Fed volta a cortar juros e sinaliza divergência para dezembro 

Em linha com o esperado, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) cortou a taxa dos Fed Funds em 0,25 p.p. e anunciou, para o início de dezembro, o fim do Quantitative Tightening (processo que diminui o volume de reservas em circulação e, portanto, é uma ferramenta de política monetária contracionista). O que não era esperado era a sinalização de que há grande divergência entre membros do FOMC (Comitê Federal de Mercado Aberto) sobre os rumos para a próxima reunião de política monetária, que ocorrerá em dezembro. Segundo Jerome Powell, presidente do Fed, a decisão está em aberto. As falas de Powell provocaram uma abertura na curva de juros e apreciação do dólar frente aos pares. O mercado precificava praticamente 100% de chance de corte de juros na próxima reunião, probabilidade que recuou para cerca de 70%.

Atividade econômica americana: ainda resiliente

Outro fator relevante foram comentários de Jerome Powell acerca do mercado de trabalho, para o qual estamos sem dados oficiais para alguns dos principais indicadores (payroll e pedidos semanais de seguro desemprego) por conta da paralisação do governo dos Estados Unidos (shutdown), que se aproxima da marca de 30 dias.

Diante dos anúncios de layoffs nos últimos dias, havia uma certa expectativa no mercado de que o tom mais cauteloso (dovish, no jargão econômico) fosse mantido pela autoridade, o que foi frustrado com declarações acerca de resiliência da atividade econômica e de que o mercado de trabalho “não está se enfraquecendo rapidamente”, como era sugerido após as revisões negativas do payroll. Powell avalia que o enfraquecimento do mercado de trabalho é uma função do declínio da força de trabalho (movimento cíclico e atribuível à queda na imigração) e redução na demanda por mão de obra. Na visão do presidente do Fed, esses processos concomitantes se moderaram após o choque do início do ano, com estabilidade sugerida pelos últimos dados de abertura de vagas.

Investimentos em inteligência artificial foram outra questão bastante presente na coletiva de imprensa: Powell avalia que o enfraquecimento recente do mercado de trabalho ainda não pode ser atribuído à substituição por IA, mas que já pode haver um ajuste na criação de vagas. Disse ainda que o movimento recente não pode ser comparável à bolha das chamadas “.com”, por conta da lucratividade das empresas envolvidas.

Adicionalmente, Powell comentou que o Fed segue monitorando condições de crédito após os recentes episódios do setor automotivo, mas que eles parecem ser, ao menos por ora, isolados.

Placar da decisão

Em relação ao placar da decisão, o diretor Stephen Miran votou por um corte mais agressivo, de 0,50 p.p. – em linha com sua postura na reunião anterior. Já Jeffrey Schmid (presidente do Fed Kansas) votou na reunião de hoje pela manutenção dos juros.

Para dezembro, a divisão no comitê deve se aprofundar, considerando as últimas declarações de Powell. Na próxima decisão também será divulgado o Summary of Economic Projections (SEP, material que consolida as projeções econômicas de cada membro do FOMC).

Reação dos mercados

Após a coletiva de imprensa, a taxa das Treasuries de 2 anos subiram 0,11 p.p., e das de 10 anos, sobe 0,10 p.p. O S&P 500 ficou de lado e o Nasdaq subiu 0,6%. O DXY – índice que mede a força do dólar frente a moedas de países desenvolvidos – subiu 0,5%.

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