama, analista política.  

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O texto de emenda à Constituição (PEC 45/19) altera substancialmente a tributação sobre o consumo, substituindo cinco tributos atualmente existentes por dois novos tributos. A proposta também prevê a criação de dois fundos, um voltado ao desenvolvimento regional e outro para a compensação de benefícios fiscais que serão extintos após a implementação da reforma. 

“O nosso sistema de tributação indireta é o mais complexo do mundo hoje”, disse Appy. Segundo ele, com a reforma tributária, o país deve passar a ter um dos sistemas mais simples. Mas esse não será o único efeito, afirmou.  

“O fato de você desonerar investimentos tem um efeito muito grande sobre a taxa de investimento no Brasil. Isso vai acontecer.” Além disso, o economista destacou que a reforma elimina distorções que prejudicam a competitividade dos produtos no longo prazo, por exemplo. 

Mudanças na proposta 

Durante a tramitação do projeto na Câmara, foram ampliados os bens e serviços que podem usufruir de tributação reduzida ou alíquota zero, com destaque para a criação de uma cesta básica nacional, e instituída a possibilidade de crédito presumido para algumas atividades. Como destacamos em relatório, a ampliação das exceções pode reduzir o potencial da reforma. 

Appy admitiu que o texto aprovado na Câmara “saiu com mais exceções do que seria desejável”, mas disse que “esse foi o custo político da aprovação da reforma tributária”. Segundo o economista, comparadas ao que nós temos hoje de distorções de preços relativos, provocados pela tributação atual, as exceções “são muito menores do que as distorções de preços relativos que nós temos hoje”.  

Definição das alíquotas 

Sobre a alíquota de referência (padrão), Appy disse que não é possível ainda fazer uma previsão exata. De acordo com ele, a alíquota depende principalmente, de um lado, da quantidade de regimes favorecidos e, do outro, do chamado “gap de conformidade”, que é a diferença entre o que se arrecadaria com imposto integral e o que é arrecadado.  

Da experiência internacional, temos que as alíquotas costumam variar entre 15% em países em desenvolvimento a 25% em países mais desenvolvidos. Mas especialistas vêm apontando que a alíquota no Brasil pode ser mais alta. 

“Quanto mais exceções você tem, maior tende a ser a alíquota dos demais bens e serviços para manter a carga tributária.” 

Somente após a definição dos diversos aspectos relegados à lei complementar é que será possível fazer o cálculo da alíquota de referência, mas Appy apontou que ela não deve passar dos 30%: “Eu acredito que, em hipóteses razoáveis, sim, dá pra manter essa afirmação [de que não vai chegar a 30%]”, disse.  

Serviços serão prejudicados? 

Em relação a críticas sobre possíveis efeitos negativos para os prestadores de serviços, Appy afirmou acredita que haja “muita incompreensão”.  

Segundo ele, “todas as empresas de prestação de serviço que estão no meio da cadeia – que prestam serviços para empresas – vão ser beneficiados pela reforma tributária”.  

Ele lembra que uma parte muito grande dos prestadores de serviços para o consumidor final está no Simples. Para as empresas que não estão no Simples, haverá tratamento diferenciado para serviços de educação, saúde, hotéis e restaurantes. “Na verdade, isso é o grosso do serviço prestado para consumidor final”, afirmou.  

O que muda para o consumidor? 

E quais os impactos para a pessoa física? De acordo com Appy, o consumidor em geral vai sentir uma melhora de qualidade de vida. “Como a economia vai crescer mais, aumenta a renda, aumenta emprego”, disse.  

Segundo ele, os principais efeitos finais são:   

  • Crescimento da economia, com geração de mais empregos e renda;  
  • O efeito sobre preços, no agregado, será deflacionário, porque o custo da ineficiência vai deixar de existir; 
  • Haverá mudanças de preços relativos e 
  • Será transparente quanto o consumidor paga de imposto. 

 “Vai ser bom o consumidor saber o quanto ele paga de imposto, porque isso aumenta a cidadania fiscal. Ele vai saber exatamente quanto está pagando para o Estado, para o município, para a União, e vai poder avaliar se o que ele está recebendo de volta, em serviços públicos, vale aquilo que ele está pagando.” 

Quem é Bernard Appy?

Bernard Appy é secretário extraordinário de reforma tributária do Ministério da Fazenda. Economista formado pela USP, entre 2003 e 2009 foi secretário-executivo, secretário de Política Econômica e secretário de Reformas Econômico-Fiscais do Ministério da Fazenda. Nesse período também foi presidente do Conselho de Administração do Banco do Brasil. De 2015 a 2022, foi diretor do Centro de Cidadania Fiscal, voltado ao desenvolvimento de propostas de aprimoramento do sistema tributário brasileiro. Também foi sócio e diretor da LCA Consultores e diretor da BM&FBOVESPA S.A.

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