O IPCA subiu 0,48% em setembro, segundo o IBGE, levemente abaixo da projeção da XP (0,51%) e da mediana do mercado (0,52%). Com isso, a inflação acumulada em 12 meses passou de 5,13% em agosto para 5,17% em setembro. A alta no mês foi marcada pelo efeito da devolução do bônus de Itaipu, que fez as tarifas de energia dispararem 10,3%, além do aumento da gasolina (+0,75%). Por outro lado, a composição do índice trouxe sinais positivos, com núcleos de serviços e serviços intensivos em mão de obra mostrando desaceleração. Diante dessa leitura mais benigna, a XP revisou sua projeção para o IPCA de 2025 de 4,8% para 4,7%.
Ainda assim, a inflação segue acima da meta do Banco Central (de 3,00%), superando o limite superior de 4,50%. O resultado mantém preocupações sobre o ritmo de alta de preços e seus impactos na economia adiante, e a manutenção de uma taxa Selic elevada por parte do Banco Central – pelo menos por ora.
Meta de inflação: o que é?
O regime de metas de inflação é parte do que chamamos de política monetária – a política responsável pelo controle da quantidade de moeda em determinada economia, que fica sob a responsabilidade do Banco Central.
Esse regime determina uma meta de inflação explícita e numérica (% ao ano), a ser perseguida pelo Banco Central. No caso brasileiro, a meta de inflação atual é de 3,0%. Isso significa que o Banco Central tem a responsabilidade de controlar a alta de preços de maneira contínua, de modo que ela se mantenha no ritmo de 3,00%.
O modelo brasileiro também inclui uma banda de tolerância de 1,50 pontos percentuais para cima e para baixo. Essa “banda” serve para acomodar eventuais choques, como por exemplo uma seca que afete a produção de alimentos e eleve a inflação além do controle do Banco Central, ou uma pandemia que derrube os preços.
Caso o IPCA se mantenha acima do limite de 4,5% por seis meses consecutivos, o presidente do Banco Central deve enviar carta ao Presidente da República indicando: i) os motivos do não atingimento da meta; ii) medidas planejadas para que a inflação retome à meta; e iii) o tempo projetado para que isso se concretize.
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Serviços dão sinais de alívio
Os chamados serviços subjacentes – que excluem itens muito voláteis para mostrar a tendência da inflação – subiram apenas 0,03% em setembro, bem abaixo da expectativa (0,24%). Com isso, a média anualizada dos últimos três meses caiu de 5,7% para 4,8%, indicando uma desaceleração relevante. A principal surpresa veio de “alimentação fora do domicílio”, que avançou apenas 0,1%, contra projeção de 0,4%, provavelmente refletindo preços mais comportados de proteínas. Serviços intensivos em mão de obra também vieram abaixo do esperado, com alta de 0,33% (proj. 0,51%). Apesar da melhora, a XP avalia que há espaço limitado para uma convergência rápida à meta, dado o mercado de trabalho ainda apertado.

Vale lembrar que o comportamento dos preços de serviços é essencial para análise do cenário de inflação prospectiva no país. Em outras palavras, o que apontam preços como de cabelereiros, médicos e cinemas pode sinalizar mais sobre o que esperar da inflação do que se imagina.
Isso porque a inflação do grupo é menos impactada por movimentos que chamamos de “oferta” (como o clima e a redução ou aumento da oferta de determinada commodity); refletindo mais a dinâmica de salários e do nível de demanda na economia – em um processo que se retroalimenta.
Afinal, quanto mais aquecida a economia, maior tende a ser o nível de emprego e, consequentemente, a pressão sobre salários. E esse movimento se torna ainda mais relevante em economias nas quais serviços tem maior peso, como no Brasil, onde o setor responde por cerca de 60% do PIB e a maioria dos empregos do país.
Assim, como destacado adiante, a inflação de serviços deve seguir como um dos principais motivos de cautela adiante.
Bens industrializados seguem moderados
Os preços dos bens industrializados subiram 0,06%, praticamente em linha com a projeção (0,02%). A média anualizada em três meses acelerou de 1,5% para 1,8%, mas continua baixa. Destaque para a terceira queda consecutiva nos bens duráveis (-0,14%), que são produtos de vida útil longa, como carros, eletrodomésticos e móveis, usados por vários anos antes de serem substituídos. Esses itens costumam ser sensíveis ao câmbio e aos juros, pois dependem de componentes importados e muitas vezes são comprados com financiamento. Olhando adiante, a XP espera que a valorização recente do real continue ajudando a manter a inflação de bens industriais em níveis baixos.

Alimentos ajudam a conter a inflação
Os preços dos alimentos recuaram 0,41%, abaixo da projeção (-0,33%), puxados por cereais (como o arroz), alimentos in natura – batata, hortaliças, verduras, legumes e ovo de galinha – e proteínas. Essa dinâmica deve mudar no quarto trimestre, quando a sazonalidade — variações típicas do período causadas pelo clima, como menor oferta de hortifrutis fora da safra — tende a impulsionar os preços para cima.

O que esperar daqui para frente?
A leitura de setembro foi melhor do que o esperado, especialmente nos núcleos de serviços. Incorporando essas surpresas, reduzimos nossa projeção para o IPCA de 2025 de 4,8% para 4,7% e mantivemos a estimativa para 2026 em 4,5%, com viés de baixa. Ainda assim, a inflação corrente segue desafiadora, exigindo juros altos por mais tempo. O nosso cenário considera início do ciclo de cortes apenas em março, levando a Selic para 12,00% ao final de 2026.

Selic deve seguir alta por um longo período
Diante do cenário descrito acima, projetamos que a inflação encerre o ano em 4,7% – acima da meta de 3,0% do Banco Central, excedendo também o limite superior da banda de tolerância da meta (de 4,5%).
Observando seu objetivo de manter a inflação na meta, o Banco Central deve seguir atuando para reverter o cenário de alta de preços. Isso significa manter nossa taxa básica de juros, a Selic, alta por um período prolongado.
Vale lembrar: gestão da taxa Selic é a principal ferramenta do Banco Central para controlar a variação de preços na economia – aquecendo ou desaquecendo a atividade econômica, e impactando fatores como a taxa de câmbio (com capital sendo atraído por maiores retornos, valorizando nossa moeda) e as expectativas de inflação para o futuro.
Projetamos que a Selic siga em 15,00% até o início de 2026 – quando pode haver espaço para o início de um novo ciclo de quedas. Porém, como destacamos, riscos seguem no radar tanto no Brasil quanto no mundo. Para 2026, nossa projeção segue no intervalo da meta – em 4,5% – diante de uma economia que deve seguir crescendo acima do nível potencial (ou seja, acima do patamar que, teoricamente, não pressiona os preços) e de impulsos fiscais e parafiscais adicionais.
Como se proteger da alta de preços?
Como vimos, a inflação segue como um dos principais motivos de cautela e atenção para a economia brasileira. Assim, proteger seu patrimônio contra a alta de preços se torna ainda mais essencial.
Títulos indexados à inflação (como o título público NTN-B 2030), emissões bancárias de instituições sólidas e com boa classificação de risco, debêntures incentivadas (sem cobrança de Imposto de Renda ao investidor) e fundos de investimento com gestão ativa em renda fixa são ótimas alternativas. Falamos mais das melhores oportunidades de renda fixa aqui.
Outra classe de ativos que pode ajudar o investidor a se proteger da inflação são os fundos imobiliários. Apesar de estarem sofrendo diante de expectativas de juros mais altos adiante, os FIIs podem ser aliados do investidor em um cenário cauteloso de alta de preços, por serem muitas vezes atrelados a índices de inflação. Aqui te indicamos nossa carteira recomendada de Fundos Imobiliários.
Mas não só de proteção contra a inflação devem viver os investimentos nesse momento. Por isso, confira o detalhe das nossas recomendações de investimento atualizadas de acordo com o seu perfil de investidor no “Onde Investir”.
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